Southearst of the Amazonian Craton

Documentos relacionados
Max de Jesus Pereira dos Santos I, Claudio Nery Lamarão I, Paulo Henrique Araújo Lima I, Marco Antônio Galarza I, Jardel Carlos Lima Mesquita I

DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO SIMPLES DO MACIÇO ROCHOSO GRANITO IMARUI - ESTUDO DE CASO

12º Simpósio de Geologia da Amazônia, 02 a 05 de outubro de Boa Vista - Roraima

PROSPECÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NA REGIÃO SUDOESTE DO ESTADO DO PARÁ COM MÉTODO GEOFÍSICO ELETRORESISTIVIDADE

Figuras 3 e 4-Chuva Média e observada para o mês de fevereiro, respectivamente

Análise Qualitativa no Gerenciamento de Riscos de Projetos

CONCEITOS DE CARTOGRAFIA ENG. CARTÓGRAFA ANNA CAROLINA CAVALHEIRO

As amostras submetidas a esses ensaios foram designadas e agrupadas conforme mostrado na Tabela VI.4.

NOVO MAPA NO BRASIL?

Roberto Dall Agnol Universidade Federal do Pará/Instituto Tecnológico Vale. Davis Carvalho de Oliveira Universidade Federal do Pará

1 Circuitos Pneumáticos

Análise do valor informacional em imagens de reportagens de capa da revista Superinteressante¹

Experiência: Gestão Estratégica de compras: otimização do Pregão Presencial

Veracel Celulose S/A Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias Período: 2006 a 2009 RESUMO EXECUTIVO

Matrizes de Transferência de Forças e Deslocamentos para Seções Intermediárias de Elementos de Barra

Estudo sobre a dependência espacial da dengue em Salvador no ano de 2002: Uma aplicação do Índice de Moran

Teoria dos erros em medições

2 03/11 Relatório Final R.A. O.S. O.A. PU. 1 30/09 Alterado Endereço do Terreno R.A. O.S. O.A. PU

Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências da Terra

2 Plataformas Carbonáticas

Nailsondas Perfurações de Solo Ltda

Ondas EM no Espaço Livre (Vácuo)

O ENVELHECIMENTO NAS DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DO CENSO DEMOGRÁFICO 2010 Simone C. T. Mafra UFV sctmafra@ufv.br Emília P.

QUÍMICA (2ºBimestre 1ºano)

II SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA Universidade Estadual de Maringá 28 a 30 de Novembro de 2012

EMPREENDEDORISMO FEMININO

ANEXO 6 Análise de Antropismo nas Unidades de Manejo Florestal

Análise espacial do prêmio médio do seguro de automóvel em Minas Gerais

Mudanças nos Preços Relativos

ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS METEOROLÓGICOS NAS ESTAÇÕES AUTOMÁTICAS E CONVENCIONAIS DO INMET EM BRASÍLIA DF.

Capítulo 4 - ROCHAS CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS QUANTO À QUANTIDADE DE TIPOS DE MINERAL

Comandos de Eletropneumática Exercícios Comentados para Elaboração, Montagem e Ensaios

Estimativas de Arrecadação de Impostos Próprios Estaduais e Municipais, Transferências Constitucionais e os 25% Constitucionais da Educação

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA ENG 008 Fenômenos de Transporte I A Profª Fátima Lopes

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo, Editora Atlas,

Pesquisador em Informações Geográficas e Estatísticas A I GEOMORFOLOGIA LEIA ATENTAMENTE AS INSTRUÇÕES ABAIXO.

Principais resultados do estudo de avaliação do nível de satisfação dos turistas no Município de Bragança

3 - Bacias Hidrográficas

Aula 2 Sistemas de Coordenadas & Projeções Cartográficas. Flávia F. Feitosa

45 mm. Rua São Francisco Xavier 524, Sala A-4023, Maracanã, Rio de Janeiro, RJ.

A GESTÃO DA INFORMAÇÃO NO VAREJO 1

Bem-estar, desigualdade e pobreza

UM JOGO BINOMIAL 1. INTRODUÇÃO

Decreto Regulamentar n. º 10/2009, de 29 de Maio

0.1 Introdução Conceitos básicos

Contrata Consultor na modalidade Produto

CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS

BARÓMETRO DE OPINIÃO PÚBLICA: Atitudes dos portugueses perante Leitura e o Plano Nacional de Leitura

Geografia. Aula 02. Projeções Cartográficas A arte na construção de mapas. 2. Projeções cartográficas

Unidade 1: O Computador

MODELO SUGERIDO PARA PROJETO DE PESQUISA

OS FUSOS HORÁRIOS E AS ZONAS CLIMÁTICAS DO PLANETA!

PETROLOGIA DO PLÚTON SERRA DA MACAMBIRA, NEOPROTEROZOICO DA FAIXA SERIDÓ, PROVÍNCIA BORBOREMA (NE DO BRASIL)

Instituições de Ensino Superior Docentes Pertencentes a Unidades FCT. Indicadores Bibliométricos Física e Astronomia

MAPEAMENTO DA SITUAÇÃO EDUCACIONAL DOS SURDOS NA REGIÃO DE ABRANGÊNCIA DO NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE IRATI/PR

I ENCONTRO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NOS CURSOS DE LICENCIATURA LICENCIATURA EM PEDAGOGIA: EM BUSCA DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO PEDAGOGO

3 Metodologia de pesquisa

Álgebra Linear Aplicada à Compressão de Imagens. Universidade de Lisboa Instituto Superior Técnico. Mestrado em Engenharia Aeroespacial

Codex Troano: análise particional e principais gestos composicionais

F.17 Cobertura de redes de abastecimento de água

LABORATÓRIO DE CONTROLE I SINTONIA DE CONTROLADOR PID

ANEXO 3. Imagens das Unidades de Relevo e Terreno do Parque Estadual da Cantareira. Anexo 3 Imagens das Unidades de Terreno e Relevo do PEC 1

DISTRIPUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR CLASSE MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

Geografia Capítulo 2. Cartografia. Introdução

Fundamentos de Teste de Software

REGULAMENTO PARA SUBMISSÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS CAPÍTULO I DA SUBMISSÃO DE TRABALHOS

MANUTENÇÃO E RESTAURAÇÃO DE OBRAS

Engenharia de Software II

Figura 4.1: Diagrama de representação de uma função de 2 variáveis

Autoria: Fernanda Maria Villela Reis Orientadora: Tereza G. Kirner Coordenador do Projeto: Claudio Kirner. Projeto AIPRA (Processo CNPq /2010-2)

Elaboração de relatório técnico e/ou científico, segundo a ABNT

ÓRGÃOS ACESSÓRIOS DA REDE DE ESGOTO

S. Abdallah 1. Artigo Curto Short Article

A dependência entre a inflação cabo-verdiana e a portuguesa: uma abordagem de copulas.

O comportamento recente da taxa real de juros no Brasil: existe espaço para uma queda maior da taxa de juros?

COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E AGRONEGÓCIO MESTRADO E DOUTORADO EDITAL Nº 03/2016-PGDRA

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Reserva Extrativista Chico Mendes

PESQUISA OPERACIONAL -PROGRAMAÇÃO LINEAR. Prof. Angelo Augusto Frozza, M.Sc.

