TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL HUMAN TRAFFICKING FOR SEXUAL EXPLOITATION PURPOSES

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Curso de Jornalismo Artigo Relatório TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL HUMAN TRAFFICKING FOR SEXUAL EXPLOITATION PURPOSES Danielle Diniz Lopes 1, Wallinson Leandro Alves de Souza 2, Luiz Carlos Menezes Reis³ 1 Aluna do Curso de Jornalismo 2 Aluno do Curso de Jornalismo 3 Professor Doutor do Curso de Jornalismo Resumo Este trabalho é uma grande reportagem, cujo tema é o Tráfico de Pessoas para fins de exploração sexual, um dos crimes mais degradantes imposto ao ser humano e, também, um dos mais lucrativos do mundo. Percebemos que mesmo sendo um problema que atinge todo o mundo, o tema é pouco comentado na mídia. Dessa forma, vimos a necessidade de trazer tal questão à tona, visto que esse crime fere gravemente os direitos humanos. O objetivo desse trabalho é informar a todas as classes sociais que o tráfico de pessoas é um crime rotineiro que está se tornando comum, embora não seja comum nas manchetes dos jornais e telejornais. Foram entrevistadas fontes especializadas no tema: Polícia Federal, Secretaria de Justiça e Cidadania do DF, advogado especialista e psicólogo. Este trabalho teve referências bibliográficas sobre o tráfico humano bem como a pesquisa de dados feitas pelos órgãos responsáveis. Houve também pesquisa bibliográfica sobre a produção de grandes reportagens, textos jornalísticos e técnicas de edição. O tráfico é uma triste realidade que precisa ser divulgada. Esta grande reportagem mostra histórias de pessoas que foram traficadas e que algumas felizmente saíram com vida, mas outras não. Através desta reportagem é possível compreender a dificuldade que as vítimas têm de sair da rede de aliciamento e a quase impossível comunicação com familiares. Conclui-se que o tráfico de pessoas é um crime que continua crescendo apesar do trabalho preventivo e de repressão feito pelos países que aderiram ao Protocolo de Palermo, mas a falta de divulgação maçante nos meios de comunicação contribui para o desconhecimento da massa. Palavras-Chave: tráfico; exploração sexual; telejornalismo; mulheres. Abstract This work is a big story, whose theme is Human Trafficking for sexual exploitation, one of the most degrading crimes imposed on the human being and also one of the most profitable in the world. We realize that even though a problem that affects the whole world, the topic is little discussed in the media. Thus, we saw the need to bring this issue to the fore, since this crime seriously violates human rights. The aim of this work is to inform all social classes that trafficking in persons is a common crime that is becoming common, although not common in newspaper headlines and TV news. specialized sources were interviewed on the topic: Federal Police, Ministry of Justice and the Federal District Citizenship, lawyer expert and psychologist. This work has references on human trafficking as well as the research data made by responsible agencies. There was also literature on the production of large reports, newspaper articles and editing techniques. Trafficking is a sad reality that needs to be disclosed. This great story shows stories of people who have been trafficked and some happily left alive, but others do not. Through this report you can understand the difficulty that victims have come out of grooming network and almost impossible to communicate with family members. It is concluded that human trafficking is a crime that continues to grow despite the preventive work and repression made by the countries that joined the Palermo Protocol, but the lack of dull disclosure in the media contributes to the lack of mass. Keywords: Traffic; sexual exploitation; television journalism; women. Contato: wallinsonleandro@yahoo.com.br 1

Introdução Esta grande reportagem sobre o Tráfico de Pessoas voltado para a exploração sexual irá abordar pontos importantes para compreensão de todos os públicos, para que do doutor ao mais leigo este tema seja discutido e levado ao conhecimento de todos. O tráfico humano para fins de exploração sexual é a terceira modalidade criminosa mais lucrativa do mundo, perdendo somente para o tráfico de armas e de drogas. Verificamos também, que o assunto é pouco divulgado pela imprensa brasileira e internacional, mesmo sendo uma prática que fere os direitos humanos e expoem homens, mulheres, adolescentes e crianças à degradação humana. Realizamos pesquisas bibliográficas de obras que explicam como o crime acontece e quais têm sido as medidas nacionais e acordos internacionais para combater o tráfico humano, além da colheita de dados com órgãos que estão estrimamente ligados ao enfretamento do tráfico de pessoas, bem como o tratamento da vítima. Diante da pouca divulgação sobre um assunto que choca o mundo todo, buscou-se aprofundar os conhecimentos, acerca do tema, conversando com especialistas que trabalham para combater esse tipo de crime, eles apresentaram algumas táticas que os aliciadores utilizam para fisgar as vítimas e os trabalhos desenvolvidos para acolher quem foi traficado. Foram disponibilizados dados com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) contendo o ranking dos países que mais atuam no tráfico de pessoas, apresentando o número de casos. Foi pesquisada, também, a Secretaria de Justiça e Cidadania do DF e a Secretaria de Políticas para Mulheres para obter dados deste crime no Brasil. Para embasamento teórico utilizouse as seguintes obras: Guia de referência para rede de enfrentamento ao tráfico de pessoas no Brasil, Tráfico em pauta: guia para Jornalistas com referências e informações sobre enfrentamento ao tráfico de pessoas, Tráfico de pessoas e trabalho escravo contemporâneo na perspectiva dos tratados internacionais e da Legislação Nacional, Protocolo de Palermo, Decreto 5.017, Lei 12.015, Os Desafios enfrentados pelos profissionais da comunicação desde a ideia da pauta até a divulgação da matéria, O texto na TV e Manual do telejornalismo. Abordaram-se na matéria algumas definições sobre o que é tráfico de pessoas e o que configura este crime; as penalidades para os aliciadores; as condições sociais das pessoas que são traficadas; sexo; idade e profissão por meio dos dados disponibilizados pela Organização das Nações Unidas (ONU). A grande reportagem traz duas histórias de pessoas que foram traficadas e sofreram com os abusos que foram submetidas enquanto estavam sob o domínio dos criminosos. Histórias que revelam que o aliciamento pode ser feito por pessoas mais próximas que se possa imaginar e a triste condição que essas pessoas são obrigadas a viver como fazer sexo com mais de 100 homens em uma noite. Trazemos também o posicionamento de órgãos específicos do governo brasileiro no combate ao tráfico: campanhas de enfretamento, tratamento das vítimas e os meios de denúncia. 