DEEPAK CHOPRA tudo sobre o amor Tradução de Joana Assunção k
Introdução Teria a vida algum encanto sem o amor? Acredito que o amor é o mistério invisível que nos envolve. Tal como escreveu o grande poeta indiano Rabindranath Tagore: «O amor não é um mero impulso. Deve conter a verdade, que é a lei.» Nem todos nós somos capazes de o exprimir por palavras tão eloquentes mas a intensidade do nosso desejo de amar e de sermos amados é uma característica exclusivamente humana. Na sua forma mais elevada, o amor transforma a nossa natureza. Gera ternura e afeto. Substitui a raiva pela compaixão. Quando as pessoas procuram o meu conselho, o amor e os relacionamentos são o principal tema das questões que me colocam. Repare bem: a paixão talvez seja a experiência mais profunda que qualquer um de nós poderá viver mas também a mais enigmática. Porque será o amor tão doloroso quando nos proporciona tamanho êxtase? O que o tornará tão extremo ao ponto de se transformar em ódio e ciúme quando nos sentimos traídos? No nosso dia a dia confrontamo-nos com toda a espécie de pequenos imprevistos mas, no que diz respeito ao amor, a nossa própria vida parece estar em jogo. Os nossos relacionamentos amorosos e os laços de família são as forças mais poderosas que influenciam a nossa vida. Estas ligações profundas entre seres humanos podem, por vezes, ser tão esmagadoras que nos deixam profundamente perturbados. Dado que nos proporciona a maior das alegrias, a experiência do amor sempre foi considerada a porta para um nível superior de realidade. Numa perspetiva espiritual, contudo, o amor 7
é mais do que o afeto profundo que sentimos pelos nossos companheiros, amigos e filhos. O amor é a nossa essência primordial. Neste livro reunimos perguntas e respostas relativas a todas as fases da vida amorosa. Iniciar um relacionamento é, para quase todos nós, o primeiro passo de uma viagem para toda a vida. Torna- -nos recetivos a uma experiência inédita. Sentimo-nos vulneráveis e inseguros em relação à intimidade, tanto no plano sexual como emocional. É por causa do nosso desejo de amarmos e de sermos amados ser tão poderoso que estamos dispostos a deixar cair a máscara do ego confiante e aprumado que usamos todos os dias. As relações genuinamente afetuosas oferecem-nos um amor íntimo e gratificante e estabelecem uma base a partir da qual as possibilidades de crescimento são ilimitadas. Estes laços entre seres humanos, simultaneamente frágeis e omnipotentes, reforçam a nossa natureza espiritual. Não existe nenhuma fronteira definida entre amar alguém e amar a alma dessa pessoa. No entanto, nos tempos que correm, assistimos a uma grande transformação. Antigamente, o objetivo era atingir o amor idealizado, quer fosse o amor a Deus ou uma ligação entre almas. Hoje em dia, falamos mais abertamente e focamo-nos de modo quase obsessivo no aspeto terreno do amor, ou seja, na sexualidade. Somos francos quanto ao nosso desejo de um relacionamento sexual saudável, até porque, mais do que nunca, o sexo permeia todas as manifestações da cultura popular. Também aqui as fronteiras esbatem-se. Amar alguém sexualmente, com paixão e desejo, pode ser a expressão física do amor universal que liga duas pessoas espiritualmente: em ambos os casos, trata-se de uma união que transcende o ego. É claro que a sexualidade também possui uma forma muito particular de nos tornar vulneráveis. Ao mergulharmos completamente numa experiência sexual intensa, levamos connosco o nosso passado, a nossa cultura, as nossas necessidades e expectativas. Isto transforma o quarto num território perigoso, onde as inseguranças podem revelar-se extremamente dolorosas. Apesar disso, é também um espaço de honestidade, onde percebemos até que ponto é importante sermos fiéis a nós mesmos. Na sociedade atual, em que tantos fatores se combinam para aumentar a taxa de divórcio, o próprio casamento suscita insegurança. 8
