Graduação em Engenharia Ambiental e Urbana. Camila Nunes de Brito Oliveira



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Transcrição:

Graduação em Engenharia Ambiental e Urbana Camila Nunes de Brito Oliveira LOGÍSTICA REVERSA: UMA BUSCA PELO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POR NOVAS OPORTUNIDADES EMPRESARIAIS. Monografia SANTO ANDRÉ - SP Janeiro/2014

Camila Nunes de Brito Oliveira LOGÍSTICA REVERSA: UMA BUSCA PELO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POR NOVAS OPORTUNIDADES EMPRESARIAIS. Monografia Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal do ABC como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Engenharia Ambiental e Urbana. Orientador: Prof. Dr. Gerardo Alberto Silva SANTO ANDRÉ - SP Janeiro/2014

Camila Nunes de Brito Oliveira LOGÍSTICA REVERSA: UMA BUSCA PELO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E POR NOVAS OPORTUNIDADES EMPRESARIAIS. Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de bacharel no curso de Engenharia Ambiental e Urbana da Universidade Federal do ABC. Santo André SP, 05 de fevereiro de 2014. Prof. Dr. Humberto de Paiva Junior Coordenador do Curso BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Gerardo Alberto Silva Orientador (UFABC) Prof. Dr. Ricardo de Souza Moretti (UFABC)

À meus queridos pais e avós, fonte de amor e apoio sempre, ao Fernando e à toda minha família maravilhosa.

AGRADECIMENTOS Agradeço, primeiramente e acima de tudo, a Deus por ter me presenteado com uma família tão maravilhosa, pelas infinitas oportunidades e por tornar tudo possível. Agradeço infinitamente aos meus pais por todo apoio, amor e confiança em mim depositados. Ao meu pai por investir na minha educação da melhor maneira, sem medir esforços, por sempre acreditar em mim e me mostrar que sempre posso ir mais longe, por dizer sempre as palavras certas. À minha mãe pelo amor incondicional, por ser sempre tão dedicada, por fazer tudo por mim e me incentivar a seguir sempre, me apoiando e estando sempre ao meu lado, todos os dias, mesmo distante. Vocês são minha referência de honestidade, caráter e trabalho. Agradeço ao Fernando por tantos anos me apoiando, por me fazer sempre acreditar que sou capaz, por me incentivar a chegar até aqui, pelo amor e companheirismo. Aos meus avós, não tenho palavras para agradecer tanto amor e dedicação em todos os momentos da minha vida. Agradeço às minhas amigas Diana, Carol e Mônica por todo apoio e companheirismo, durante a minha graduação e principalmente pela amizade. Aos meus amigos que estão longe, mas que sempre me apoiaram e me incentivaram. Agradeço ao Prof. Dr. Gerardo, que me orientou neste trabalho, pelo auxílio, colaboração, dedicação em tantos momentos da minha graduação e principalmente pela amizade e compreensão. Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho e pela concretização de um sonho.

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos. Charles Chaplin

RESUMO No atual cenário econômico competitivo, muitas empresas descobriram que controlar a gestão e destinação de seus resíduos e se adequar a padrões ecologicamente corretos são medidas que possibilitam a conquista do reconhecimento pela sociedade. Por este motivo, a logística reversa tem sido cada dia mais implantada em empresas líderes de mercado de diversos setores, como parte estratégica de suas atividades empresariais. A logística reversa atua em duas áreas: Logística reversa de pós-venda e logística reversa de pós-consumo. Este trabalho tem como foco a logística reversa de pós-consumo que vem substituir o conceito do berço ao túmulo (cradle to grave) pelo conceito do berço ao berço (cradle to cradle). Espera-se, então, mostrar, através de estudos de caso de três grandes empresas, Gerdau S.A., inpev e Reciclanip, que o desenvolvimento sustentável pressupõe o envolvimento da empresa com as questões do ciclo de vida dos seus produtos, que envolve desde a escolha da matéria prima que será utilizada nos seus produtos e embalagens, até o descarte do produto ou embalagem. Pretende-se, ainda, mostrar que a logística reversa pode trazer novas oportunidades empresariais para as organizações que a realizam, a importância desta prática em diversos setores da sociedade, ressaltando, ainda, a responsabilidade compartilhada entre os diversos setores e o poder público. Palavras-chave: logística reversa, sustentabilidade, bens de pós-consumo, ciclo de vida, resíduos.

ABSTRACT In today's competitive economic environment, many companies have found that the management control and the destination of waste aiming to adapt to environmental standards are measures that enable to achieve recognition from society. Therefore, Reverse Logistics has been increasingly deployed in leading enterprises in various sectors as a strategic part of their business activities. The Reverse logistics operates in two areas: Reverse Logistics Post-Sale and Reverse Logistics Post-Consumer. The focus of this work is Reverse Logistics Post-Consumer which, in turn, replaces the concept of "cradle to grave" by that of "cradle to cradle". Thus, the objective is to show, by means of case studies of three large companies, Gerdau SA, inpev and Reciclanip, that sustainable development requires the involvement of the company with issues such as the life cycle of their products, ranging from the choice of the raw material to be used in the products, destination of the product and packaging. The assumption is also to show that reverse logistics can bring new business opportunities for enterprises that put it in practice, the importance of this practice in various sectors of society, as well as to emphasize the shared responsibility within the various sectors and the government. Keywords: reverse logistics, sustainability, post-consumer goods, life cycle, waste.

