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Transcrição:

329 2.5. MASTOFAUNA 2.5.1. Introdução Inventariar a fauna de vertebrados de qualquer ecorregião tropical é uma tarefa extensa e laboriosa, não sendo diferente com os mamíferos. Classe Mammalia é uma das cinco classes pertencentes ao Filo Vertebrata, cujos representantes apresentam enorme variação de tamanho corpóreo (10 a 239.000 g, sem mencionar as baleias), ampla variação quanto à forma de locomoção e hábitos (terrestres, aquáticos, semiaquáticos, voadores, escansoriais, arborícolas, fossoriais e semifossoriais), horários de atividade e comportamentos sociais. Apesar de alguns deixarem claros vestígios de sua presença, como tocas, pegadas e fezes, e outros, ainda, serem inconfundíveis com suas potentes vocalizações cotidianas, muitas espécies, especialmente os pequenos mamíferos, são de difícil detecção, observação detalhada e, consequentemente, de impraticável identificação em campo (Eisenberg & Redford, 1999; Emmons & Feer, 1997; Reis et al., 2006). Para se realizar um inventário de mamíferos, o uso de diversos equipamentos e metodologias por uma equipe de profissionais especializada, por períodos de 10 a 15 dias ao longo das estações do ano é imperioso. Entretanto, situações como essas são raras, uma vez que são extremamente dispendiosas e impraticáveis, quando se deseja obter respostas rápidas que permitam dar curso a empreendimentos quando estes já se encontrarem em plena fase de instalação. Por outro lado, um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) visa, primordialmente, avaliar os impactos causados por determinado empreendimento sobre a biota, definindo o tipo, grau, duração, extensão e a reversibilidade do impacto. Deste modo, o EIA não pressupõe um inventário completo, mas sim o levantamento de dados que permita uma análise da razão custo/benefício do empreendimento para a sociedade, em função das perdas ambientais e ganhos sociais. Este levantamento de dados inclui a pesquisa em campo, preferencialmente em duas campanhas que contemplem diferenças sazonais, e a

330 pesquisa de dados secundários, com o objetivo de detectar, especialmente, a presença de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção na área do empreendimento, para que ações que minimizem os impactos sobre as populações destas espécies possam ser tomadas. Assim, são indispensáveis todas as fontes de informações que permitam ampliar o conhecimento acerca do conjunto de espécies de determinada localidade, de modo a oferecer uma descrição da mastofauna o mais próximo possível da realidade. Uma das fontes de dados secundários mais importantes para a biota do Estado de Mato Grosso é o Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico do Estado de Mato Grosso (ZSEE), realizado pelo Projeto de Desenvolvimento Agroambiental do Estado de Mato Grosso, que amostrou diversas localidades dentro do Estado, sendo as proximidades do Salto de Dardanelos, em Aripuanã, uma delas (Mato Grosso, 2002). Desta forma, a lista de mamíferos, aqui apresentada, é o resultado da união de dados secundários (Mato Grosso, 2002), de coletas realizadas no Município de Aripuanã em outra oportunidade (referidos neste EIA como dados primários, por terem sido realizados pela mesma equipe) e dos esforços realizados em campo entre os dias 1º e 06 de junho e entre os dias 03 e 09 de agosto de 2008. Assim, os métodos usados para a realização deste EIA visaram contemplar a detecção da maior gama possível de mamíferos. Das 652 espécies nativas de mamíferos atualmente descritas para o Brasil; 311 espécies (47,7%) ocorrem no Bioma Amazônico, sendo que 174 espécies são endêmicas deste bioma (Reis et al., 2006). A escassez de estudos sobre a biologia destas espécies, bem como sobre a resiliência das populações e comunidades frente às alterações ambientais faz com que grande parte das espécies não seja classificada em qualquer categoria de ameaça, mas apenas como dados insuficientes. Os mamíferos podem ser bons indicadores de qualidade de habitat, uns por serem extremamente exigentes só ocorrendo em habitats bastante preservados, alguns por serem animais topo de cadeia e sua presença indicar a existência de uma estrutura