Recensão digital Dezembro de 2013

PARALISIA CEREBRAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ACERCA DA INCLUSÃO ESCOLAR

Projeto 10Envolver. Nota Técnica

8 -SISTEMA DE PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCATOR - UTM

O ARQUEANO DO MACIÇO SÃO JOSÉ DE CAMPESTRE, LESTE DO RIO GRANDE DO NORTE

VALIDAÇÃO DE UM MODELO DE DIMENSIONAMENTO DE WETLANDS DE MACRÓFITAS AÉREAS PARA SEPARAÇÃO ÁGUA-ÓLEO


PRIMEIROS RESULTADOS DA ANÁLISE DA LINHA DE BASE DA PESQUISA DE AVALIAÇÃO DE IMPACTO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Hóspedes, dormidas e proveitos mantêm crescimento significativo

IFRN - Campus Parnamirim Curso de eletricidade turma de redes de Computadores Figura 35 Relé eletromecânico

PETROGRAFIA E GEOQUÍMICA DAS ROCHAS VULCÂNICAS ÁCIDAS DO TIPO PALMAS AFLORANTES NAS PROXIMIDADES DOS MUNICÍPIOS DE PALMAS E GENERAL CARNEIRO (PR)

A PREVALÊNCIA DE CÁRIE DENTÁRIA EM 1 MOLAR DE CRIANÇAS DE 6 A 12 ANOS: uma abordagem no Novo Jockey, Campos dos Goytacazes, RJ

O JOVEM COMERCIÁRIO: TRABALHO E ESTUDO

Revisão de geologia e Pedogênese

AULA 07 Distribuições Discretas de Probabilidade

O USO E OCUPAÇÃO DA BACIA DO ALTO CURSO DO RIO UBERABINHA, MG E OS REFLEXOS NA PERMEABILIDADE DO SOLO E NA RECARGA DA ZONA SATURADA FREÁTICA

UMA ANÁLISE BAYESIANA DO PERFIL COR/RAÇA DOS INDIVÍDUOS QUE TEM CURSO SUPERIOR NO BRASIL

Análise Tecnológica dos Granitos Cerro do Sandi e Bela Vista, Piratini-RS Para Uso Como Rocha Ornamental

Consulta à Sociedade: Minuta de Resolução Complementar sobre Acreditação de Comitês de Ética em Pesquisa do Sistema CEP/CONEP

O que esta acontecendo com a Região Metropolitana de São Paulo Análise Socioeconômica Carlos Paiva*

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. RESOLUÇÃO do CNE (ainda depende Homologação do Ministro da Educação)

Transcrição:

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 Geologia e Petrografia do Granito Paleoproterozóico Redenção, SE do Cráton Amazônico Geology and Petrography of Paleoproterozoic Granite, Redenção, Southearst of the Amazonian Craton Davis Carvalho de Oliveira 1, 3 Roberto Dall Agnol 1, 2 Carlos Eduardo de Mesquita Barros 1, 2 Armínio Gonçalves Vale 4 Resumo: O Granito Redenção é intrusivo em rochas granitóides arqueanas pertencentes ao Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria, porção sudeste do Cráton Amazônico. O batólito granítico é subcircular, sendo formado por rochas monzograníticas com diques de sienogranito associados. Texturalmente, predominam rochas equigranulares grossas a seriadas (média a grossa), com variedades porfiríticas subordinadas. Com base nas características texturais e mineralógicas foram identificadas nove variedades de granito: monzogranito grosso com proporções variáveis de anfibólio, biotita e, por vezes, clinopiroxênio (CBAMzG, BAMzG e ABMzG); biotita-monzogranito grosso (BMzG), heterogranular médio a grosso (BMzH) e porfirítico (BMzP); leucomonzogranito heterogranular (LMzH) e equigranular (LMzE); leucomicro-sienogranito (LMcS). Texturas rapakivi e anti-rapakivi são relativamente, comuns, sobretudo nas fácies de granulação grossa e porfiríticas. A distribuição espacial das fácies indica que o corpo é zonado com as fácies menos evoluídas e portadoras de anfibólio, situando-se nas porções periféricas mais arrasadas, sendo mais evoluídas nas partes centrais e de maior relevo. As características petrográficas, juntamente com as relações de campo, sugerem que o Granito Redenção foi formado a partir de dois líquidos distintos, tendo um deles gerado os BMzH e LMz e o outro as fácies de granulação grossa. O primeiro representaria uma intrusão separada na porção central do corpo. De acordo com os critérios texturais e mineralógicos, a evolução das rochas derivadas desses dois líquidos deu-se, principalmente, pelo decréscimo da razão plagioclásio/microclina e do teor de anortita do plagioclásio. Porém, nas fácies de granulação grossa, no estágio inicial de cristalização, a diminuição da razão anfibólio/biotita foi, igualmente, muito importante. Isso indica que a evolução do corpo aconteceu, de modo geral, por um processo de cristalização fracionada, comandado pelo fracionamento dos minerais ferromagnesianos e feldspatos. O Granito Redenção possui afinidades com os granitos intraplaca, do tipo-a, de origem crustal, da mesma forma que os demais granitos anorogênicos paleoproterozóicos da Amazônia Oriental. Palavrasalavras-Chave: Cráton Amazônico. Granito anorogênico. Granito tipo-a. Paleoproterozóico. Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria. 1 UFPA - Universidade Federal do Pará. Centro de Geociências. Grupo de Pesquisa Petrologia de Granitóides (GPPG). Cx. Postal 1611. CEP 66.075-900. (davis@ufpa.br). 2 UFPA - Universidade Federal do Pará. Departamento de Petrologia e Geoquímica. (robdal@ufpa.br). 3 UFPA - Universidade Federal do Pará. Curso de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica. 4 CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (SUREG - Belém). 139

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... Abstract: Redenção granite is located South of Serra dos Carajás, in the southeastern domain of the Amazonian Craton. This Paleoproterozoic subcircular, anorogenic granitic batholith intruded Archean rocks of the Rio Maria Granite- Greenstone Terrane. It is essentially composed of monzogranites with associated syenogranite dykes. All facies are leucocratic, displaying coarse-grained, equigranular to coarse or medium grained seriated textures with subordinate porphyritic and medium, even-grained types. Nine varieties of granite have been identified: coarse, even-grained monzogranite with variable contents of amphibole, biotite, sometimes, clinopyroxene (CBAMzG, BAMzG and ABMzG); coarse (BMzG), seriated medium to coarse grained (BMzH) and porphyritic (BMzP) biotite monzogranite, seriated medium to coarse grained (LMzH) and medium evengrained (LMzE) leucomonzogranite; leucomicrosyenogranite (LMcS). Locally, in the coarse or porphyritic rocks, rapakivi and anti-rapakivi textures are present. The spacial distribution of the facies shows that the granitic pluton is concentrically zoned. The less evolved facies are situated along the southern area of the pluton and the more evolved facies occur in its central portion, which shows a comparatively higher relief. Petrographic data combined with field relationships suggest that the different facies of the Redenção granite derived from two independent liquids. A first liquid generate the CBAMzG-BAMzG-ABMzG- BMzG-BMzP-LMcS facies, and a second liquid, the BMzH-LMz facies. The BMzH-LMz facies are interpreted as a separate intrusion. According to textural and mineralogical criteria, the rocks derived from these two liquids evolved mostly by decrease of the plagioclase/microcline ratio and of the An-content of plagioclase. However, in the initial crystallization stage of the coarse-grained facies, the decrease of the amphibole/biotite ratio played an important role. This indicates that fractional crystallization of the dominant mafic minerals and feldspars controlled the evolution of the granitic batholith. This granite displays affinities with within-plate granites, A-type granites, and crustal source granites in the same way that the Paleoproterozoic, Musa and Jamon anorogenic granites of the Amazonian Craton. Key Words: Amazonian Craton. Anorogenic granite. A-type granite. Paleoproterozoic. Rio Maria Granite-Greenstone Terrane. 140

