A assinatura do autor por LUCIANE DO ROCIO CUSTODIO LUDOVICO:8089 <lcl@tjpr.jus.br> é inválida PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.344.424-5 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CASCAVEL - 11ª CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ APELANTES: CELINO PRANDI E OUTRO APELADOS: DEVAIR DALAROZA E OUTRO RELATORA: JUÍZA SUBST. 2º GRAU LUCIANE R.C. LUDOVICO (EM SUBSTITUIÇÃO AO DES. SIGURD ROBERTO BENGTSSON) APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AVERBAÇÃO RELATIVA À AÇÃO ANULATÓRIA ANULATÓRIA DE ATO JURÍDICO C/C COM PERDAS E DANOS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DE NULIDADE NA COMPRA E VENDA DO IMÓVEL OBJETO DA DEMANDA. IMPOSSIBILIDADE DE DISCUSSÃO. VIA PROCESSUAL INADEQUADA. LIMITES DE COGNIÇÃO NOS EMBARGOS DE TERCEIRO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Vistos e examinados, estes autos de Apelação Cível nº 1.344.424-5, da 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE CASCAVEL, em que são Apelantes CELINO PRANDI E OUTRO e Apelados DEVAIR DALAROZA E OUTRO. I - RELATÓRIO Trata-se de recurso de apelação interposto por CELINO PRANDI E OUTRO em face de decisão proferida nos autos de Embargos de Terceiro nº 001.208/2009, movida por DEVAIR DALAROZA E OUTRO, contra CELINO PRANDI E OUTRO, da 1ª Vara Cível da Comarca de Curitiba, por meio da qual o Juízo recorrido julgou procedentes os pedidos iniciais, extinguindo o processo, com resolução de mérito, com fulcro no artigo 269, I do CPC, nos seguintes termos (fls. 268/271): (...) 24 - Ante o exposto julgo procedente o pedido, com base no art. 269, inc. I do CPC, O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 1 de 5
para desconstituir a penhora sobre o bem indicado na exordial. Na oportunidade, condeno a Embargante ao pagamento de custas e honorários sucumbenciais, os quais fixo em R$1.000,00 (hum mil reais), com fulcro no art. 20, 4º do CPC. 25 Certifique-se desta decisão nos autos n. 948/2002, com cópia desta decisão. 26 Dê-se baixa na constrição, oficiando o Órgão responsável. Oportunamente, desapensem-se e desarquivem-se. (...) Em suas razões (fls. 301/313), os Apelantes requerem/sustentam, em síntese: a) a existência de fraude na venda do imóvel objeto da demanda; b) a extinção da procuração, nos termos do artigo 682, do Código Civil pela morte do mandante; c) que sejam tomados por empréstimo os autos 960/97 apensos; d) que sejam isentados do pagamento das custas processuais e honorários de advogado. 323/339. A parte contrária foi intimada e apresentou contrarrazões às fls. É, em síntese, o relato. II - FUNDAMENTAÇÃO Estão presentes os pressupostos processuais intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo ou extintivo) e extrínsecos (tempestividade e regularidade formal), como condição irrefutável ao conhecimento do recurso. Trata-se de recurso de Apelação Cível interposto por CELINO PRANDI E OUTRO, em face da r. sentença proferida nos autos de Embargos de Terceiro, pela qual o juízo a quo julgou procedente a pretensão inicial e desconstituiu a penhora sobre o bem indicado na exordial. A controvérsia diz respeito ao direito dos Apelados, proprietários e possuidores do imóvel, em serem mantidos na posse, visto à alegação por parte dos Apelantes da existência de nulidade decorrente de vício na compra e venda do imóvel objeto da demanda. Entendeu o juízo a quo que os embargos de terceiro são ação de conhecimento que dispõe o terceiro sempre que sofra uma constrição de um bem, e que o objetivo desta ação é liberá-lo ou declarar que o mesmo deva continuar sob constrição judicial. Que, apesar da transferência do imóvel ser questionada, os Embargantes são reconhecidos como possuidores do imóvel pelos Embargados. E ainda, em uma ação que objetive a anulação de determinado negócio jurídico deve haver a participação de todos os possíveis afetados para que haja cumprimento ao princípio do contraditório e ampla defesa e, portanto, é inconstitucional a afetação do patrimônio daquele que não foi oportunizado o O documento pode ser acessado no endereço 2 eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 2 de 5
direito de participação e resposta ainda que a demanda já tenha transitado e julgado. E, por fim, desconstituiu a penhora sobre o bem indicado na petição inicial. E tem razão o juízo a quo, pois os Embargos de Terceiro se traduzem em um instrumento de eficácia mandamental, por meio do qual o terceiro prejudicado se vale contra um ato constritivo do juízo, o qual restringe o exercício de fato de um dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade de seus bens. Art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer Ihe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos. 1o Os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor. (...) Segundo a doutrina: Denomina-se embargos de terceiro o remédio processual posto à disposição de quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha. (DONIZETE, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 8ª edição ampl. e atual. Editora Lumen Juris : Rio de Janeiro, 2007, pág. 881). ação. Assim, tanto o proprietário como o possuidor podem ingressar com a No caso, os Embargantes são proprietários e possuidores e a defesa dos Embargados