CONSERVAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Inga uruguensis Hook. et Arn. 1



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Transcrição:

48 D.A.C. BILIA et al. CONSERVAÇÃO DA QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE Inga uruguensis Hook. et Arn. DENISE A. C. BILIA 2, JULIO MARCOS-FILHO 3 e ANA D. L. C. NOVEMBRE 4 RESUMO - Inga uruguensis Hook. et Arn. é uma leguminosa que ocorre com frequência em matas ciliares, em margens inundadas de rios e nascentes, onde exerce ação de proteção e recuperação de solos. As sementes de ingá, apesar de pouco estudadas, são consideradas recalcitrantes e de baixa longevidade. Este trabalho teve como objetivo obter informações relativas ao comportamento dessas sementes quanto à conservação da qualidade fisiológica, buscando estabelecer bases para o desenvolvimento de tecnologia para o armazenamento. O experimento constou da avaliação periódica do desempenho da semente armazenada na forma ou no interior de frutos, embalados em sacos de polietileno e armazenados durante 90 dias, em ambientes distintos: câmara fria (T=0οC e 90% de UR) e em condições normais de laboratório (T e UR variáveis), através de testes de germinação e de vigor (primeira contagem do teste de germinação e condutividade elétrica). Concluiu-se que a desidratação parcial das sementes até atingirem teor de água próximo a 50%, acondicionadas em sacos de polietileno e em ambiente frio, possibilita a conservação da qualidade fisiológica das sementes de ingá durante, aproximadamente, 60 dias após a colheita. Termos para indexação: Inga uruguensis, sementes recalcitrantes, teor de água, viabilidade. PRESERVATION OF Inga uruguensis Hook. et Arn. SEED QUALITY ABSTRACT - Inga uruguensis is a Leguminosae that occur in riparian forests in flooded river bank and nascent, acting on soil protection and recovery. The Inga seeds are considered as recalcitrant. This study was conducted with the main objective of obtaining information concerned to the Inga seed performance during storage as an attempt to suggest an efficient procedure for postharvest handling and storage seeds. The research comprised the storage for 90 days, which consisted of different ways to preserve the seeds; inside the fruit, involved by mucilaginous pulp, or naked seeds. These treatments were associated to different seed water contents and storage conditions, i.e. cold chamber (0 o C and 90% UR) and laboratory environmental conditions. Seed quality was evaluated by the standard germination, first count and electrical condutivity tests. Analysis of results showed that the partial desiccation up to 500g/kg water content, folowed by storage in poliethylene bags at 0 o C alowed preservation of seed physiological quality up to 60 days after harvesting. Index terms: Inga uruguensis, recalcitrant seeds, moisture content, viability. INTRODUÇÃO Inga uruguensis Hook. et Arn. é uma leguminosa pertencente a família Mimosaceae (Cronquist, 98), sendo comum em diversas regiões da América Central e do Sul. Ocorre em formações vegetais ao longo dos cursos de água nas matas, Aceito para publicação em 0/03/98; parte da Tese de Doutorado apresentada pelo primeiro autor à ESALQ/USP; trabalho conduzido com auxílio da FAPESP. 2 Pesquisador Científico da Seção de Sementes e Melhoramento Vegetal do Instituto de Botânica, Cx. Postal 4005, 006-970, São Paulo - SP, Brasil. 3 Prof. Titular do Depto. de Agricultura, ESALQ/USP, Piracicaba, Cx. Postal 9, 348-900, Piracicaba - SP, Brasil. Bolsista do CNPq. 4 Eng a Agr a, Dra. do Depto. de Agricultura, ESALQ/USP. desde o estado de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul. No estado de São Paulo, é abundante nas áreas sazonalmente inundadas das margens dos rios (Lieberg, 990). Essas matas são consideradas de preservação permanente e protegidas pela legislação, mas têm sofrido as consequências da ação predatória e indiscriminada do homem, provocando distúrbios ambientais. Estudos visando o melhor conhecimento das espécies típicas da comunidade ciliar são considerados fundamentais para o desenvolvimento de procedimentos adequados para o manejo e conservação de sistema vegetação/fluxo de água. A propagação da espécie Inga uruguensis ocorre por meio de sementes, com dispersão, também, pela água. Sua utilização dentro de programas de recuperação de áreas degradadas e reflorestamento depende diretamente da manipulação adequada das sementes e, portanto, dos cuidados observados no período pós-maturidade. Apesar de pouco pesquisadas, os estudos

CONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE Inga uruguensis 49 preliminares indicam que as sementes apresentam comportamento de recalcitrantes, ou seja, sensíveis à desidratação e com baixa longevidade. Estas características, encontradas em várias espécies tropicais, dificultam a conservação das sementes após a colheita, mesmo por curtos períodos de tempo. Pritchard et al. (995) citaram que um dos agravantes para as espécies que retêm a viabilidade por períodos curtos é a prática comum de coleta e semeadura no mesmo local ou em região muito próxima, com prejuízo para a biodiversidade. O fruto de ingá é um legume alongado, com bordos sulcados, indeiscente, com pericarpo típico, amarelo, de aspecto glabro, com as margens lisas (Custódio & Mantovani, 98; Oliveira, 99 e Oliveira & Beltrati, 994). A presença de uma polpa branca em torno das sementes é característica nas sementes de Inga (Poncy, 984). Essa camada polposa das sementes, rica em açúcares (Figliolia, 993), é resultado da diferenciação da camada externa da testa, que forma longos pelos unicelulares, constituindo uma sarcotesta (Oliveira, 99 e Oliveira & Beltrati, 994). Dentre as poucas referências sobre o armazenamento de sementes de ingá, cita-se o de Castro e Krug (95), onde eles afirmaram que as sementes de Inga edulis Mart. não passam por um período de repouso e que o armazenamento foi possível por apenas 5 dias após a coleta. Bacchi (96) citou que essas sementes retiradas dos frutos e conservadas, com ou sem a sarcotesta que as envolvem, perderam totalmente sua vitalidade em uma ou duas semanas. Lorenzi (992) relatou que a viabilidade de sementes de Inga uruguensis não ultrapassa 5 dias, quando armazenadas em condições naturais. Para sementes de Inga affinis DC., armazenadas em sacos de papel à temperatura ambiente, a capacidade germinativa foi perdida 20 dias após a colheita (Lieberg & Joly, 993). Desta forma, como há interesse na utilização de ingá para recuperação de áreas degradadas e/ou recomposição de matas ciliares, é necessário o desenvolvimento de tecnologia para o manejo e conservação das sementes. O presente trabalho visou obter informações relativas ao comportamento dessas sementes quanto à conservação da qualidade fisiológica, estabelecendo bases para o desenvolvimento de procedimento mais adequado para o armazenamento. MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi conduzido no laboratório de sementes do Departamento de Agricultura da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz / Universidade de São Paulo/SP. Utilizaram-se frutos e sementes de Inga uruguensis Hook. et Arn., coletados na região de Piracicaba/SP, situada a 546m de altitude, 47 o 38 00 de longitude e 22 o 42 30 de latitude sul, nos anos de 995 e 996. A identificação do material taxonômico foi realizada nas instalações do Herbarium Rioclarense (HBRC), do Instituto de Biociências, UNESP-Rio Claro/SP. O processo de maturação foi acompanhado através da observação da coloração dos frutos (Figliolia, 993); o período ideal para coleta na região de Piracicaba, esteve compreendido entre o final de dezembro e início de fevereiro, quando os frutos apresentavam alteração da coloração de verde para amarelo-esverdeado. Em 9/0/96, foram colhidos os frutos de Inga uruguensis de 20 matrizes pertencentes a diferentes maciços da região de Piracicaba que, após homogeneização manual, constituíram um lote. A qualidade das sementes foi avaliada, inicialmente, através de determinações do grau de umidade, testes de germinação e de condutividade elétrica. Foram adotados três tipos de materiais para compor os tratamentos, a saber: a) frutos (sementes no interior do fruto); b) sementes com sarcotesta (sementes envolvidas pela polpa mucilaginosa externa que a reveste); c) sementes nuas (sementes sem sarcotesta). Utilizaram-se dois ambientes para o armazenamento: câmara fria (temperatura