XIX SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HIDRÍCOS DEGRADAÇÃO DO CONTAMINANTE EMERGENTE DICLOFENACO UTILIZANDO PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS



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Transcrição:

XIX SIMPÓSIO BRASILEIRO DE RECURSOS HIDRÍCOS DEGRADAÇÃO DO CONTAMINANTE EMERGENTE DICLOFENACO UTILIZANDO PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS Daniella Carla Napoleão 1 ; Danielle Pires de Souza 2 ; Marcelo da Rocha Leão de Magalhães 3 ; Léa Elias Mendes Carneiro Zaidan 4 ; Marta Maria Menezes Bezerra Duarte 5 ; Mohand Benachour 6 ; Valdinete Lins da Silva 7 Resumo Um grupo de micropoluentes denominados contaminantes emergentes vem despertando o interesse da comunidade científica mundial. Isso se deve ao fato de que essas substâncias são capazes de provocar danos à saúde de animais e seres humanos. Dentre os diversos grupos que compõem essa classe de contaminantes estão os fármacos, os quais são encontrados em matrizes ambientais, como por exemplo, após estações de tratamento de efluentes e rios. A utilização de processos oxidativos avançados (POA) é uma das tecnologias empregadas para remoção de micropoluentes dos meios contaminados. Este trabalho objetivou avaliar, quantificar e tratar soluções aquosas com o contaminante emergente (CE): Diclofenaco. Foi utilizado um Planejamento Fatorial 2 3 com ponto central para determinar a melhor condição de operacionalização. Soluções sintéticas foram preparadas com o princípio ativo do fármaco em estudo, quantificadas antes e após a aplicação do POA, através de análise por LC/MS IT-TOF. Para que fossem obtidos resultados consistentes, a metodologia utilizada foi previamente validada. O processo de degradação utilizado obteve 100% de degradação do fármaco estudado, sendo possível determinar o ponto ótimo de degradação do fármaco (ph entre 6 e 7, adição de 2µL de H 2 O 2 e sem adição de ferro). Abstract A group of micropollutants denominated emerging contaminants has aroused the interest of the global scientific community. This is due to the fact that these substances are capable of causing harm to the health of animals and humans. Among the various groups that make up this class of contaminants are pharmaceuticals, which are found in environmental matrices, for example after effluent treatment plants and rivers. The use of advanced oxidation process (AOP) is one of the technologies used for removal of micropollutants from contaminated media. This study aimed to evaluate, quantify and treat aqueous solutions with emerging contaminants (EC): Diclofenac. Was used a factorial design with center point 2 3 to determine the best operational condition. Synthetic solutions were prepared with the active ingredient of the drug under study, measured before and after implementation of the AOP, through analysis by LC/MS IT-TOF. For consistent results were obtained, the methodology was previously validated. The degradation process used had a 100% degradation of the drug studied and it is possible to determine the optimum degradation of the drug (ph between 6 and 7, the addition of H 2 O 2 2μL and without added iron). Palavras-Chave Contaminantes Emergentes, POA 1 Doutoranda em Engenharia Química; UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; danicarlan@gmail.com 2 Mestranda em Engenharia Química; UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; daniellepiress@hotmail.com 3 Graduando em Engenharia Química; UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; marcelo_rlm@hotmail.com 4 Doutoranda em Engenharia Química; UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; leazaidan@yahoo.com.br 5 Professora Adjunta 2 da UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; mmmbduarte@gmail.com 6 Professor Associado 2 da UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; mbena@ufpe.br 7 Professora Titular da UFPE, DEQ; Av. Prof. Moraes Rego, 1235 - Cidade Universitária, Recife PE; leaq_val@yahoo.com.br XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1

