Maria da Glória Gohn- Profa. Fac. Educ. UNICAMP. Pesquisadora 1 A CNPq-Resumo

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Transcrição:

1 ANAIS DA 68ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC - PORTO SEGURO - BA - JULHO/2016 Mobilização da Juventude e Redes Sociais Maria da Glória Gohn- Profa. Fac. Educ. UNICAMP. Pesquisadora 1 A CNPq-Resumo Na sociedade ocidental os jovens são vistos como dotados de certas características que geram ações e produzem impactos e são, portanto, atores coletivos que desempenham papéis específicos na sociedade. Na década de 1960 inúmeros analistas afirmam que houve uma grande revolução cultural protagonizada pelos jovens que não queriam ser mais conduzidos pelo passado, pela tradição, pelos velhos, pelos tempos mortos. Dentre as formas de comunicação na época destacou-se o uso dos muros de Paris e as frases emblemáticas do movimento. As formas de comunicação alteraram-se muito nos anos 90 em relação às dos anos 60. A era dos computadores já predominava unindo jovens de diferentes partes do mundo em ideais e ações comuns. As manifestações da década de 1990 focalizaram o processo de globalização e os efeitos das políticas do modelo neoliberal em fóruns internacionais como o Fórum Social Mundial (FSM) e os atos durante as reuniões de cúpulas de dirigentes econômico-políticos, como em Seattle. Ao final da primeira década deste século, os jovens participantes de movimentos e mobilizações sociais mudaram novamente seus territórios e eixos de seus repertórios discursivos. Passaram da antiglobalização (ou alterglobalização) para a negação da globalização e seus efeitos sobre a economia e o social, especialmente após a crise econômico-financeira de 2008. A forma de comunicação entre os jovens manifestantes também se alterou e saber se comunicar on-line ganhou status de ferramenta principal para articular as ações coletivas. A articulação ocorre via redes sociais que utilizam computadores, a Internet, celulares e diferentes formas de mídia como meios de comunicação básicos. O registro instantâneo de ações transformou-se em arma de luta, ações que geram outras ações como resposta. As ferramentas do cibe ativismo se incorporaram ao perfil do ativista. As redes sociais digitais são recursos e fatores estratégicos nas novas formas de atuação dos jovens no espaço

2 público. Eles não necessitam tanto de uma organização suporte porque atuam como redes de interação e compartilhamento de crenças e valores. A organização ao redor de redes e não de uma organização ou dado movimento específico, tem possibilitado novas dinâmicas aos protestos sociais, que fogem do controle das organizações já tradicionais e institucionalizadas. O poder das redes vai além da mobilização. Impacta o caráter da ação coletiva desenvolvida. Por isso, na atualidade muitos jovens se organizam em Coletivos, e não querem se organizar em Movimentos Sociais. Qual a grande diferença? Estes jovens veem os movimentos como formas engessadas, tradicionais, com estruturas centralizadoras. Os Coletivos, ao contrário, são vistos como agrupamentos fluidos, fragmentados, horizontais (ainda que este último ponto seja parte mais da narrativa que criam do que a realidade verificada). A maioria não tem liderança, mas todos são líderes. Auto produzem imagens com discursos sem referência a tempos do passado, como se não tivessem outras memórias incorporadas além de si próprios. São fragmentados. Muitas vezes, combinam nas redes sociais a promoção de uma ação específica no tempo e em espaço público para impactar e se dissolver a seguir. O ambiente virtual propiciado pela Internet ocupa lugar central nesses novas ações coletivas no que diz respeito a infraestrutura de recursos para formar pautas, consensos, mobilizar a população, fazer convocações, divulgar resultados de atos, agendas futuras etc. Isso tudo em um ambiente onde predomina a horizontalidade e a autonomia dos participantes de se inserir ou não, de agregar ideias, críticas, comentários etc. sem ter de pedir licença para falar. Ao participarem deixam registros- nos blogs, fotos etc. que ajudam a criar uma memória e a construção de um imaginário sobre o tema em tela, criam códigos linguísticos que estabelecem uma gramática e criam símbolos que passam a ser compartilhados. Ao possibilitar a participação de múltiplos protagonistas de forma instantânea, desenvolvem-se processos de intersubjetividade e constroem-se processos discursivos que poderão gerar novos repertórios, novos direitos, novas propostas de processos que poderão vir a ser assumidos, no plano da sociedade civil e política, como novas pautas para institucionalização, para a