de 0 C e 90% de umidade relativa do ar) e condições normais de laboratório (temperatura média variando entre 8,6 e 30,7 C e umidade relativa do ar variando entre 66 e 85%). Os materiais foram embalados em sacos duplos de polietileno transparentes (30cm de largura x 40cm de comprimento, espessura de 2mm, volume 6,5 litros) resistentes à trocas gasosas, preenchidos até cerca de /4 do seu volume e fechados com fita adesiva. As amostras de sementes nuas, foram armazenadas com o teor de água original (58%) e, também, após diferentes períodos de secagem. A secagem foi realizada em câmara com ventilação forçada, insuflando-se ar aquecido a temperatura de 30 C, estando a massa de sementes esparramada em bandejas. Os períodos de secagem foram variáveis (6 a 52 horas) e os teores de água, após a secagem, variaram de 27 a 58%. Todos os tratamentos foram armazenados por 90 dias e, as avaliações da qualidade das sementes, realizadas aos 5, 30, 60 e 90 dias. O grau de umidade das sementes foi avaliado pelo método da estufa a 05 + 3 C, durante 24 horas, de acordo com as Regras para Análise de Sementes (Brasil, 992), expressandose os resultados em porcentagem, com base no peso das sementes úmidas. O teste de germinação foi conduzido com quatro repetições de 25 sementes para cada tratamento, distribuídas em rolos de papel-toalha, em germinador regulado a 30 C (Barbedo & Bilia, 994). Computaram-se as porcentagens de plântulas normais identificadas aos sete dias (primeira contagem do teste de germinação) e aos 2 dias após a semeadura. O teste de condutividade elétrica foi realizado com quatro amostras de 25 sementes, previamente pesadas e, a seguir, imersas em 75ml de água destilada (no interior de copos plásticos a 25 C) durante 24 horas (AOSA, 983). A condutividade

50 D.A.C. BILIA et al. foi avaliada em aparelho DIGIMED CD-20. Os resultados foram expressos em micromhos/cm/g, com base no peso de matéria seca. Somente os dados de germinação foram transformados em arc sen (x/00) 0,5, para aproximação à curva normal de distribuição de dados (Steel & Torrie, 980). Nas Tabelas 2 e 3 encontram-se os dados originais. Adotou-se o delineamento inteiramente casualizado, com 4 tratamentos e quatro repetições (Pimentel Gomes, 976). Compararam-se as médias pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os frutos foram colhidos quando as sementes apresentavam em torno de 57,5% de água. Os tratamentos com teor de água original exibiram elevado percentual de germinação (99-00%), iniciando rapidamente o processo germinativo, o que foi verificado, algumas vezes, dentro da própria vagem. A presença de sementes germinadas no interior do fruto é denominada viviparidade e este fenômeno também foi verificado por Camargo (950); Castro e Krug, 95 em I. edulis, Lieberg & Joly (993) em I. affinis DC. e por Figliolia (993) em I. uruguensis e Oliveira & Beltrati (994) em Inga fagifolia Willd. Esse comportamento pode se constituir em uma estratégia da espécie no sentido de assegurar sua perpetuidade, uma vez que se trata de espécie predominante em locais úmidos, cujas sementes apresentam baixa longevidade, necessitando germinar prontamente ao se desligarem da planta. Outra observação foi a presença de grande quantidade de sementes poliembriônicas, com os cotilédones mostrando-se alterados morfologicamente, apresentando formas muito irregulares e estando fortemente incrustados um no outro, fenômeno observado por Oliveira (99) e, Oliveira & Beltrati (994) em cerca de 40% das sementes de I. fagifolia estudadas. Examinando-se os dados apresentados na Tabela, observa-se que a secagem promoveu decréscimos significativos do teor de água das sementes recém-colhidas (zero dias). As sementes das amostras que não sofreram secagem apresentaram, durante o armazenamento, graus de umidade significativamente superiores aos demais, com destaque para as mantidas em condições normais de ambiente. TABELA. Valores médios e coeficientes dos teores de água, expressos em porcentagem, das sementes de Inga uruguensis correspondentes aos tratamentos durante o armazenamento. Teor de água (%) Períodos de armazenamento (dias) zero 5 30 60 90 Médias CF F* 57,5Aa ( 58,8Abc 59,8ABab 6,4Aa 6, BCab 59,7 CA F 