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Logística Reversa... 17 Figura 2: Ciclo da sucata... 27 Figura 3: Volume de embalagens vazias de defensivos agrícolas destinadas desde 2002.... 32 Figura 4: Ciclo de gestão das embalagens vazias.... 36 Figura 5: Ciclo de vida do pneu... 40

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Responsabilidades compartilhadas de acordo com a lei n 9.974/00.... 32

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 12 1.1 Justificativa... 13 1.2 Objetivos... 13 2 REVISÃO DE LITERATURA... 14 2.1 Logística e Sustentabilidade... 14 2.2 Logística Reversa... 15 2.3 Avaliação do Ciclo de Vida... 19 2.4 Legislação... 20 3 METODOLOGIA... 23 4 ESTUDOS DE CASO... 24 4.1 Gerdau... 24 4.1.1 Gerdau e Logística Reversa... 24 4.2 inpev... 29 4.2.1 O Sistema Campo Limpo... 30 4.2.2 Logística Reversa de Ciclo Fechado... 35 4.3 Reciclanip... 37 4.3.1 Reciclanip e Logística Reversa... 37 4.3.2 Destinação final de pneus.... 39 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 41 5.1 O papel das cooperativas e dos catadores no processo de logística reversa... 42 5.2 Logística reversa e suas vantagens... 44 6 CONCLUSÃO... 46 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 47

1 INTRODUÇÃO O aumento de demanda por bens de consumo é responsável pelo lançamento de milhares de toneladas de resíduos no meio ambiente todos os anos, estes resíduos vão de embalagens plásticas de produtos de uso doméstico a fuselagens sucateadas de antigos aviões. Devido a este aumento da demanda por bens de consumo se faz necessária uma adaptação e capacitação contínuas, tanto por parte das empresas e instituições quanto por parte dos indivíduos. Neste sentido, há algum tempo, áreas que, aparentemente, não possuem impacto financeiro, como meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa, vêm assumindo um importante papel no mundo dos negócios (FIGUEIRÓ, 2010). Entretanto, apesar de muitas empresas buscarem práticas socialmente responsáveis em suas gestões, o maior desafio está em encontrar uma maneira equilibrada de gerenciar seus negócios, não apenas buscando a competitividade, com baixo custo e elevado padrão de qualidade, mas também considerando aspectos de desenvolvimento sustentável e atendendo às reivindicações da sociedade (GRAJEW apud FIGUEIRÓ, 2010). Essa nova realidade de mercado, de consumidores cada vez mais sensibilizados e preocupados com as questões ecológicas, tem mudado as estratégias competitivas empresariais. Neste contexto, a logística reversa tem se tornado um tema cada vez mais comum para as empresas no Brasil e no mundo. Muitas empresas descobriram que controlar a gestão e destinação de seus resíduos é uma medida que possibilita a conquista do reconhecimento pela sociedade, por este motivo, a logística reversa tem sido uma ferramenta para o gerenciamento empresarial, devido à sua contribuição na obtenção de vantagens econômicas, sem, contudo, desconsiderar os aspectos ambientais. A destinação final de produtos traz um grande problema ao meio ambiente, mas apresenta oportunidades de reciclagem ou reuso que podem incentivar diversas outras operações capazes de trazer resultados positivos tanto para as empresas quanto para a sociedade. (SHIBAO, et al, 2010). A escolha do tema foi motivada pelo fato de que a logística reversa se apresenta como uma das opções para se alcançar a preservação ambiental e trazer benefícios às organizações. Através de estudos, pretende-se avaliar a importância da logística reversa e tentar explicitar através deste trabalho os benefícios que ela traz a vários setores industriais.

1.1 Justificativa A redução do impacto ambiental tornou-se uma exigência para as empresas que desejam continuar atuando no mercado, tanto nacional quanto internacional. Por este motivo as empresas tem cada vez mais se adequado a padrões ecologicamente corretos através de diversas ferramentas, entre elas está a logística reversa. Portanto, acredita-se que é de grande importância a realização de um estudo que mostre a importância da realização da logística reversa para uma organização visando atingir os padrões de sustentabilidade estabelecidos pela sociedade atual. 1.2 Objetivos Tendo em vista a crescente implementação da logística reversa em empresas líderes de mercado em diversos setores, como parte estratégica de suas atividades empresariais, este trabalho tem como objetivo avaliar a importância do retorno dos bens de pós-consumo ao ciclo produtivo e as vantagens e desvantagens desta prática a diversos setores. O objetivo específico é conhecer o processo de logística reversa de alguns setores em especial, através da realização de estudos de casos, e analisar a sua importância para as organizações, tentando mostrar que a logística reversa oferece à empresa oportunidades de adicionar valor e obter vantagem competitiva através da percepção pública favorável, economia de custo ou rendimentos adicionais, enquanto avalia os efeitos de seus processos produtivos no ambiente. Para isso, foram escolhidas algumas empresas como a Gerdau S.A., líder no segmento de aços longos nas Américas e uma das principais fornecedoras de aços longos especiais no mundo. É também a maior recicladora da América Latina e transforma anualmente milhões de toneladas de sucata em aço no mundo; o inpev Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, entidade sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover, em todo o Brasil, a correta destinação das embalagens vazias de defensivos agrícolas e a Reciclanip, entidade sem fins lucrativos criada pelos fabricantes de pneus novos com o objetivo de coletar e destinar pneus inservíveis no Brasil.