Os inúmeros motivos porque duas pessoas decidem casar-se estão profundamente enraizados nas suas origens e identidade. No Ocidente, muitas pessoas foram condicionadas para acreditar que o casamento nasce de um relacionamento íntimo estável. No entanto, no Oriente, onde os casamentos arranjados ainda são uma tradição popular, as pessoas têm uma perceção diferente sobre o que une um homem e uma mulher através do matrimónio. A segurança económica, os costumes familiares, os contratos realizados pelos pais de ambas as partes e o medo de ficar sozinho sem encontrar parceiro são os principais ingredientes desta fórmula. Contudo, independentemente de todas as diferenças culturais, o número surpreendente de pessoas que decidem casar-se, em vez de optar pela via prática de simplesmente viverem juntas, dão esse passo porque consideram o casamento um sacramento. Representa uma união abençoada por Deus. Mesmo que esta crença esteja em declínio, existe outro tipo de sacramento que, creio eu, permanece intacto. Construir uma vida em conjunto com outra pessoa com base no amor altruísta pode levar-nos a compreender o nosso verdadeiro ser. Tal como terá oportunidade de ler nas páginas que se seguem, a maioria das pessoas que colocam questões sobre o amor enfrenta uma situação de conflito e de infelicidade. Dado que o amor revela a nossa natureza essencial, parece-nos demasiado arriscado e o desgosto provocado pela perda de um amor parece insuperável, como se a nossa própria identidade estivesse a ser destroçada. (Repare com que frequência se ouve dizer «Sem ela não sou ninguém» ou «Não consigo viver sem ele».) Terminar uma relação, especialmente quando a nossa vida pessoal gira em torno de quem amamos, pode parecer demolidor. Por razões semelhantes, pode também tornar- -se difícil sabermos quando uma relação deixou de fazer sentido. Nestas alturas, é importante fazermos o luto e restabelecer-nos, recordando-nos de que os laços do amor universal nunca podem ser rompidos. O amor supremo não é pessoal. Tal como diz Tagore, com uma simplicidade emocionante num dos seus poemas: As ondas do meu coração rebentam nas praias do mundo 9
E escrevem o seu nome em lágrimas Com estas palavras: «Amo-te.» As relações mais próximas geralmente são com a família pais, filhos, irmãos e irmãs. Dado que estes relacionamentos não são escolhidos pelo nosso ego, eles podem ser frequentemente marcados pelo conflito. Ainda assim, a responsabilidade que sentimos uns pelos outros ultrapassa a razão. Enquanto criaturas, fomos feitos para amar. Neste livro exploraremos as questões que os leitores me têm colocado sobre a natureza do amor em todas as suas dimensões. A procura do amor em todas as suas manifestações, princípios e fins nos nossos corações. Tentei responder-lhes neste espírito, na esperança de que as pessoas se libertem da dor e da confusão, mas que, acima de tudo, vejam a luz do amor como a possibilidade eterna que existe dentro delas. Deepak Chopra 10
o início dos relacionamentos
Um amor extraordinário Tenho 24 anos e nunca soube o que é ter um relacionamento amoroso. Desde muito pequena que sou introspetiva. Lembro-me de me perder em pensamentos do género Quem sou eu?, O que seria sem o meu corpo? ou O que faz com que eu seja quem sou? Nunca fiz nada que no meu íntimo sentisse que não era certo. Estou a guardar-me, à espera do verdadeiro amor. Não necessariamente do casamento mas do amor, de um amor extraordinário. Não de um amor como o dos contos de fadas mas do amor profundo e incondicional. As pessoas dizem-me que é algo que não existe e que preciso de acordar para a vida. Pois bem, recuso-me a acreditar, pois para mim é inconcebível. Estarei a idealizar o amor? É provável que esteja, em certa medida, a idealizar o amor. No entanto, talvez isso seja inevitável se até agora nunca teve uma relação amorosa. Não deixe que isso a preocupe. O amor que sente no seu coração, na sua essência, é suficientemente real. Esse amor é o seu verdadeiro Eu e não se trata de uma fantasia nem de um ideal. Essa convicção profunda servirá de base para a relação afetuosa que deseja quando chegar a altura. Não precisa de transformar esta relação em algo grandioso. Respeite os desejos do seu coração e deixe que o amor floresça a seu tempo. 13