1. O TRÁFICO DE PESSOAS O tráfico de pessoas é um fenômeno criminal que atinge o mundo todo. Suas finalidades são a exploração sexual, o trabalho escravo, remoção de órgãos, mendicância forçada, adoção ilegal de crianças e casamento forçado. Afetando mulheres, crianças, homens, travestis e transexuais, o tráfico de pessoas é a terceira modalidade criminosa que mais gera lucros no mundo. As estimativas de junho de 2012 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam cerca de 20,9 milhões de vítimas de trabalho forçado e exploração sexual a nível mundial, sendo que desse número 5,5 milhões são crianças. O tráfico de pessoas causa degradação humana, pois toda a sua natureza gira em torno da violação dos direitos fundamentais, garantidos pela constituição federal, no caso do Brasil, e os de dignidade humana, garantidos pelos Direitos Humanos. Nesse tipo de crime, as vítimas recebem propostas de empregos incríveis que normalmente fogem do que é imposta pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O tráfico de pessoas possui várias modalidades como a remoção de órgãos, trabalho escravo, exploração sexual, sendo este último o mais lucrativo de acordo com 2

o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado no Guia de Referência para Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil (2012), essa modalidade do crime movimenta mais de 32 bilhões de dólares no mundo todo. Segundo o Guia de Referência para a Rede de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil (2012), assim como grandes organizações que preparam todo um aparato e até especialização de seus representantes de negócios, as organizações ilícitas agem da mesma forma quando encontram fragilidade nas fronteiras de países que não possuem políticas públicas, nem legislação que combatem o mercado ilegal. Seja qual for a rede de articulação do tráfico de pessoas, as ações são promovidas com a ajuda de grandes tecnologias que facilitam a locomoção pelo mundo. A insuficiência dos mecanismos de enfretamento tradicionais e individuais de cada Estado permite que, estes criminosos prossigam criando novas formas de disseminar o trabalho ilegal por meio da exploração sexual e do trabalho forçado. Apesar de ser um crime que atinge tanto homem como mulher, o foco dos aliciadores são mulheres e crianças para as prostituírem ou forçá-las à mendicância. Outro ponto que esses criminosos avaliam na vítima é a classe social, idade e escolaridade. Em 2004, a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e a Organização Internacional do Trabalho realizaram um Diagnóstico sobre o Tráfico de Pessoas (2004), e divulgaram o perfil das vítimas nos estados brasileiros que foram rota do tráfico. Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará foram os estados pesquisados através de acesso a processos judiciais na Justiça Federal e a inquéritos na Policia Federal. O documento traz um total de 36 casos (14 inquéritos e 22 processos) sendo o estado do Goiás com maiores números de processos (12) e inquéritos (5). Desde 1999 as Organizações das Nações Unidas (ONU), por meio do Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes (UNODC), iniciou um intenso trabalho no combate ao crime de tráfico de seres humanos através de acordos internacionais e protocolos que foram sendo modificados ao longo dos anos para dar assim respaldo aos países membros focados na repressão do crime: A atuação do UNODC se dá em três frentes de ação: prevenção, proteção e criminalização. No campo da prevenção, o UNODC trabalha com os governos, cria campanhas que são veiculadas por rádio e TV, distribui panfletos informativos e busca parcerias para aumentar a consciência pública sobre o problema e sobre o risco que acompanha algumas promessas advindas do estrangeiro. (Escritório de ligação e parceria no Brasil, 2016) No viés de proteção à vítima, o Escritório da ONU coopera com os países no treinamento de policiais, promotores, juízes e agentes da justiça, assim como melhorar os serviços de atendimento com relação à proteção da vítima e das testemunhas. Na criminalização do tráfico, o UNODC trabalha na cooperação e sugestão de leis para fortalecer a legislação de cada país para que este Estado exerça com veemência a aplicabilidade da lei e combater a ação dos criminosos e a rede articuladora. 1.1 PROTOCOLO DE PALERMO O Protocolo de Palermo é um documento adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado Transnacional. Foi elaborado em 15 de novembro de 2000 e entrou em vigor em 29 de setembro de 2003 após as assinaturas dos Estados-membros aprovando seu teor. Este foi o primeiro documento criado para combater o crime de tráfico de pessoas com atenção especial às mulheres e às crianças na prevenção, repressão e punição do crime. O documento traz em seus artigos a proteção da vítima bem como a preservação dos direitos humanos e assistência: médica, psicológica e material. O protocolo também orienta que os países prestem a reinserção das pessoas traficada através da inclusão social com direito à educação, trabalho e formação. Art. 2º a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas, prestando uma especial atenção às mulheres e às crianças; b) Proteger e ajudar as vítimas desse tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos (...). Art. 6º (...) c) Assistência médica, psicológica e material; e d) Oportunidades de emprego, de educação e de formação. (Protocolo de Palermo, 2003) O acordo internacional coloca em a- tenção especial crianças e mulheres, pois o tráfico de pessoas com as finalidades de 3