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Logística e Sustentabilidade Com o crescente avanço tecnológico a logística tem se tornado cada vez mais importante para o crescimento das empresas. É difícil imaginar algum produto que chegue ao cliente, sem suporte logístico, porém, somente há relativamente pouco tempo, as empresas têm se concentrado na Logística e Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos como fontes de vantagem competitivas (GONÇALVES E MARINS, 2005). A definição de logística sugerida por Council of Supply Chain Management Professionals (apud Novaes, 2001) é a seguinte: Logística é o processo de planejar, implementar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender os requisitos do consumidor. Esta definição implica que a logística é parte do processo da cadeia de suprimentos e inclui todas as atividades importantes para a disponibilização de bens e serviços aos consumidores quando e onde estes quiserem adquirí-los. (BALLOU, 2004) Segundo Ballou (2004), o processo da cadeia de suprimentos, ou, como é mais conhecido, Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (GCS) é um termo que surgiu mais recentemente e que capta a essência da logística integrada e inclusive a ultrapassa. O GCS destaca as interações logísticas que ocorrem entre as funções de marketing, logística e produção no âmbito de uma empresa, e dessas mesmas interações entre as empresas legalmente separadas no âmbito do canal de fluxo de produtos. A cadeia de suprimentos abrange todas as atividades relacionadas com o fluxo e transformação de mercadorias desde o estágio da matéria-prima (extração) até o usuário final, bem como os respectivos fluxos de informação. O GCS é a integração dessas atividades, mediante relacionamentos aperfeiçoados na cadeia de suprimentos, objetivando conquistar uma vantagem competitiva sustentável. A primeira vez que o conceito de sustentabilidade foi expresso e aceito mundialmente foi em 1987 no Relatório Brundtland ou Nosso Futuro Comum encomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU) à então primeira ministra da Noruega, Gro Brundtland. De acordo

com o relatório, ser sustentável é conseguir prover as necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras em garantir suas próprias necessidades. Naquele momento chegou-se à conclusão de que era preciso mudar os atuais padrões de produção e consumo adotados pelas diversas sociedades da Terra, de forma a preservar os recursos e serviços ambientais necessários à sobrevivência humana. Um dos parâmetros criados, para garantir o desenvolvimento sustentável, mais aceito é o do Triple Bottom Line, que estabelece a necessidade de um equilíbrio entre as ações e resultados econômicos, ambientais e sociais das organizações. Ou seja, uma organização sustentável precisa ser economicamente lucrativa, ambientalmente correta e socialmente responsável. A busca pelo desenvolvimento sustentável por parte das empresas vai além dos cuidados relacionados ao controle e prevenção da poluição, chegando à relação entre a empresa e todos os demais integrantes da cadeia. As organizações estão optando por incluir a abordagem ambiental ao seu gerenciamento da cadeia, a fim de evitar herdar riscos ambientais dos fornecedores que possuem menor consciência diante destes aspectos (KLASSEN e WHYBARK apud FIGUEIRÓ, 2010). O Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos associado à Gestão Ambiental caracteriza o que se chama de Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos (CSGS). Trata-se de um complemento das atividades tradicionais, incluindo a avaliação dos impactos ambientais de todos os produtos e processos desde a extração da matéria-prima até a disposição final, considerando outras etapas na estrutura da cadeia como: coleta, remanufatura, reuso, reciclagem e disposição final dos produtos e materiais (BEAMON apud FIGUEIRÓ, 2010). A busca pela sustentabilidade oferece à empresa oportunidades de adicionar valor e obter vantagem competitiva através da percepção pública favorável, economia de custo ou rendimentos adicionais, enquanto avalia os efeitos de seus produtos e processos produtivos no ambiente (NEUNFELD et al, 2005). 2.2 Logística Reversa As legislações ambientais tem se tornado cada vez mais duras, exigindo das empresas um comportamento ambiental mais ativo, responsabilizando-as pela completa gestão do ciclo de vida

dos seus produtos, diminuindo assim os impactos ambientais não apenas dos processos, mas também daqueles causados pelas atividades de descarte (GARCIA, 2006). Leite (2002) define a logística reversa como a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo, e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pósvenda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, através dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. De uma maneira mais simples a logística reversa pode ser entendida como um processo complementar à logística tradicional, pois enquanto a última tem o papel de levar os produtos dos fornecedores até os clientes intermediários ou finais, a logística reversa completa o ciclo, trazendo de volta os produtos já utilizados dos diferentes pontos de consumo até sua origem. (LACERDA apud GARCIA, 2006). Segundo Rogers e Tibben-lembke (apud Figueiró, 2010), Logística Reversa é o processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matériasprimas, estoques em processo, produtos acabados e as informações correspondentes do ponto de consumo para o ponto de origem, com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição. Para Gontijo et al (2010), a idéia central da logística reversa é a recuperação de valor através do retorno dos bens ao processo produtivo ou ao ciclo de negócios. Além disso, fatores relacionados a questões ambientais de relacionamento com o cliente e imagem corporativa, ressaltam o papel estratégico da logística reversa. De acordo com a Lei n 12.305 de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. A Logística Reversa tem sido utilizada como uma importante ferramenta de aumento de competitividade e de consolidação de imagem corporativa, quando inserida na estratégia empresarial e em particular na estratégia de Marketing Ambiental, em empresas que privilegiam uma visão de responsabilidade empresarial em relação ao meio ambiente e à sociedade. (LEITE, 2000)