3 criação de normas comuns válidas para todos. Este é um dos aspectos do caráter educativo nas ações coletivas e nos movimentos sociais. Neste sentido eles são parte da democracia, complementam o arcabouço político institucional e podem aperfeiçoar e não de ameaçar a democracia ou o sistema político existente. Uma cultura democrática se constrói e se fortalece também desta forma. Por tudo isso, especialmente a partir de 2013, no Brasil, é preciso repensar as análises sobre a lógica da ação coletiva dos jovens diferenciando-a quando ocorre a partir de grupos, estruturas políticas e organizacionais dos movimentos já tidos como tradicionais na cena brasileira, nas últimas décadas, e as lógicas advindas do engajamento individual dos jovens em ações coletivas tipo as manifestações, convocadas por uma pluralidade de atores advindos de grupos sociopolíticos e culturais, para uma melhor compreensão das condições do ativismo nas ruas. Entretanto, é importante destacar também que o principal ator a dar início às manifestações de 2013 foi um movimento social: o MPL- Movimento Passe Livre. O MPL existe desde 2003, era restrito a um núcleo militante que reunia ativistas do próprio MPL, da juventude de alguns partidos de esquerda e coletivos libertários. O MPL tornou-se mais conhecido em 2005, no Fórum Social Mundial em Porto Alegre, e esteve presente em manifestações importantes de estudantes em Salvador em 2003 (conhecida por Revolta do Buzu), seguida de revoltas similares em Porto Alegre, Vitória e Belém. Em 2004 e 2005 ocorreram as Revoltas da Catraca em Florianópolis, de grande proporção com muitos participantes na questão das tarifas de ônibus. Promoveram ações em 2006 que denominavam de escrachos, momentos em que ridicularizaram atos oficiais e pautavam a demanda da Tarifa Zero. Portanto, o MPL estava longe de ser uma novidade no Brasil em 2013, mas, pela primeira vez, teve protagonismo inédito. A novidade estava na forma de organização renovada de um movimento social, articulado por redes sociais. Em 2013 os jovens denunciaram uma crise de representatividade dos partidos e dos políticos, que foram questionados, negados, mas não foi negada a política em si. Na nossa interpretação, as manifestações no Brasil a partir de 2013 também construíram significados novos às lutas sociais. Certamente que

4 seus protestos vão além do ativismo digital, que é um meio para um fim-a manifestação propriamente dita. Há múltiplos processos de subjetivação na construção dos sujeitos em ação - os acontecimentos no calor da hora provocam reações que geram novas frentes da ação coletiva. A composição das mesmas é complexa, diversificada, com múltiplos atores, propostas e concepções sobre a política, a sociedade, o governo. As emoções-dos indivíduos e coletivos ganham destaque nos protestos políticos e podem assumir papel ativo da construção do social. Muitos dos que protestam negam a política partidária atual. Contudo, não basta focar nos indivíduos, nas organizações e nos eventos de protesto, como bem disse Diani (2003). É preciso observar também a multiplicidade de laços entre os diferentes atores, episódios ocorridos na conjuntura sociopolítica e cultural paralelos aos eventos que poderão lhes dar sentido e direção. A pluralidade de indivíduos, grupos e organizações presentes em uma manifestação, deve ser analisada pelas redes de compartilhamento de crenças e pertencimentos, pelas interações informais e pelas identidades coletivas que vão construindo A democracia ampliou-se e as manifestações demonstram-nos que ela é um processo em construção, não algo dado ou encerrado. Um dos grandes legados de Junho de 2013 foi a legitimação do protesto social como forma de busca por mudanças conjunturais. As multidões têm aderido às ruas, às manifestações, como forma de pressionar por mudanças. Trata de um processo histórico-cultural. No Brasil os efeitos e os impactos das grandes manifestações têm sido no sentido de criar valores e pontos de vista nos participantes dos diferentes grupos envolvidos e na sociedade em geral, valores estes que remetem ao campo dos direitos, para se pensar uma nova geração de direitos, e em avanços democráticos, e nunca retrocesso da democracia. Junho de 2013 afetou o campo da política e a correlação das forças políticopartidárias foi tensionada, Entre 2013-2016 teve-se uma grande virada: de repertórios de ação sobre demandas específicas e localizadas-aumento das tarifas de transportes, passaram para questões éticas com um foco determinado: um partido político, e a presidência do país. Em 2016 ocorre um novo estágio na história política do país, com o retorno da luta e disputa política