Trabalho Escravo e Exploração Sexual são mais comuns, como bem mostra os dados da OIT, que dos 20,9 milhões de vítimas, 5,5 milhões são crianças, o que revela a vulnerabilidade social que está entregue aos países de maior rota como o Brasil, Espanha e Portugal. A definição do Tráfico de Pessoas é conhecida internacionalmente através desse protocolo e cabe aos países membros incluí-lo em sua legislação em total teor ou com retificações como achar necessário. Segundo o documento o significado de tráfico humano é: (...) o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos. (Protocolo de Palermo, 2003) Com essa definição do Protocolo ficam mais claras quais as formas de aliciamento e todas as formas de exploração que o tráfico submete o homem, a mulher e a criança que não está atrelada só ao fato de prometer uma vida melhor em outro país ou estado, mas o acolhimento dessa pessoa para qualquer tipo de exploração. O protocolo ainda contém que mesmo que a pessoa saiba do crime é irrelevante e salienta que qualquer atitude de um suposto acolhimento à criança e ela sofrer qualquer exploração é configurado tráfico de pessoas. De acordo com o documento criança é qualquer pessoa com menos de 18 anos de idade. Art. 3 a) Por tráfico de pessoas entende-se o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou ao uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou de situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tem autoridade sobre outra, para fins de exploração. A exploração deverá incluir, pelo menos, a exploração da prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, a escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a extração de órgãos; b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente artigo, deverá ser considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a); c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de uma criança para fins de exploração deverão ser considerados tráfico de pessoas mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos na alínea a) do presente artigo; d) Por criança entende-se qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos. (Protocolo de Palermo, 2003) O Protocolo de Palermo fala também sobre a legislação de cada país, que seja fortalecida para que a repressão do tráfico de seres humanos seja mais eficaz, pois apenas o protocolo não seria o bastante, uma vez que os criminosos são muito articuladores no recrutamento das vítimas. Outro ponto que ainda se trata é da assistência da vítima como foi citado acima. Dentro desse pacote da assistência o documento decide que o país deve garantir a proteção da vítima dentro do alojamento que for disponibilizado para a recuperação da mesma. Esse acordo internacional entre os países membros da ONU exige que estes trabalhem na prevenção do crime e da vítima, além de sugerir que os membros de combate (polícia, servidores, agentes) sejam treinados para identificar crime de tráfico de pessoas. 1.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SO- BRE O TRÁFICO DE PESSOAS O Brasil até 2004 não tinha uma legislação especifica sobre o tráfico de pessoas que alcançasse todas as modalidades, principalmente o de exploração sexual, como cita o Protocolo de Palermo, apesar de o código penal citar a exploração sexual de menores. Após a assinatura do Brasil no protocolo adicional na Convenção das Nações 4

Unidas Contra o Crime Transnacional, foi que a lei ganhou corpo na legislação brasileira e assim trouxe mais efetividade na repressão e prevenção do tráfico de pessoas, principalmente dentro do país. O decreto 5.017, de 12 de março de 2004, regulamenta o Protocolo de Palermo (2003) em total teor como lei para fortalecer as instituições brasileiras no combate ao tráfico de seres humanos. No entanto, o código penal tinha divergências de interpretações nos crimes que envolvia exploração sexual, quando em 2009, através da lei 12.015 o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual entrou no capítulo V como crime. Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no estrangeiro. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. 1 o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (...) Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. 1 o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Lei 12. 015, de 07 de agosto de 2009) Com a aplicação do tráfico de pessoas para fins de exploração sexual internacional e nacional, a lei se fortalece no combate ao crime no sentindo de que torna a legislação mais eficaz e rígida aos criminosos. No entanto, a legislação mostra uma deficiência de dois pontos: a pena que é baixa e o fato do crime não se hediondo. Apesar de ser um crime que gera revolta, no Brasil, ainda não é considerado hediondo, ou seja, inafiançável. O deputado federal Edson Giroto (PMDB/MS) criou um projeto de lei (PL 5317/2013), que pede alteração na lei 8.072/1990 para incluir o crime de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual tanto nacional quanto internacional como hediondo. O autor do projeto defende que a lei deve ser mais severa contra a barbárie e assim levar a erradicação do crime. O projeto está pronto para apreciação do plenário da Câmara desde 2014, mas permanece sem previsão de quando entrará em pauta na casa. O governo brasileiro ampliou suas ações na prevenção ao tráfico de pessoas além da lei. Alguns órgãos públicos têm programas de repressão e atendimento à vítima. A Defensoria Pública da União (DPU), por exemplo, começou em 2010 junto com o Ministério Público e o Ministério da Justiça uma rede de enfretamento ao tráfico de pessoas percorrendo todo o país com palestras fazendo campanhas de prevenção ao crime. A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo criou o Comitê Interinstitucional de Prevenção e Enfretamento ao Tráfico de Pessoas (CI- PETP) que tem a DPU como integrante. O grupo visa unir esforços para ampliação de uma rede de enfretamento ao crime com políticas públicas que alcance todo o país e conquiste parcerias internacionais, além da criação de núcleos de atendimento à pessoa traficada. Outra parceria é o Ministério das Relações Exteriores com a criação da Divisão de Assistência Consular que atende o brasileiro ou o imigrante que reside no estrangeiro. 2. MIGRAÇÃO X TRÁFICO DE PESSO- AS É comum que as pessoas confundam a migração com o tráfico de pessoas, ou muitas vezes não saibam identificar um caso de tráfico, isso por que muitas pesso- 5