331 trófica compatível com a manutenção de suas populações (Eisenberg & Redford, 1999) e outros, inversamente, por serem animais extremamente plásticos, capazes de sobreviver e reproduzir em habitats bastante degradados. Neste sentido, este trabalho objetivou inventariar a mastofauna presente nas áreas de influência direta e indireta do Empreendimento Projeto Aripuanã - Mineração e Beneficiamento de Minério Polimetálico Zn, Cu e Pb, da Mineração Dardanelos Ltda., no município de Aripuanã/MT, visando identificar os impactos causados pela implantação e funcionamento da extração e beneficiamento dos minerais supracitados sobre a fauna de mamíferos. 2.5.2. Materiais e Métodos 2.5.2.1. Coleta de pequenos mamíferos terrestres Para a coleta de pequenos mamíferos terrestres, três locais foram escolhidos para a amostragem (Quadro 5.2.1-1) e nestes foram instaladas dois tipos de métodos de captura: armadilhas tipo live-trap e armadilhas de interceptação e queda. Quadro 2.5.2.1-1. Ponto, habitat, coordenada geográfica, esforço amostral (dado em armadilhas-noite (a-n) e baldes-noite (b-n)) e descrição dos locais amostrados para a coleta de pequenos mamíferos terrestres no empreendimento Projeto Aripuanã - Mineração e Beneficiamento de Minério Polimetálico Zn, Cu e Pb, da Mineração Dardanelos Ltda., no Município de Aripuanã/MT. Ponto I II III Habitat Floresta Ombrófila/ Floresta de encosta Floresta Ombrófila Floresta Ombrófila Coord. Geog. Lat-Long S 10º 03' 11,7'' W 59º 29' 38,9'' S 10º 04' 16,3'' W 59º 29' 17,5'' S 10º 02' 34,8'' W 59º 29' 33,8'' Esforço 240 a-n 70 b-n 240 a-n 70 b-n 240 a-n 70 b-n Descrição AID; topo da Serra Expedito. Floresta Ombrófila densa com serapilheira espessa e palmeiras. AID; 2 km sudeste da Serra Expedito. Floresta Ombrófila aberta com árvores esparsas de 20 m de altura, muitos babaçus, serapilheira rala. AII; 1 km noroeste da Serra Expedito. Floresta Ombrófila aberta com árvores esparsas de 20 m de altura, muitos babaçus. Serapilheira espessa. Área de exploração de palmito.

332 2.5.2.1.1. Armadilhas de captura-viva (live-trap) Foram utilizadas armadilhas de captura-viva do tipo Sherman, de tamanho grande e pequeno, e gaiolas de gancho. Cada ponto de amostragem teve 60 armadilhas instaladas. Estas foram iscadas com um tipo de fruta (banana para Shermans e abacaxi para gaiolas de gancho), um pedaço de queijo e uma mistura de pasta de amendoim, sardinha e fubá. A disposição no campo das armadilhas seguiu o método de transecto linear, com uma estação de captura a cada 15 metros. Em cada estação foram instaladas quatro armadilhas: uma Sherman pequena e uma armadilha grande (Sherman ou gaiola de gancho) foram instaladas no solo e uma Sherman pequena e uma armadilha grande (Sherman ou gaiola de gancho) foram instaladas no alto. As armadilhas instaladas no alto foram atadas, com elásticos, a cipós, galhos ou lianas de acordo com a disponibilidade de apoios (Foto 2.5.2.1.1-1). As armadilhas permaneceram no campo por quatro noites consecutivas, sendo checadas todas as manhãs e reiscadas quando necessário. Foto 2.5.2.1.1-1. Armadilha live-trap Sherman instalada no alto.

333 2.5.2.1.2. Armadilhas de interceptação e queda (AIQ) Em parceria com a equipe responsável pelos trabalhos referentes ao inventário da herpetofauna, armadilhas de interceptação e queda também foram utilizadas para a captura de pequenos mamíferos terrestres. Três conjuntos de cinco baldes de 30 litros foram instalados nos pontos I, II e III, nas proximidades das linhas de captura com armadilhas live-trap. Os animais capturados por qualquer um dos métodos foram coletados segundo procedimento padrão para o colecionamento científico. Os animais tiveram a biometria padrão realizada e foram identificados quanto ao sexo, estágio reprodutivo e idade. A identificação específica dos espécimes coletados será realizada futuramente em museu ou coleção zoológica e, posteriormente, as peles serão depositadas na Coleção de Zoologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 2.5.2.2. Observação direta As trilhas dentro da mata foram percorridas à procura de mamíferos de médio e grande porte. Os trechos foram percorridos vagarosamente e em silêncio, sendo estabelecidas paradas regulares para observação de vocalizações ou deslocamento de indivíduos ou bandos. A busca ativa ou observação direta foi aplicada nas áreas onde os transectos lineares de amostragem de pequenos mamíferos terrestres estavam instalados, bem como em estradas de terra que margeavam as formações florestais, em áreas de influência direta e indireta do empreendimento. Os deslocamentos de carro também objetivaram surpreender espécimes da fauna de mamíferos e foram feitos em baixa velocidade, tanto de dia como de noite. Foram usados como guias os livros: Auricchio (1995), Emmons & Feer (1997), Eisenberg & Redford (1999) e Reis et al. (2006).

334 2.5.2.3. Observação indireta Coleta e análise de vestígios de mamíferos (como pegadas, fezes, abrigos e locais de forrageamento) foram realizadas concomitantemente com a busca ativa, em transectos percorridos a pé em estradas de terra, durante a checagem das armadilhas e durante os deslocamentos de carro realizados durante o dia (Tarres 1987; Sobrevila & Bath 1992). Foram usados como guias os livros: Becker & Dalponte 1991; Lima Borges & Tomás 2004. 2.5.2.4. Coleta de informações Tanto os pesquisadores envolvidos nos demais trabalhos de campo deste EIA como funcionários do empreendimento e moradores locais foram questionados acerca da presença das espécies de mamíferos ocorrentes na área em estudo. 2.5.3. Resultados Os resultados obtidos nas atividades de campo, referentes ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Empreendimento Projeto Aripuanã - Mineração e Beneficiamento de Minério Polimetálico Zn, Cu e Pb, da Mineração Dardanelos Ltda., a partir dos métodos de coleta e registro aplicados, apontaram para a presença de pelo menos 97 espécies de mamíferos, pertencentes a 27 famílias de nove ordens (Quadro 2.5.3-1). O esforço de coleta para pequenos mamíferos terrestres, com armadilhas livetrap, totalizou 720 armadilhas-noite (a-n), capturou cinco indivíduos, representando um sucesso de captura total de 0,69% (Fotos 2.5.3-1 e 2.5.3-2). Entretanto, a área I, localizada no topo da Serra do Expedito e de influência direta do empreendimento, obteve um sucesso de captura maior que as outras duas áreas, sendo este de 1,25%, contra 0,4% em cada uma das demais áreas. O esforço de coleta para pequenos mamíferos terrestres, com armadilhas de interceptação e queda, totalizou 210 baldes-noite (b-n) e capturou apenas um indivíduo na área II, representando um sucesso de captura total de 0,48%, sendo este de 1,43% para a área onde a captura ocorreu.

