AS AÇÕES DE ENFERMAGEM NO CUIDADO À GESTANTE: UM DESAFIO À ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE

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Transcrição:

AS AÇÕES DE ENFERMAGEM NO CUIDADO À GESTANTE: UM DESAFIO À ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE GARCIA, E. S. G. F 1.; ROCHA, L. C. T. 2.; LEITE, E. P. R. C 3.; CLAPIS, M. J 4. *1Enfermeira Obstetra. Docente do Centro Universitário do Sul de Minas. Doutoranda em Saúde Pública pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo/Ribeirão Preto EEUSP/RP. Email: estefania.felix79@yahoo.com.br 2 Enfermeira. Discente do curso de Pós-Graduação em Urgência e Emergência UNIS/MG 3 Enfermeira Obstetra. Docente adjunto da IV da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Alfenas. 4 Enfermeira. Docente Associada do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo Palavras-chave: Enfermagem. Cuidado Pré-Natal. Competência Profissional. Enfermagem Obstétrica Linha de pesquisa: Enfermagem e saúde materno-infantil Objetivo: verificar as ações desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem na assistência às gestantes em unidades de atenção primária à saúde. Métodos: estudo descritivo e transversal com abordagem quantitative, realizado em um município do Sul de Minas Gerais, que observou 134 gestantes em consulta de pré-natal pela equipe de enfermagem. O levantamento das ações desempenhadas pelos nove profissionais ocorreu por meio da observação sistemática e utilizou-se um instrumento que abordou as melhores evidências científicas da prática obstétrica. A análise foi apresentada por meio de tabelas de contingência, frequência absoluta e percentual. Resultados: dentre as ações realizadas na pré-consulta a aferição da pressão arterial foi de 97,7%. Quanto às orientações realizadas pelos profissionais sobre o aleitamento materno e teste do pezinho constatou-se uma percentagem de 30,59% e 74,35%, respectivamente. Conclusão: constatou-se que os profissionais desenvolvem a consulta de pré-natal de forma incomplete e não sistematizada. Ressalta-se que a educação permanente voltada para as competências essenciais em obstetrícia pode ofertar uma assistência integral e de qualidade. INTRODUÇÃO A mortalidade materna é um bom indicador para avaliar as condições de saúde e de vida de uma população e constitui um desafio para a saúde pública no prisma da assistência pré-natal, representando abuso dos direitos humanos das mulheres (FERRAZ e BORDIGNON, 2012). No Brasil, desde os anos de 1990, nota-se uma cobertura crescente da assistência pré-natal (VIELLAS et al., 2014), alcançando valores superiores a 90% em todas as regiões do país e em mulheres com diferentes características demográficas, sociais e reprodutivas (BERNARDES et al., 2014).