as conseguem entrar e sair ilegalmente de alguns países. Devido a isso é necessário que esses termos sejam desmistificados. Migrante é todo aquele que deixa seu país, estado ou continente de origem por vontade própria, para estabelecer residência noutro lugar. Já a pessoa traficada foi aliciada, forçada e ameaçada para a- bandonar seu país de origem e exercer trabalhos forçados independente da natureza dessa ocupação. Existem vários tipos de migração que também precisam ser compreendidos. O livro Guia de Referência para rede de enfretamento ao tráfico de pessoas no Brasil e o Tráfico em pauta Guia para jornalistas, trazem uma breve explicação sobre os tipos de migração: Migração definitiva x migração temporária: algumas pessoas mudam de seus países de origem com a intenção de não voltar, fazer residência permanecente em outro país. Já outros migram por tempo determinado, o famoso termo passar uma temporada em outro país (Tráfico em Pauta, 2014). Tráfico de pessoas e migração indocumentada: A migração indocumentada ou irregular ocorre quando as pessoas se movem de um país para outro sem atender os requisitos legais estabelecidos por cada Estado, ou seja, desrespeitando os limites impostos pelas leis de imigração do país de destino. Isso acontece, por exemplo, quando alguém entra em outro país sem o visto exigido ou permanece nele mais tempo do que o permitido. Caso sejam descobertas pelas autoridades locais, essas pessoas podem ser notificadas a deixar o país, deportadas ou até mesmo presas, dependendo da legislação local. Por estarem em situação irregular nos países de destino, os migrantes ficam mais vulneráveis a situações de exploração e de trabalho forçado. Os que acabam sendo vítimas de tráfico de pessoas não devem ser tratados como imigrantes em situação irregular, mas sim protegidos e assistidos pelas autoridades locais. No Brasil, a Resolução Normativa número 93 do Conselho Nacional de Imigração prevê a concessão de vistos para estrangeiros que estejam no país em situação de vulnerabilidade. (Governo Federal. Tráfico em pauta, 2014) A imigração indocumentada ao ser tratada como irregular deve ser analisada com cuidado, pois o imigrante pode estar com irregularidades por estar sendo traficado, o que deve trazer uma visão mais cuidadosa das autoridades locais para que se investigue a total situação da pessoa naquele país. Migração Nacional x Migração Internacional: o migrante nacional muda apenas de estado ainda dentro do país. Enquanto o migrante internacional muda de país (Tráfico em Pauta, 2014). De acordo com o que é citado no livro Tráfico de Pessoas em pauta, a ausência de documentos condiciona o migrante ao título de ilegal no país. Esta condição limita as chances de progresso pessoal e profissional dessa pessoa a levando à vulnerabilidade social e econômica. Migração voluntária x migração forçada: a migração voluntária se dá por diversos fatores, seja por causa da economia, problemas socioculturais, problemas familiares etc. Já a migração forçada acontece quando uma pessoa está sendo perseguida, correndo risco de morte e não vê outra alternativa a não ser abandonar o lugar onde vive (Tráfico em Pauta, 2014). Também é muito comum haver a confusão entre caso de prostituição voluntária e exploração sexual, tráfico de pessoas e contrabando de migrantes e pessoas traficadas com pessoas refugiadas. Entenda: Prostituição e exploração sexual comercial: Nos meios de comunicação há frequentemente uma confusão entre ações relacionadas à prostituição e ao tráfico de pessoas. No entanto, o envolvimento no comércio sexual ou em outras formas do trabalho sexual nem sempre implica tráfico. No Brasil, o exercício da prostituição não é criminalizado pelo Código Penal, somente sua exploração por terceiros. Apesar de não ser considerada uma profissão, a prostituição foi incluída na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego. Diferentemente da exploração sexual comercial, são pessoas adultas que voluntariamente querem trabalhar no mercado do sexo, sem coerção, sem fraude nem engano. Não trabalham contra sua vontade e podem deixar seus trabalhos quando quiserem. (Governo Federal. Tráfico em pauta, 2014). É muito comum a confusão na hora de identificar quando se trata do tráfico de pessoas e quando se trata de algum outro crime ou condição de vida de determinada pessoa. No livro tráfico de pessoas em pauta fica claro que mesmo a prostituição não sendo uma profissão, também não é 6

crime e as pessoas que comercializam o sexo, ou seja, fazem sexo em troca de dinheiro podem entrar e sair desse ramo na hora que quiserem. Tráfico de pessoas e contrabando de migrantes: O contrabando de migrantes consiste em facilitar a migração irregular de terceiros, com a finalidade de obter benefícios financeiros (ou outros de ordem material). Ou seja, pessoas que não conseguem entrar legalmente em um determinado país, do qual não são cidadãs nem residentes permanentes, e querem cruzar as fronteiras de forma clandestina, contratam os serviços desses intermediários. Receber pagamento para transportar imigrantes por meios ilegais, com o consentimento deles, é o que caracteriza o contrabando. O exemplo mais conhecido é o dos migrantes latinos que pagam grandes somas de dinheiro para que os chamados coiotes os conduzam do México para os Estados Unidos. O contrabando de migrantes está focado no trajeto, na travessia de fronteiras como fonte de renda, ao passo que o tráfico de pessoas necessariamente envolve a exploração no destino da vítima. Enquanto o tráfico de pessoas pode ser também interno, dentro de um mesmo país, o contrabando de migrantes é sempre transnacional, e tem começo e fim bem definidos, termina quando essas pessoas chegam ao local de destino. Não confunda conceitos fundamentais 17 Muitas vezes, no entanto, existe uma linha tênue entre contrabando e tráfico, e o primeiro pode se converter no segundo. Isso ocorre, por exemplo, quando o trabalho dos imigrantes é explorado para pagar a dívida contraída com os contrabandistas referente à travessia da fronteira. (Governo Federal. Tráfico em pauta, 2014) No contrabando de migrantes podese dizer que coiotes vendem a liberdade das pessoas prometendo inseri-las em países estrangeiros sem nenhuma dificuldade. Enquanto no tráfico de pessoas, em alguns casos, as pessoas entram legalmente nos países sem sequer saber que é uma vítima do tráfico e