335 Quadro 2.5.3-1. Mamíferos inventariados nas Áreas de Influência Direta (AID) e Indireta (AII) do Empreendimento Projeto Aripuanã - Mineração e Beneficiamento de Minério Polimetálico Zn, Cu e Pb, da Mineração Dardanelos Ltda., através dos métodos aplicados em campo e de revisão bibliográfica (Legenda: C: Cheia; S: Seca; Vis (nº): visualização (nº de indivíduos); Col (nº): coletado (nº de indivíduos); : observação indireta (pegadas, rastros, tocas, fezes); Rel: relato de trabalhador ou morador local; DP: dados primários (coletados em outra oportunidade no município de Aripuanã); DS: dados secundários (Mato Grosso, 2002); A: área antropizada; Ed: estradas dentro do empreendimento; Ef: estradas fora do empreendimento; FO: Floresta Ombrófila; Cj 1, 2 ou 3: conjunto de armadilhas de interceptação e queda 1, 2 e 3). Família/Espécie Nome Popular Período do Registro Forma de Registro Influência/Local ORDEM DIDELPHIOMORPHIA Didelphidae Caluromys philander Cuíca-lanosa DP Chironectes minimus Cuíca-d água DP Didelphis albiventris Gambá DP Didelphis marsupialis Gambá DP Didelphis sp. Gambá C AID/FO, Cj1 Gracilinanus sp. Catita DS Marmosa murina Catita DS Marmosops bishopi Cuíca S Col (1) AID/FO, Cj2 Marmosops noctivagus Cuíca DP Metachirus nudicaudatus Cuíca-de-quatro-olhos DP Micoureus demerarae Catita DP Monodelphis emiliae Catita C Col (1) AID/ Cj1 Monodelphis glirina Catita DP

336 Família/Espécie Nome Popular Período do Forma de Registro Registro Monodelphis sp. n. Catita DS Philander opossum Cuíca DP ORDEM XENARTHRA Myrmecophagidae Cyclopes didactylus Tamanduaí C Rel Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim C Influência/Local AID / Ed AID / Ed S Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-bandeira C AID/FO, Cj 1 Bradypodidae Bradypus variegatus Preguiça DS Megalonychidae Choloepus cf. didactylus Preguiça-real DP Dasypodidae Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole DP Dasypus kappleri Tatu-15-quilos DP C Dasypus novemcinctus Tatu-galinha S Priodontes maximus Tatu-canastra C Rel ORDEM PRIMATES Cebidae Sapajus apella Macaco-prego C S Vis (6); Vis (10) AID/FO, Cj 2; Ed AID/ FO, Cj1 AID/FO, Cj 2; AID/ Ed AID/FO, Cj2

337 Período do Forma de Família/Espécie Nome Popular Registro Registro Cebus albifrons Caiarara DP Saimiri ustus Mico-de-cheiro DP C Vis (5) Mico intermedius Mico-de-Aripuanã S Vis (6+ 8) Influência/Local AID/FO AID/ Ed, FO Aotidae Aotus azarae Macaco-da-noite DP Pitheciidae Pithecia irrorata Parauacu DP Chiropotes albinasus Cuxiú-de-nariz-branco DP Chiropotes satanas satanas Cuxiú DP Callicebus cinerascens Sauá DS Atelidae Ateles chamek Coatá S Vis (8) AID/FO; AII/FO Lagothrix cana Barrigudo S Vis (16) AID/FO, Cj2 Alouatta puruensis Bugio DS ORDEM LAGOMORPHA Leporidae Sylvilagus brasiliensis Tapiti DP Ordem Chiroptera Emballonuridae Peropteryx cf. macrotis Morcego DP

338 Família/Espécie Nome Popular Período do Registro Forma de Registro Phyllostomidae Anoura caudifer Morcego DS Artibeus cinereus Morcego DS Artibeus lituratus Morcego DS Artibeus obscurus Morcego DS Artibeus sp. Morcego DS Carollia brevicauda Morcego DS Carollia perspicillata Morcego DP Chiroderma villosum Morcego DS Glossophaga soricina Morcego DP Mesophylla macconnelli Morcego DS Platyrrhinus helleri Morcego DS Phylloderma stenops Morcego DS Phyllostomus elongates Morcego DS Sturnira tildae Morcego DS Uroderma bilobatum Morcego DS Moormopidae Pteronotus cf. parnellii Morcego DP Noctilionidae Noctilio albiventris Morcego-pescador DP Noctilio leporinus Morcego-pescador DP Influência/Local