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 INTRODUÇÃO O maciço granítico paleoproterozóico Redenção, embora já tivesse sido estudado com diferentes enfoques por diversos autores (CUNHA et al., 1981; BEZERRA et al., 1982; IANHEZ et al., 1982; MONTALVÃO et al., 1982; BARBOSA et al., 1995; VALE; NEVES, 1994; OLIVEIRA, 1998), ainda não havia sido, até o presente momento, mapeado em detalhe, nem tampouco investigado com profundidade no que se refere à sua caracterização petrográfica e evolução petrológica. Além disso, embora já tenham sido efetuados diversos estudos sobre os granitos anorogênicos presentes no Terreno Granito- Greenstone de Rio Maria (DALL AGNOL, 1982; DALL AGNOL; SAUCK; GONÇALEZ, 1988; DALL AGNOL et al., 1997; 1999), não se conhece bem o zonemamento desses corpos nem as relações entre suas fácies. Isso, aliado à ausência de foliações e lineações, tem dificultado a compreensão dos mecanismos de colocação dos mesmos. O objetivo principal deste trabalho é aprimorar o conhecimento do Granito Redenção, visando à sua melhor caracterização no que diz respeito aos seus aspectos geológicos e petrográficos. Deste modo, o presente trabalho visa ao mapeamento geológico do corpo na escala 1:100.000, definindo suas relações de contato, e levando à caracterização petrográfica das diferentes fácies, bem como definindo a distribuição espacial de cada uma delas. Com base nisso, fez-se uma estimativa preliminar das condições de colocação do magma granítico. No mapeamento geológico do corpo, foram utilizadas folhas cartográficas planialtimétricas e imagem de radar (Landsat) com superposição de dados aerogeofísicos (aerogamaespectometria, canais contagem total, tório e urânio). Além disso, cerca de 200 pontos foram amostrados e cerca de 100 amostras foram laminadas e descritas, de modo a permitir uma melhor caracterização das diversas fácies graníticas que constituem o maciço Redenção, bem como suas distribuições espaciais. CONTEXTO GEOLÓGICO REGIONAL A região de Redenção está localizada na porção sul do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria (TGGRM; Figura 1), borda sudeste do Cráton Amazônico (ALMEIDA et al., 1981), dentro da Província Amazônia Central (TASSINARI; MACAMBIRA, 1999) ou Carajás (SANTOS et al., 2000). O TGGRM é formado por seqüências greenstone (Supergrupo Andorinhas) e granitóides tonalítico-trondhjemítico-granodioríticos (TTG; Tonalito Arco Verde, Trondhjemito Mogno; Complexo Tonalítico Caracol e Trondhjemito Água Fria), granitóides dominantemente granodioríticos com alto Mg (Granodiorito Rio Maria) e leucogranitos potássicos (granitos Xinguara, Mata Surrão, Guarantã e correlatos). As diversas unidades mencionadas possuem idades arqueanas 2,97 a 2,87 Ga (PIMENTEL; MACHADO, 1994; MACAMBIRA; LAFON, 1995; DALL AGNOL et al., 1997; LEITE, 2001). Durante o Paleoproterozóico, tanto o Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria quanto o Bloco Carajás foram palco de um extenso magmatismo granítico anorogênico (DALL AGNOL; LAFON; MACAMBIRA, 1994; DALL AGNOL et al., 1999; TEIXEIRA, 1999). Um dos inúmeros corpos graníticos relacionados com esse magmatismo é o pluton Redenção. Este, assim como os demais granitos anorogênicos da Província Mineral de Carajás, possui idade de ~1,88 Ga (BARBOSA et al., 1995), característica metaluminosa a peraluminosa e assinatura tipo-a (OLIVEIRA, 2001). A região de Redenção foi estudada, inicialmente, durante a execução do Projeto Radambrasil (SILVA et al., 1974; CUNHA et al., 1981), onde foram apresentadas as limitadas informações petrológicas, geoquímicas e geocronológicas, então disponíveis para as rochas dessa região. Esses autores situaram os granitos anorogênicos da Folha SC.22 Tocantins em três suítes: Rio Dourado, com idade Rb-Sr em rocha total de 1737 ± 50; Tarumã, com idade de ca. 1600 Ma; Redenção, supostamente de idade brasiliana. 141

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... Figura 1. Mapa geológico simplificado do Terreno Granito-Greenstone de Rio Maria (Fontes: HUHN et al., 1988; ALTHOFF et al., 2000; SOUZA, 1994; ARAÚJO et al. 1994; VALE; NEVES, 1994; LEITE, 2001; extraído de OLIVEIRA, 2001, modificado). O maciço Redenção foi incluído por Cunha et al. (1981) na Suíte Intrusiva Redenção, relacionada a um evento plutônico com idade Rb-Sr de 685 ± 30 Ma. A hipótese de representar uma geração bem mais nova de granitos, na porção sudeste do cráton, foi descartada por Tassinari, Siga Jr. e Teixeira (1984), onde obtiveram uma idade Rb-Sr isocrônica de 1.350 ± 80 Ma para esse granito, interpretada como sendo sua idade de cristalização. O primeiro trabalho com o objetivo específico de caracterizar o Granito Redenção, envolvendo cartografia, petrografia e geoquímica, foi realizado por Montalvão et al. (1982). Esses autores consideraram o Granito Redenção como sendo um stock granítico subvulcânico intrusivo no Complexo Xingu e nele identificaram composições químicas bastante homogêneas e uma grande variação nos tipos texturais de equigranular (microcristalina a 142

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 pegmatóide) a porfirítico, com variedades rapakivi localizadas. Posteriormente, a delimitação mais precisa do corpo e uma descrição sumária de suas características gerais, bem como das principais feições estruturais da área, foram apresentadas por Vale e Neves (1994), os quais caracterizaram o Granito Redenção como um monzogranito hololeucocrático de caráter peraluminoso a ligeiramente peralcalino. Regionalmente, o Granito Redenção foi situado dentro dos domínios do Cinturão de Cisalhamento Pau d Arco, seguindo as proposições de Araújo et al. (1994) e Costa et al. (1995). Entretanto, Althoff, Barbey e Boullier (2000) consideraram que os terrenos arqueanos de Redenção fazem parte do TGGRM e não reconheceram a existência do Cinturão Pau d Arco. Essa hipótese foi fortalecida pelos novos dados geocronológicos obtidos por Rolando e Macambira (2002). Barbosa et al. (1995), através do método Pb-Pb em rocha total, dataram o referido granito, obtendo uma idade de 1.892 ± 89 Ma, que permite correlacioná-lo aos demais granitos anorogênicos desta porção do cráton. Mais recentemente, trabalhos realizados no âmbito do Programa de Levantamento Geológico Básico pela Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais (CPRM/SUREG-Belém) levaram à individualização das principais unidades geológicas arqueanas anteriormente agrupadas como Complexo Xingu e permitiram estabelecer correlações estruturais e estratigráficas com o TGGRM (ARAÚJO; COSTA, 1994; COSTA et al., 1995). GEOLOGIA DO CORPO Aspectos Gerais O maciço granítico Redenção constitui um pluton de forma circular (Figura 2), com aproximadamente 625 km 2, sendo a sua parte central constituída por morros e serras de encostas íngremes, formando um conjunto de cristas orientadas na direção N S e, localmente, E-W, com altitudes variáveis entre 350 e 660 m, facilmente delimitáveis em imagem de radar. Zonas de fraturas de direções N20ºE e N20ºW, expressam-se, topograficamente, por vales em V, bastante acentuados e retilíneos. No Granito Redenção, as rochas são isotrópicas e texturalmente bastante variadas, apresentando desde termos com granulação grossa, equigranulares ou porfiríticos até heterogranulares médios a grossos e equigranulares médios. Os termos de granulação grossa, independentemente das proporções das fases máficas, ocorrem de modo francamente dominante nas porções de baixo relevo do corpo, apresentando uma topografia plana, com altitudes ao redor de 250 300 m. Localmente, atingem cotas de até 400 m, formando pequenos morros de encostas suaves. Isto se dá, principalmente, quando estão transicionando para as fácies mais porfiríticas. Já os granitos heterogranulares e os leucogranitos afloram em lajedos mais contínuos. Morfologicamente, constituem um relevo mais acidentado, representado por morros e serras, com altitudes variáveis entre 500 e 660 m, localizadas principalmente na parte central do corpo. Já nas porções SW e N do corpo, as elevações possuem orientações NW-SE e E-W. É comum a ocorrência de diques aplíticos em todo o corpo, geralmente porfiríticos e de direções gerais N75ºE, N45ºE e N30ºW. Freqüentemente configuram pequenas cristas alinhadas, que seccionam todas as variedades monzograníticas, principalmente aquelas que ocorrem na porção central da área. Relações de Contato entre o Granito Redenção e as suas Rochas Encaixantes O Granito Redenção é intrusivo em duas unidades arqueanas aflorantes na região (Figura 2): monzogranitos e granitóides foliados, correlacionados ao Granito Xinguara e ao Tonalito Arco Verde, respectivamente (VALE; NEVES, 1994; 143