Segundo Leite (2000), esta atuação de responsabilidade ambiental, além de impactar positivamente na imagem das empresas, permitirá que uma nova economia de negócios se intensifique com enormes possibilidades de geração de empregos, de serviços e de desenvolvimento tecnológico, tanto mais visível quanto maior a consciência da sociedade ao desenvolvimento sustentado. A correta implementação de um sistema de logística reversa leva à necessidade de analisar as etapas da cadeia de suprimentos relacionadas ao retorno e reintrodução de produtos e materiais ao sistema produtivo. A figura 1 a seguir, mostra alternativas para a destinação destes produtos, como: retorno ao fornecedor, revenda, recondicionamento, reciclagem ou descarte (caso não seja possível reaproveitá-lo). Assim, toda a cadeia pode ser estruturada de forma que as atividades desenvolvidas causem menor impacto ambiental, sem comprometer o desempenho econômico das empresas. Figura 1: Logística Reversa Fonte: Figueiró (2010). Segundo Rao & Holt (apud Figueiró, 2010), a Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos (GSCS) envolve iniciativas junto à logística reversa incluindo e envolvendo fornecedores de materiais, contratantes de serviços, vendedores, distribuidores e usuários, os quais trabalham juntos para mitigar impactos ambientais advindo de suas atividades. As organizações estão buscando envolver toda a cadeia nas decisões a respeito de como evitar a

geração de resíduos em determinados projetos. Para isso repassam aos seus fornecedores necessidades de adaptação a exigências de stakeholders e da legislação. Diante disto, pode-se dizer que a Logística Reversa é um dos elementos que compõe a Gestão Sustentável da Cadeia de Suprimentos, ambas vinculadas à Gestão da Cadeia de Suprimentos. Existem duas grandes áreas de atuação da Logística Reversa que devem ser citadas. A primeira considera que a logística reversa tem duas áreas de atuação: logística reversa de pósvenda e logística reversa de pós-consumo. A outra diz respeito ao ciclo de vida do produto. Segundo Leite (2002), a logística reversa de pós-venda é a área específica de atuação que se ocupa da operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes aos bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso. Seu objetivo estratégico é o de agregar valor a um produto logístico que é devolvido por razões comerciais, erros de processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento no produto, avarias no transporte, entre outros motivos. Ainda de acordo com Leite (2002), a logística reversa de pós-consumo é a área de atuação da logística reversa que operacionaliza o fluxo físico e as informações correspondentes aos bens de pós-consumo descartados pela sociedade em geral que retornam ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo através de canais de distribuição reversos específicos. Os bens de pós-consumo são aqueles produtos em fim de vida útil ou usados e os resíduos industriais em geral. Seu objetivo estratégico é o de agregar valor a um produto logístico constituído por bens inservíveis ao proprietário original, ou que ainda possuam condições de utilização, por produtos descartados por terem atingido o fim de vida útil e por resíduos industriais. Estes produtos de pós-consumo poderão se originar de bens duráveis ou descartáveis e fluírem por canais reversos de reuso, desmanche ou reciclagem até a destinação final. As duas áreas da logística reversa possuem vantagens econômicas para a empresa que as utiliza. O Objetivo econômico de implantação da logística reversa de pós-consumo se deve às economias relacionadas com o aproveitamento das matérias-primas secundárias ou provenientes de reciclagem, bem como da revalorização dos bens pela reutilização e reprocesso (LEITE, 2003) Segundo Leite (2003), os canais de distribuição reversos que reintegram os produtos de pós-consumo ao ciclo produtivo subdividem-se em canais de ciclo aberto e de ciclo fechado.

Os canais de distribuição reversos de ciclo aberto caracterizam-se pelo processo de extração de material constituinte do produto de pós-consumo, o qual será reintegrado ao ciclo produtivo por meio da sua utilização na fabricação de diferentes produtos em substituição às matérias-primas virgens. Por exemplo, a extração do material ferroso de produtos como máquinas e automóveis, para fabricação de chapas, barras, entre outros, bem como a extração do plástico componente de embalagens, brinquedos, utensílios domésticos e sua utilização na indústria de sacos de lixo, potes, vasos, peças elétricas, etc (LEITE, 2003). Os canais de distribuição reversos de ciclo fechado são caracterizados pela extração do componente de determinado produto de pós-consumo, que voltará ao ciclo produtivo sendo reutilizado na fabricação de um produto similar ao de origem. Como exemplo, pode-se citar a extração de chumbo e plástico de baterias de veículos descartadas para serem usadas na fabricação de novas baterias (LEITE, 2003). 2.3 Avaliação do Ciclo de Vida Por trás do conceito de logística reversa, tem-se um conceito ainda mais amplo que é o de ciclo de vida do produto. Empresas líderes que buscam agregar valos às suas atividades empresariais através de uma visão ética e responsável quanto ao impacto de seus produtos ao meio ambiente, possuem atitudes típicas como a avaliação dos produtos e processos através da análise do ciclo de vida ambiental. A Avaliação do Ciclo de Vida é uma das ferramentas mais empregadas para avaliação dos potenciais impactos ambientais associados a um produto, além de ser a única ferramenta da gestão ambiental que avalia o produto por todo o seu ciclo de vida, ou seja, desde a concepção dos recursos naturais à sua destinação final no meio ambiente. Por meio desta avaliação pode-se identificar os aspectos ambientais em todos os elos da cadeia de produção e de consumo, desde a extração dos recursos naturais ao uso do produto, podendo compreender as etapas de embalagem, transporte, pós-consumo e disposição final dos rejeitos (GALDIANO, 2006). A idéia fundamental é a de que se tenha um instrumento para decidir qual o nível de impacto ambiental de um produto ao longo de sua vida e poder compará-lo em todas as fases desta. Poderá tornar mais claro alguns casos clássicos como o da escolha da melhor alternativa: embalagem retornável ou descartável. Possivelmente, traz maior clareza nas decisões da