5 nas ruas, com novos e antigos grupos e repertórios. Dentre os novos destacam-se o Vem Prá Rua e o Movimento Brasil Livre (entre outras novas siglas/grupos), com repertório de conteúdo liberal, centrado na crítica ao governo federal. No campo dos novos criaram-se também grupos e movimentos conservadores, a exemplo do grupo Revoltados On Line (que defendem a volta dos militares ao poder). Retomando bandeiras recorrentes nas últimas três décadas no Brasil, estes movimentos focalizaram temas de forte apelo popular: Ética na Política e Moralidade Popular. Captando as emoções e subjetividade coletiva, trabalharam temas como a indignação e a rejeição a política, o descontentamento popular. Por isso atraíram milhares de pessoas às ruas. O slogan principal nas manifestações era: Fora Dilma, Fora Lula, Fora PT. Dentre os antigos movimentos sociais em cena em 2016 destacaram-se movimentos sindicais, estudantil e populares, atuantes nos últimos 30 anos no Brasil (CUT, MST, MTST, UNE etc.). A novidade entre eles foi a união e reativação de muitos deles em Frentes de ação política, a exemplo da Frente Brasil Popular (composta por cerca de 60 movimentos e organizações com repertórios adaptados a conjuntura política atual, a exemplo da CUT, MST etc.) e a Frente Povo Sem Medo (composta de movimentos e agremiações partidárias mais recentes, a exemplo do MTST).Estas frentes conseguiram também mobilizar milhares de pessoas em atos de protesto em várias cidades brasileiras, especialmente nas capitais, contra o impeachment da presidente Dilma. Os slogans principais eram: não vai ter golpe e em defesa da democracia. Em síntese: o impeachment da Presidente Dilma Roussett aglutinou e dividiu estes grupos e movimentos em dois grandes blocos: os favoráveis e os contrários. Performances de confrontação passaram a ocorrer transformandose em espetáculo midiático, mas também em mediação de força na luta política. As redes sociais digitais, fator estratégico para as mobilizações em 2013 passaram a ter também, a partir de 2015, função pedagógica - de formação da opinião pública na luta pela criação de convencimentos. As narrativas de cada lado passaram a ser estratégicas. Sites e blogs explodiram na cena cotidiana sem nenhum compromisso com a veracidade dos fatos, com

6 o objetivo apenas de reafirmas narrativas, justificar bordões criados. Segundo Castells, as redes sociais digitais permitem que valores e projetos alternativos adquiram um potencial inédito na história dos movimentos sociais (Castells, 2013:95). Referencias CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. Redes de Indignação e Esperança. São Paulo, Zahar, 2013. CASTRO, Mary Garcia & ABRAMOVAY, Miriam. Quebrando Mitos, juventude, participação e políticas. Perfil, percepções e recomendações dos participantes da 1 a. Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude. Brasília: RITLA, 2009 DAIANI, Mário e MacADAM, Doug (Orgs). Social movements and networks: relational approaches collective actions. Oxford, Oxford Univ Press, 2003. GOHN, Maria da Glória. Manifestações de Junho de 2013 no Brasil e Praça dos Indignados no mundo. 2ª ed. Petrópolis, Vozes, 2014. GOHN, Maria da Glória. Sociologia dos Movimentos Sociais. São Paulo, Cortez ed, 2013 GOHN, Maria da Glória. Teorias dos Movimentos Sociais. Paradigmas clássicos e contemporâneos. 11º ed. São Paulo, Loyola Edições, 2013. GOHN, Maria da Glória. Movimentos sociais e redes de mobilizações civis no Brasil Contemporâneo. 5ª ed, Petrópolis, Vozes, 2013 GOHN, Maria da Glória.. Movimentos sociais e educação. 8 a ed. São Paulo: Cortez, 2012. GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais. 7ª ed, São Paulo, 2012 NOVAES, Regina & VANUCHI, Paulo (orgs.) Juventude e Sociedade: Trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2004.

7 SPOSITO, Marília Pontes. A produção de Conhecimento sobre Juventude na Área de Educação no Brasil (http://www.hottopos.com/harvard4/marilia.htm), 20/10/2005 TARROW-, S. New Transnational Activism. Cambridge: Cambridge Press, 2005..