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... Figura 2. Mapa Geológico da região de ocorrência do Granito Redenção (OLIVEIRA, 2001), demais unidades (VALE; NEVES, 1994) e sua distribuição de fácies (OLIVEIRA, 2001). LMcS - leucomicro-sienogranito; LMzE - leucomonzogranito equigranular; LMzH - leucomonzogranito heterogranular; BMzH - biotita-monzogranito heterogranular; BMzP - biotita-monzogranito porfirítico; BMzG - biotita-monzogranito grosso; ABMzG - anfibólio-biotita-monzogranito; BAMzG - biotita-anfibólio-monzogranito; CBAMzG - clinopiroxênio-biotita-anfibólio-monzogranito 144

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 ALTHOFF, 1996). O maciço secciona nas porções norte, sul e ao longo de toda a sua borda noroeste o Tonalito Arco Verde e nas suas porções nordeste e sudoeste os leucomonzogranitos arqueanos. A leste, mantém contato estrutural discordante com as rochas metassedimentares do Cinturão Araguaia. Como a caracterização petrográfica das rochas encaixantes arqueanas no presente trabalho foi restrita, serão mantidas as designações atribuídas por Vale e Neves (1994). Entretanto, as características macroscópicas das rochas correlacionadas ao Tonalito Arco Verde variam bastante e, por vezes, assemelham-se mais às do Granodiorito Rio Maria. Isto demonstra que mapeamentos mais detalhados são necessários para a perfeita caracterização dos granitóides arqueanos da região. A intrusão granítica secciona claramente a foliação regional ENE-WSW, marcante nas rochas granitóides arqueanas, havendo próximo ao contato sinais de forte feldspatização e injeção de diques de microgranito nessas rochas. Localmente, na zona de contato, xenólitos angulosos relacionados ao Tonalito Arco Verde (Figura 3) e enclaves de rochas máficas, pertencentes, provavelmente, à sequência greenstone do Supergrupo Andorinhas, são englobados pelo Granito Redenção (Figura 4), não ocorrendo qualquer tipo de orientação tanto do conjunto de enclaves, como no granito. Além disso, o granito exibe freqüentes bordas de resfriamento no contato com a maioria desses enclaves. Essas bordas caracterizam-se por serem mais máficas que o granito hospedeiro. Enclaves máficos semelhantes aos descritos no Granito Redenção também são observados nas rochas granitóides arqueanas, próximo aos contatos sul e noroeste, sendo que neste último a orientação dos enclaves é coincidente com a da foliação da encaixante (NE-SW). Figura 4. Enclave anguloso de rocha máfica no Granito Redenção, envolto por uma borda de resfriamento no granito. PETROGRAFIA Figura 3. Xenólito anguloso pertencente ao Tonalito Arco Verde englobado pelo BMzG do Granito Redenção. Notar o contato brusco e retilíneo entre as duas unidades, indicando alto contraste de viscosidade entre as mesmas. O contato é marcado, localmente, por um leucogranito fino. Composições Modais e Classificação Foram realizadas cerca de 70 análises modais em amostras representativas das diversas fácies do maciço. Os dados obtidos foram plotados nos diagramas Q-A-P e Q-A+P-M (Figura 5), permitindo, assim, classificar adequadamente as rochas estudadas, conforme estabelecido pela IUGS (STRECKEISEN, 1976; LE MAITRE, 1989). Foram identificadas, com base nas expressivas variações texturais e nos teores modais de minerais ferromagnesianos, nove variedades distintas de 145

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... granito no pluton Redenção: clinopiroxênio-biotitaanfibólio-monzogranito grosso (CBAMzG), biotitaanfibólio-monzogranito grosso (BAMzG), anfibóliobiotita-monzogranito grosso (ABMzG), biotitamonzogranito grosso (BMzG), biotita-monzogranito porfirítico (BMzP), biotita-monzogranito heterogranular (BMzH), leucomonzogranito heterogranular (LMzH), leucomonzogranito equigranular (LMzE) e leucomicro-sienogranito (LMcS). As composições modais médias das diferentes fácies encontram-se na Tabela 1. A paragênese essencial das diferentes fácies do Granito Redenção é representada por quartzo, microclina e plagioclásio. As maiores razões plagioclásio/microclina (Pl/Mc) e os menores conteúdos de quartzo estão presentes nas rochas pertencentes à fácies CBAMzG. Já os LMcS destacamse pelas baixas razões Pl/Mc. Apesar dessas variações, os dados modais, quando plotados no diagrama Q- A-P (STRECKEISEN, 1976), demonstram que as fácies do Granito Redenção situam-se todas no campo dos monzogranitos (Figura 5), com exceção dos LMcS e raras amostras dos LMzH e LMzE, que incidem no campo dos sienogranitos. Nesse aspecto, o Granito Redenção assemelha-se ao que foi observado no Granito Jamon (DALL AGNOL, 1982; DALL AGNOL et al., 1999) e diverge do descrito no Granito Musa (GASTAL, 1987), no qual as fácies sienograníticas possuem uma distribuição tão ampla, quanto as monzograníticas. A biotita e o anfibólio são as principais fases máficas, sendo que, à medida que diminui a quantidade total de minerais ferromagnesianos das fácies, o anfibólio cede lugar gradativamente à biotita. Nas fácies mais leucocráticas, o anfibólio desaparece, as proporções de biotita diminuem e as de clorita tornam-se mais Tabela 1. Composições modais médias das diversas fácies do Granito Redenção. Fácies Mineral CBAMzG BAMzG ABMzG BMzG BMzH BMzP LMzH LMzE LMcS (4) (6) (10) (10) (7) (8) (10) (3) (7) Quartzo 21,5 25,8 29,2 30,4 32,7 31,8 33,6 30,5 32,5 K-feldspato 20,3 25,9 30,5 33,7 29,8 34,0 39,0 40,0 42,7 Plagioclásio 33,0 33,0 29,3 29,0 31,4 27,8 24,7 27,8 21,8 Biotita 7,9 5,9 5,6 4,4 4,1 3,0 1,0 0,6 1,3 Anfibólio 11,2 6,2 2,5 0,3 <0,1 0,3 - - - Clinopiroxênio 1,4 Tr - - - - - - - Opacos 3,5 2,1 1,8 1,1 0,8 0,8 0,6 0,4 0,6 Titanita 1,1 0,8 0,8 0,8 0,6 0,4 <0,1 Tr 0,2 Allanita 0,1 - <0,1 0,1 <0,1 0,3 - - - Clorita - 0,1 0,2 0,4 0,7 1,3 0,4 0,6 0,7 Muscovita - - - - - - 0,4 Tr <0,1 Fluorita - - - - - Tr <0,1 0,7 <0,1 Acessórios (Ap+Zr) 0,2 0,1 0,1 <0,1 <0,1 0,1 0,1 0,1 <0,1 Félsicos 74,8 84,7 89,1 93,0 93,8 93,6 97,3 98,3 97,0 Máficos 25,5 15,1 11,1 6,9 6,3 6,2 2,6 1,7 2,8 Anf/Biot 1,4 1,1 0,4 <0,1 <0,1 <0,1 - - - A 100% Quartzo 28,7 30,5 29,6 32,6 35,0 33,9 34,6 31,0 33,5 Plagioclásio (Pl) 44,1 38,9 33,0 31,2 33,6 30,7 25,3 28,3 22,5 Microclina (Mc) 27,2 30,6 34,2 36,2 31,8 35,4 40,1 40,7 44,0 Pl/Mc 1,6 1,3 1,0 0,9 1,1 0,9 0,7 0,7 0,6 Nº de Pontos 3224 2667 2530 1881 2289 2211 2683 2167 1577 Abreviações: C - clinopiroxênio; B - biotita; A - anfibólio; Mz - monzogranito; G - grosso; H - heterogranular; P - porfirítico; L - leuco; E - equigranular; Mc - micro; S - sienogranito. ( ) Número de amostras analisadas. 146