sociedade sobre qual o ônus de cada agente que intervêm na forma de destinação final dos produtos (LEITE, 2000). Este conceito também é conhecido pela expressão do berço ao túmulo (cradle to grave), onde o berço representa o meio ambiente de onde são extraídos os recursos naturais que serão transformados, e o túmulo é o próprio meio ambiente enquanto destino final dos resíduos de produção e consumo que não forem reutilizados ou reciclados (BARBIERI et al, 2009). A logística reversa vem substituir este conceito do berço ao túmulo pelo conceito do berço ao berço (cradle to cradle), pois permite que produtos já utilizados voltem aos fornecedores e possam ser reciclados, reutilizados ou destinados para locais adequados ao invés de serem descartados no meio ambiente. 2.4 Legislação A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei n 12.305 de 2 de agosto de 2010, reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotadas pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos (BRASIL, 2010). Dentre os objetivos da PNRS estão: a proteção da saúde pública e da qualidade do meio ambiente, não geração, redução, reutilização e tratamento de resíduos sólidos, incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados, gestão integrada de resíduos sólidos, estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto, entre outros (BRASIL, 2010). Ela estabelece que o Poder Público e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações que envolvam os resíduos sólidos gerados. Tem por instrumentos os planos de resíduos sólidos; o monitoramento e a fiscalização ambiental, sanitária e agropecuária; a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; o incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis; a cooperação técnica e financeira entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de

gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos; etc. (BRASIL, 2010). De acordo com o artigo 33 da lei, são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: Agrotóxicos e suas embalagens; Pilhas e baterias; Pneus; Óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; Produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Também devem receber atenção, os produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, considerando, prioritariamente, o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados caso dos remédios usados, por exemplo (BRASIL, 2010). Os fabricantes e os importadores deverão dar destinação ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos, na forma estabelecida pelo órgão competente. Conforme estabelecido no artigo 42 da lei, o poder público poderá instituir medidas indutoras e linhas de financiamento para atender, prioritariamente, às iniciativas como: prevenção e redução da geração de resíduos sólidos no processo produtivo; desenvolvimento de projetos de gestão dos resíduos sólidos e estruturação de sistemas de coleta seletiva e de logística reversa (BRASIL, 2010). Além da PNRS, outras legislações estão relacionadas ao gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil. A Constituição federal de 1988, em seu artigo 225, garante o direito de todos os brasileiros ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Para fazer valer a Constituição, o país tem adotado medidas desde antes da PNRS. Além de leis estaduais sobre resíduos, destacam-se as legislações federais que impuseram, de alguma forma, novas condutas relacionadas à gestão de resíduos (INSTITUTO ETHOS, 2012):

Lei nº 9.974/00, a qual dispõe sobre a pesquisa, experimentação, produção, embalagem e rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, propaganda comercial, utilização, importação, exportação, destino final dos resíduos e embalagens, registro, classificação, controle, inspeção e fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins. Resolução CONAMA nº 313/2002, que dispõe sobre o Inventário Nacional de Resíduos Sólidos Industriais, conjunto de informações sobre geração, características, armazenamento, transporte, tratamento, reutilização, reciclagem, recuperação e disposição final dos resíduos sólidos gerados pelas indústrias do país. As atividades sujeitas a esse inventário estão listadas no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (INSTITUTO ETHOS, 2012). Por meio do Decreto n 7404/10, foi criado o Comitê Orientador para Implantação dos Sistemas de Logística Reversa (Cori), órgão colegiado de caráter deliberativo e consultivo. O comitê é presidido pelo titular do Ministério do Meio Ambiente. Entre as competências do Cori estão a aprovação dos estudos de viabilidade técnica e econômica de sistemas de logística reversa instituídos nos termos da PNRS, o estabelecimento da orientação estratégica para implementação de tais sistemas e a definição das diretrizes metodológicas para avaliação dos impactos sociais e econômicos. De acordo com a PNRS, todos os estados e municípios devem possuir planos de gestão, inclusive para ter acesso a recursos federais. Os seguintes estados já possuem legislação própria sobre gerenciamento de resíduos sólidos: São Paulo, Mato Grosso, Ceará, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul (INSTITUTO ETHOS, 2012).

3 METODOLOGIA As abordagens de uma pesquisa caracterizam de que maneira será realizado um processo de investigação com respeito a um problema e, também, identificam os métodos e tipos de pesquisa mais adequados para a situação de interesse. Esta pesquisa, quanto à abordagem, possui característica qualitativa. Segundo Godoy (1995), os estudos denominados qualitativos tem como preocupação fundamental o estudo e análise do mundo empírico em seu ambiente natural. Isto mostra a importância de se estabelecer um contato direto entre pesquisador, ambiente e a situação a ser estudada, o que permite a observação direta de aspectos relevantes da situação. Ainda segundo Godoy (1995), uma pesquisa qualitativa se caracteriza por utilizar diferentes caminhos para a obtenção das informações. Para a elaboração deste trabalho foi utilizada a pesquisa bibliográfica e o estudo de caso, pois foram os caminhos considerados mais adequados. No estudo de caso se realiza a análise aprofundada e detalhada de um ou mais objetos (casos), fazendo uso de múltiplos instrumentos de coleta de dados e interação do pesquisador com o objeto de pesquisa, o que permite um conhecimento mais detalhado. É um método muito produtivo para sugerir hipóteses e questões para a pesquisa. Foram realizados estudos de caso na área de logística reversa nas três empresas escolhidas: Gerdau S.A., inpev e Reciclanip destacando sua importância para estas organizações e sua relação com diversos outros setores. A pesquisa é de natureza descritiva e explicativa, pois procura descrever a realidade observada e estudada da forma como ela se apresenta buscando compreender o processo de logística reversa, para então chegar-se a alguma conclusão. Para se alcançar o objetivo do estudo, foram realizadas coletas de dados secundários cujas fontes foram os materiais disponibilizados pelas próprias empresas, como relatório anual, políticas e normas ambientais e dados divulgados nos sites das mesmas.