têm seus passaportes retidos pelos traficantes, ficando então impossibilitadas de sair do país onde estão. E como recebem ameaças acabam sendo impedidas de pedir ajuda. PESSOAS TRAFICADAS X PES- SOAS REFUGIADAS: São consideradas refugiadas as pessoas que saíram de seu país de origem por medo justificado de serem perseguidas por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em grupos sociais, e que, por isso, não possam (ou não queiram) voltar para casa, ou aquelas que foram obrigadas a deixar seu país devido a conflitos armados, violência generalizada e violação massiva dos direitos humanos. (Governo Federal. Tráfico em pauta, 2014) Alguns países oferecem abrigo há pessoas que são perseguidas em seus países de origem, independentemente do tipo de perseguição. Ano passado e ainda este ano, o Brasil e países da Europa receberam centenas de pessoas refugiadas da Síria devido à guerra civil no país. Mas isso é bem diferente do tráfico de pessoas cuja mudança de país se dá por uma grave violação dos direitos humanos, que pode ser o cerceamento da liberdade, exploração sexual, trabalho escravo etc. 3. TRÁFICO DE MULHERES O tráfico de mulheres não é uma realidade apenas de âmbito internacional, o tráfico interno também um dos maiores problemas que o Brasil enfrenta. Com propostas tentadoras de uma vida cheia de luxo e muito dinheiro, mulheres de várias idades são atraídas para se prostituir e gerar lucro para os contrabandistas. Alguns casos o tráfico é camuflado com trabalhos que prometem levar essas mulheres a serem modelos, atrizes, ou um emprego com salários grandiosos fora do seu país de habitação. As formas de aliciamento são das mais variadas e vem de pessoas de quem menos se espera. A maioria das vítimas são mulheres que estão em situação de hipossuficiência, ou seja, não tem emprego, educação ou são incapazes de sobreviverem a sós. O diagnóstico promovido pela Secretaria Nacional de Justiça e pela Organização Internacional de Trabalho traçaram um perfil dessas mulheres que foram vítimas do tráfico humano. Das mulheres traficadas, a idade delas varia entre 18 e 21 anos; e 21 e 30 anos. A análise mostra a defasagem de dados que comprovem a presença de adolescentes ou crianças porque os mesmos usam documentos falsificados por estarem longe dos responsáveis. O diagnóstico mostra ainda que a maioria das vítimas é solteira, por não terem nada que as segure no país, são pessoas mais vulneráveis aos aliciadores assim como ser de escolaridade baixa. Outro 7

ponto intrigante do relatório é que o número de profissionais do sexo é o mesmo de empregadas domesticas que são traficadas, desmistificando a ideia de que a profissional do sexo não poderia ser tratada como vítima, pois assim como a doméstica, ela busca um bem comum: a melhoria da vida, coisa que seu país de origem não foi capaz de proporcionar. casos, sendo três mulheres para exploração sexual. Isso revela que apesar de países desenvolvidos e que promovam uma vida de maior estabilidade financeira, a Europa lidera o ranking, mas são mulheres que provavelmente são de outros países. O que leva essas mulheres a tentarem a vida em outro país é quase unanime: a melhoria de vida. As propostas são inúmeras, casamento, emprego, estudos, passeio, prostituição. Mas aqui não se deve questionar uma suposta moral da mulher em aceitar ou não, mas sim de resgatar a cidadania e os direitos básicos dela como ser humano. A novela da Globo, Salve Jorge, que esteve no ar entre 22 de outubro de 2012 e 17 de maio de 2013, relatou como esse tipo de crime acontece. Representou os aliciadores e explicitou a forma como eles agem para seduzir as vítimas, usando os sonhos ou mesmo as fraquezas das pessoas pra conduzi-las a um golpe. Por mais que a forma com que os aliciadores se dirigem a vítima seja absurdamente óbvia, como percebemos na narrativa da novela, muitos casos acontecem exatamente assim. Na dramaturgia é fácil escapar com vida, porém quando deixa de ser ficção, todo cuidado é pouco. 4. ESTATÍSTICA DE PESSOAS TRA- FICADAS A busca por dados ainda é muito intensa pela rede de enfretamento ao tráfico porque nem sempre as vítimas assumem que foram traficadas e nem dão queixa. Um estudo feito pela Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores (DAC/MRE) mostra uma relação de casos atendidos pela Divisão. Esses atendimentos chegam ao órgão através do Consulado de onde a vítima recorreu. Em 2013, foi realizado um levantamento que dos 62 casos registrados pela DAC, 41 ou 66% foram para fins de exploração sexual e destes 41 casos, 36 foram mulheres e 5 não foi informado o sexo da vítima. Como pode ser visto na tabela abaixo, o país quem mais teve número de casos de tráfico de pessoas foi a Suíça com 23 pessoas traficadas, sendo 17 mulheres para a exploração sexual; Portugal com 14 casos, dos quais 11 foram mulheres para fins de exploração sexual e Espanha com 4 Fonte: DAC/MRE 2013 Desde 2005 a Divisão de Assistência Consular do Ministério das Relações Exteriores compila dados sobre os casos de tráfico de pessoas, e na tabela abaixo, um comparativo de 2005 a 2013, é possível ver que o tráfico para fins de exploração sexual é maior que o de trabalho escravo. Sendo que em 2010 o tráfico para fins de trabalho escravo atingiu 218 casos, e exploração sexual em 2009, 88 casos. Já em 2011 e 2012 é interessante que o gráfico mostra o mesmo número de casos e bem inferior aos outros anos. Mas vale ressaltar que estes números são os que chegam ao conhecimento da DAC. Fonte: DAC/MRE 2013 O Brasil também é rota, principalmente para fins de exploração sexual. Estados como São Paulo, Santa Catarina e Pará tem os maiores índices de vítimas de acordo com o levantamento feito pela DAC junto às Secretarias de Segurança destas 8