339 Família/Espécie Nome Popular Período do Registro Forma de Registro Molossidae Nyctinomops cf. laticaudatus Morcego DP ORDEM CARNIVORA Felidae Influência/Local Leopardus pardalis Jaguatirica C AID/ Ed; AII/ Ef S AID/ Ed Leopardus tigrinus Gato-do-mato C AID/ Ed S AID/ Ed Leopardus wiedii Gato-maracajá DS Puma yaguarondi Gato-mourisco C Rel Puma concolor Onça-parda C AID/ Ed S AID/Ed Panthera onca Onça-pintada DP Canidae Cerdocyon thous Cachorro-do-mato C AID/ Ed, FO, Cj2 Speothos venaticus Cachorro-do-mato-vinagre DS Mustelidae Eira barbara Irara C S Galictis vittata Furão DS Lontra longicaudis Lontra C Rel Pteronura brasiliensis Ariranha C Rel ; Vis (1) ; Vis (2) AID/FO, Cj 1, Cj2; AII/ FO, Cj3 AID/ Ed ; AID/ Cj1; AII/FO

340 Família/Espécie Nome Popular Período do Registro Forma de Registro Influência/Local Procyonidae Procyon cancrivorus Mão-pelada DP Nasua nasua Quati S Vis (1) AII/ Ef Potos flavus Jupará DP ORDEM PERISSODACTYLA Tapiridae Tapirus terrestres ORDEM ARTIODACTYLA Tayassuidae Pecari tajacu Anta Caititu C S C S ; Vis (3) Vis (15); AID/ Ed, FO, Cj2 AID/ FO, Cj1, Ed AID/ Ed; AID/ FO, Cj2 AII/ FO, Ef; AID/ FO, Cj1, Ed AII/ FO; AID/ A Tayassu pecari Queixada S AID/ Cj2 Cervidae C Mazama americana Veado-mateiro S Mazama nemorivaga Veado-catingueiro DP AID/ Ed, FO, Cj2 AID/ A, Ed ORDEM RODENTIA Sciuridae Sciurillus pusillus Quatipuruzinho C Vis (1) AII/ Ef Guerlinguetus ignitus Caxinguelê DS

341 Família/Espécie Nome Popular Período do Forma de Registro Registro Influência/Local Guerlinguetus sp. Esquilo S Vis (3) AII/ FO Cricetidae Hylaeamys megacephalus Rato-do-mato DS Mus musculus 1 Rato DS Neacomys spinosus Rato-espinhoso DS Necromys lasiurus Rato-do-mato DS Nectomys squamipes Rato d água DS Oecomys bicolor Rato-do-mato DP Oecomys capito Rato-do-mato DS Oecomys sp. 1 Rato-do-mato DS Oecomys sp. 2 Rato-do-mato DS Oecomys sp. Rato-do-mato S Col (1) AID/ Cj1 Oligoryzomys cf. microtis Rato-do-mato DP Oryzomys cf. nitidus Rato-do-mato DS Oxymycterus sp. Rato-do-brejo DS Rattus rattus 1 Rato DP Rhipidomys sp. Rato-da-árvore DS Caviidae Cuniculus paca Paca C AID/FO, Cj1, Cj2, Ed S AID/ FO, Cj1, Ed, A Dasyprocta azarae Cutia C ; Vis (1) AID/FO, Cj1, Cj2; AII/ A S Vis (4); AII/ Ef; AID/ Ed; AID/Ed

342 Família/Espécie Hydrochoerus hydrochaeris Nome Popular Capivara Período do Registro C S Forma de Registro Vis (3) Influência/Local AII/ Ef AID/ FO, Cj1, Ed Erethizontidae Coendou prehensilis Ouriço S Vis (1) AII/ Ef 2 Echimyidae Mesomys hispidus Rato-de-espinho DP Proechimys longicaudatus Rato-de-espinho S Col (3) AID/ Cj1 e Cj2 1 : espécies exóticas; 2 : animal atropelado

343 Foto 2.5.3-1. Roedor equimídeo (Proechimys cf. londicaudatus) capturado em uma armadilha live-trap do tipo gaiola de gancho. Foto 2.5.3-2. Marsupial (Marmosops sp.) capturado no transecto instalado no ponto II em Floresta Ombrófila. Os valores relativamente baixos de sucesso de captura observados, especialmente para o método de captura com armadilha live-trap, não diferem dos observados para outras áreas de Floresta Ombrófila (Black et al., 2002; Eisenberg & Redford, 1999; Emmons & Feer, 1997), podendo ser justificado pela altura do dossel