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 Vale salientar que nas composições modais das variedades graníticas de granulação mais grossa, especialmente nos ABMzG e BMzG, observam-se variações em termos das percentagens dos minerais essenciais que podem ser devidas à menor precisão estatística, refletindo a granulação dessas amostras (CHAYES, 1956; JUNG; BROUSSE, 1959). Isto pode ter causado maior dispersão dessas variedades dentro do campo dos monzogranitos, com valores de Mc (A) ligeiramente superestimados, levando a um deslocamento das mesmas em direção ao vértice A do diagrama Q-A-P (Figura 5). Essas imprecisões foram, em parte, compensadas pela realização de um maior número de análises modais em amostras dessas unidades. Figura 5. Diagramas modais Q-A-P (Streckeisen 1976) e Q- (A+P)-M para as variedades faciológicas do Granito Redenção (Oliveira 2001, modificado). Abreviações: C - clinopiroxênio; B - biotita; A - anfibólio; Mz - monzogranito; G - grosso; H - heterogranular; P - porfirítico; L - leuco; E - equigranular; Mc - micro; S - sienogranito. expressivas. A separação das diversas fácies no diagrama Q-(A+P)-M (Streckeisen 1976) é bastante marcante (Figura 5). As fácies com conteúdos modais expressivos de anfibólio mostram, claramente, quantidades de máficos (M) comparativamente elevadas e decrescentes dos CBAMzG (25,5%) para os BAMzG (15,1) e, finalmente, ABMzG (11,1%). Os BMz apresentam valores médios de M próximos de 6,5% e os LMz e LMcS possuem valores de M muito baixos (< 3%), sendo por isto designados como leucogranitos. Os minerais acessórios primários mais comuns, presentes em quantidades variadas nas diferentes fácies, são zircão, titanita, magnetita, ilmenita, pirita, apatita e allanita. Como minerais acessórios secundários encontram-se clorita, sericita-muscovita, epidoto, fluorita, argilo-minerais e hematita. Aspectos Texturais Considerando que a passagem entre diversas fácies é gradual e que não existe um contraste textural e composicional muito acentuado entre fácies afins, as fácies identificadas no pluton Redenção podem ser divididas em três grandes conjuntos: (1) as fácies equigranulares de granulação grossa, reunindo os CBAMzG, BAMzG, ABMzG e BMzG; (2) as fácies BMzP e LMcS, que apresentam aspectos particulares em relação às demais e algumas afinidades entre elas e (3) as fácies de textura heterogranular grossa a média ou equigranular média, correspondentes aos BMzH, LMzH e LMzE. -Fácies Equigranulares de Granulação Grossa As fácies CBAMzG, BAMzG, ABMzG e BMzG apresentam-se mais homogêneas texturalmente, sendo a individualização de fácies petrográficas fundamentada em variações da natureza ou das proporções dos minerais ferromagnesianos dominantes (biotita, anfibólio e clinopiroxênio). As diferenças texturais entre essas quatro fácies são pequenas, embora observem-se algumas variações. Na fácies CBAMzG, mais enriquecida em minerais máficos, predomina uma coloração rosa acinzentada, sendo perceptível o arranjo dos 147

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... minerais máficos em agregados circundados por plagioclásio, enquanto que nas demais fácies, paralelamente à diminuição nas proporções de minerais máficos e plagioclásio, dá-se o aumento das proporções de quartzo e feldspato alcalino e torna-se mais saliente a tonalidade rosada. Ao mesmo tempo, por vezes, a rocha tende a assumir um caráter heterogranular, devido ao maior desenvolvimento da microclina, que alcança dimensões entre 0,8 e 4,0 cm. Essas fácies mostram, localmente, o desenvolvimento de textura rapakivi (Figura 6a). Ao microscópio essas fácies apresentam textura granular hipidiomórfica e exibem, como uma feição típica, a presença de agregados de minerais máficos, geralmente acompanhados de concentrações de cristais de plagioclásio. Nos CBAMzG e BAMzG, os agregados máficos são mais compactos e, em certas amostras, predomina o anfibólio, geralmente envolvendo relíquias de clinopiroxênio, com freqüentes inclusões de apatita, opacos e zircão. Esses agregados aparecem de forma mais reduzida nos ABMzG e BMzG, nos quais se tem a transformação mais intensa do anfibólio e clinopiroxênio, fazendo com que nos agregados predominem biotita, titanita, alanita e zircão. A clorita, ausente ou inexpressiva nas fácies ricas em anfibólio, torna-se um pouco mais abundante. Características ópticas atribuídas ao anfibólio e clinopiroxênio permitiram estimar que se trate de hornblenda e augita, respectivamente. Por analogia com o anfibólio das variedades graníticas do maciço Jamon (DALL AGNOL et al., 1999), estima-se que suas composições encontram-se nos domínios das ferro-edenitas e hornblendas ferro-edeníticas. O piroxênio é oticamente muito similar ao identificado localmente no Granito Jamon e, com mais freqüência, nos diques de dacito pórfiro associados com aquele corpo (GASTAL, 1987; DALL AGNOL et al., 1997; 1999). Os agregados de cristais de plagioclásio freqüentemente mostram relações de synneusis (VANCE, 1969) ou de crescimento epitaxial (DOWTY, 1980). Esses agregados, em geral, são formados por cristais de formas regulares e intensamente transformados (descalcificados). Suas composições situam-se na faixa de andesina-oligoclásio cálcico (An 32-29 a An 25-22 ), nas porções centrais, e de oligoclásio sódico (An 16-10 ) a albita (An 6-3 até An 0 ), nas bordas. São comuns nestas fácies enclaves quartzo-dioríticos de granulação fina (<1 mm) ou muito fina (<0,5 mm). Apresentam, geralmente, uma textura glomeroporfirítica, caracterizada por agregados de biotita e, mais raramente, fenocristais médios de quartzo e plagioclásio com dimensões variando entre 2 e 4 mm. -Fácies Biotita-Monzogranito Porfirítico e Leucomicro-Sienogranito A fácies BMzP (Figura 6b) apresenta grandes afinidades com os BMzG, porém, difere dos mesmos de modo acentuado em termos texturais. Nos granitos porfiríticos, observam-se duas frações de granulação distintas. Uma é formada pelos cristais grossos, de dimensões geralmente entre 8 e 16 mm, podendo atingir até 42 mm, sendo composta pelos fenocristais automorfos a subautomorfos de quartzo, plagioclásio e microclina. A outra, de granulação mais fina, compreende os grãos com dimensões variáveis entre 0,2 e 2,0 mm, sendo composta pelos minerais essenciais e máficos. A composição do plagioclásio desta fração é semelhante às bordas dos cristais das fácies de granulação grossa [oligoclásio sódico (An 16-10 ) a albita (An 6-3 até An 0 )]. Nos BMzP, a matriz constitui cerca de 60 a 80% do volume da rocha. São freqüentes na mesma os intercrescimentos granofíricos. Na fácies BMzP, também estão presentes os agregados de minerais máficos e de plagioclásio, de modo geral similares aos observados nos BMzG, porém, são menos freqüentes e mostram uma cloritização mais intensa da biotita. São comuns 148