está pautada na alegação de nulidade do negócio jurídico que conferiu aos primeiros a condição de proprietários. Embora os Apelantes sustentem a existência de fraude na compra e venda do imóvel, a análise dos embargos de terceiro é restrita ao reconhecimento da posse dos Embargantes e o seu resguardo de qualquer ato turbativo ou esbulhativo advindo da constrição judicial. Portanto, o resultado a ser alcançado é a disponibilidade do bem. Sendo assim, em embargos de terceiro não cabem discussões acerca de nulidade decorrente de fraude (ou simulação) na compra e venda do imóvel, cuja controvérsia deve ser solucionada em ação própria de conhecimento, dando oportunidade de participação e resposta a todos os envolvidos. O reconhecimento da nulidade do negócio jurídico depende de ampla discussão e produção de provas, assegurados o contraditório e a ampla defesa a todos que dele participaram. No caso, só estão no polo ativo e passivo os adquirentes e os prejudicados, respectivamente, o que impede uma decisão com eficácia plena. O documento pode ser acessado no endereço 3 eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 3 de 5
Nestes termos: AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA CAUTELAR PREPARATÓRIA DE ARRESTO. IMÓVEL JÁ TRANSFERIDO NO CRI PARA A PROPRIEDADE DE TERCEIRO. TRANSFERÊNCIA OCORRIDA ANTES DA PROPOSITURA DA AÇÃO E, PORTANTO, ANTES DA LIMINAR DE ARRESTO. PEDIDO DE AVERBAÇÃO/REGISTRO DO ARRESTO INDEFERIDO PELO JUÍZO A QUO. INVIABILIDADE DO REGISTRO SOB PENA DE FERIR-SE O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE REGISTRAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 237 DA LEI N. 6.015/1973. ALEGAÇÃO DE SIMULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO. INEXISTÊNCIA DE PROVAS. NECESSIDADE DE AÇÃO PRÓPRIA. A simulação e a fraude contra credores, com o fim de anulação de atos jurídicos, devem ser objeto de ação própria, de modo que se possa alcançar todos os intervenientes do negócio questionado. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ-SC - AG: 20090439806 SC 2009.043980-6 (Acórdão), Relator: Dinart Francisco Machado, Data de Julgamento: 24/09/2012, Segunda Câmara de Direito Comercial Julgado) PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. NULIDADE DE CONTRATO. VIA PROCESSUAL INADEQUADA. TUTELA DA POSSE. INTELIGÊNCIA DO ART. 1046, CPC. Os embargos de terceiro, por serem ação de cognição restrita, não é a via processual adequada para se discutir nulidade de contrato, ficando o pleito adstrito à desconstituição de ato de constrição judicial que tenha atingido bem de proprietário e possuidor, ou apenas possuidor, não integrante, a esse título, da relação processual (art. 1.046, CPC).(19980110703065APC, Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO, 4ª Turma Cível, julgado em 07/02/2000, DJ 17/05/2000 p. 33) No mais, independentemente da discussão a respeito da irregularidade na aquisição do imóvel, é incontroverso nos autos a posse dos Apelados sobre o objeto da demanda. Nota-se pelos documentos anexados que a posse exercida é legítima, pois decorre da propriedade e da prática de atos de posse. E sem que haja ampla discussão acerca da nulidade, não há como se falar em má-fé. Deste modo, os Apelados possuem legitimidade para defender o bem da constrição judicial, conforme disposto no art.1.046, 1º, do Código de Processo Civil. Desta forma, restando comprovada a existência de medida constritiva em processo alheio e o atingimento de bens de quem tenha direito ou posse, é de se acolher o pleito inicial. Frise-se, por fim, que nos Embargos de Terceiro não se invalida ou desconstitui a sentença proferida em processo alheio, mas apenas se impede que sua eficácia venha atingir o patrimônio de quem não foi parte naquela relação processual, tal como ocorre no presente caso, em que existe uma Ação Anulatória de Ato Jurídico c/c Perdas e Danos que resultou na afetação do direito dos Autores. Deste modo, foi correta a sentença do juízo a quo no sentido de desconstituir a anotação sobre o bem indicado na petição inicial. Frise-se, por fim, que no tocante ao pedido da prova produzida nos autos 960/97 apenso, tem-se que tal pretensão está relacionada à prova da alegada O documento pode ser acessado no endereço 4 eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 4 de 5
nulidade da compra e venda do imóvel objeto da demanda e, portanto, não é necessária para instruir os presentes Embargos de Terceiro. Desta feita, mantém-se a r. sentença recorrida. Por fim, considerando que o recurso foi totalmente desprovido, mantém-se o ônus sucumbencial nos termos da sentença. Diante do exposto, o voto é pelo desprovimento do Recurso de Apelação nos termos da fundamentação. III - DECISÃO ACORDAM os Magistrados Integrantes da Décima Primeira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora. A Sessão foi Presidida pelo Excelentíssimo Senhor Desembargador Ruy Muggiati (sem voto), e acompanharam o voto da Relatora os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Fábio Haick Dalla Vecchia e Sigurd Roberto Bengtsson. Curitiba, 16 de dezembro de 2015. Juíza Subst. 2º G. LUCIANE R.C.LUDOVICO Relatora O documento pode ser acessado no endereço 5 eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 5 de 5