344 (cerca de 40 metros), que permite ampla estratificação vertical e consequente separação de nicho por parte dos pequenos mamíferos terrestres arborícolas (Begon et al., 1996). Apesar de nossos esforços em dispor as armadilhas no alto, não conseguimos acessar mais que 2,5-3,0 metros de altura, o que pode ser irrisório para uma boa parte da fauna de pequenos mamíferos terrestres arborícolas, que fazem uso do médio e alto dossel (Vieira et al., 2004). Todas as espécies de marsupiais e roedores nativos têm o estado de conservação descrito como de baixo risco pela IUCN (Rossi et al. 2006; Oliveira & Bonvicino 2006) e apresentam ampla distribuição geográfica, exceto Proechimys longicaudatus cuja distribuição restringe-se, no Brasil, ao Estado de Mato Grosso. Dezesseis espécies (16,5%) foram avistadas em uma ou em ambas as campanhas de campo, sendo o grupo dos primatas o mais registrado por este método: quatro espécies (Sapajus apella, Mico intermedius, Ateles chamek e Lagothrix cana), em seis eventos, totalizando pelo menos 48 indivíduos. Dentre os primatas registrados, especialmente nas áreas de influência direta do empreendimento, duas merecem destaque. O macaco-barrigudo (Lagothrix cana; Foto 2.5.3-3) é uma das maiores espécies de primatas neotropicais, primariamente frugívora, forrageia na metade superior do dossel, sendo que raramente desce ao solo. Formam bandos entre 20 a 50 indivíduos e utilizam uma área de vida entre 100 e 900 ha. São considerados bons indicadores de qualidade de habitats, uma vez que ocorrem principalmente em florestas primárias, evitando florestas degradadas (Bicca-Marques et al. 2006; Eisenberg & Redford 1999). O mico-de-aripuanã (Mico intermedius) é uma espécie endêmica da porção noroeste do Estado de Mato Grosso e pequena porção sul do Estado do Amazonas (Figura 2.5.3-1). Esta espécie habita floresta tropical úmida, com preferência para formações de crescimento secundário e bordas de matas, e alimenta-se de frutos, flores, néctar e goma, além de presas animais como insetos, sapos, lagartos, aranhas e lesmas (Rylands & Silva, 2008).

345 Foto 2.5.3-3. Macaco-barrigudo (Lagothrix cana) em área de influência direta do empreendimento. Figura 2.5.3-1. Ilustração do mico-de-aripuanã (Mico intermedius) e mapa de sua distribuição geográfica (Rylands et al., 2008).

346 Iraras (Eira barbara), cutias (Dasyprocta sp.), capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) e caititus (Pecari tajacu) também foram avistados frequentemente, em mais de uma ocasião em ambas campanhas, nas estações chuvosa e seca (Foto 2.5.3-4). Os animais da Ordem Carnivora, cujos representantes terrestres são as famílias Felidae, Canidae, Mustelidae e Procyonidae, estão bastante bem representados, especialmente os Felidae. A presença de várias espécies de Carnivora nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento sugere uma comunidade fortemente estruturada, uma vez que muitos destes animais ocupam o topo das cadeias alimentares a que pertencem, sendo necessária uma integridade da comunidade para a manutenção de indivíduos e de suas populações. Foto 2.5.3-4. Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) em área de influência indireta do empreendimento. Quarenta e cinco espécies de mamíferos, de médio e grande porte, foram registradas em campo, das quais cinco espécies somente foram registradas na estação seca, sendo as demais registradas em ambas as estações (Quadro 2.5.3-1). Com relação aos métodos aplicados, dez espécies foram registradas a partir de observação direta (Fotos 2.5.3-3 e 2.5.3-4) em uma ou em ambas as campanhas, onze espécies somente foram registradas a partir de observação indireta de rastros ou vestígios (Fotos 2.5.3-5 e

347 2.5.3-6) e cinco espécies constam na lista como relato de morador local (Figura 2.5.3-2). As demais espécies listadas são oriundas de dados primários ou secundários. Foto 2.5.3-5. Rastro de onça-parda (Puma concolor), espécie registrada apenas por observação indireta. Foto 2.5.3-6. Rastro de paca (Cuniculus paca), espécie registrada apenas por observação indireta.

348 Figura 2.5.3-2. Porcentagem da forma do registro das espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte listados para as áreas de influência direta e indireta do empreendimento, na Serra do Expedito, Município de Aripuanã/MT. Das espécies apenas registradas a partir de relato de morador ou trabalhador local, pode-se dizer que lontras (Lontra longicaudis) e ariranhas (Pteronura brasiliensis) ocorrem no Rio Aripuanã, mas este está bastante distante do empreendimento e não deve ser considerado nem como área de influência indireta. As outras três espécies (tamanduaí (Cyclopes didactylus), tatu-canastra (Priodontes maximus) e o gato-mourisco (Puma yaguarundi)) apresentam hábitos noturnos, são típicos de florestas tropicais e possivelmente ocorrem nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento. Dentre as espécies registradas em campo, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o tatu-canastra (Priodontes maximus), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-do-mato (Leopardus tigrinus), o gato-maracajá (Leopardus wiedii), a onça-pintada (Panthera onca), o cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus) e a ariranha (Pteronura brasiliensis) estão listados como espécies vulneráveis à extinção no Estado de Mato Grosso, sendo que a principal ameaça para a maioria destas espécies é a perda de habitat (Brasil, 2008; Medri et al., 2006; Cheida et al., 2006).

