CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOQUIMICA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA ILHA DE BOIPEBA - BA.

Documentos relacionados
ELEMENTOS-TRAÇO NO AQUÍFERO MACACU, RIO DE JANEIRO BRASIL

QUALIDADE DAS ÁGUAS DO AQÜÍFERO FURNAS NA CIDADE DE RONDONÓPOLIS (MT).

ANÁLISE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO AQUÍFERO JANDAÍRA EM APOIO AO PROGRAMA ÁGUA DOCE NO RIO GRANDE DO NORTE (PAD/RN)

Estudo da interacção água subterrânea/água superficial nos sistemas associados à Lagoa de Albufeira, em periodo de barra aberta

MODELAGEM DA QUALIDADE DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NA ÁREA DO CAMPUS DA UFMG PROHBEN; AVALIAÇÃO PRELIMINAR.

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba, campus Campina Grande-PB

ÁGUA SUBTERRÂNEA BAIXO MONDEGO

HIDROQUÍMICA DO SISTEMA AQUÍFERO BAURU NA REGIÃO SUDOESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

CAPÍTULO 2 ASPECTOS FISIOGRÁFICOS Clima Relevo Hidrografia Solos Vegetação... 13

CONTAMINAÇÃO DO AQÜÍFERO TAUBATÉ POR UMA LAGOA DE EFLUENTES INDUSTRIAIS CONTENDO BORO

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE PARAÍSO DO TOCANTINS

Características hidroquímicas e hidrodinâmicas do aquífero na planície arenosa da Costa da Caparica

CARACTERIZAÇÃO HIDROQUÍMICA DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE AMETISTA DO SUL- RS

MONITORAMENTO EDÁFICO HÍDRICO

ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE ÍONS NITRATO NOS POÇOS TUBULARES QUE ABASTECEM NOVA PARNAMIRIM

MONITORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO BENFICA COM VISTAS À SUA PRESERVAÇÃO

MONITORAMENTO EDÁFICO HÍDRICO

ESTUDO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA DAS ÁGUAS DE POÇOS TUBULARES, LOCALIZADO NO SITIO GUABIRABA DO MUNICÍPIO DE LAGOA SECA-PB

ÁGUA Fundamentos Caracterização Impurezas Classificações Legislação aplicada Tratamentos

PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DA ÁGUA DE UM POÇO TUBULAR LOCALIZADO NO SÍTIO VÁRZEA NO MUNICÍPIO DE GURJÃO-PB

DETERMINAÇÃO FISICO-QUÍMICA DE POTABILIDADE DA ÁGUA DE UM POÇO TUBULAR DO SITIO DORCELINA FOLADOR NO MUNICIPIO DE CUBATI-PB

ESTUDO FÍSICO-QUÍMICO DE ÁGUA DO POÇO TUBULAR LOCALIZADO NO SÍTIO URUBU NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE BOA VISTA - PB

MACEIÓ PARAIBANO DO BESSA-AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA QUALIDADE DA ÁGUA QUANTO AOS PARÂMETROS FÍSICO- QUÍMICOS

USO E QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PARA ABASTECIMENTO PÚBLICO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Saneamento I. João Karlos Locastro contato:

José Cláudio Viégas Campos 1 ; Paulo Roberto Callegaro Morais 1 & Jaime Estevão Scandolara 1

CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA DISPONIBILIZADA NO CANAL DO SERTÃO ALAGOANO

Brasil. Cunha, M. C. B. ANÁLISE DA CONCENTRAÇÃO DE ÍONS NITRATO NOS POÇOS TUBULARES QUE ABASTECEM NOVA PARNAMIRIM HOLOS, vol. 6, 2012, pp.

MECANISMOS E FONTES DE CONTAMINAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE NATAL/RN POR NITRATO

QUALIDADE DAS ÁGUAS DA GRUTA MORENA, CORDISBURGO, MG

ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA RH-VIII BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS MACAÉ, DAS OSTRAS E LAGOA DE IMBOASSICA ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA RH-VIII

CONTAMINAÇÃO QUÍMICA POR CHORUME E LANÇAMENTO DE EFLUENTES DOMÉSTICOS NAS ÁGUAS SUPERFICIAIS NO ENTORNO DO ATERRO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DE MANAUS/AM

QUALIDADE DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA CEARÁ

DIAGNÓSTICO HIDROGEOLÓGICO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA BACIA DO RIO GRANDE - BA

DIAGNÓSTICO DOS POÇOS TUBULARES E A QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DO MUNICIPIO DE JUAZEIRO DO NORTE, CEARÁ

INVESTIGAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE POÇOS POR PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS¹

de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

INFLUÊNCIA DE FOSSAS NEGRAS NA CONTAMINAÇÃO DE POÇOS SUBTERRÂNEOS NA COMUNIDADE VILA NOVA, ITAIÇABA-CEARÁ 1

ID Nº 27. Ana Clara O. Pelaes 1, Sarah A. Bonfim 2, Maria José de S. F. da Silva 3, Helena E. L. Palmieri 4, Lucia M. L. de A.

da qualidade dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica no bioma Cerrado

QUALIDADE DA ÁGUA NA BACIA DO ALTO RIO PARAÍBA EM MONTEIRO-PB. 1. PERÍODO SECO. Adriana de Fátima Meira Vital 1 ; Rivaldo Vital dos Santos 2

MONITORAMENTO DA INTRUSÃO SALINA NO AQUÍFERO INGLESES FLORIANÓPOLIS, SC

Diagnóstico da qualidade química das águas superficiais e subterrâneas do Campus Carreiros/FURG.

HIDROGEOQUÍMICA DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, JACAREÍ E CAÇAPAVA, NO VALE DO PARAÍBA DO SUL

Maria Eduarda de Melo Cavalcanti Cruz 1, Talita de Vasconcelos Lucena 2, Leidiane Candido Pereira 3 Maria Tereza Duarte Dutra 4

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL HIDROGEOLÓGICO NA ILHA DE ITAPARICA BAHIA

CARACTERÍSTICAS HIDROQUÍMICAS DO AQÜÍFERO BARREIRAS NO ÂMBITO DO SETOR ORIENTAL DA BACIA DO RIO PIRANGI-RN

QUALIDADE DE ÁGUA DE POÇO DE ABASTECECIMENTO DA CIDADE DE DELTA-MG

CONTAMINAÇÃO NA ÁGUA SUBTERRÂNEA PROVOCADA PELO LIXIVIADO DE ATERRO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

RISCOS DE CONTAMINAÇÃO DO AQUÍFERO FREÁTICO NOS POVOADOS MOSQUEIRO, AREIA BRANCA E ROBALO, ARACAJU, SERGIPE

RESUMO: Palavras-chaves: Piracicaba, qualidade de água, sedimentos, geoquímica. ABSTRACT

XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

I Congresso Baiano de Engenharia Sanitária e Ambiental - COBESA

QUALIDADE DA ÁGUA DO AQÜÍFERO LIVRE NA REGIÃO NORDESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DE DIFERENTES AQUÍFEROS ASSOCIADOS À FORMAÇÃO SERRA GERAL NA REGIÃO NORDESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Indústria Comércio Resíduo Acidentes Desconhecida. Figura Distribuição das áreas contaminadas em relação à atividade (CETESB, 2006).

Laboratório de Química dos Elementos QUI

ESTUDO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA REGIÃO PRÓXIMA AO ANTIGO LIXÃO DO ROGER EM JOÃO PESSOA - PB

II-173 A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO COMO ORIGEM DA POLUIÇÃO DOS CORPOS RECEPTORES: UM ESTUDO DE CASO.

CARACTERÍSTICAS HIDROQUÍMICAS DA FAIXA COSTEIRA LESTE DA REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA-CEARÁ

I-139 ESTUDO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE MANANCIAIS SUBTERRÂNEOS UTILIZADOS COMO FONTE DE ABASTECIMENTO DO MUNICÍPIO DE CRATO - CEARÁ

EVOLUÇÃO HIDROGEOQUÍMICA DOS AQÜÍFEROS NO OESTE CATARINENSE

DETERMINAÇÃO FISÍCO-QUÍMICA DA ÁGUA DO POÇO TUBULAR LOCALIZADO NO SITIO MANOEL DE BARROS DO MUNICÍPIO DE SOLEDADE-PB

SISTEMA AQUÍFERO: TORRES VEDRAS (O25)

IV INDICADORES HIDROQUÍMICOS OBTIDOS A PARTIR DA CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM ALGUNS POÇOS DO CEARÁ

CONSTRUÇÃO DE CISTERNAS: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL PARA CONSUMO HUMANO NA REGIÃO DE BOA VISTA-PB