57,4Ac 6,7Ab 6,7ABb 63,Aa 72,2Aa 63,2 CFSS 57,3Ab 59,4Abab 60,0ABa 6,6Aa 6, BCa 59,8 CASS 57,3Ac 62,0Aab 60,5ABb 62,0Aab 62,6 BCa 6,2 CFSN58 58,0Ab 6,2Aba 60,4ABa 6,6Aa 6,3 BCa 60,5 CFSN49 48,9 Bb 49, CDb 49,3 CDb 5,8 Ba 55,3 CDa 50,8 CFSN43 43, Bb 43, DEb 43,9 DEb 46, BCa 46,7 EFa 44,6 CFSN37 37,6 Ca 38,0 Ea 38,9 EFa 39,7 CDa 38,2 Ga 38,5 CFSN27 27,0 Db 26,7 Fb 26,4 Gb 30,4 Ea 29,7 Ha 28,0 CASN58 58,0Ab 63,5 Ba 63,0 Aa 64,Aa 64,ABa 62,5 CASN49 48,9 Bb 53, Bca 53,7 BCa 52,8 Ba 52,7 DEa 52,2 CASN43 43, BCb 44,7 DEab 46,4 CDEa 45,3 BCab 46,3 EFGa 45, CASN37 37,6 Ca 38,7 Ea 38,79 EFa 3,8 CDa 39,9 FGa 38,9 CASN27 27,0 Dd 27,5 FGd 33,3 FGc 35,6 DEb 44,4 FGa 33,6 Médias 47,0 49, 49,7 5, 52,5 Coef. Var. (%) 7,09 Números seguidos pela mesma letra, maiúscula nas colunas e minúscula nas linhas, não diferem entre si (Teste de Tukey, a 5%). * CFF- frutos em câmara fria; CAF- frutos em condições normais de ambiente CFSS-sementes com sarcotesta em câmara fria; CASS - sementes com sarcotesta em condições normais de ambiente; CFSN - sementes nuas em câmara fria, com diferentes teores de água (%), CASN - sementes nuas em condições normais de ambiente, com diferentes teores de água (%).

CONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE Inga uruguensis 5 Os dados da Tabela 2 mostraram que, no período inicial (zero dias), as sementes dos tratamentos mantidos em ambiente frio e natural, correspondentes a frutos, sementes com sarcotesta e sementes nuas com teor de água original, exibiram germinação semelhante as sementes submetidas à secagem até atingirem teores de água de 49 e 43% e apresentaram médias superiores às dos demais tratamentos. As amostras armazenadas com 37,6% de água, tanto armazenadas em câmara fria como em ambiente natural, exibiram redução significativa, mas pouco acentuada, da capacidade germinativa. As sementes nuas com 27% de água, para os ambientes frio e natural, apresentaram redução drástica do poder germinativo, com médias significativamente inferiores às dos demais tratamentos. Este fato evidencia a intolerância das sementes dessa espécie à dessecação e seu comportamento recalcitrante (Roberts,973). Essas observações confirrmam as de Bewley & Black (994), segundo as quais, as membranas se desorganizam quando as sementes atingem graus de umidade inferiores a 25% e, também, que valores próximos a esses podem ser considerados críticos para espécies recalcitrantes. A conservação das sementes se mostrou inviável sob condições normais de ambiente (Tabela 2), onde as amostras com diferentes teores de água não apresentaram germinação após TABELA 2. Valores médios de germinação, expressos em porcentagem, das sementes de Inga uruguensis correspondentes aos tratamentos durante o armazenamento. Germinação (%) Períodos de armazenamento (dias) zero 5 30 60 90 Médias CF F(*) 00Aa 95Ab 6 Bc 0 Bd 0 Bd 42 CA F 00Aa 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 20 CFSS 99Aa 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 20 CASS 99Aa 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 20 CFSN58 99Aa 29 Db Cc 0 Bc 0 Bc 26 CFSN49 00Aa 86 Bb 9Aa 8Ab 27Ac 77 CFSN43 98Aa 56 Cb 0 Cc 0 Bc 0 Bc 3 CFSN37 93 Ba 3 Eb 0 Cc 0 Bc 0 Bc 2 CFSN27 7 Ca 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 3 CASN58 99Aa 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 20 CASN49 00Aa 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 20 CASN43 98Aa 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 20 CASN37 93 Ba 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 9 CASN27 7 Ca 0 Fb 0 Cb 0 Bb 0 Bb 3 Médias 86 20 8 6 2 Coef. Var.(%) 7,52 Números seguidos pela mesma letra, maiúscula nas colunas e minúscula nas linhas, não diferem entre si (Teste de Tukey, a 5%). * CFF- frutos em câmara fria; CAF- frutos em condições normais de ambiente CFSS-sementes com sarcotesta em câmara fria; CASS- sementes com sarcotesta em condições normais de ambiente; CFSN - sementes nuas em câmara fria, com diferentes teores de água (%); CASN -sementes nuas em condições normais de ambiente, com diferentes teores de água (%). 