Unidades Federativas. São Paulo é o estado com maior número de vítimas de tráfico de pessoas interno para fins de exploração sexual, 107 casos; Santa Catarina, 7 e Pará com 5. Fonte: DAC/MRE 2013 Fonte: DAC/MRE 2013 Esse dado do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes revelam o alarmante índice que as regiões Norte e Nordeste têm de pessoas traficadas em 2004 que são levadas para as duas principais finalidades do tráfico que dão rentabilidade aos criminosos: exploração sexual e trabalho escravo. Já as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul o índice cai, mas não deixa de ser alarmante o número de casos de pessoas que são submetidas a esse crime. Esses dados são importantes porque revelam que a mulher como em outros crimes (violência doméstica, homicídios, sequestros) são sempre alvo desses aliciadores, e que o Protocolo de Palermo como um documento adicional à Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Transnacional deve ser seguido à risca e ser de conhecimento de toda a população brasileira. Em fevereiro de 2013, também foi realizado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), diagnóstico envolvendo brasileiros, que foram vítimas do tráfico de pessoas com a finalidade de exploração sexual e trabalho escravo. Entre 2005 e 2011 475 pessoas foram identificadas dessas, 337 foram vítimas de exploração sexual e 135 foram submetidas ao trabalho escravo; Os países que mais atuam nesse ramo são: Suriname 133 vítimas, Suíça 127 vítimas, Espanha 104 vítimas e Holanda 71 vítimas. (U- NODC, 2013, p.33-35) 5. A GRANDE REPORTAGEM A grande reportagem assim se denomina por ter um longo tempo de duração. Programas jornalísticos semanais como Fantástico e Globo Repórter, ambos da Rede Globo, exibem reportagem de até 15 minutos de duração. A grande reportagem em questão terá duração mínima de 15 minutos e 29 segundos. Por ser um tema complexo é necessário que o assunto seja explorado a fundo para que as informações nele contidas não confundam o telespectador. Tratando especificamente do telejornal produzido nesse trabalho foram desenvolvidas pautas que resultaram em uma grande reportagem que mostra casos distintos sobre o mesmo tema para que seja possível dissertar sobre o tráfico de pessoas através de perspectivas diferentes e facilitar a compreensão do telespectador a respeito desse crime. Nesse programa exibimos um caso de tráfico internacional que ocorreu na Grécia e dois casos nacionais um com uma vítima do Rio de Janeiro e outro com uma vítima de Goiás. Caracterizada pela exclusividade que proporciona em um telejornal, a grande reportagem é usada para temas mais complexos como de denúncias, descobertas cientificas, política etc. A busca pela imparcialidade é incessante desde a produção até a matéria estar pronta para ser exibida. A grande reportagem é de teor objetivo, claro e conciso, mas sem deixar a desejar 9

na sua elaboração. Ela exige pesquisa e estudo sobre o tema. Um artigo produzido na Universidade Federal de Juiz de Fora trata a reportagem como um gênero da notícia e que nem sempre está comprometida com a ideia da pirâmide invertida: Trata-se de outro gênero textual diferente da notícia, que trabalha com matérias que exigem a abordagem de assuntos mais complexos e que, consequentemente, necessitam de maior tempo de apuração, maior tempo para divulgação e até um texto em que é possível ousar mais, havendo a possibilidade de se livrar das amarras da pirâmide invertida. É uma atividade que exige, além de tudo, dedicação, investimento e paciência. (Silvia; Baltazar, 2013) Uma grande reportagem nem sempre traz consigo um furo. O compromisso dela é detalhar o tema que está sendo falado. Ao produzir uma reportagem, o jornalista vai investigar, checar as informações, apurar dados e ter em mente um alerta que o Lima e Heródoto traz no livro Manual do Telejornalismo, que o jornalista não seja ingênuo porque é comum que a notícia afete interesses, seja na política, economia, esporte etc. (Barbeiro e Lima, 2002). A grande reportagem não se confunde com um documentário. Ela vai tratar a fundo um fato noticioso respondendo às questões do lead. O documentário não é fatídico e sim ficcional. De acordo com Bill Nichols em seu livro Introdução ao Documentário (2005), o documentário pode se dividir em observacional (não há narração, as imagens falam por si); expositivo (defesa de argumentos, se preocupa com a estética); reflexivo (deixa claro para o telespectador os procedimentos das filmagens) dentre outros. A grande reportagem também se difere da reportagem comum, essa diferença se dá pela duração do produto e aprofundamento do tema que estiver em questão. Na produção das reportagens e grandes reportagens, usa-se a pirâmide invertida que trás a ideia de que a notícia deve ser passada com clareza e objetividade, respondendo as questões do lead que é usado no início da matéria para expor de forma sucinta o assunto em questão. São elas: O quê? Quando? Por quê? Como? Onde? Após o apontamento do lead, o repórter dispõe de entrevistas e dados coletados para a finalização da matéria ou grande reportagem. Vale lembrar que em hipótese alguma o repórter ou a produção podem inventar dados e criar fatos é necessário se basear no que as fontes e personagens passaram como informação. Como o que está exposto no artigo 4º do Código de Ética do jornalista. Art. 4º O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, deve pautar seu trabalho na precisa apuração dos acontecimentos e na sua correta divulgação. (Código de Ética dos jornalistas Fenaj). 6. A GRANDE REPORTAGEM TRÁ- FICO INTERNACIONAL DE PES- SOAS PARA FINS DE EXPLO- RAÇÃO SEXUAL Durante a produção desse especial que resultou na grande reportagem sobre o tráfico de pessoas, utilizamos técnicas jornalísticas que compõem uma reportagem. São elas: apuração, pauta, entrevista, passagem, off s e apresentação do telejornal. Usamos também a simulação para contar um caso internacional de uma moça que viveu anos nas mãos de traficantes que a fizeram de escrava sexual. A ideia da simulação se deu pelo fato de ser impossível o contato com a vítima visto que ela teve a identidade alterada como medida protetiva. Tivemos conhecimento do caso após vermos a chamada sobre a história em um blog de política local. A chamada era a seguinte: Fui estuprada por 110 homens em 22 horas. Para iniciarmos a pesquisa sobre o tema, focamos em encontrar obras que tratam do assunto, verificamos que o tema é pouco falado não só na imprensa, mas também nos livros e artigos. Ainda assim conseguimos encontrar uma boa base bibliográfica e um guia para jornalistas que auxilia na apuração de dados e fontes para reportagem dessa natureza. Para dar peso a nossa reportagem nos baseamos em informações e dados da Polícia Federal, Ongs que trabalham com acolhimento de vítimas de tráfico, psicóloga, entidades públicas que possuem projetos para coibir o crime, familiares e vítimas do tráfico e advogado especialista em tráfico internacional de pessoas. 6.1. PAUTA 10