INTRODUÇÃO A preocupação em torno de micropoluentes que provocam alterações importantes à saúde de animais e seres humanos aumenta progressivamente de modo que já ocorreram diversas conferências e apresentações sobre esta temática. Em Cincinnati no ano de 2009 pesquisadores discutiram sobre essas substâncias denominadas Contaminantes Emergentes (CE), os quais são encontrados no meio ambiente em escala de µg e ng causam efeitos adversos a organismos saudáveis e suas subpopulações [Raimundo (2007); Murnyak et al. (2010)]. O interesse por esses compostos passou a ser maior depois que os mesmos foram verificados em matrizes ambientais, como por exemplo: verificação de estrogênios naturais e sintéticos em efluentes de Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) de países como Alemanha e Suécia; outro caso mais preocupante se deu ao verificar evidências de ovotestes em peixes do sexo masculino, bem como presença dos CE em cérebros de mamíferos marinhos [Desbrow et al. (1998); Montie et al. (2009)]. Detectada a presença dos Contaminantes Emergentes em ETE e Estação de Tratamento de Água (ETA) é necessário avaliar os processos utilizados em cada um desses tratamentos. Os processos oxidativos avançados (O 3 /H 2 O 2, fotocatálise, UV/H 2 O 2 ) e a ozonização têm sido empregados com o objetivo de eliminar esses contaminantes [Huber et al, (2003)]. Para que se possa verificar a eficácia dos processos utilizados para degradação dos compostos, faz-se necessário dispor de técnicas confiáveis para a determinação e quantificação dos mesmos. Sendo assim, o emprego da cromatografia e da espectrometria de massas são largamente aplicados, sendo interessante utilizar equipamentos que reúnam esses dois tipos de técnicas, garantindo assim resultados com alta seletividade e sensibilidade [Lanças (2009)]. Objetivando resultados mais precisos foi que se desenvolveu a cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas, pois esta é capaz de realizar análises quantitativas e qualitativas. Essas análises estão baseadas nos íons produzidos e separados no espectrômetro de massas com base na relação massa/carga (m/z) [Harris (2001) apud Demoliner (2008)]. Uma vez determinada a técnica para analisar e quantificar os compostos pode-se então avaliar o percentual de degradação da substância. No caso do estudo POA, diversas variáveis são empregadas e condicionantes do processo, por isso, é importante utilizar o planejamento de experimentos para que se possa ter uma maior confiabilidade das conclusões obtidas a partir da análise de dados [Silva (2007)]. O Planejamento Fatorial é um exemplo de ferramenta estatística capaz de visualizar as possíveis interações entre as variáveis utilizadas, bem como a correlação dos parâmetros envolvidos XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2

[Gromboni et al. (2007)]. Ao realizar um planejamento fatorial é necessário especificar os níveis a serem estudados e variá-los, bem como garantir que os experimentos sejam feitos em todas as possíveis combinações dos níveis dos fatores. [Barros Neto et al. (2007)]. OBJETIVO Avaliação, quantificação e tratamento do Contaminante Emergente Diclofenaco em água empregando respectivamente LC-MS/IT-TOF e Processo Oxidativo Avançado. METODOLOGIA Preparação da amostra: Foi preparada uma solução aquosa a partir de uma água de abastecimento contaminada com1 mg.l -1 do princípio ativo do Diclofenaco. Extração e concentração do Diclofenaco: Cerca de 50 ml de água de abastecimento contaminada com Diclofenaco foram extraídos pela técnica de extração líquido-líquido (ELL), os quais foram tranferidos para um funil de separação de 250 ml. Em seguida foram adicionados 10 ml de diclorometano p.a (Merck) e realizada agitação por cerca de 2 minutos. Esta última etapa foi repetida por mais duas vezes; o extrato obtido foi concentrado e rota-evaporado a 40 ± 1ºC. O extrato concentrado foi transferido para um balão de 5 ml e o volume foi aferido com metanol p.a.(merck). Análise por LC/MS IT TOF: Esta etapa teve por objetivo identificar a presença na água contaminada antes e após a degradação, com base na curva analítica numa faixa linear de concentração de 0,01 a 1 mg.l -1 do composto estudado, Limite de Quantificação (LQ) = 0,02 mg.l -1 e Limite de Detecção (LD) = 0,007 mg.l -1. Foi utilizada coluna ODS 50 x 2 mm e 3 µm. A fase móvel empregada foi metanol, com utilização de acetato de amônio como padrão interno. É importante salientar que a metodologia empregada foi previamente validada de modo a garantir a confiabilidade dos resultados. Degradação do fármaco frente ao POA: Foi utilizado um planejamento fatorial 2 3 com ponto central (em triplicata) para avaliar a degradação da água contaminada com o princípio do Contaminante Emergente (CE) em estudo. As variáveis escolhidas para avaliar a influência na degradação do CE foram: ph, Adição de FeSO0 4.7H 2 O e Adição de H 2 O 2. A partir da determinação XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 3