5 dias de armazenamento. Esta observação sugere que não basta apenas manter as sementes de ingá convenientemente hidratadas para assegurar a conservação da sua qualidade fisiológica. Seria necessário, também, o controle da temperatura para que o metabolismo das sementes seja reduzido a níveis seguros e, consequentemente, a queda da qualidade fisiológica seja menos acentuada. Características como o elevado teor de água das sementes por ocasião da queda dos frutos, pronta germinação e altas taxas respiratórias das sementes recalcitrantes estão relacionadas com a estratégia de rápido estabelecimento das plântulas em ambiente úmido (Finch-Savage & Blake, 994). No armazenamento em câmara fria observaram-se variações acentuadas no comportamento das sementes. Os resultados evidenciaram que a conservação da qualidade fisiológica mostrou-se diretamente relacionada com o teor de água das sementes. Aos 5 dias de armazenamento em ambiente frio, as sementes mantidas no fruto mostraram germinação significativamente superior às demais. A partir desta época, houve queda acentuada do poder germinativo, culminando com a total inviabilidade aos 60 dias (Tabela 2). Para as sementes nuas armazenadas com teor de água original em ambiente frio, o armazenamento mostrou-se eficiente para manutenção do potencial germinativo por período restrito de tempo de até 5 dias. O controle da temperatura do ambiente de armazenamento não foi eficiente para redução do elevado metabolismo dessas sementes que, a partir dos 5 dias de armazenamento, exibiram queda acentuada da germinação, mostrando valores praticamente nulos aos 30 dias (Tabela 2). O armazenamento de sementes, mesmo as recalcitrantes, com grau de umidade próximo a 60% pode apresentar problemas decorrentes de danos subcelulares às sementes, que aumentam de intensidade com o decorrer do armazenamento resultando em perda de viabilidade (Farrant et al., 989). Aos 60 dias, o tratamento correspondente às sementes sem sarcotesta parcialmente desidratadas até 49% de água e mantidas em câmara fria, ainda apresentava 8% de germinação, com valores de 67% na primeira contagem. A queda acentuada foi verificada somente na última avaliação (aos 90 dias), superando os demais tratamentos quanto à germinação. Estes resultados indicaram que a secagem até atingir teores de água de 49%, para posterior armazenamento em sacos plásticos a 0 o C, pode promover a conservação do potencial germinativo em até dois meses. Este período é superior aos constatados em pesquisas anteriores. Assim, em condições naturais de ambiente foram constatados períodos de 4 a 20 dias para a perda total de viabilidade das sementes do gênero Inga (Bacchi, 96, Castro & Krug, 95 e Lieberg & Joly, 993). Por outro lado, em condições de câmara fria (5 o C e 90%UR), Figliolia (993) mencionou queda de 20% no percentual de germinação de sementes de Inga uruguensis armazenadas durante 30 dias.

52 D.A.C. BILIA et al. Nas sementes que após a secagem apresentavam 43% de água e foram armazenadas em ambiente frio, verificou-se queda gradativa da germinação; essas sementes apresentaram germinação de 56% aos 5 dias, indicando a possibilidade de conservação das sementes desta espécie apenas quando houver necessidade de aproveitamento quase imediato após a colheita. Observou-se também que, embora no momento imediato à secagem, as sementes desidratadas até teores de água próximos a 37% não tenham exibido diferenças na germinação, alterações internas devem ter ocorrido, com reflexos na integridade do sistema de membranas. Essas modificações podem ter resultado em comportamento diferenciado das sementes quando estas foram armazenadas, comprometendo, assim, a qualidade fisiológica. A secagem até atingir teores de água de 27%, que resultou em redução imediata e acentuada do potencial germinativo, inviabilizou o armazenamento e deve ser evitada. De forma geral, verificou-se a presença de patógenos nos testes de germinação. Foi detectada, através do método do papel de filtro (ISTA, 976), infecção por Geotrichum sp., Penicillium sp. e Aspergillus spp., que colonizaram rapidamente parte das sementes analisadas. É importante ressaltar que, entre os tratamentos e, dentro da mesma repetição de um tratamento, as sementes que iniciaram rapidamente o processo germinativo não se mostraram contaminadas, enquanto as demais, de vigor mais