Recursos Hídricos. Qualidade da água para usos múltiplos. Maurício A. Leite

ANÁLISE AMBIENTAL DOS AFLUENTES DO RESERVATÓRIO DA UHE BARRA DOS COQUEIROS DO MUNICÍPIO DE CAÇU-GOIÁS

Os sólidos totais dissolvidos (STD) e a Condutividade Elétrica (CE) nas águas de poços do município de Crateús-CE

ANÁLISE DAS ÁGUAS DO AQUÍFERO JANDAÍRA EM APOIO AO PROGRAMA ÁGUA DOCE NO RIO GRANDE DO NORTE (PAD/RN)

SUBSÍDIOS PARA A GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA REGIÃO METROPOLITANA DE MACEIÓ/AL

QUALIDADE DA ÁGUA DO AÇUDE EURÍPEDES NA CIDADE DE QUIXADÁ-CE: UMA ANÁLISE DOS PARÂMETROS FÍSICO- QUÍMICOS

COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DE UM POÇO TUBULAR LOCALIZADO NO SÍTIO CANOA VELHA NO MUNICÍPIO DE CUBATI-PB

Qualidade das águas do Rio São João

SISTEMA AQUÍFERO: VEIGA DE CHAVES (A1)

Fontes Pontuais. Fontes não Pontuais

ESTADO DO RIO DE JANEIRO PREFEITURA MUNICIPAL DE MACAÉ SECRETARIA DE AMBIENTE COORDENADORIA DE RECURSOS HÍDRICOS

ÁGUA SUBTERRÂNEA UTILIZADA PARA IRRIGAÇÃO NA PLANÍCIE COSTEIRA DO RIO GRANDE DO SUL E SEU RISCO A SALINIZAÇÃO

Composição da água do mar

SISTEMA AQUÍFERO: MONTE GORDO (M17)

O rio São Francisco em Sergipe

ANALISE FÍSICO-QUÍMICA DE ÁGUA DE UM POÇO TUBULAR LOCALIZADO NO IFPB DO CAMPUS CAMPINA GRANDE-PB

Redução da Poluição em Rios do Semiárido Mediante a Aplicação de Efluentes Domésticos Urbanos na Agricultura Estudo de Caso no Rio Jacuípe

NITRATO EM AQÜÍFERO FREÁTICO NA AMAZÔNIA ORIENTAL CIDADE DE SANTA IZABEL DO PARÁ BRASIL

Termos para indexação: nitrato, bioma Cerrado, cromatografia iônica, uso do solo, geologia

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO FÍSICA E QUÍMICA DA ÁGUA EM RESERVATÓRIO LOCALIZADO NO CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE, CAMPUS BARRA DO PIRAÍ-RJ

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS DE ÁGUAS ADICIONADAS DE SAIS COMERCIALIZADAS NO MUNICÍPIO DE SUMÉ-PB

AVALIAÇÕES FÍSICO-QUÍMICAS EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE REDENÇÃO-PA

MEDIDAS HIDROQUÍMICAS NAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS DA REGIÃO DE IRAUÇUBA, NORTE DO CEARÁ

ESCOPO DA ACREDITAÇÃO ABNT NBR ISO/IEC ENSAIO. Determinação da Cor pelo método espectrofotométrico - comprimento de onda único LQ: 10 CU

CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA DO ESGOTO

JANEIRO/2017 SISTEMA DE ÁGUA E ESGOTOS SAE

ADSORVENTE NATURAL DERIVADO DA CORTIÇA PARA TRATAMENTO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

VERACRUZ Soluções Geofísicas e Geológicas Ltda.

TÍTULO: ANÁLISE DE PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS DA ÁGUA E SUA INFLUÊNCIA NA SOBREVIVÊNCIA DOS ORGANISMOS DA PRAIA PEREQUÊ-MIRIM UBATUBA-SP.

HIDROGEOQUÍMICA DO AQÜÍFERO CAIUÁ NO ESTADO DO PARANÁ HYDROGEOCHEMISTRY OF THE CAIUÁ AQUIFER IN THE PARANÁ STATE

V BACIA URBANA RURAL COM PLANTIO DIRETO QUALIDADE DOS RECURSOS HÍDRICOS

CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA NA BACIA DO RIO GURGUÉIA E ANÁLISE DE RESTRIÇÃO DE USO PARA IRRIGAÇÃO

Características da água disponível para uso doméstico nos Assentamento 72, Ladário, Mato Grosso do Sul

Comunidades: Principais Cátions e Ânions (capítulo 17)

Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOQUIMICA DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA ILHA DE BOIPEBA BA. Vinícius T. KÜTTER 1,7, Eduardo D. Marques 2,8, Giovana V. C. de SOUZA 1,9, Monique D. C. SOUZA 1,10, Olga V. O. Gomes 3,11, Emmanoel V. da SILVAFILHO 1,12, 1 Depto. de Geoquímica, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, RJ / Brasil. 2 Serviço Geológico Brasileiro CPRM. 3 Instituto Três Rios, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 7 viniciuskutter@yahoo.com.br, 8 Eduardo.marques@cprm.gov.br, 9 giovanavignoli@hotmail.com, 10 moniquedcsouza@yahoo.com.br, 11 olgavenimar@yahoo.com.br, 12 geoemma@vm.uff.br RESUMO A ilha de Boipeba possui como única fonte para consumo humano a água subterrânea, além disso, o aporte desta água para região costeira pode ser uma importante fonte de nutrientes para conservação dos recifes de corais. A caracterização hidroquímica demonstrou que, as águas superficiais são dos tipos: bicarbonatadascálcicas, cloretadascálcicas e cloretadasódica. Enquanto que os tipos predominantes de águas subterrâneas foram: bicarbonatadasódica, bicarbonatadacálcica, seguido de cloretadasódica e mista. Em um ponto foi detectada concentração elevada de NO 3 na água subterrânea indicando a contaminação do aquífero por esgoto. Em geral, as concentrações de Na +, K +, Ca +, Mg +, Cl, SO 4, alcalinidade, F, NO 3, Br, NO2, NH 4 + e PO 2 4 nas águas foram dentro dos limites estabelecidos para potabilidade. Palavraschave: Diagrama Piper, físicoquímica da água, íons, Brasil. ABSTRACT In the Boipeba Island the groundwater is the only source of drinking water, furthermore, the submarine groundwater discharge can be an important source of nutrients to the coral reefs in this area. The hydrogeochemical characterization showed that the water types in the rivers are: bicarbonatecalcic, calcicchlorinated and chlorinatedsodium. And the predominant types of groundwater are bicarbonatesodium, bicarbonatecalcic, followed by chlorinatedsodium and mixed. In one spring was detected high concentration of NO 3 in groundwater indicating a contamination of aquifer. In general, the concentrations of Na +, K +, Ca +, Mg +, Cl, SO 4, alkalinity, F, NO 3, Br, NO 2, NH + 2 4 and PO 4 waters were within the limits established for consume. Keywords: Piper diagram, water physicchemistry, ions, Brazil 1. Introdução Na costa brasileira em geral as ilhas são pouco povoadas, contudo as mais povoadas sofrem com a falta de fontes de água potável. A ilha de Boipeba está localizada no litoral baiano, possui 90km², população residente de cerca de 3.000 habitantes, a qual dobra na alta temporada. A fonte de abastecimento nas comunidades da ilha é a água subterrânea e pelo fato de não existir sistema de tratamento de esgoto esta se encontra vulnerável a contaminação. Além disso, toda área dessa ilha encontrase em uma APA, devido a sua grande riqueza biológica, com a ocorrência de recifes de coral ao seu entorno o qual possui algumas espécies endêmicas da costa baiana. Estudos demonstram a importância do aporte de nutrientes via água subterrânea para nutrição de ambientes marinhos (UMEZAWA et al. 2002; NIENCHESKI et al. 2007).