Todo trabalho jornalístico depende de um planejamento que é mais conhecido como Pauta. É através da pauta que será decidido o tema de uma reportagem e quem são as fontes. A pauta é a raiz de todo o trabalho por isso na visão do de Heródoto e Lima é indispensável o trabalho do pauteiro. O pauteiro é aquele que na imensidão de acontecimentos na sociedade capta o que pode ser transformado em reportagem, pensa o assunto por inteiro e indica os caminhos que devem ser percorridos para que a matéria prenda a atenção do telespectador e atinja o público-alvo da emissora. (Barbeiro e Lima, 2002.) A nossa pauta nasceu da discussão sobre temas relevantes que contribuam para o meio social e que não tenha o trabalho divulgado e então partimos para a ideia de falar sobre o tráfico de mulheres porque é um crime de degradação humana e queremos através desse trabalho alertar a preservação e garantia dos direitos humanos, não apenas das mulheres, mas de todas as pessoas que já foram vítimas desse crime. Na pauta nós decidimos o tema, o objetivo da matéria e pesquisamos sobre o que seria falado. Após o repórter ter domínio do assunto, com conceitos e dados, ele procura fontes que poderão falar sobre o tema com propriedade e tenha mais informações para agregar ao que já se tem. Em nosso caso, após termos feito todos esses passos começamos a buscar fontes que trabalham coibindo o tráfico de pessoas como foi a Polícia Federal, Secretaria de Justiça e Cidadania do DF, psicólogo, advogado especialista sobre tráfico de mulheres. 6.2. ENTREVISTA A entrevista é o que decide o caminhar da matéria. O jornalista tem que saber com antecedência o que vai ser perguntado e deve produzir as perguntas junto com o produtor se possível. Tanto na TV como no rádio, no impresso ou na web a entrevista é o momento de exposição de opinião, esclarecimentos de fatos e etc. A entrevista de TV já consegue algo a mais do que declarações, ela tem o poder de mostrar para o telespectador as atitudes da fonte e deixar por conta dele se o que o entrevistado está falando é verdade ou não. Sem ser apenas um bate papo, a entrevista tem que trazer o telespectador para perto e instigá-lo sobre aquele tema. O livro Manual do Telejornalismo orienta que: A entrevista não pode ser apenas um bate papo entre duas pessoas. O entrevistado fala para o telespectador e não exclusivamente para o jornalista. Não entreviste um especialista como se fosse um colega dele. Se isso acontecer, o telespectador vai ficar alijado do processo, uma vez que nem sempre está familiarizado com o assunto da entrevista. (Barbeiro e Lima, 2002.) A entrevista tem alguns gêneros e subgêneros e, é importante citá-los aqui para compreender qual foi utilizada na produção desta reportagem. No livro O diálogo possível, Cremilda Redina cita os tipos de entrevista de acordo com Edgar Morim. Há entrevista-rito, que são aquelas entrevistas onde o entrevistado vai falar o que todos já esperam, exemplo disso é a final de campeonatos de futebol; entrevistaanedótica, é aquela que só possui conversações frívolas com assuntos de teor de fofoca; entrevista-diálogo, a que se torna um bate papo em que o entrevistado coopera com o entrevistador no intuito de dar explicações sobre aquele assunto ou problema; entrevista-neoconfissões, o entrevistado fala sem reservas e expõem tudo o que é proposto. Na reportagem aplicamos a entrevista-dialogo ou conceitual. Esta vai além de um bate papo entre o entrevistado e a fonte, busca-se explicações e posicionamentos sobre aquele tema. Como falamos do tráfico de mulheres buscamos saber o posicionamento da Policia Federal e da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF para saber quais são as ações de combate e prevenção ao tráfico humano; um advogado especialista em tráfico internacional de mulheres para explicar como funciona a legislação brasileira no combate ao crime; e uma psicóloga para explicar sobre como é realizado o tratamento da vítima. As perguntas para a entrevista normalmente são elaboradas junto à pauta. Como o tema é abrangente preferimos colocar as perguntas separadas da pauta principal porque ainda seriam feitas pesquisas sobre o tema e assim conhecer as fontes que poderiam falar sobre o tráfico de mulheres. 6.3. TEXTO OFF OU TEXTO O texto jornalístico de um modo geral deve ser em ordem direta (sujei- 11

to+verbo+predicado), simples e objetivo. Mas cada veículo de comunicação tem sua peculiaridade, como a TV e o rádio, que tem a instantaneidade como característica. Por causa disso, a TV tem um texto mais coloquial e de fácil compreensão, pois deve atingir a todos telespectadores. Na reportagem ou em uma matéria simples, o texto tem que estar casado com a imagem, por isso faz-se necessário que o repórter saiba as imagens que tem. O primeiro passo para a redação de um texto na TV é conhecer as imagens que poderão ser usadas ne edição. É preciso saber o que usar para fazer o casamento da palavra com a imagem; o resultado será redundância. (Barbeiro e Lima, 2002.) Esta grande reportagem seguiu as técnicas básicas para um bom texto de TV de fácil compreensão. Para fazer esse casamento da palavra com a imagem, utilizamos o espelho, que é a reportagem montada no papel. Ela contém toda a reportagem: os off s (o texto para cobrir a imagem), as sonoras (entrevistas com as fontes), passagem (informação que não tem imagem e é feita pelo repórter), cabeças e escaladas (feitas pelo apresentador do telejornal). 6.4 SIMULAÇÃO Humanizar uma matéria jornalística é imprescindível para provocar empatia. Por isso recorremos à técnica da simulação de uma história dentro do contexto falado nesse trabalho: o tráfico de mulheres para fins de exploração sexual. Essa técnica é usada em telejornais para explicar com detalhes um fato de difícil descrição por não ter imagens do ocorrido e para preservação do personagem. Através da simulação o telespectador compreende com mais qualidade e maior riqueza de detalhes a história que está sendo contada. A simulação conta a história de mulher americana de 22 anos, que foi estuprada numa noite por 122 homens quando tinha apenas 14 nos. A produção da simulação foi com técnicas de documentários que exige luzes especificas, equipamentos de captação de sons e câmeras de filmagem. Para atuação no vídeo, houve a participação dos autores deste trabalho. 