349 A curva do descobrimento especiário ou curva cumulativa de espécies (Figura 2.5.3-3), construída apenas com os dados obtidos nas atividades de campo deste EIA, evidencia, por sua não estabilização, que trabalhos de curto prazo não contemplam todas as espécies da região e reforçam a necessidade de complementar e aprofundar os estudos com outras fontes de informações, como dados primários e secundários e informações de coleções zoológicas. Figura 2.5.3-3. Curva cumulativa de espécies de mamíferos registradas em ambas as campanhas (seca e chuva) nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento, na Serra do Expedito, Município de Aripuanã/MT. O coeficiente binário de similaridade de Sorensen foi aplicado aos dados de presença/ausência das espécies registradas durante as atividades de campo, somando-se as informações das duas campanhas referentes às áreas inventariadas. Assim, os dados foram reunidos seguindo a amostragem de pequenos mamíferos terrestre e os dados de médios e grandes mamíferos foram agrupados a esses pontos segundo as características topográficas e fitofisionômicas dos locais em que foram encontrados: rastros ou avistamentos encontrados nas estradas da Serra, com declividade maior que 45º, foram agrupados ao ponto I; rastros ou avistamentos encontrados em estradas com declividade menor que 45º e dentro da área do empreendimento foram agrupados no ponto II; dados

350 registrados fora da área de influência direta do empreendimento foram agrupados no ponto III (Tabela 2.5.3-1). Tabela 2.5.3-1. Coeficientes binários de similaridade de Sorensen, aplicados aos pontos I, II (ambos AID) e III (AII) amostrados na Serra do Expedito, Município de Aripuanã/MT. Ponto I Ponto II Ponto III Ponto I - Ponto II 0,61 - Ponto III 0,53 0,47 - Os resultados apontam para uma maior similaridade entre as áreas localizadas entre o topo e o sopé da Serra do Expedito, ambas caracterizadas por Floresta Ombrófila com associação de Floresta de Encosta. O ponto III é o menos similar entre os comparados e uma explicação plausível para isto é o fato deste ponto sofrer mais ações antrópicas do que os outros dois, localizados dentro da área restrita do empreendimento. No ponto III, além de se ter uma estrada bastante movimentada em sua proximidade, também é uma área em que ocorre extração de palmito, com vários indícios de trilhas e acampamentos de palmiteiros, além de locais de espera para a caça de animais silvestres. Todas estas atividades antrópicas afugentam a fauna. 2.5.4. Discussão Os resultados obtidos nos trabalhos de campo de ambas as campanhas (estações seca e chuvosa) referentes ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do Empreendimento Projeto Aripuanã - Mineração e Beneficiamento de Minério Polimetálico Zn, Cu e Pb, da Mineração Dardanelos Ltda., localizado no Município de Aripuanã/MT., para o grupo dos mamíferos apontam para um inventário satisfatório, com sucesso na detecção de diversas espécies de vários grupos funcionais. Entretanto, somando os registros de campo com as informações oriundas de dados primários e secundários, a lista de espécies de mamíferos registradas para a região é bastante consistente, atingindo praticamente um terço de toda a fauna de mamíferos descrita para todo o Bioma Amazônico.

351 Apesar do baixo sucesso de captura das espécies de pequenos mamíferos terrestres, os resultados estão dentro do esperado para uma área de Floresta Ombrófila dentro do Bioma Amazônico, pelo o esforço realizado e pela perturbação de origem antrópica atual e passada observada nas áreas estudadas. Assim como os morcegos e primatas, os pequenos mamíferos terrestres (marsupiais e roedores) são bons indicadores da qualidade de habitat, apresentam riqueza elevada (especialmente os roedores) e exploram diversos nichos em função da diversidade de hábitos de locomoção, dieta e horário de atividade (Reis et al., 2006; Eisenberg & Redford, 1999). Em decorrência, essas quatro ordens de mamíferos (Didelphidae, Chiroptera, Primates e Rodentia) são as que apresentam o maior potencial para o descobrimento de espécies novas, principalmente para o Bioma Amazônico e sua zona de transição com o Bioma Cerrado (Eisenberg & Redford, 1999). Nesse sentido, é aconselhável que maiores esforços sejam realizados para a coleta de seus representantes, especialmente em regiões serranas, como a da Serra do Expedito, onde está localizado o empreendimento. Nenhum espécime de pequeno mamífero terrestre foi coletado, por nenhum método, nas armadilhas instaladas no ponto III, fora da área de influência direta do empreendimento, demonstrando que as perturbações observadas naquela área podem ter afugentado esta fauna. Por outro lado, as áreas onde foram instaladas as armadilhas dos pontos I e II, na área de influência direta do empreendimento, apresentaram maior riqueza para este grupo, mas podem vir a sofrer desaparecimento local, em função das atividades de instalação e operação do empreendimento. Os resultados obtidos em campo para mamíferos de médio e grande porte são aceitáveis, não ficando grandes lacunas para animais de fácil detecção. Algumas espécies citadas neste inventário chamam a atenção e merecem destaque: os felídeos e os canídeos são animais predadores, chamados de topo de cadeia, e sua presença na área de influência direta do empreendimento sugere que os habitats ainda apresentam uma estruturação de seus componentes, uma vez que sua

