Parecer nº 02/12/PJM Referência: Processo Administrativo nº 974-2011 Origem: Comissão Especial de Processo Seletivo Simplificado (CPSS) Assunto: Recurso administrativo interposto contra decisão da Comissão Especial de Processo Seletivo Simplificado, Processo Seletivo Simplificado nº 08/2011. Ementa: Processo Seletivo Simplificado (PSS) para contratação temporária de Operador de Triagem e Transbordo. Recurso administrativo interposto pela candidata MARIA ISABEL SCHIEVELBEIN KLUG contra decisão da Comissão Especial de Processo Seletivo Simplificado (CPSS). Juízo de retratação. Atividades eventualmente executadas em desvio de função como experiência profissional sujeita à pontuação: impossibilidade no caso concreto. Prova pré-constituída do desvio funcional alegado não foi entregue. Os documentos pertinentes à comprovação da experiência profissional devem ser disponibilizados pelos candidatos quando da inscrição e não em momento ulterior, ex vi do art. 9º, Decreto nº 711/2011, e no edital de regramento do certame seletivo. O procedimento de seleção simplificada de candidatos é inapropriado para investigação de desvio funcional. Recurso admissível, porém a decisão vergastada não comporta retratação. 1. DO RELATÓRIO Para exame e parecer deste Procurador Jurídico Municipal, a Secretária de Gestão e Governo, pela Comissão Especial de Processo Seletivo Simplificado (CPSS), nomeada pela Portaria nº 1.978/2011 (fl. 27), remeteu o Processo Administrativo em epígrafe. A comissão consulente, em sua solicitação de exame jurídico (fl. 65),
requer manifestação sobre o recurso interposto na fl. 64, pela candidata MARIA ISABEL SCHIEVELBEIN KLUG, contra decisão da Comissão Especial de Processo Seletivo Simplificado, que deu azo à ordem classificatório do procedimento seletivo (fls. 58/60). Conforme ficha de pontuação (fl. 59) e grade de classificação (fl. 60), as três candidatas inscritas do Processo Seletivo Simplificado nº 08/2011/SEGOV, vaga de operador de triagem e transborda da AGC Rolador, não pontuaram, sendo que o desempate foi efetuado por conta da idade das concorrentes, logrando a recorrente o 2º lugar. Na peça apelativa de fl. 64, a candidata sustenta sua irresignação no fato de a CPSS não ter considerado, para fins de pontuação, suposta experiência profissional na atividade de triagem e transbordo. No intuito de exercer criteriosamente o juízo de retratação a que se refere o item 6.2 do edital de fls. 15 e ss., a CPSS busca orientação técnica desta Procuradoria Jurídica Municipal. folhas. Os autos administrativos contêm, até aqui, 65 (sessenta e cinco) Expostas as considerações iniciais, passo ao exame da matéria. 2. DO PARECER O recurso da candidata merece ser recebido pela CPSS, pois tempestivo, conforme se verifica às fls. 58, 61 e 64. No entanto, no que diz respeito ao mérito, em sede de juízo de retração, a sorte da insurgência é diferente, restando à CPSS manter a decisão vergastada, visto que afeiçoada ao ordenamento jurídico local aplicável, como se verá a seguir. Na verdade, o tema posto na peça recursal já havia sido enfrentado,
mesmo que de esguelha, no parecer jurídico de fls. 55/57, cuja ementa é a seguinte: Processo Seletivo Simplificado (PSS) para contratação temporária. Avaliação curricular. Experiência profissional. Áreas de atividade profissional correlatas são, por definição conceitual, campos de atuação interdependentes, ligados pela similaridade de tarefas. A operação e transbordo em serviços postais e o trato com pessoas, agenda e papéis em serviços de assessoramento, não são atividades que reúnam, na comparação, um núcleo de características comuns. A experiência de Assessora de Gabinete da candidata MARIA ISABEL SCHIEVELBEIN KLUG não pode ser levada em conta para fins de pontuação no quesito experiência profissional, sob pena de afronta ao edital de abertura de inscrições do PSS nº 008/2011/SEGOV, ao art. 23 do Decreto nº 711/2011 e ao princípio constitucional da legalidade.. No parecer em comento foi dito, na sua parte final, que o exercício do cargo de Assessor de Gabinete, consideradas as atribuições definidas na legislação municipal, certamente exige, pela carga de complexidade, mais habilidades pessoais e superação de dificuldades do que o de Operador de Triagem e Transbordo. Entretanto, o critério de avaliação da experiência profissional nos termos regrados pelo edital de fls. 15 e ss. tem como paradigma a valorização do labor desenvolvido na área em que a Administração pretende contratar temporariamente ou em campo correlato. Também foi referido naquele estudo jurídico que a avaliação curricular regrada do edital de abertura de inscrições tem por escopo medir e comparar entre os candidatos inscritos exatamente essa experiência na área que se busca contratar, inclusive com descarte das atividades eventualmente mais complexas, sob o ponto de vista cognitivo, caso não sejam similares ou não integrem o espectro laboral a que se vincula a função objeto do processo seletivo. Ocorre que a candidata MARIA ISABEL SCHIEVELBEIN KLUG assevera em sua irresignação, na fl. 64, que muito embora nomeada para o cargo de Assessora de Gabinete, exerceu atividades inerentes aos serviços postais de operação de triagem e transbordo.