dessas variáveis foi possível montar um planejamento com três fatores, cada um analisado em dois níveis, mais análise de ponto central em triplicata, totalizando 11 experimentos. A descrição do planejamento fatorial completo (com detalhamento dos níveis dos fatores estudados) encontra-se apresentada na Tabela 1. Para o processo de degradação foram utilizados cerca de 50 ml da solução sintética contaminada com o fármaco estudado. Este procedimento foi realizado em reator de bancada de luz UV-C (Philips 30 W) por um período de 2 horas, utilizando béqueres com capacidade para 100 ml. Tabela 1- Planejamento Fatorial 2 3 mais Ponto Central (análise em triplicata). Ensaio ph Adição de H 2 O 2 (µl) Adição de FeSO 4.7H 2 O (mg) 1 - (3-4) - (2) - (sem adição) 2 + (6-7) - (2) - (sem adição) 3 - (3-4) + (4) - (sem adição) 4 + (6-7) + (4) - (sem adição) 5 - (3-4) - (2) + (21,6) 6 + (6-7) - (2) + (21,6) 7 - (3-4) + (4) + (21,6) 8 + (6-7) + (4) + (21,6) 9 0 (4-5) 0 (3) 0 (10,8) 10 0 (4-5) 0 (3) 0 (10,8) 11 0 (4-5) 0 (3) 0 (10,8) RESULTADOS A degradação do Diclofenaco utilizando os processos Foto-Fenton e ação UV/H 2 O 2 foi avaliada após extração líquido-líquido (ELL) com diclorometano e concentração em rotaevaporador para 1 mg.l -1 conforme descrito na metodologia. As amostras concentradas foram submetidas à análise através do LC/MS IT-TOF para quantificação do composto. Uma vez obtidos os valores antes e após o processo de degradação foi possível calcular o percentual de degradação obtido para os diversos ensaios realizados, os quais estão dispostos na Tabela 2. É importante ressaltar que o percentual de recuperação do Diclofenaco durante o processo de ELL foi de 94%. XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4

Tabela 2 - Resultados dos ensaios realizados para o planejamento fatorial 2 3 mais ponto central (análise em triplicata) visando à degradação do Diclofenaco. Ensaio % de Degradação do Diclofenaco 1 100,0 2 100,0 3 100,0 4 100,0 5 100,0 6 83,1 7 78,0 8 76,3 9 80,4 10 81,6 11 78,3 Baseado nos dados da Tabela 2 foi possível realizar os cálculos dos efeitos dos fatores e as interações entre eles, utilizando para isso o programa Statistica 6.0. Os resultados obtidos conseguiram identificar quais dos efeitos foram estatisticamente significativos para 95% de confiança nos níveis estudados, conforme mostrado na Tabela 3. Tabela 3- Efeitos principais e de interação calculados para o planejamento fatorial 2 3 para o Diclofenaco, com os seus respectivos erros padrão (em %). Efeitos Resultados Média: 310,18 ± 2,79 Efeitos Principais: 1-pH 1,52 ± 2,79 2- H 2 O 2 25,21 ± 2,79 3- Fe 308,93 ± 2,79 Interação de dois fatores: 1*2 0,01 ± 2,79 1*3 155,02 ± 2,79 2*3 263,48 ± 2,79 Interação de três fatores: 1*2*3 122,32 ± 2,79 Uma melhor visualização dos resultados expostos na Tabela 3 pode ser observada através da análise da Carta Pareto (Figura 1). XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 5

Figura 1- Carta de Pareto referente à degradação do Diclofenaco, com erro puro igual a 2,79. A análise da Carta de Pareto representada pela Figura 1 mostra que o efeito principal ferro foi estatisticamente significativo para 95% de confiança. Esse efeito apresentou um valor negativo indicando que do menor nível de ferro estudado para o maior nível ocorre uma redução da degradação do fármaco. O efeito principal H 2 O 2 não foi estatisticamente significativo, para os níveis estudados, indicando que o mesmo encontra-se em excesso. Para que se possa compreender melhor o efeito de interação de dois fatores entre ph-ferro e H 2 O 2 -ferro,é interessante analisar os gráficos de superfície representados pelas Figuras 2 e 3. Figura 2- Análise do efeito de interação ph e ferro para degradação do Diclofenaco. XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6