baixo, foram recobertas por microrganismos. Nas sementes com sarcotesta, o desenvolvimento de micorganismos foi provavelmente favorecido pela natureza da polpa mucilaginosa, que contém grande quantidade de açúcares. Os fungos Penicilium sp. e Aspergillus spp. parecem encontrar nas condições ideais para o armazenamento de sementes recalcitrantes, condições favoráveis para seu desenvolvimento; foram associados anteriormente a sementes de diversas espécies recalcitrantes, contaminando-as externa e internamente (Micock & Berjak, 990). Os dados de condutividade elétrica (Tabela 4) evidenciaram, de modo geral, aumento dos valores com o progresso da secagem, maior liberação de exsudatos pelas sementes com teor de água de 27% e tendência geral de acréscimo com o decorrer do armazenamento. Os valores médios de condutividade elétrica dos diferentes tratamentos se elevaram significativamente aos 5 dias de armazenamento, paralelamente à redução dos valores médios de germinação (Tabela 2). Destaca-se que, de forma geral, diferenças elevadas nos valores médios foram observadas nas amostras de sementes onde houve perda total de viabilidade. As sementes desidratadas até atingirem 49% de água e mantidas em câmara fria destacaram-se durante o armazenamento mostrando valores médios de condutividade inferiores aos demais. Na observação conjunta das Tabelas de a 4, verifica-se que com o decorrer do armazenamento, houve tendência de elevação do teor de água, indicando que os tecidos esravam mais deteriorados, pois as sementes ganharam água com maior facilidade. Essa elevação foi acompanhada do decréscimo nos valores de germinação e de primeira contagem e de elevação dos valores médios de condutividade elétrica, indicando que os testes detectaram com eficiência os progressos da deterioração. Os valores de primeira contagem da germinação, no início do período experimental, acompanharam a tendência dos dados de germinação total, com exceção das sementes com sarcotesta, que germinaram mais lentamente, possivelmente pelo impedimento mecânico causado pela presença do próprio tegumento da semente. Durante o armazenamento, a velocidade de germinação das sementes com 49% de água (Tabela 3) apresentou o mesmo destaque constatado nos dados de porcentagem de germinação (Tabela 2). Quanto à condutividade (Tabela 4), os valores médios dos diferentes tratamentos se elevaram significativamente aos 5 dias de armazenamento, sendo esse acréscimo acompanhado da redução dos valores médios de germinação (Tabela ). De forma geral, diferenças elevadas nos valores médios foram observadas nas amostras de sementes onde houve perda total de viabilidade. TABELA 3. Valores médios referentes à primeira contagem do teste de germinação, expressos em porcentagem, das sementes de Inga uruguensis correspondentes aos tratamentos durante o armazenamento. Primeira contagem (%) Períodos de armazenamento (dias) zero 5 30 60 90 Médias CF F* 99Aa 92Ab 4 Bc 0 Bc 0 Bc 39 CA F 99Aa 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 20 CFSS 47 Ca 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 9 CASS 47 Ca 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 9 CFSN58 99Aa 7 Cb 0 Bc 0 Bc 0 Bc 23 CFSN49 97Aa 63 Bc 87Ab 67Ac Ad 65 CFSN43 98Aa Cb 0 Bc 0 Bc 0 Bc 65 CFSN37 87 Ba 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 22 CFSN27 8 Da 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 7 CASN58 99Aa 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 20 CASN49 97Aa 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 9 CASN43 98Aa 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 20 CASN37 86 Ba 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 7 CASN27 0 Da 0 Db 0 Bb 0 Bb 0 Bb 2 Médias 76 3 7 5 Coef. Var (%) 23,97 Números seguidos pela mesma letra, maiúscula nas colunas e minúscula nas linhas, não diferem entre si (Teste de Tukey, a 5%). * CFF- frutos em câmara fria; CAF- frutos em condições normais de ambiente CFSS-sementes com sarcotesta em câmara fria; CASS- sementes com sarcotesta em condições normais de ambiente; CFSN - sementes nuas em câmara fria, com diferentes teores de água (%); CASN - sementes nuas em condições normais de ambiente, com diferentes teores de água (%).