De acordo com SILVA (2009), na ilha de Boipeba afloram na linha de costa arenitos e carbonatos da Bacia de Camamu que parcialmente cobrem a praia arenosa ou geram falésias. Ainda segundo SILVA (2009), os depósitos quaternários são representados fundamentalmente por terraços marinhos holocênicos e pleistocênicos, cobertos por cordões litorâneos (MARTIN et al. 1980), formados a partir das últimas regressões marinhas. Segundo CPRM (1995) nesta ilha foram identificados três aquíferos sedimentares livres, apresentando confinamentos localizados. O tipo 1 é constituído essencialmente de litologia arenosa, com espessura média variando de 3,0 a 7,0 m; contendo água ligeiramente salina. Estendese na porção litorânea leste da ilha no sentido nortesul. A unidade aquífera tipo 2 possui litolologia predominante de arenito fino, com níveis conglomeráticos; espessura média variando de 10,0 a 15,0 m. A água contida neste aquífero costuma aflorar em exutórios naturais (fontes), por toda área. Ocorre na porção norte da Ilha de Boipeba e localmente na porção central. A Unidade tipo 3 possui litologia primordialmente arenítica, com intercalação de níveis argilosos; sua espessura pode superar os 40,0 m. Estendese da porção central da ilha de Boipeba até a porção sudoeste em direção ao rio dos Patos. Muito pouco é conhecido a respeito das características hidrogeológicas desta região, um único levantamento foi realizado pelo CPRM (1995) o qual investigou somente as características bacteriológicas e físicoquímicas das águas subterrâneas em 7 pontos, verificando que alguns pontos já encontramse contaminados por Coliformes. Em virtude da grande importância das águas doces para o abastecimento humano, bem como para a conservação da biodiversidade dos diversos ecossistemas presentes na ilha (manguezais, recifes de coral e a Mata Atlântica) fazemse necessários estudos que determinem as características destas águas. O objetivo do presente estudo foi realizar a caracterização hidrogeoquímica das águas superficiais e subterrâneas na porção sul da ilha de Boipeba. 2. Materiais e Métodos Em setembro de 2012 foi realizada uma campanha de coleta de água subterrânea e superficial nas principais fontes utilizadas no abastecimento pela comunidade de São Sebastião da Cova da Onça (13 39'S, 38 56'W), na ilha de Boipeba. Caracterizouse a água subterrânea em 19 pontos (cacimbas, fontes e poços tubulares) utilizados no consumo humano e, 4 amostras de água superficial dos principais rios da área: Ponte Alta, Jacaré e Golfo utilizados na dessedentação de animais e para lavar roupas. In situ foram medidos os parâmetros físicoquímicos (oxigênio dissolvido, ph, temperatura, condutividade elétrica (CE), sólidos totais dissolvidos (TDS) e salinidade), empregando uma sonda

multiparâmetros. As amostras foram filtradas (0,45µm) e preservadas a 4ºC até a chegada ao laboratório, onde foi realizada a análise de: alcalinidade (método de titrimetria), íons (fosfato, sulfato, sódio, amônio, potássio, magnésio, cálcio, fluoreto, cloreto, nitrito, brometo e nitrato) pelo método de cromatografia iônica, utilizando um equipamento Metrhom 850. 3. Resultados e Discussão O rio Jacaré que drena uma área de brejos e o rio do Golfo que drena uma área de floresta nativa, apresentaram características físicoquímicas típicas de água doce, enquanto que o rio Ponte Alta verificouse a influência da entrada de água salina provinda da enseada de Cova da Onça. Resultado este verificado pela salinidade (19,18 ) e elevada condutividade elétrica (38.850 µs/cm), conforme Tabela 1. Tabela 1: Caracterização físicoquímica e químicas das águas superficiais e subterrâneas na ilha de Boipeba. Média (minmax) Ponto Prof. Média OD Temp. Sal. ph CE (µs/cm) TDS (mg/l) minmax (m) (mg/l) (ºC) ( ) Águas superficiais R. Jacaré 0,3 0,0 6,46 24,51 491,0 246,0 0,24 (n = 1) R. Ponte Alta 0,4 0,9 6,98 25,71 38.850,0 0,0154 19,18 (n =1) R. Golfo 0,02 2,2 4,3 24,2 49,0 24,5 (n = 2) 0,2 (0,02 (2,1 2,4) (4,2 4,4) (23 25,4) (42,0 56,0) (21,0 28,0) 0,02) Águas subterrâneas Aquífero 1 (n = 2) Aquífero 3 (n = 17) 45,0 (25,0 65,0) 1,5 (0,0 3,0) 1,5 (0,6 2,5) 2,0 (0,0 5,1) n = número de pontos amostrados. 7,3 (6,9 7,6) 5,3 (3,7 7,1) 25,5 (25,0 26,0) 24,2 (22,9 26,8) 700,0 (672,0 728,0) 294,2 (28,0 1.127,0) 350,0 (336,0 364,0) 147,2 (14,0 614,0) 0,34 (0,33 0,35) 0,1 (0,010,61) Os resultados físicoquímicos (Tab.1) nas águas subterrâneas demonstram que: quanto ao ph o aquífero tipo 1 (aq. 1) possui águas neutras, enquanto que no tipo 3 (aq. 3) predomina águas ácidas. O aquífero tipo 1 possui salinidade, CE e TDS ligeiramente superior as médias encontradas no aquífero 3. Contudo, em algumas amostras a salinidade, CE e TDS no aquífero 3 foi superior ao encontrado no aquífero tipo 1. Ambos os aquíferos possuem baixos teores de OD. A partir das concentrações de íons foi gerado um diagrama de Piper para classificação das águas superficiais e subterrâneas (Fig.1). As águas do rio Jacaré são do tipo bicarbonatadascálcicas, o rio Ponte Alta possui águas cloretadascálcicas e o rio do Golfo apresentou classificação cloretadasódica.