352 presença só é permitida se todos os níveis tróficos abaixo dele, na cadeia alimentar, apresentar uma consistência populacional. Desta forma, também chama a atenção a marcante presença de algumas espécies presa. É o caso das antas, veados, catetos, pacas e cutias, que apesar de não terem sido avistados grande número de indivíduos, a quantidade de registros (pegadas, fezes e revirados ) para estas espécies foi abundante, especialmente na área de influência direta do empreendimento. Queixadas tiveram uma quantidade de registros menor, mas sua presença na área também indica boa qualidade de habitat, uma vez que esta espécie não suporta viver em áreas fragmentadas (Tiepolo & Tomás, 2006). No que diz respeito aos mamíferos, a instalação e operação do Empreendimento Projeto Aripuanã - Mineração e Beneficiamento de Minério Polimetálico Zn, Cu e Pb, da Mineração Dardanelos Ltda., localizado no Município de Aripuanã/MT, acarretará um impacto negativo sobre esta fauna, especialmente nas áreas de maior declividade e de maior proximidade, tanto da área de extração como da área de beneficiamento, além do trajeto entre estes locais. 2.5.5. Monitoramento da Mastofauna (1ª Campanha chuva/2012). 2.5.5.1. Introdução Devido à suspensão do processo de licenciamento ambiental, por parte do empreendedor, por um período de cerca de três anos, um acordo foi feito entre este e o órgão ambiental estadual (SEMA/MT) para que uma campanha de verificação do estado da área fosse feita de modo os dados coletados em 2008 fossem atualizados. Essa campanha poderá ser considerada como a primeira campanha de monitoramento após a liberação da licença de instalação. Assim, esta campanha foi realizada durante o período chuvoso de 2012 para a verificação do estado da área e suas mudanças sob a ótica da fauna de mamíferos.

353 A ideia inicial era repetir o mesmo esforço amostral nas mesmas áreas de coleta realizadas em 2008, de modo que os resultados pudessem realmente ser comparáveis e uma opinião acerca das mudanças ocorridas na área (e seu reflexo na fauna de mamíferos neste hiato de tempo) pudesse ser emitida. Entretanto, devido a problemas logísticos (dificuldade de acesso) e às condições climáticas (pluviosidade bastante elevada durante o período de campo) não foi possível repetir o modelo metodológico de 2008 integralmente. 2.5.5.2. Métodos A campanha de monitoramento usou as mesmas técnicas utilizadas durante as campanhas de 2008, porém diferenças no esforço amostral e em uma das áreas de coleta serão destacadas a seguir. Das três áreas foco de nossos esforços em 2008 para a instalação de armadilhas para a coleta de pequenos mamíferos terrestres, apenas as duas áreas com influência direta do empreendimento puderam ser reutilizadas. A local de coleta localizado fora da área restrita do empreendimento, onde se verificava intensa atividade antrópica com exploração de palmito (ponto III; Quadro 2.5.2.1-1) foi substituída por uma área bastante próxima, também sob intensa atividade antrópica, mas com retirada de madeira (ponto IV; Quadro 2.5.5.2-1). Os métodos de observação direta e indireta também foram aplicados, mas com um esforço reduzido devido à elevada pluviosidade, tanto durante as atividades em campo como durante a noite, o que resultou em uma baixa quantidade e qualidade de vestígios, como pegadas, que foram literalmente lavadas pelas chuvas. A atividade dos animais diurnos, que eventualmente poderiam ser observados diretamente durante nossas atividades e deslocamentos em campo também ficou bastante prejudicada pelas chuvas, reduzindo o registro das espécies também por este método.

354 Quadro 2.5.5.2-1. Ponto, habitat, coordenada geográfica e descrição dos locais amostrados para a coleta de pequenos mamíferos terrestres na Serra do Expedito, Município de Aripuanã/MT. Ponto I II IV Habitat amostrado Floresta Ombrófila/ Floresta de encosta Floresta Ombrófila Floresta Ombrófila Coordenada Geográfica S 10º 03' 11,7'' W 59º 29' 38,9'' S 10º 04' 16,3'' W 59º 29' 17,5'' S 10º 02' 34,8'' W 59º 29' 33,8'' 2.5.5.2.1. Armadilhas live-trap Descrição dos Locais Amostrados AID; topo da Serra Expedito. Floresta Ombrófila densa com serapilheira espessa e palmeiras. AID; 2 km sudeste da Serra Expedito. Floresta Ombrófila aberta com árvores esparsas de 20 m de altura, muitos babaçus, serapilheira rala. AII; cerca de 1 km sudoeste da Serra do Expedito, localizado na margem esquerda da estrada que dá acesso a Serra do Expedito. Área de floresta ombrófila aberta com sinais de antropização (retirada de madeira). Nesta campanha apenas foram utilizadas armadilhas do tipo Sherman e cada ponto de amostragem teve 23 armadilhas instaladas, em um transecto linear, distantes 15m entre si e intercaladas em posição, i. e., uma no alto (cerca de 1,5 m do chão, atadas com elásticos a galhos, lianas ou cipós) e uma no solo. As iscas utilizadas foram as mesmas já descritas; as armadilhas permaneceram no campo por três noites consecutivas, sendo checadas e reiscadas todas as manhãs. 2.5.5.2.2. Armadilhas de interceptação e queda (AIQ) Nesta campanha o método de AIQ teve o esforço de amostragem aumentado de cinco recipientes por conjunto (campanhas de inventário) para seis recipientes por conjunto, aumentando também a extensão da cerca-guia de cada conjunto de 20 metros para 45 metros. Os recipientes utilizados também foram maiores nesta campanha, sendo usados baldes de 60 litros ao invés de 30 litros como nas campanhas anteriores. O esforço total obtido na campanha de monitoramento com recipientes de 60 litros foi de 90 dias-recipiente, 30 dias-recipiente por área.