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 nessa fácies, sinais de corrosão nos fenocristais de quartzo e plagioclásio, sugerindo mudança bruscas das condições magmáticas que interromperam o crescimento dos mesmos. Dall Agnol (1982) relaciona este desequilíbrio ao abaixamento da pressão, devido à rápida ascensão do magma. Os LMcS possuem textura equigranular hipidiomórfica a xenomórfica e conteúdos modais de minerais máficos inexpressivos (Tabela 1). Os tipos de textura hipidiomórfica são, geralmente, heterogranulares, com cristais de dimensões variáveis entre 0,2 e 2,5 mm. Nos tipos de textura xenomórfica (aplítica), a granulação é mais fina ( entre 0,1 e 0,5 mm). Em alguns deles, observa-se o maior desenvolvimento de feldspato potássico, quartzo e plagioclásio (entre 4 e 10 mm), que ocorrem como fenocristais, dando um aspecto porfirítico à rocha. -Fácies de Textura Heterogranular Grossa a Média e Equigranular Média As fácies BMzH, LMzH e LMzE distinguem-se das fácies de granulação grossa por possuírem caráter heterogranular, granulação comparativamente mais fina ou ambos. Os BMzH mostram coloração cinza rosada e textura heterogranular média a grossa (Figura 6c), havendo passagem gradual entre as duas frações de granulações contrastantes. A fração predominante exibe granulação média, dimensões dos cristais variáveis entre 2,0 e 5,0 mm e é composta pelos minerais essenciais e os máficos. A outra fração possui granulação grossa e é constituída essencialmente por microclina, semelhante aos cristais grossos das demais fácies descritas anteriormente, e, subordinadamente, por plagioclásio. Difere dos BMzP por não terem um caráter francamente porfirítico e por serem, geralmente, um pouco mais ricos em máficos (os valores médios de M das duas fácies são similares (Tabela 1) porém, constata-se que a maioria das amostras do BMzP possui M < 5%, ao passo que nos BMzH M é sempre > 5%). Diferentemente das fácies de granulação grossa, a separação entre as fácies petrográficas BMzG, BMzP e BMzH baseia-se nas suas variações texturais, já que os constituintes ferromagnesianos não apresentam variações significativas (Tabela 1). Nos LMz foi possível distinguir dois subtipos, que exibem textura e composições distintas. O primeiro possui textura heterogranular média a grossa (LMzH; Figura 6d), porém, difere dos BMzH pelo fato de apresentar cristais grossos de todos os minerais félsicos essenciais. Já o segundo possui razão Pl/Mc mais baixa e textura equigranular média (LMzE). Nos LMz, a biotita ocorre em quantidades pouco expressivas e com intensa transformação para clorita. É comum a ocorrência de fluorita. O plagioclásio também constitui agregados de grãos, porém, estes possuem menores dimensões e apresentam-se menos intensamente transformados. Sua composição é similar ao plagioclásio da fração fina do BMzP. Particularmente nos LMzH, é marcante a transformação do feldspato alcalino, levando à formação de albita em tabuleiro de xadrez (chess board albite; SMITH, 1974). Os intercrescimentos granofíricos são muito freqüentes na variedade LMzE. DISTRIBUIÇÃO E RELAÇÕES ENTRE AS FÁCIES DO GRANITO REDENÇÃO As observações de campo, somadas aos aspectos petrográficos e análises de levantamentos aerogeofísicos, permitiram definir as diferentes fácies do corpo granítico, bem como a sua distribuição espacial e as relações entre as mesmas. As variações mineralógicas e texturais presentes no maciço Redenção indicam, muitas vezes, haver uma transição entre as diversas fácies. Além disso, há um zoneamento na disposição das mesmas. Como pode se observar no mapa geológico de fácies do corpo (Figura 2), as fácies portadoras de anfibólio + biotita ± clinopiroxênio como minerais varietais, que são as mais ricas em máficos e derivadas de líquidos 149

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... Figura 6. Aspectos texturais das diferentes fácies do Granito Redenção: a) ABMzG com textura equigranular grossa, mostrando textura rapakivi com cristais ovóides de feldspato potássico manteados por plagioclásio; b) Aspecto macroscópico do BMzP mostrando fenocristais grossos e idiomórficos a hipidiomórficos de plagioclásio e feldspato potássico e xenomórficos de quartzo imersos em uma matriz de granulação fina a muito fina; c) BMzH mostrando cristais de granulação grossa de feldspato alcalino associados com minerais de granulação média a fina, os quais são predominantes; d) LMzH mostrando cristais grossos e subautomorfos de plagioclásio, feldspato potássico e quartzo, associados com grãos médios, menos bem formados, desses mesmos minerais. Pl plagioclásio; Fk feldspato potássico; Qz quartzo. comparativamente menos evoluídos, concentramse na porção sul do corpo, onde são as únicas fácies representadas, excetuando os diques de LMcS. O ABMzG é o que possui maior distribuição com os CBMzG e BAMzG ocorrendo em áreas mais restritas. A fácies BMzG ocupa a porção centro-sul do corpo, quase toda a sua porção norte e também grande parte dos domínios leste e oeste, sendo a fácies de maior distribuição superficial (Figura 2). Já a fácies BMzP distribui-se ao longo das bordas das principais serras que dominam a parte central do corpo (contato entre BMzG e BMzH). Nas serras que formam o domínio central e sudoeste do corpo, tem-se nas encostas a ocorrência da fácies BMzH, que forma um anel circundando a fácies LMzH que domina inteiramente nas porções mais elevadas do centro do corpo (Figura 2). Localmente esta última fácies transiciona para a fácies LMzE. Os LMcS ocorrem em todo o corpo, sempre sob a forma de diques, porém, são mais abundantes nas imediações das principais elevações. De modo geral, as fácies BAMzG, ABMzG e BMzG passam, gradacionalmente, das fácies mais enriquecidas em minerais máficos para as mais leucocráticas. Porém, contatos bruscos são localmente encontrados. Relações de campo 150

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 mostram que o CBAMzG ocorre ora como enclaves (autólitos) arredondados no interior do ABMzG, ora seccionado por uma fácies mais evoluída (BMzG), localmente com nítida reabsorção do CBAMzG (Figura 7). Também se observa a presença de enclaves (autólitos) monzograníticos no CBAMzG (Figura 8). Isto sugere a atuação de processos de magma mingling (mistura heterogênea) envolvendo os líquidos formadores dessas duas fácies, o que implica baixo contraste térmico e de viscosidade entre ambas. Além dos xenólitos de rochas máficas, relacionadas aos greenstone do Supergrupo Andorinhas, e daqueles de granitóides, associados ao Tonalito Arco Verde, descritos anteriormente, foi identificada, ainda, nos BAMzG e ABMzG, grande quantidade de enclaves de rochas de composição quartzodiorítica. São enclaves de pequenas dimensões (10-30 cm), arredondados ou elipsoidais, por vezes lenticulares, com razões comprimento/largura bastante variadas. Seus contatos com o granito são geralmente irregulares e difusos, podendo ser regulares. Essa última relação indica alto contraste de viscosidade entre os enclaves dioríticos e o granito. Freqüentemente, fenocristais de feldspatos do granito são encontrados nos domínios internos dos enclaves, num processo de transferência, resultante, provavelmente, de hibridização dos enclaves, possivelmente relacionado com processo de magma mingling (HIBBARD, 1995; NEVES; MARIANO, 1997). Feições desse tipo sugerem um baixo contraste de viscosidade e coexistência no estado líquido dos magmas formadores das duas rochas. Esse tipo de estrutura resulta, geralmente, da coexistência de dois magmas de composições distintas, sem envolver misturas significativas dos mesmos (VERNON, 1984). Os enclaves representariam glóbulos (bolhas) de magma mais máfico envoltos por magma mais félsico, que é dominante. Os primeiros cristalizam mais cedo e mais rapidamente, originando, dessa forma, a textura usualmente mais fina dos mesmos. Esses enclaves de composição básica a intermediária ocorrem, preferencialmente, nas fácies menos evoluídas da porção sul do corpo, parecendo marcar o limite de ocorrência das mesmas. Suas relações lembram, em muitos aspectos, aquelas observadas entre granitos rapakivi ou quartzo-pórfiros com rochas máficas contemporâneas (RÄMÖ, 1991; LINDBERG; EKLUND, 1992; KOSUNEN, 1999), as quais são marcadas por processos de magma mingling, resultando na formação de rochas híbridas. Relações de certo modo similares entre enclaves máficos e granitóides também são observadas em maciços granitóides cálcico-alcalinos, como os que ocorrem com muita freqüência nos domínios brasilianos do Nordeste e Sudeste do Brasil (WIEDEMANN; MENDES, 1993; GALINDO et al., 1995; NEVES; VAUCHEZ, 1995; MARIANO et al., 1996; NEVES; MARIANO, 1997). Entretanto, os últimos caracterizam-se, geralmente, por apresentar deformação expressiva dos granitóides e enclaves em regime dúctil, feições estas inteiramente ausentes no Granito Redenção. Os contatos entre o BMzG e o BMzH mostram-se sinuosos ou interdigitados. Ao longo das zonas de contato, a interação entre ambas as fácies é marcada pela presença de xenocristais de álcali-feldspato pertítico pertencentes ao BMzG no BMzH (Figura 9), mostrando que esses dois líquidos possuíam baixo contraste de viscosidade e térmico, tendo coexistido no estado líquido, e, portanto, cristalizado, pelo menos em parte, simultaneamente. Os LMcS, geralmente na forma de veios e diques seccionando as diferentes fácies ou, localmente, como bolsões, interagem com as rochas monzograníticas formando, por vezes, rochas híbridas de aspecto porfirítico, que se assemelham aos típicos granitos porfiríticos. Aerogamaespectometria Conforme discutido e ilustrado em Oliveira (2001), a integração dos dados de imagens de sensoriamento remoto (RADAR; BANDA 4) e de aerolevantamentos 151

