Dijk, Teun A. van. Discurso e poder/ Hoffnagel, J. & Falcone, K. (Orgs.) São Paulo: Contexto, 281 págs.

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Transcrição:

Dijk, Teun A. van. Discurso e poder/ Hoffnagel, J. & Falcone, K. (Orgs.) São Paulo: Contexto, 281 págs. Resenhado por Theresa Jardim Frazão 1 (Universidade de Brasília) A entrada no mercado editorial brasileiro de mais um livro do linguista holandês Teun van Dijk é sempre saudada com simpatia e a exclamação de que chegou numa boa hora. Primeiramente, por representar, sempre e mais, uma importante contribuição aos estudos da análise do discurso crítica e porque o aparecimento de mais um dos seus livros amplia o acesso a textos que, predominantemente, estão disponíveis em inglês e espanhol. Assim é que parte de uma vasta produção acadêmica transforma-se nesse acréscimo oportuno à bibliografia do autor em português do Brasil. Discurso e Poder vem acrescentar informações valiosas àqueles que buscam van Dijk a dirimir dúvidas e apontar caminhos, o que sempre ele consegue fazer, através dos seus escritos ou das conferências, repletas de público entusiasta. Ambas as formas são instigantes e afeitas à realidade, a exemplo dessa obra em foco que, provavelmente, conseguirá repetir o impacto produzido pelas suas publicações brasileiras anteriores, como Cognição, Discurso e Interação (2004), com a apresentação e organização da professora Ingedore Koch, e Racismo e Discurso na América Latina (2008). Vale salientar que duas dessas publicações, pela Editora Contexto, não constituem per si um livro no sentido estrito, elaborado como tal, mas um apanhado a formar coletânea que resulta de atos perpetrados pelas organizadoras, Kock (2004), no primeiro e, no segundo, Judith Hoffnagel e Karine Falcone (2008), a garimpar assuntos correlatos em obras que não foram até então traduzidas, no nosso país. Isso 1. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da UnB 157

pode ser visto quando determinado enfoque é repetido por duas ou mais vezes. No total, é perceptível a intenção de relacionar os diversos excertos, capítulos e partes de distintos livros em função justamente da correlação e pertinência com o eixo temático. Enquanto o livro Cognição, Discurso e Interação traz artigos publicados no período de 1976 a 1990, Discurso e Poder apresenta ensaios de 1989 a 2006. Na primeira parte desta segunda obra Discurso e dominação: uma introdução, o autor justifica a recorrência do tema porque, embora haja muitas publicações sobre o assunto, é imperativo focalizar as dimensões do poder que são diretamente relevantes para o estudo do uso linguístico, do discurso e da comunicação, vez que o exercício e a manutenção do poder apóiase na estrutura ideológica: Essa estrutura, formada por cognições fundamentais, socialmente compartilhadas e relacionadas aos interesses de um grupo e seus membros, é adquirida, confirmada ou alterada, principalmente por meio da comunicação e do discurso. (p.43). Entre os cuidados que enumera para a identificação de tal estratégia, está a necessidade da observância de uma entonação particular, emprego de pronomes, constituição e disposição das manchetes jornalísticas, escolhas lexicais, o ângulo e seleção de fotografias, uso de metáforas, que podem dar relevo e tornar evidente uma relação abstrata como é a de poder e sociedade. Ainda nessa primeira parte, van Dijk explica a concepção dos Critical Discourse Studies, expressão que em português (língua que ele conhece bem) é traduzida por Estudos Críticos do Discurso (ECD), tem por base a definição do que seja poder, sendo um movimento científico especificamente interessado na formação de teoria e na análise crítica da reprodução discursiva de abuso do poder. Assim, estuda as relações de poder da perspectiva de grupos dominados e dos seus interesses; as experiências desses grupos para compará-las à contextualização discursiva dos grupos dominantes; e, mais decisivamente, à formulação de alternativas de resistência, caminhos possíveis dos grupos dominados no enfrentamento dos discursos dos dominadores. Quando van Dijk aborda o tema discurso e reprodução do poder social analisa mecanismos de defesa de interesses dos detentores do 158