Dito de outra forma, a recorrente revela ter executado atribuições que não somente aquelas relacionadas ao cargo para o qual foi nomeada, caracterizando-se um desvio de função 1, com a realização de tarefas atinentes aos serviços postais em agito. Forte nessas considerações, debate-se a recorrente para que a CPSS considere as atividades executadas em desvio de função como experiência profissional sujeita à pontuação no processo seletivo, o que melhoraria sua posição na grade de classificação, catapultando-a para o 1º lugar. A pretensão recursal da candidata, todavia, não tem como prosperar. Mesmo que escape do presente exame a questão do vício administrativo que permeia a utilização de agente em serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado, não há na documentação que acompanhou a inscrição da recorrente qualquer prova pré-constituída do desvio funcional alegado. Reza no art. 9º, do Decreto nº 711/2011, que dispõe sobre normas relativas ao Processo Seletivo Simplificado destinado à seleção de candidatos para contratação temporária, e no edital de fl. 15 e ss., em seu item 3.3 c/c o subitem 3.3.5, que os documentos pertinentes à comprovação da experiência profissional devem ser entregues pelos candidatos quando da sua inscrição. Como se percebe, a experiência profissional exige demonstração por meio de documentos fornecidos pelos candidatos quando da entrega da ficha de inscrição, não em momento ulterior. Note-se que segundo o subitem 3.3.5.2, do edital, e alínea b, inc. V, art. 9º, do Decreto nº 711/2011, a comprovação de experiência profissional no setor público clama pela apresentação, na ocasião da inscrição, de certidão emitida pelo setor de recursos humanos do órgão, espelhando o período de exercício, o cargo e, quando possível, as atribuições do cargo titulado. 1 Desvio ou acúmulo de função, diga-se.
Pois a certidão de fl. 43 atesta a experiência profissional da recorrente na municipalidade na titulação do cargo de Assessora de Gabinete e Agente Comunitária de Saúde, não havendo nesse documento qualquer referência ao exercício de atividades condizentes com os serviços postais. Argumenta a recorrente, na petição de fl. 64, que o desvio de função pretextado poderá ser demonstrado mediante a análise de registros e arquivos da Prefeitura e da Agência de Correios de São Luiz Gonzaga. Portanto, a candidata assumidamente não trouxe nenhum elemento comprobatório da alegada experiência profissional quando da inscrição ou da interposição do recurso a prova pré-constituída -, em descumprimento à exigência posta no art. 9º, do Decreto nº 711/2011 e no edital que rege o processo seletivo simplificado. Não bastasse essa conduta omissiva, busca agora a recorrente atribuir à CPSS a tarefa de produzir a prova da experiência profissional e desvio de função mediante a busca de documentos, inclusive em órgão estranho à municipalidade. Ocorre que a investigação e certificação de desvio funcional não é atribuição da CPSS, tampouco o procedimento de seleção simplificada de candidatos é adequado para tal propósito. Pelas razões acima franqueadas, opino pelo recebimento do recurso, já que tempestivo. Porém, a decisão guerreada não comporta retratação, devendo ser mantida, com imediata remessa do recurso para julgamento do burgomestre. Este é parecer, sob censura. Rolador (RS), em 05 de janeiro de 2012. Charles Leonel Bakalarczyk Procurador Jurídico Municipal OAB/RS nº 56.207 Matrícula nº 661