4 ESTUDOS DE CASO 4.1 Gerdau A Gerdau teve início em 1901 com uma pequena fábrica de pregos em Porto Alegre (RS). Atualmente, a empresa é líder no segmento de aços longos nas Américas e uma das principais fornecedoras de aços longos especiais do mundo. A empresa possui mais de 45 mil funcionários e operações industriais em 14 países nas Américas, na Europa e na Ásia, as quais somam uma capacidade instalada superior a 25 milhões de toneladas por ano. É considerada a maior recicladora da América Latina e, no mundo, transforma, anualmente, milhões de toneladas de sucata em aço, o que contribui para a preservação do meio ambiente e a diminuição da quantidade de material depositado em aterros e locais inadequados fator muito importante na decisão pela realização do estudo de caso nesta empresa. A Gerdau atende os setores da construção civil, indústria, e agropecuário, com uma ampla linha de produtos comercializados para os cinco continentes. Além disso, é também considerada líder mundial no fornecimento de aços longos especiais para a indústria automotiva. A Gerdau atua no Brasil com 15 usinas produtoras de aço e laminados, 3 unidades de transformação, 39 centros de corte e dobra de aço, 5 centros de serviços de aços planos, 9 unidades de coleta e processamento de sucata e 4 áreas de extração de minério de ferro. Além disso, conta com 87 filiais de distribuição da Comercial Gerdau. No mundo a Gerdau possui 61 unidades produtoras de aço e laminados, 141 unidades de transformação, 4 unidades de minério de ferro, 48 unidades de insumos / matérias primas (compreendendo unidades de coleta e processamento de sucata, unidades de produção de ferrogusa sólido e unidades de carvão mineral), 4 centrais geradoras de energia, 126 unidades comerciais, 3 terminais portuários privativos. 4.1.1 Gerdau e Logística Reversa Partindo da definição dada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos de que a logística reversa é um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos

sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada, e tendo como foco de análise a prática de logística reversa e sua importância sustentável, identificou-se que a Gerdau realiza logística reversa. A empresa trata o processo como reciclagem de sucata, no entanto, cuida da coleta, transporte e processamento da mesma, por isso este processo pode ser entendido como logística reversa. A logística reversa realizada pela Gerdau pode ser classificada como logística reversa de pós-consumo, pois retorna ao ciclo produtivo bens de pós-consumo descartados pela sociedade em geral. É considerada também logística reversa de ciclo aberto, pois os bens de pós-consumo, ou a sucata, é reintegrada ao ciclo produtivo para a produção de produtos diferentes. As maiores vantagens da reciclagem são a minimização da utilização de fontes naturais, muitas vezes não-renováveis, e a minimização da quantidade de resíduos que necessita de tratamento final, como aterramento ou incineração. A reciclagem do aço, por exemplo, que é o caso da Gerdau, não acarreta nenhuma perda de suas propriedades físicas, podendo assim ser reciclado continuamente (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2009). Segundo o Ministério de Minas e Energia (2009), pode-se classificar as sucatas ferrosas em: Sucata Interna: gerada dentro da própria Usina Siderúrgica; Sucata Industrial: gerada em metalúrgicas, fundições e plantas industriais; Sucata de Obsolescência: captada pós-consumo, provém da coleta de quaisquer materiais metálicos colocados em desuso que estejam em condições de serem reciclados; Levando em conta a classificação acima, a maior parte da sucata reciclada pela Gerdau são materiais que deixam de ser úteis à sociedade como fogões, geladeiras e carros velhos, classificados como sucata de obsolescência, esses materiais são reaproveitados e transformados em novos produtos de aço. A empresa recicla também o aço resultante do processo produtivo das indústrias, como a automotiva, de embalagens e de eletrodomésticos, o que seria a sucata industrial. A empresa busca, ainda, alternativas para o aproveitamento de coprodutos gerados durante a produção do aço, classificada como sucata interna, o que é feito por meio de diversas iniciativas, como a identificação de oportunidades de reciclagem no próprio processo produtivo do aço, o desenvolvimento de estudos em parcerias com universidades, entidades de pesquisa e

indústrias, além de melhorias internas no beneficiamento dos coprodutos para viabilizar a reciclagem. O principal mercado associado à reciclagem de aço é formado pelas aciarias, que derretem a sucata, transformando-a em produtos ou novas chapas de aço. O incremento da coleta seletiva desse material estimula o aumento da demanda de empregos e equipamentos de separação, como eletroímãs. Cada tonelada de aço reciclado representa uma economia de 1.140 quilos de minério de ferro, 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2009). De acordo com informações oficiais do site da empresa, em 2011, a Gerdau ampliou o nível de reaproveitamento de seus coprodutos e um dos destaques foi o início da reciclagem de 100% do pó coletado das aciarias elétricas de usinas localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro. Durante o processo, todo o zinco contido no pó é reaproveitado e o restante é transformado em produtos para a construção civil. Em 2012, foram iniciados estudos de viabilidade para ampliar esse projeto para outras plantas industriais localizadas no Brasil. Usinas nos Estados Unidos, no Canadá e na Espanha também contam com iniciativas para o reaproveitamento do pó de aciaria. Ações como estas contribuem para a conservação dos recursos naturais. Na Figura 2 a seguir é possível ver o ciclo da sucata, desde a separação até a produção e consumo do aço. De acordo com a figura podemos descrever as etapas: 1 Materiais obsoletos, como carros, fogões velhos, e o aço resultante do processo produtivo como a automotiva e de eletrodomésticos, são separados e tratados. 2 Através de seus pontos de recebimento e de sua rede de transportes, a Gerdau coleta tanto o material obsoleto, quanto as sobras do processo produtivo nas indústrias. 3 Toda a sucata que chega às unidades Gerdau é classificada, separada e processada. Após essa operação ela está pronta para ser transformada em aço novamente. 4 Nas usinas, a sucata é fundida junto aos outros elementos e transformada em aço líquido. O aço líquido passa por diversas etapas do processo produtivo e dá origem aos mais variados produtos para atender à construção civil, à agropecuária e à indústria. 5 Os novos produtos de aço são consumidos pela sociedade até tornarem-se obsoletos. Quando chegam ao fim de sua vida útil são reciclados outra vez dando início a um novo ciclo. O aço pode ser reciclado infinitas vezes sem nunca perder suas propriedades.