CONSERVAÇÃO DE SEMENTES DE Inga uruguensis 53 TABELA 4. Valores médios referentes à condutividade elétrica (µmhos/cm/g) das sementes de Inga uruguensis Hook. et Arn. correspondentes aos tratamentos durante o armazenamento, com base no peso de matéria seca. Condutividade elétrica (µmhos/g/cm) Épocas de armazenamento (dias) zero 5 30 60 90 Médias CF F* 9Aa 30Ab 77Ac Bc 9Ac 69 CA F 9Aa 26 Db 8 BCb 5 Bb 29Ab 99 CFSS 54 Ca 36 Db 0Abb 0 Bb 07Ab 02 CASS 9ABa 65 BCb 56Dc 93 CDEd 25 Cd 30 CFSN58 20ABa 43Abb 54Ab 54Ab 30Ac 8 CFSN49 20ABa 43Abb 54Ab 55Ab 40Ac 62 CFSN43 3ABCa 68 BCb 6 BCc 74 Cd 80 Bd 4 CFSN37 47 BCa 94 Cb 45 CDc 86 CDd 72 Bd 29 CFSN27 93 Da 8 Eb 27 Fbc 30 Gd 307 Fd 23 CASN58 20ABa 95 Eb 26 Ebc 26 DEFbc 220 CDc 73 CASN49 20ABa 93 Eb 23 Ebc 222 EFc 248 DEd 79 CASN43 3ABCa 76 Eb 27 Ec 223 EFcd 244 CDEc 78 CASN37 47 BCa 83 Eb 208 Ec 234 Fd 268 Ee 88 CASN27 93 Da 267 Fb 294 Fc 372 He 339 Gd 273 Médias 34 28 66 9 207 C.V. (%) 8,80 Números seguidos pela mesma letra, maiúscula nas colunas e minúscula nas linhas, não diferem entre si (Teste de Tukey, a 5%). * CFF- frutos em câmara fria; CAF- frutos em condições normais de ambiente CFSS-sementes com sarcotesta em câmara fria; CASS- sementes com sarcotesta em condições normais de ambiente; CFSN - sementes nuas em câmara fria, com diferentes teores de água (%); CASN - sementes nuas em condições normais de ambiente, com diferentes teores de água (%). Deve-se enfatizar que, apesar da redução do grau de umidade provocar aumento nas leituras de condutividade elétrica, uma vez que com a secagem das sementes as membranas celulares sofrem um processo de desorganização estrutural (Bewley, 986), esse aumento foi verificado durante o armazenamento das sementes onde, de maneira geral, ocorreu umedecimento das sementes. Esse fato é importante porque a elevação do grau de umidade de uma amostra pode provocar a reorganização do sistema de membranas e, com isso, acarretar redução das leituras de condutividade elétrica da solução de exsudatos, o que não foi constatado nesta pesquisa. Assim, a observação de valores mais elevados de condutividade elétrica em sementes que se umedeceram durante o armazenamento, indicou um progresso real da deterioração. As informações obtidas no presente trabalho apontam diretrizes para o manejo das sementes de Inga uruguensis. De acordo com a especificidade das condições de coleta e os recursos disponíveis para acondicionamento, alguns procedimentos podem ser considerados. A princípio, práticas comumente utilizadas até o momento, como a permanência das sementes recém-coletadas em galpões, mesmo por poucos dias, devem ser evitadas. Nos casos em que os frutos são coletados por terceiros ou, ainda, diante da pequena disponibilidade de tempo ou mão-de-obra para manuseá-los imediatamente após a colheita, os frutos devem ser mantidos em embalagens resistentes a trocas gasosas (plásticos por exemplo), em ambiente com temperatura controlada (câmara fria ou geladeira, em torno de 0 o C), para utilização em, no máximo, 5 dias após a colheita. Quando houver a possibilidade de retirar as sementes dos frutos e submetê-las à secagem sob ventilação natural, até que atinjam valores próximos a 50% de água, as sementes poderão ser utilizadas durante maior período (aproximadamente 60 dias). Assim, os resultados mostraram a possibilidade da manutenção da viabilidade das sementes por períodos mais prolongados que os conseguidos em trabalhos anteriores, ampliando as possibilidades de utilização dessa espécie nos programas florestais de recomposição de mata nativa.