As águas subterrâneas do aquífero 1 são do tipo bicarbonatadascálcicas. No aquífero 3 foram encontrados 8 pontos com águas bicarbonatadassódicas, 3 com cloretadassódicas, com 5 bicarbonatadas cálcicas e 1 com água mista. R. Jacaré R. Ponte Alta R. Golfo Aquífero tipo 1 Aquífero tipo 3 Figura 1. Classificação das águas de Boipeba de acordo com o Diagrama de Piper. Nas águas superficiais as concentrações de íons (mg/l) variaram de: 5,7 1.051 (Na + ), < LD em todas amostras (K + ), 1,19 2.355,0 (Ca + ), 0,69 271,0 (Mg + ), 9,82 1.975,0 (Cl ), 0,34 437,0 (SO 4 ), 5,0 242,0 alcalinidade, < LD 0,31 (F ), 0,39 0,41 (NO 3 ), < LD 0,26 (Br ), NO 2 2, NH4 e PO 4 foram < LD em todas as amostras. O rio Jacaré apresentou as maiores concentrações de fluoreto e brometo em comparação aos demais rios. Para o nitrato as maiores concentrações foram encontradas no rio do Golfo na porção a montante, onde há formação de brejos e floresta alagada. No rio Ponte Alta foram encontradas as maiores concentrações de cálcio, magnésio, cloreto, sódio e sulfato, provavelmente devido à entrada da cunha salina neste rio. As águas subterrâneas apresentaram grande variação na composição iônica (mg/l) entre os pontos amostrados de: 4,1 47,8 (Na + ), < LD 5,7 (K + ), 0,9 149,3 (Ca + ), 0,5 45,3,0 (Mg + ), 7,0 132,2 (Cl ), 0,9 23,8 (SO 4 ), 2,0 402,0 alcalinidade, 0,08 0,52 (F ), 0,39 20,04 (NO 3 ), < LD 0,39 (Br ), < LD 0,38 (NO 2 ), < LD 0,81 (NH + 4 ) e < LD 0,7 (PO 2 4 ) (mg/l). A concentração média de NO 3 foi de 0,4 mg/l (aq. 1) e de 1,8 mg/l (aq.3). Entretanto, no aq 3 uma amostra apresentou teor de 20,0 mg/l NO 3, indicando que este ponto está contaminado pela descarga de efluentes domésticos sendo esta água imprópria para consumo, uma vez que ultrapassa o limite de NO 3 (10 mg/l) estabelecido pelo Ministério da Saúde (Resolução MS 2914/2011).

4. Conclusões Os resultados da composição hidrogeoquímica das águas superficiais e subterrâneas refletem a influencia do mosaico geológico presente nesta região, bem como a influência da vegetação. A água dos aquíferos apresenta características que permitem o uso no abastecimento humano. Contudo, observouse que os aquíferos são extremamente vulneráveis a contaminação e o mau uso do solo tem colocado este importante recuso em risco de degradação. Além disso, a descarga da água subterrânea no mar pode ser uma importante fonte de nutrientes para os bancos de recife de coral presentes no entorno da ilha. Agradecimentos Este trabalho teve apoio do INCTTMCOcean (www.institutomilenioestuarios.com.br), CAPES e Cnpq. Referências Niencheski, L. F. H., et al. 2007. Submarine groundwater discharge of nutrients to the ocean along a coastal lagoon barrier, Southern Brazil. Marine Chem., 106; 546 561 Umezawa, Y., et al. 2002. Significance of groundwater nitrogen discharge into coral reefs at Ishigaki Island, southwest of Japan. Coral Reefs, 21(4): 346356. Silva, I. R; Nascimento, H. M.; Rebouças, R. C. 2009 Avaliação da Sensibilidade Ambiental das Praias localizadas no Arquipélago Tinharé/Boipeba, litoral sul do Estado da Bahia. São Paulo, UNESP, Geociências, v. 28, n. 2, p. 193201. Martin, L.; Bittencourt, A.C.S.P.; Vilas Boas, G.S.; Flexor, J.M. Mapa Geológico do Quaternário Costeiro do Estado da Bahia Esc. 1:250.000. Salvador: SME/CPM (Texto explicativo e mapa), 60 p., 1980. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n.º 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. 2011.