6.5 APRESENTAÇÃO O modelo de apresentação dessa reportagem é a mais utilizada nos telejornais, e quem apresenta é chamado no jargão jornalístico de ancora. Ele por estar só para a apresentação do jornal acaba tendo até uma notoriedade a mais que os próprios repórteres que produzem as matérias. No entanto, o fato dele só apresentar não o isenta de estar por dentro de todas as pautas do dia. Para Barbeiro e Lima, um bom ancora deve acompanhar todos os trabalhos sempre que possível. Deve acompanhar a evolução das notícias durante todo o dia, estando ou não na redação. É isso que o distingue de quem apenas grava o off e lê o script. (Barbeiro e Lima, 2002.) A apresentação da edição especial do telejornal foi baseada em programas conhecidos como o Conexão Repórter do SBT, que conta com um apresentador o qual faz todas as escaladas e cabeças do programa. Iniciamos com as escaladas que são as manchetes das matérias que irão compor a grande reportagem seguida da vinheta do telejornal. O take seguinte o apresentador fala a cabeça (o lead) da primeira matéria que compõem a grande reportagem e assim sucessivamente. Todo o script do ancora é passado no teleprompter e assim ele lê e apresenta o programa com mais segurança. Todo roteiro do ancora também está descrito no espelho. (VIDE ANEXO ESPELHO) 6.6. EDIÇÃO A edição de toda a matéria que é a colagem ou construção de tudo o que foi gravado, foi feita através do programa Adobe Première. Utilizamos trilha sonora o conhecido sobe som para dar brilho à matéria em imagens que são autodescritivas. Usamos ainda na edição a técnica da mudança de voz da vítima para não identifica-la, assim como usamos o recurso de filmagem de gravar só a sombra da pessoa dando o depoimento para preservar sua imagem. Na edição da simulação usamos uma película de vídeo com tom de filme para trazer um impacto maior ao telespectador. Recursos de aumento de áudio também foram usados nas sonoras ao percebermos que o som de ficou baixo. Usamos microfone de lapela para os entrevistados e duas câmeras: uma para enquadramento do plano central do vídeo e 12

outro lateral. Luz de estúdio para manter a boa qualidade em todas as gravações também foi utilizada. Esses mesmos recursos foram usados na gravação da apresentação da reportagem que foi gravada no estúdio de rádio e TV da Faculdade Icesp. 7. CUIDADOS ÉTICOS DE UMA GRANDE REPORTAGEM A ética deve estar presente em tudo que fizermos, seja no tratamento do próximo, na convivência familiar ou mesmo no ambiente de trabalho. Na colação de grau os formados fazem um juramento afirmando que irão exercer suas profissões de forma moral e ética. Dessa forma os jornalistas possuem um código de ética que dá suporte para o bom desenvolvimento das atividades desse profissional. Assim como toda profissão tem o compromisso de contribuir com o progresso da sociedade de forma ética, o jornalista também precisa seguir um código de ética para exercer seu trabalho com responsabilidade. O código de ética dos jornalistas de acordo com a Federação Nacional dos Jornalistas Fenaj vigora há 20 anos, mas passou por algumas remodelações: Atualizado no Congresso Extraordinário dos Jornalistas, realizado em Vitória (ES) de 3 a 5 de agosto, o novo texto do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros aprovado por delegações de 23 estados, as mudanças tiveram seu texto final elaborado por uma comissão eleita no Congresso. O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros vigora há 20 anos. Os debates para sua atualização foram iniciados em 2004 e no XXXII Congresso Nacional da categoria, realizado no ano passado, deliberou-se que as alterações seriam definidas em congresso extraordinário e específico sobre o tema, precedido de consulta pública à sociedade. Após 12 colaborações de sindicatos, professores e jornalistas e 290 sugestões encaminhadas ao sistema de consulta pública que a FENAJ manteve aberto em seu site durante três meses, o texto foi encaminhado aos Sindicatos de Jornalistas para novos debates e, finalmente, submetido à votação no Congresso Extraordinário de Vitória. Cercado de expectativas após longo e democrático processo de debates. (JORNALISTAS, Federação Nacional. Disponível em: www.fenaj.org.br/eticanojornalismo - acessado em 18 de maio de 2016). Uma das mudanças determinadas pelo o congresso de jornalistas em 2007, tendo em vista a proibição de divulgação de informações obtidas com identidade falsa ou câmeras escondidas, uma pratica comum em alguns telejornais. A ética efetiva no jornalismo torna-o contundente, estabilizado e pautado na verdade, pois o jornalista deve sempre dizer a verdade, e se possui uma informação de interesse público não pode retê-la. Dentro dessa conduta ética está também a honestidade do jornalista e do veículo em manter a fidelidade ao público Trocar a ética por um quem dá a notícia mais rápida é a maior prova que o profissional e o veículo não têm nenhuma credibilidade, nem consigo nem com o público. Eis aí o cuidado de todo jornalista, ser ético. Assim ele assume seu papel social de informar, abrir os olhos da sociedade e instiga-la ao senso crítico. Um dos pontos mais relevantes contidos no código de ética é o compromisso com a verdade. O artigo 2º, item I do código de ética dos jornalistas deixa essa responsabilidade bem clara, afirmando que a verdade deve ser divulgada independente da origem da informação. O Artigo segundo I afirma que a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza econômica de suas empresas. Código de Ética dos jornalistas Fenaj (2004). A ética é uma aliada do jornalista em todo seu trabalho social: o de informar ao público com a verdade. Alguns temas exigem um cuidado maior com relação à forma com que o personagem é exposto na reportagem. Ao produzirmos essa reportagem precisamos nos atentar ao fato de não citar o nome de uma das vítimas que foi uma das personagens do nosso trabalho, visto que ela faz parte de um programa de proteção à vitima. Agimos de acordo com o que está exposto nos artigos 7º e 9º do Código de Ética dos Jornalistas. Art. 7º - IV - expor pessoas ameaçadas, exploradas ou sob risco de vida, sendo vedada a sua identificação, mesmo que parcial, pela voz, traços físicos, indicação 13