A Figura 2 indica que a relação entre os fatores analisados é inversamente proporcional, isto é, ocorre um maior percentual e degradação do fármaco quando se conjuga um maior nível de adição de ferro com um menor nível de controle do ph, bem como quando se combina um menor nível de adição de ferro com um maior nível de controle do ph. Figura 3- Análise do efeito de interação H 2 O 2 e ferro para degradação do Diclofenaco. A análise da Figura 3 permite verificar que a relação entre peróxido de hidrogênio e ferro é inversamente proporcional, mostrando que quanto maior a adição de peróxido de hidrogênio menor será a adição de ferro e vice-versa. O efeito inversamente proporcional observado na Figuras 2 deve-se ao fato de que em ph superior a 5 inicia-se o processo de conversão de Fe 2+ para Fe 3+ reduzindo o seu efeito. Na Figura 3 essa inversão ocorre, uma vez que o efeito principal Ferro é negativo, sem a presença do Ferro (ação UV/H 2 O 2 ) é eficiente para promover a degradação do fármaco estudado. Sendo assim a análise dos ensaios realizados levando-se em consideração as condições destacadas nas análises das Figuras 2 e 3, indica que dentre os ensaios (de 1 a 5) que apresentaram 100% de degradação o de número 2 pode ser considerado o melhor, tendo em vista que este ensaio ocorreu sobre as seguintes condições: ph entre 6 e 7 (ph natural da amostra); adição de 2µL de peróxido de hidrogênio e sem adição de ferro. XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 7

CONCLUSÃO O processo oxidativo avançado utilizando reator de bancada com lâmpada UV-C foi eficiente para a degradação do Contaminante Emergente Diclofenaco em todos os níveis de fatores estudados, conseguindo obter 100% de degradação desse composto. A análise do planejamento fatorial 2 3 demonstrou que o efeito principal ferro e os efeitos de interação de dois fatores (ph-ferro e H 2 O 2 - ferro) foram estatisticamente significativos para 95% de confiança. A condição ótima encontrada para a degradação do composto estudado foi: controle de ph entre 6 e 7; adição de 2µL de H 2 O 2 e sem adição de sulfato ferroso heptahidratado, com obtenção de 100% de degradação do Diclofenaco. AGRADECIMENTOS A CAPES, à FACEPE, Projeto CNPQ/INCTAA. BIBLIOGRAFIA BARROS NETO, B.; SCARMINIO, I. S.; BRUNS, R. E. Como fazer experimentos,3ª Ed, Campinas, SP, Editora da UNICAMP, 2007. DEMOLINER, A. Otimização e validação de metodologia analítica empregande SbPE e LC-ESI- MS/MS para determinação de multiclasses de agrotóxicos e metabólitos em água de superfície e abastecimento público, Dissertação de Mestrado, RS, 2008. DESBROW, C.; ROUTLEDGE, E. J.; BRIGHTY, G. C.; SUMPTER, J. P.; WALDOCK, M.; Identification of estrogenic chemicals in STW effluent. 1. Chemical fractionation and in vitro biological screening, Environmental Science Technology, n. 32, p 1549, 1998. GROMBONI, C. F.; FERREIRA, A. G.; KAMOGAWA, M. Y.; NOGUEIRA, A. R. A. Avaliação da reação Foto-Fenton na decomposição de resíduos de carrapaticida.química Nova, v. 30, n.2, 2007. HUBER, M.; CANONICA, S.; PARK, G. Y.; VON GUTEN, U. Oxidation of pharmaceuticals during ozonation and advanced oxidation processes, Environmental Science Technology, n. 37, p. 1016-1024, 2003. LANÇAS, F. M.; A Cromatografia Líquida Moderna e a Espectrometria de Massas: finalmente compatíveis? Scientia chromatographica, v. 1, n. 2, 2009. MONTIE, E. W.; REDDY, C. M.; GEBBINK, W. A.; TOUHEY, K. E.; HAHN, M. E.; LETCHER, R. J.; Organohalogen contaminants and metabolites in cerebrospinal fluid and cerebellum gray matter in short-beaked common dolphins and Atlantic white-sideddolphins from the western North Atlantic; Environmental Pollution, v. 157, p. 2345-2358, 2009. XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 8

MURNYAK, G.; VANDENBERG, J.; YAROSCHAK, P. J.; WILLIAMS, L. PRABHAKARAN, K.; HINZ, J. Emerging contaminants: Presentations at the 2009 Toxicology and Risk Assessment Conference; Toxicology and Applied Pharmacology, doi:10.1016/j.taap.2010.10.021, 2010. RAIMUNDO, C. C. M.; Ocorrência de Interferentes Endócrinos e Produtos Farmacêuticos nas Águas Superficiais da Bacia do Rio Atibaia, Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, SP, 2007. SILVA, J. G. C. Estatística Experimental: Planejamento de Experimentos,Universidade Federal de Pelotas, RS, 2007. XIX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9