Figura 2: Ciclo da sucata Fonte: Gerdau (http://www.gerdau.com/meio-ambiente-e-sociedade/reciclagem-a-sucata.aspx) A utilização da sucata ferrosa no processo produtivo contribui para a preservação do meio ambiente e para a diminuição da quantidade de material depositado em aterros e locais inadequados, além de reduzir o uso de energia necessária no processo de produção do aço e, consequentemente, as emissões de CO 2. Além disso, a coleta e o processamento de sucata geram empregos ao longo de uma extensa cadeia de pequenos, médios e grandes empreendedores que se dedicam a essa atividade. A obtenção da sucata se dá de várias maneiras. A Gerdau possui parceria com empresas como a AkzoNobel Ltda. Tintas Coral. A Coral por meio do seu programa de logística reversa, possui um ponto de coleta de latas de tintas e vernizes vazias localizado em um grande Home Center em São Paulo. A Gerdau fica responsável por fazer a coleta destas latas vazias. Esta parceria gera um benefício tanto para a Coral, que tem a certeza de que os resíduos que são de sua responsabilidade estão sendo reaproveitados da maneira correta, além de poder proporcionar um serviço de descarte de latas para os seus clientes, melhorando assim a imagem de

comprometimento com o meio ambiente da empresa, quanto para a Gerdau, que reutiliza estas latas em seu processo de produção do aço 1. A Gerdau também possui unidades próprias de coleta e processamento de sucata no Brasil e na América do Sul. Para ampliar o abastecimento dessa matéria prima e desenvolver micro e pequenos fornecedores, foram promovidos, em 2012, programas de capacitações técnicas e gerenciais para cerca de 90 empresas e cooperativas de sucata no Brasil, no Chile, na Colômbia, no Peru, no Uruguai e na Venezuela, que ampliaram suas vendas para a Gerdau em 125%. A Gerdau também desenvolve projetos em parceria com o setor público no Brasil, na Colômbia e no Peru para promover a destinação correta de automóveis, caminhões e ônibus fora de circulação, objetivando ampliar ainda mais a coleta de sucata nas regiões onde atua. Além de contribuir para o meio ambiente, essas iniciativas desempenham um importante papel socioeconômico, pois reduzem as despesas dos governos com o armazenamento e geram ainda receita pela venda de sucata além de criar novas oportunidades de trabalho no processamento dessa matéria-prima. Já foram recicladas 36 mil toneladas de sucata desde 2010, quando o projeto teve início. A empresa deixa claro em seu Relatório Anual de 2012, que reciclar não é apenas uma iniciativa de proteção ambiental, pois faz parte, também, da sua estratégia de negócios. Os benefícios econômicos que a logística reversa traz para a empresa, também são inúmeros. Pode-se considerar um benefício econômico, a utilização da sucata ferrosa no processo de produção do aço, por ser uma matéria-prima muito mais barata, o que diminui o custo de produção. O próprio fato da Gerdau utilizar esta sucata como matéria-prima realizando a logística reversa e retirando do meio ambiente milhões de toneladas de sucata todos os anos, é um enorme benefício econômico, visto que a imagem de uma empresa que se mostra comprometida com a preservação do meio ambiente e dos recursos naturais atrai muitos consumidores que também se preocupam com estas questões. Através da análise dos dados coletados, foi possível perceber que a Gerdau é uma empresa que se preocupa com a sustentabilidade dos seus negócios. A logística reversa está presente no ciclo produtivo e nos negócios da empresa e reflete a sua preocupação com o meio ambiente e com a comunidade em geral. 1 De fato, a escolha do tema teve como influência o programa de logística reversa da AkzoNobel Tintas Coral, empresa onde trabalho.

A empresa é certificada pela norma ISO 14.001, que compõe o Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Por meio do SGA, o ciclo de produção do aço é monitorado desde a coleta da matéria-prima até a entrega do produto final e a destinação dos coprodutos. Socialmente falando, no ano de 2012 foram investidos R$ 52,7 milhões em mais de 900 projetos sociais, os quais foram desenvolvidos em 13 países onde a Gerdau atua. Essas iniciativas são direcionadas pelo Instituto Gerdau, responsável pelas políticas e diretrizes de responsabilidade social da empresa. Independentemente dos conflitos ambientais gerados pela empresa em outros ambitos e/ou atividades, o exemplo acima mostra que a escolha da empresa corresponde com as espectativas do objetivo do estudo, pois permite avaliar a importância da logística reversa em relação a vários aspectos. 4.2 inpev O inpev Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias é uma entidade sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover, em todo o Brasil, a correta destinação das embalagens vazias de defensivos agrícolas. A criação do inpev é resultado de um longo processo de amadurecimento sobre a questão da responsabilidade socioambiental e a sustentabilidade da agricultura brasileira. Nos anos 1960, os defensivos agrícolas começaram a ser utilizados em larga escala no país, neste período, um conjunto de leis buscou regulamentar sua aplicação, sem, no entanto, dispor sobre a destinação das embalagens pós-consumo. Com a falta de legislação para a destinação destas embalagens, os agricultores enterravam, queimavam e até descartavam as mesmas nos rios ou na própria lavoura, colocando em risco o meio ambiente. Algumas pessoas, ainda, reutilizavam as embalagens para transportar água e alimentos colocando em risco até a própria saúde. Diante desta situação, em 6 junho de 2000 foi promulgada a Lei Federal 9.974/00 que alterou a Lei n 7.802 de 1989, atribuindo aos usuários de defensivos agrícolas a responsabilidade de devolver as embalagens vazias aos comerciantes que, por sua vez, teriam de encaminhá-las aos fabricantes. Para tornar esse processo viável, foi criado o inpev, fundado em 14 de dezembro de 2001. Desde que entrou em funcionamento em março de 2002, o inpev atua na mobilização de todos