355 O procedimento realizado com os animais capturados por ambos os métodos de captura segue o mesmo padrão realizado nas campanhas do inventário, com a coleta de dados biométricos e ecológicos e o colecionamento científico para posterior depósito na Coleção de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 2.5.5.3. Resultados A coleta de dados desta campanha foi muito prejudicada em função das chuvas na área de estudo durante os trabalhos de campo. Pouquíssimos registros por observação direta e indireta foram feitos; ainda assim, estas escassas informações apontam para importantes representantes da fauna de mamíferos da Serra do Expedito, Aripuanã/MT. Os métodos de captura de pequenos mamíferos terrestres juntos somam nove exemplares de sete espécies: quatro marsupiais didelfídeos, dois roedores cricetídeos e um roedor equimídeo (Tabela 2.5.5.3-1). Tabela 2.5.5.3-1. Espécies de pequenos mamíferos terrestres e número de indivíduos capturados, método e área da captura da primeira campanha de monitoramento na Serra do Expedito, Município de Aripuanã/MT. Família/Espécie N de indivíduos Método Área DIDELPHIMORPHIA Didelphidae Didelphis marsupialis 01 AIQ II Marmosops cf. bishopi 03 AIQ I(1), II (2) Monodelphis emiliae 01 AIQ I Micoureus demerarae 01 live trap II RODENTIA Cricetidae Neacomys spinosus 01 AIQ I Oxymycterus amazonicus 01 AIQ I Echimyidae Mesomys hispidus 01 AIQ II

356 2.5.5.3.1. Armadilha live-trap Apenas um espécime de marsupial (Micoureus demerarae) foi coletado pelas armadilhas de captura-viva (live-trap) durante as três noites de coleta, representando um sucesso de captura total de 0,5% e de 1,4% para a área II, local onde foi capturado. 2.5.5.3.2. Armadilha de interceptação e queda (AIQ) to espécimes de seis espécies foram capturados por este método, três marsupiais didelfídeos, dois roedores cricetídeos e um roedor equimídeo. Quatro indivíduos foram coletados em cada uma das duas áreas onde houve coleta, representando uma taxa de captura de 13,3 indivíduos/dia-recipiente por área e uma taxa total de captura de 8,9 indivíduos/dia-recipiente. 2.5.5.3.3. Observação direta e indireta Como mencionado anteriormente, as condições climáticas registradas na área durante as atividades em campo prejudicaram os registros da fauna de mamíferos de médio e grande porte pelos métodos de observação direta e indireta. A despeito dessas condições adversas, pelo menos doze bandos de cinco espécies de primatas foram avistados e outras dez espécies tiveram seus rastros reconhecidas e/ou foram avistadas (Tabela 2.5.5.3.3-1). De um modo geral, comparando os resultados obtidos pelos esforços desta campanha com os esforços realizados anteriormente para o EIA deste empreendimento, apresentados no Quadro 2.5.3-1 (com a compilação de informações de origem primária e secundária para a região de Aripuanã, especialmente para as margens do Rio Aripuanã), pode-se dizer que a fauna de mamíferos da Serra do Expedito manteve sua integridade, especialmente na área restrita do empreendimento. Por outro lado, as áreas externas ao empreendimento (área III, em 2008 e área IV, em 2012) continuam sujeitas à exploração florestal, atualmente com a extração de madeiras. Como decorrência da atividade antrópica ocorre a redução da complexidade e

357 da heterogeneidade do habitat, com efeitos sobre a estrutura da comunidade de mamíferos (August, 1983). Tabela 2.5.5.3.3-1. Espécies de mamíferos terrestres, de médio e grande porte, registradas pelos métodos de observação direta e indireta durante a primeira campanha de monitoramento na Serra do Expedito, Município de Aripuanã/MT. N de indivíduos Família/Espécie Método Área avistados ORDEM XENARTHRA Família Dasypodidae Dasypus novemcinctus 01 OD/OI IV/II ORDEM PRIMATES Família Cebidae Sapajus apella 6-8 OD I, II e IV Mico intermedius 6-8 OD II e IV Família Pitheciidae Callicebus cinerascens 5-7 OD II e IV Família Atelidae Ateles chamek 4-9 OD II e IV Lagothrix cana 5-8 OD II e IV ORDEM CARNIVORA Família Canidae Cerdocyon thous 01 OD IV Família Procyonidae Procyon cancrivorus 01 OD IV Nasua nasua 3-4 OD IV ORDEM PERISSODACTYLA Família Tapiridae Tapirus terrestres 01 OD/OI II ORDEM ARTIODACTYLA Família Tayassuidae Pecari tajacu 10-12 OD/OI II Família Cervidae Mazama sp. 01 OD/OI II ORDEM RODENTIA Família Caviidae Cuniculs paca OI II e IV Dasyprocta cf. azarae Hydrochoerus hydrochaeris 01 OD IV