poder em detrimento dos dominados, o que configura, então, o abuso do poder: o controle se aplica não só ao discurso como prática social, mas também às mentes daqueles que estão sendo controlados, isto é, seus conhecimentos, opiniões, atitudes, ideologias, como também às outras representações pessoais ou sociais. (p.18). Entre outros aspectos importantes abordados pelo autor, está aquele que se transforma em impasse para quem trabalha com a Análise do Discurso Crítica, ao tentar relacionar a análise discursiva com o social, sem perder o foco na sua concretização, resultante no aprofundamento analítico e complexo das estruturas de organização, do controle e do poder. Muitas vezes, tal ação acarreta o surgimento de problemas metodológicos, pela impossibilidade de acesso às fontes, que sonegam dados ou se recusam a fornecer a informação necessária e indispensável. As relações entre discurso e poder social levam em conta que esse poder exerce uma forma de controle social se a sua base for constituída de recursos socialmente relevantes. Dessa forma, van Dijk ressalta de forma recorrente a importância da estrutura ideológica para o exercício e a manutenção do poder social, compreendendo cognições fundamentais, socialmente compartilhadas e relacionadas aos interesses de um grupo e dos membros. Essa base ideológica é adquirida, mantida ou alterada, através da comunicação e do discurso. Intencionalmente, o uso de uma ideologia proporciona a necessária coerência às atitudes sociais para transformá-las nas práticas sociais. O autor enfatiza que a saída para esse impasse somente pode ser representada pelo contrapoder, como resistência ao poder constituído, o que, para ele, apesar de ser difícil, acontece. A afirmativa repisa o óbvio, pois a observância dos passos da história da humanidade fornece exemplos antológicos. Essa estratégia estilística de expor tal evidência busca destacar a capacidade de reação do ser humano consciente de si mesmo, da esfera à qual pertence, e do seu papel na estrutura da sociedade onde vive. Somente assim é promovida a mudança do status quo e refeita a confiança desse ser como gestor do seu mundo. Vale lembrar que, através dos tempos, foi esse contrapoder que impulsionou revoltas e mudanças na Roma imperial, fez 159

sucumbir ditaduras da América Latina, redefine a ordem social e econômica, motiva protestos contra os desmandos e deixa antever e possibilita divulgar, por exemplo, os perversos abusos praticados em Guantánamo, Iraque ou Afeganistão. É o contrapoder que alimenta o estado de constante vigília, que permite o combate a tantas atrocidades. É sempre assim que o contrapoder, materializado na resistência à dominação, reinaugura um novo e desejável tempo. Um dos capítulos é dedicado a discurso e negação do racismo, tema recorrente nos trabalhos de van Dijk. A partir do uso frequente da frase de negação aparente como não tenho nada contra os negros, mas... (p.142) ele analisa estratégias discursivas, relacionando-as com as funções cognitivas e sociais, usadas para camuflar, em gêneros orais e escritos, a existência de questões étnicas e raciais. Tendo em vista que teoricamente impressões são representações de pessoas, e levando em conta os esquemas mentais para definir categorias pelas quais alguém é julgado, a negação de racismo, e de ser racista, tem uma dimensão social e, outra, individual. Assim, as pessoas de pele branca negam veementemente o rótulo, claramente ofensivo, de racista. No campo social, o discurso público tem uma grande audiência, já que adquire visibilidade na mídia, setores da educação, na política, em empresas e outras organizações. É a forma mais forte e abrangente, fazendo predominar o discurso social consensual do branco dominante. O indivíduo, por sua vez, reage com a absorção de preconceitos, mas sem se declarar racista. É útil não se reconhecer como tal para ser um cidadão decente. A parte que trata de Discurso e Manipulação, tradução de Discourse and Manipulation, texto publicado em Discourse & Society, n 17, de 2006, é subdividida em análise conceitual, manipulação e sociedade, e manipulação e cognição. O autor estuda a manipulação como prática discursiva para a comunicação e a interação porque, ao assumir caráter de violação às normas sociais, se concretiza no predomínio de alguém sobre outros, sempre em detrimento destes, já que têm princípios, valores e interesses contrariados, sem se dar conta dessa manipulação. 160

É assim que a manipulação, ao se voltar para o poder e ao se envolver com o poder, transforma ações em abuso do poder, ou atos de dominação. Os manipuladores nunca se declaram como tal, por falta da percepção do que fazem ou porque a denominação como rótulo, por ser nefasta, não lhes é conveniente. A manipulação é, pois, uma das práticas sociais discursivas de grupos detentores do poder que objetiva reproduzir e ampliar esse mesmo poder, gerando a possibilidade de tornar natural e legitimar essa relação poder e dominação. Há certas observações de van Dijk que instauram de pronto o déjà-vu e a constatação de obviedade. Subjacente, porém, há possivelmente a intenção do autor de deixar claro que o problema não está superado, sendo imperioso, portanto, repetir tais informações, pois acontecimentos de agressão à dignidade humana e atos arbitrários sempre voltam a ocorrer. Estar alerta, dissecar as artimanhas e mecanismos do poder, aprofundar a análise dos seus discursos transformam-se em rotas saudáveis e desejáveis na luta contra o autoritarismo e a manipulação. E van Dijk, ao escrever o que escreve, ao usar linguagem clara e objetiva, cumpre seu papel de acadêmico e de cidadão do mundo. Ao adentrar esse Discurso e Poder, somos, portanto, beneficiados com instigantes e preciosos argumentos para analisar criticamente os discursos que nos rodeiam e as manifestações de poder que nos atordoam. Recebido em: outubro de 2009 Aceito em: dezembro de 2009 tecafrazao@yahoo.com.br Referências Bibliográficas Van Dijk, T.A. Cognição, Discurso e Interação. São Paulo: Contexto, 2004. Racismo e Discurso na América Latina. São Paulo: Contexto, 2008. 161