os elos da cadeia agrícola e da sociedade brasileira em geral em torno da questão da sustentabilidade. 4.2.1 O Sistema Campo Limpo A logística reversa das embalagens vazias de defensivos agrícolas é realizada por um programa gerenciado pelo inpev denominado Sistema Campo Limpo. O programa abrange todas as regiões do país e o que tem garantido o seu sucesso é ter como base o conceito de responsabilidade compartilhada entre agricultores, indústria, canais de distribuição e poder público, conforme as determinações legais. De acordo com informações do site oficial do inpev, a importância do Sistema Campo Limpo se evidencia diante do desempenho da agricultura brasileira nas últimas décadas. Devido ao agronegócio ter apresentado crescimento acima da média quando comparado aos setores industriais e de serviços, o uso de insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas também apresentou um grande crescimento. Sem a gestão dos resíduos daí resultantes, o impacto ambiental certamente seria gravíssimo. Uma pesquisa realizada pela Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) em 1999 indicava que 50% das embalagens vazias de defensivos agrícolas no Brasil naquela época eram doadas ou vendidas sem qualquer controle, 25% tinham como destino a queima a céu aberto, 10% eram armazenadas ao relento e 15% eram simplesmente abandonadas no campo (INPEV, 2012). A partir de 2002, porém, quando o Sistema Campo Limpo entrou em funcionamento, a maior parte dessas embalagens passou a ter destinação correta uma soma que, desde então, já ultrapassou 200 mil toneladas. Atualmente, cerca de 94% das embalagens plásticas primárias (que entram em contato direto com o produto) e 80% do total de embalagens vazias de defensivos agrícolas que são comercializadas têm destino certo. Podem ser encaminhadas para reciclagem 95% das embalagens colocadas no mercado, desde que tenham sido corretamente lavadas no momento do uso do produto no campo. As embalagens não laváveis (cerca de 5% do total) e aquelas que não foram devidamente lavadas pelos agricultores são encaminhadas para incineradores credenciados (INPEV, 2012).

Ainda segundo o inpev (2012), esses índices transformaram o Brasil em líder e referência mundial no assunto. Em segundo lugar vem a França, com 77%, seguida pelo Canadá, com 73%. Os Estados Unidos vêm em 9 lugar, com 33%. De acordo com a lei 9.974/00 os usuários de agrotóxicos, seus componentes e afins, deverão efetuar a devolução das embalagens vazias dos produtos aos estabelecimentos comerciais em que foram adquiridos, devidamente lavadas e inutilizadas, no prazo de até um ano, contado da data da compra, ou prazo superior, se autorizado pelo órgão registrante, podendo a devolução ser intermediada por postos ou centros de recolhimento desde que autorizados pelo órgão competente. Já as empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins, são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricadas e comercializadas, após a devolução pelos usuários, com vistas à sua reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e sanitário-ambientais competentes (BRASIL, 2000). A destinação final adequada, que é de responsabilidade dos fabricantes, é exercida por meio do inpev, através do programa Sistema Campo Limpo. Já o governo responde pela fiscalização, pelo licenciamento das unidades de recebimento e pelo suporte aos fabricantes na promoção de ações de educação ambiental e de orientação técnica necessárias ao bom funcionamento do sistema. A seguir, a tabela 1, evidencia as responsabilidades de cada setor.

Tabela 1: Responsabilidades compartilhadas de acordo com a lei n 9.974/00. Agricultor Canais de distribuição/ cooperativas Indústria fabricante Poder público Lavar as embalagens e inutilizar Indicar o local de devolução na nota fiscal de venda, ao vender o produto Retirar as embalagens vazias devolvidas nas unidades de recebimento Fiscalizar Armazenar temporariamente na fazenda Receber - dispor e gerenciar local de recebimento Destinar - Dar a correta destinação final às embalagens (reciclagem ou incineração) Licenciar Devolver no local indicado na nota fiscal Comprovar - Emitir comprovante de entrega para agricultores Orientar e conscientizar agricultores Educar Comprovar - Guardar o Orientar e conscientizar Orientar e conscientizar comprovante por um ano agricultores agricultores Participam do Sistema Campo Limpo, gerenciado pelo inpev, mais de 90 empresas associadas, que respondem por 85% dos custos do sistema, sendo que cada uma destina recursos de forma proporcional ao volume de embalagens colocadas no mercado. A seguir, o gráfico da figura 3 mostra o volume de embalagens vazias de defensivos agrícolas destinadas desde 2002. Figura 3: Volume de embalagens vazias de defensivos agrícolas destinadas desde 2002. Fonte: inpev (http://www.inpev.org.br/sistema-campo-limpo/estatisticas).