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... Figura 7. Relações de contato da fácies CBAMzG com a fácies BMzG, mostrando leve assimilação do CBAMzG pelo BMzG. Ao longo de parte do contato observa-se uma injeção de leucogranito. Figura 8. Enclave monzogranítico (BMzG) arredondado no CBAMzG. Figura 9. Contato entre o BMzG e o BMzH (à direita e à esquerda da foto, respectivamente). Notar o contato irregular e a interação ao longo do mesmo entre as duas fácies, com a presença de xenocristais de feldspato potássico do BMzG no BMzH, indicando o baixo contraste de viscosidade entre os magmas que as originaram. Destaca-se, ainda, a presença de fenocristais róseos de feldspato potássico com mantos brancos de plagioclásio, caracterizando uma textura rapakivi localizada. geofísicos (aerogamaespectometria, canais: contagem total, tório e urânio), cedidos pela CPRM/SUREG- Belém, confirma a distribuição espacial das fácies discutida anteriormente, com alta resposta radiométrica no interior da intrusão, claramente relacionada às rochas mais evoluídas do corpo granítico. Além disso, permite diferenciar, também, o Granito Redenção das outras unidades geológicas. 152

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 O comportamento radiométrico é próximo do observado no Granito Serra dos Carajás (PARADELLA et al., 1998). CONSIDERAÇÕES SOBRE A COLOCAÇÃO DO GRANITO REDENÇÃO As diferenças de idades entre as rochas encaixantes (2,87 Ga) e o granito (1,88 Ga) e a baixa profundidade (ambiente epizonal) em que se deu a intrusão, atestada pelo fato de o corpo granítico truncar abruptamente as foliações regionais, cujos padrões não parecem ser influenciados pelo mesmo, revela um comportamento rígido das rochas encaixantes e demonstra o elevado contraste de viscosidade entre o granito e essas rochas. Além dessas feições, a forma angulosa dos enclaves, especialmente daqueles relacionados ao Tonalito Arco Verde, a ocorrência de freqüentes bordas de resfriamento e a ausência de orientação tanto do conjunto de enclaves, como nas diversas fácies graníticas, refletindo a ausência de esforços regionais quando da colocação do magma, confirmam tal contraste. Desse modo, é lógico supor um magma ainda com baixa razão cristal/líquido quando da colocação, comportando-se como um fluído, estando, portanto, em estado físico e térmico distinto das suas rochas encaixantes. Apesar da forma grosseiramente circular do Granito Redenção, os contatos, ocasionalmente, em extensos segmentos retilíneos e com algumas reentrâncias angulares, sugerem que o controle de colocação do mesmo se fez por fraturas anteriores à intrusão. Esse controle na estruturação do corpo é reforçado pela coincidência das direções dos principais sistemas de fraturas em seu interior com os principais sistemas de lineamento regional dominantes (NW, N-S e NE), que muito provavelmente controlaram a sua intrusão. Os dados obtidos sugerem, ainda, que os principais sistemas de fraturamentos estiveram ativos até o final da colocação do maciço, servindo como condutos para líquidos tardios mais evoluídos, responsáveis pela formação dos diques de microgranito e veios de quartzo. A disposição espacial das diversas fácies graníticas no interior do maciço evidencia uma zonalidade das mesmas similares a estruturas de alguns maciços circunscritos, como o de Rosses (PITCHER; BERGER, 1972), da Sierra Nevada (BATEMAN; CHAPPELL, 1979), Galloway (STEPHENS; HALLIDAY, 1979), Ambalavayal (RAJESH, 2000) e dos maciços Jamon (DALL AGNOL, 1982) e Musa (GASTAL, 1987) do Cráton Amazônico. Na concepção de grande parte desses autores, os plutons zonados resultam da colocação de uma fase magmática móvel tardia cortando os termos precoces (ATHERTON et al., 1979; BATEMAN; CHAPPELL, 1979). Stephens e Halliday (1979) salientam, no caso do pluton Galloway, que a heterogeneidade dos contatos entre os diferentes tipos petrográficos, os quais mostram uma distribuição concêntrica, aparecendo ora marcantes, ora difusos (transicionais), evidencia que a evolução do corpo processou-se por meio de vários pulsos de magmas, não muito distanciados temporalmente. Acrescentam, ainda, que cada pulso exibe trends composicionais normais, podendo, também, ter havido interação entre os mesmos. Essas considerações aplicam-se, perfeitamente, às observações efetuadas para as diferentes fácies do Granito Redenção, descritas anteriormente. Dentro do modelo de derivação do corpo a partir de dois líquidos distintos (OLIVEIRA, 2001), as principais elevações do maciço Redenção, constituídas pelos BMzH e LMz, os quais mostram grosseiramente uma estrutura concêntrica, representariam o produto de uma intrusão separada daquela que gerou as fácies portadoras de anfibólio e o BMzG. Essas fácies seriam, muito provavelmente, relacionadas a um outro pulso magmático. A disposição da fácies BMzP, ao longo das zonas de contato entre o BMzG e BMzH, sugere que ela foi alojada ao longo de descontinuidades pré-existentes 153

Geologia e petrografia do granito paleoproterozóico... e, ao que tudo indica, posteriormente à formação das fácies com anfibólio e dos BMzG e BMzH. A fácies BMzP representaria, portanto, injeção tardia de um líquido mais evoluído, derivado, provavelmente, dos BMzG. Os LMcS, por outro lado, representariam a cristalização de líquidos bem mais diferenciados que os das demais fácies, como é atestada pela sua composição mineralógica e suas relações texturais. O fato de a fluorita tornar-se um mineral mais expressivo nos leucogranitos, juntamente com a clorita, sugere uma maior importância das fases voláteis durante o final de sua cristalização. É evidente que tais aspectos devem estar diretamente relacionados com a evolução magmática desse conjunto de rochas, sugerindo que as mesmas derivaram de líquidos comparativamente mais evoluídos e, portanto, enriquecidos em constituintes voláteis. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Os trabalhos de mapeamento geológico e estudos petrográficos do batólito granítico Redenção, bem como a integração destes com dados aerogeofísicos, revelam a existência de nove fácies petrográficas distintas, divididas em três grandes grupos texturais: 1 Fácies equigranulares de granulação grossa (CBAMzG, BAMzG, ABMzG e BMzG); 2 Fácies BMzP e LMcS; 3 Fácies heterogranular grossa a média ou equigranular média (BMzH LMzH e LMzE). Admitindo-se que um processo de diferenciação magmática tenha comandado a evolução das diversas fácies aqui distinguidas, é evidente, a partir das análises modais, que tal diferenciação traduziu-se por aumentos moderados nos conteúdos modais de quartzo e das razões Pl/Mc. Porém, refletiu-se de modo mais claro na diminuição gradual das percentagens de minerais máficos e da razão anfibólio/biotita. Essas variações foram, também, acompanhadas pelo decréscimo do teor de anortita do plagioclásio. Por outro lado, se considerarmos a hipótese de as maiores elevações da área de ocorrência do Granito Redenção, representadas pelo domínio dos BMzH e LMz, representarem uma intrusão separada formada a partir de um líquido independente daquele formador das demais fácies, essas tendências poderiam ser explicadas a partir de dois trends de evolução, um no sentido CBAMzG- BAMzG-ABMzG-BMzG-BMzP-LMcS e outro no sentido BMzH-LMzH-LMzE. No caso do pluton Redenção, a existência de um ou mais pulsos de magma será reavaliada em trabalhos posteriores. Por ora, pode-se concluir que o maciço apresenta um zoneamento concêntrico com as fácies mais ricas em máficos, situando-se na porção sul do corpo, e com a fácies BMzG, formando um grande anel externo e as fácies leucograníticas ocupando a porção central do corpo. As fácies BMzP e BMzH formam anéis dispostos entre a fácies BMzG e os LMz. Desde já, fica demonstrado que independentemente da existência de um ou mais pulsos de magma os líquidos formadores do granito evoluíram das bordas para o centro, onde se concentraram os líquidos mais evoluídos. O caráter anorogênico e as afinidades geológicas e petrográficas do Granito Redenção com os diversos granitos paleoproterozóicos da Amazônia Oriental, bem como a similaridade entre suas idades (1.88 Ga), aproximam tal granito dos granitos intraplaca, do tipo-a e de origem crustal. AGRADECIMENTOS Aos pesquisadores do Grupo de Pesquisa Petrologia de Granitóides (GPPG-CG-UFPA) pelo apoio nas diversas etapas deste trabalho. A CPRM-Belém pela liberação de imagens com superposição de dados aerogeofísicos. Este trabalho recebeu apoio financeiro do CNPq (bolsa de mestrado de Davis Carvalho de Oliveira, processos 000400038/99 e 463/96/2000-7) e UFPA (Projetos 212-CG/ PROINT 2000 e 128 CG/PROINT 2001). Este 154

Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciências Naturais, Belém, v. 1, n. 2, p. 139-156, maio-ago. 2005 artigo é uma contribuição para os projetos PRONEX CNPq (Projeto 103-98; Processo 66.2103/ 1998-0) e IGCP - 426. REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. F. M. et al. 1981. Brazilian Structural Provinces: an introduction. Earth Sci. Rev ev., v. 17, p.1-29. ALTHOFF, F.J. 1996. Estude pétrologique et structurale des granitoïdes de Marajoara (Pará, Brésil): leur rôle dans l évolution archéenne du craton Amazonien (2,7-3,2 Ga). 296f. Tese (Doutorado)- Université Henri Poincaré, Nancy I, Paris. ALTHOFF, F. J et al. 1995. Composição e estrutura dos granitóides arqueanos da região de Marajoara. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi Sér.. Ciênc. Terra erra, v. 7, p.5-26. ALTHOFF, F. J., BARBEY, P.; BOULLIER, A. M. 2000. 2.8-3.0 Ga plutonism and deformation in the SE Amazonian craton: the Archean granitoids of Marajoara (Carajás Mineral province, Brazil). Precambrian Res es., v. 104, p. 108-206. ARAÚJO, O. J. B.; COSTA, J. B. S. 1994. Correlações entre as principais unidades rochosas da região sudeste do Pará na área do Programa Grande Carajás. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 38., Camboriú, 1994. Anais... Camboriú: SBG. v. 2. p. 65-66. ARAÚJO, O. J. B. et al. 1994. Primeira integração das investigações geológicas do Programa Grande Carajás na região SSE do Estado do Pará. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 4, Belém. Resumos Expandidos... Belém: SBG, p. 299-301. ATHERTON, M. P. et al. 1979. The geochemical character of the segmented Peruvian Coastal Batholith and Associated Volcanics. In: ATHERTON, M. P.; TARNEY, J. (Ed.). Origin of Granite Batholiths: Geochemical Evidence. Orpington, Shiva Publish. p. 45-64. BARBOSA, A. A. et al. 1995. Geocronologia Rb-Sr e Pb-Pb do Granito Redenção, SE do Pará: Implicações para a evolução do magmatismo Proterozóico da região de Redenção. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, sér. Ciênc. Terra erra, v. 7, p. 47-164. BATEMAN, P.C.; CHAPPELL, B.W. 1979. Crystallization, fractionation and solidification of the Toulumne Intrusive Series, Yosemite National Park, California. Geol. Soc. Am. Bull., v. 90, p. 465-482. BEZERRA, P. E. L. et al. 1982. Geologia da extremidade sudeste da Plataforma Amazônica e da faixa de dobramentos Araguaia - Tocantins. In: SIMPOSIO GEOLOGIA. AMAZONIA., 1. Belém, 1982. Anais... Belém: SBG, v. 1, p. 9-25. CHAYES, F. 1956. Petrographic modal analysis. New York: John Willey & Sons. 113 p. COSTA, J.B.S. et al. 1995. A Província Mineral de Carajás: Aspectos tectono-estruturais, estratigráficos e geocronológicos. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér.. Ciênc. Terra erra, v. 7, p. 199-235.. CUNHA, B.C.C.. et al. 1981. Geologia. In: PROJETO RADAMBRASIL. Folha SC.22 - Tocantins ocantins. (Levantamento de Recursos Naturais, 22). DALL AGNOL, R. 1982. Maçiço Jamon: Evolução petrológica de um granito da Amazônia Oriental. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 1., Belém, 1982. Anais... Belém: SBG. v-2, p. 139-161. DALL AGNOL, R.; SAUCK, W. A.; GONÇALEZ, M. G. B. 1988. Suscetibilidade magnética em granitóides da Amazônia: um estudo preliminar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 35., Belém, 1988. Anais...Belém:, SBG. v. 3, p. 1664-1173. DALL AGNOL, R.; LAFON, J.M.; MACAMBIRA, M.J.B. 1994. Proterozoic anorogenic magmatism in the Central Amazonian province, Amazonian Craton. Geochronological, Petrological and Geochemical aspects. Mineral. Petrol etrol., v. 50, p. 113-138. DALL AGNOL, R. et al. 1997. Archean granitoids as magma sources for the anorogenic Paleoproterozoic Jamon and Musa granites (Eastern Amazonian Craton): new constraints based on geochemical and Sm-Nd isotope data. In: SOUTH-AMERICAN SYMPOSIUM ON ISOTOPE GEOLOGY. CPGEO/ IG/USP, Campos do Jordão, 1997, p. 96-97. DALL AGNOL, R. et al. 1999. Petrology of the anorogenic, oxidised Jamon and Musa granites, Amazonian Craton: implications for the genesis of Proterozoic, A-type Granites. Lithos, v.46, p. 431-462. DOWTY, E. 1980. Synneusis reconsidered. Contrib. Mineral. Petrol., v. 74, p. 75-84. GALINDO, A.C. et al. 1995. O Complexo granítico Serra do Lima: petrografia e geoquímica. In: SIMPOSIO DE GEOLOGIA DO NORDESTE. 16., Recife: SBG, 1995, p. 308-312. GASTAL, M.C.P. 1987. Petrologia do Maciço Granítico Musa, Sudeste do Pará ará. 316 f. Tese (Mestrado)- Universidade Federal do Pará. Centro de Geociências., Belém. GASTAL, M.C.P. 1988. Magmatismo ácido-intermediário do Proterozóico Médio da região de Rio Maria, SE do Pará: discussão quanto à tipologia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 35., Belém, 1988. Anais... Belém: SBG. v. 3, p. 1147-1163. HIBBARD, M. J. 1995. Mixed magma rocks. Petrography to petrogenesis. New Jersey: Prentice-Hall, Inc. p. 242-260. HUHN, S.R.B. et al. 1988. O terreno granito-greenstone da região de Rio Maria - Sul do Pará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 35, Belém. Anais... Belém: SBG. v. 3, p. 1438-1453. IANHEZ, A.C. et al. 1982. Vulcanoplutonismo da extremidade sudeste da Plataforma Amazônica. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DA AMAZÔNIA, 1, Belém, 1982. Anais... Belém: SBG-NO, v.2, p.128-146. JUNG, J.; BROUSSE, R. 1959. Classification modale des roches éruptive.s: utilizant les données fournies par le compteur de points. Paris: Masson & Cie., 122 p. KOSUNEN, P. 1999. The rapakivi granite plutons of Bodom and Obbnas, southern Finland: Petrography and geochemistry. Bull. Geol. Soc. Finl inl., v. 1, part. 2, p. 275-304. LE MAITRE, R.W., 1989. A classification of igneous rocks and glossary of terms. London: Blackwell Scientific Publication, 193 p. 155