54 D.A.C. BILIA et al. CONCLUSÃO A desidratação parcial de sementes de Inga uruguensis Hook. et Arn. até atingir teor de água próximo a 50%, seguida do acondicionamento em sacos de polietileno e armazenamento em ambiente frio (0 o C), possibilita a conservação da sua qualidade fisiológica em até 60 dias após a colheita. REFERÊNCIAS ASSOCIATION OF OFFICIAL SEED ANALYSTS - AOSA. Seed vigor testing handbook. East Lansing: AOSA, 983. 93p. (Contribution, 32). BACCHI, O. Estudos sobre a conservação de sementes. IX- Ingá. Bragantia, Campinas. v.20, n.35, p.805-4. 96. BARBEDO, C.J. & BILIA, D.A.C. Longevidade de sementes de Inga uruguensis Hook. et Arn. e temperatura para germinação. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BOTÂNICA DE SÃO PAULO, 0. Santos, 994. Resumos. Santos, 994. p.93. BEWLEY, J.D. Membrane changes in seeds as related to germination and perturbation resulting from deterioration in storage. In: McDONALD JR, M.B. & NELSON, C.J. (ed). Physiology of seed deterioration. Madison: CSSA, 986. p.27-45. BEWLEY, J.D. & BLACK, M. Seeds; physiology of development and germination. New York: Plenum Press, 994. 445p. BRASIL, Ministério da Agricultura e da Reforma Agrária. Regras para análise de sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, 992. 365p. CAMARGO, R. Sementes de ingazeiros. Chácaras e Quintais, São Paulo. v.8, n5, p.608. 950. CASTRO, Y.G.P. & KRUG, H.P. Experiências sobre germinação e conservação de sementes de Inga edulis espécie usada em sombreamento em cafeeiros. Ciência e Cultura, São Paulo. v.3, n.4, p.263-4. 95. CRONQUIST, A. An integrated system of classification of flowering plants. New York: Columbia University Press, 98. 262p. CUSTÓDIO FILHO, A. & MANTOVANI, W. Flora fanerogâmica da Reserva do Parque Estadual das Fontes do ipiranga (São Paulo, Brasil). Hoehnea, São Paulo. v.3, p.3-40. 98. FARRANT, J.M.; PAMMENTER, N.W. & BERJAK, P. Gemination associated events and desiccation sensitivity of recalcitrant seeds- a study on three unrelated species. Planta, Berlim. v.78, p.89-98. 989. FIGLIOLIA, M.B. Maturação de sementes de Inga uruguensis Hook. et Arn. associada à fenologia reprodutiva e a dispersão de sementes em floresta ripária do rio Moji-Guaçu, município de Moji-Guaçu. Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - Universidade de São Paulo. 993. 50p. (Dissertação Mestrado). FINCH-SAVAGE, W.E. & BLAKE, PS. Indeterminate development in desiccation-sensitive seeds of Quercus robur L. Seed Science Research, Kew. v.4, p.27-33. 994. INTERNATIONAL SEED TESTING ASSOCIATION. Seed health testing. Seed Science and Technology, Zürich. v.4, p.3-49. 976. LIEBERG, S.A. Tolerância à inundação e aspectos demográficos de Inga affinis DC. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 990. 04p. (Tese Mestrado). LIEBERG, S.A. & JOLY, C.A. Inga affinis DC (Mimosaceae): germinação e tolerância à submersão. Revista Brasileira de Botânica, São Paulo. v.6, n.2, p.75-9. 993. LORENZI, H. Árvores brasileiras: Manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Editora Plantarum, 992. p.352. MICOCK, D.J. & BERJAK, P. Fungal contaminants associated with several homoiohydrous (recalcitrant) seed species. Phytophylactica, Pretoria. v.22, p.43-48. 990. OLIVEIRA, D.M.T.de. Morfologia e desenvolvimento de frutos, sementes e plântulas de Inga fagifolia Will. e Inga uruguensis Hook. et Arn. (Fabaceae - Mimosoideae). Rio Claro: Universidade Estadual Paulista de Rio Claro, 99. 8p. (Tese Mestrado). OLIVEIRA, D.M.T. & BELTRATI, C.M. Morfologia e anatomia dos frutos e sementes de Inga fagifolia Willd. (Fabaceae: Mimosoideae). Revista Brasileira de Biologia, Rio de Janeiro. v.54, n., p.9-00. Fev. 994. PIMENTEL GOMES, F. Curso de Estatística Experimental. 4.ed. Piracicaba: ESALQ/USP, 976. 430p. PONCY, O. Graines, germination et plantules dans le genre Inga (Légumineuses, Mimosoideae); étude morphologique chez quelques espèces de Guyane française. Bulletin de la Societe d Histoire Naturelle de Toulouse, Toulouse. v.20, p.35-42. 984. PRITCHARD, H.W.; HAYE, A.J.; WRIGHT, W.J. & STEADMAN, K.J. A comparative study of seed viability in Inga species desiccation tolerance in relation to the physical characteristics and chemical composition of the embryo. Seed Science and Technology, Zürich. v.23, p.85-00. 995. ROBERTS, E.H. Predicting the storage life of seeds. Seed Science and Technology, Wageningen. v., p.499-54. 973. STEEL, R.G.D & TORRIE, J.H. Principles and procedures of statistics. 2.ed. New York: McGraw Hill, 980. 48p.