Sabe-se que o cuidado pré-natal contribui para o bem-estar materno e fetal, mas, mesmo com essa cobertura crescente, o que se vê, em geral nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, é a carência dessa atenção. A qualificação do profissional que atua na atenção ao pré-natal deve sempre ser implementada na perspectiva de garantir uma boa condição de saúde para o binômio mãe e filho. Para tanto, é necessário a conscientização e capacitação dos profissionais envolvidos no processo assistencial, assim deve-se aliar o conhecimento técnico científico ao compromisso com um resultado satisfatório para atenção em saúde (BRASIL, 2010). A atuação da equipe de enfermagem na assistência à mulher em qualquer fase do período gestacional e puerperal faz-se muito importante. Visto que ao longo das consultas do pré-natal há um fortalecimento do vínculo entre a gestante e os profissionais de enfermagem. Entretanto, estudos evidenciam que a atuação da equipe de enfermagem na assistência a mulher no ciclo grávido puerperal está deficitária, principalmente no que se diz respeito às competências específicas da obstetrícia. Isso se torna um fator negativo para a qualidade da assistência, pois leva esse profissional a utilizar intervenções desnecessárias em detrimento de práticas baseadas em evidências científicas (DOTTO, MAMEDE, MAMEDE, 2008; LEITE E CLÁPIS, 2010; NARCHI, 2011). As barreiras pessoais e institucionais com que os membros da equipe de enfermagem se deparam impedem a assistência qualificada. Tal fato evidencia a necessidade de um melhor investimento não somente na formação, mas também na qualificação permanente desses profissionais, bem como na reorganização dos serviços para que haja incorporação de protocolos assistenciais, a fim de melhorar a qualidade no atendimento à população alvo (NARCHI, 2011). Nesta perspectiva, a Organização Mundial de Saúde, a Organização Pan- Americana de Saúde e o Ministério da Saúde (OMS/OPAS/MS) vêm dando ênfase à área de saúde da mulher com intuito de reduzir os índices de morbimortalidade materna e neonatal. Logo a relevância do presente estudo pauta-se na importância de conhecer a atuação da equipe de enfermagem para o alcance de uma assistência qualificada no ciclo grávido puerperal. Dessa maneira, a qualificação dos profissionais responsáveis pelo atendimento às gestantes e as ações desenvolvidas por eles no pré-natal é uma forma de compreender a prática institucional bem como de evidenciar a necessidade de estratégias que favoreçam a participação efetiva do profissional enfermeiro na assistência obstétrica. Por conseguinte e dada à importância da atenção qualificada oferecida pelo profissional de enfermagem às gestantes no pré-natal, surge a seguinte questão: Quais as ações são desenvolvidas pela equipe de enfermagem na atenção às gestantes do estudo? OBJETIVO Verificar as ações desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem na assistência às gestantes em Unidades de Atenção Primária à Saúde em um município do Sul de Minas Gerais. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo e transversal, com abordagem quantitativa. A coleta de dados ocorreu em quatro unidades de Atenção Primária à Saúde do sistema público, localizada sem um município do Sul de Minas Gerais, no ano de 2011. A coleta

de dados foi realizada através da observação sistemática e não participante do desempenho das atividades desenvolvidas pelas enfermeiras na atenção a 34 gestantes no período de agosto a dezembro de 2011, utilizando-se de um instrumento na forma de check-list, elaborado para o estudo sobre atenção qualificada no ciclo grávido-puerperal em Rio Branco/AC, sendo sua utilização autorizada pela autora. Participaram deste estudo cinco enfermeiros e quatro técnicos de enfermagem. O estudo foi a provado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alfenas UNIFAL-MG, sob o protocolo nº 147/2011. RESULTADOS E DISCUSSÃO A pré-consulta realizada às gestantes foram realizadas em 34,33% por técnicos de enfermagem; 35,82% por acadêmicos de enfermagem da UNIFAL-MG, ainda que não foram sujeitos da pesquisa, e 27,61% pelos enfermeiros. Dentre as ações realizadas na pré-consulta a aferição da pressão arterial (PA) foi de 97,7%. O exame clínico obstétrico consiste no exame das mamas; na ausculta do batimento cardio-fetal e na palpação obstétrica. Estes são procedimentos de suma importância para uma atenção qualificada à gestante e não foram realizados pelas enfermeiras da UBS. Nas USFs as enfermeiras realizaram, porém em uma frequência pouco expressiva, como pode ser visto na Tabela abaixo. Tabela 1 - Distribuição de frequências dos procedimentos realizados no exame obstétrico pelas enfermeiras das unidades de atenção primária à saúde do município de Alfenas (MG), segundo as instituições estudadas. Alfenas, agosto a dezembro de 2011. UBS USFs Total Exame clínico obstétrico Exame das mamas - - 07 7,36 07 5,22 Ausculta do BCF* - - 26 27,73 26 19,40 Posição Fetal - - 16 16,84 16 11,94 Fonte: o autor No que corresponde às ações de exame físico obstétrico, a ausculta dos batimentos cardio-fetais (BCFs) foi evidenciada em 27,73% das gestantes, índice considerado baixo pela relevância do procedimento. A ausculta dos batimentos cardiofetais tem por objetivo constatar a cada consulta a presença, ritmo, frequência e a anormalidade dos batimentos cardíacos dos fetos. Destaca-se que tal verificação é de grande importância, uma vez que ela indica a vitalidade fetal. Estudo realizado por Dotto, Mamede e Mamede (2008) revela o envolvimento de toda a equipe de enfermagem na execução desse procedimento. Constataram ainda, que a maioria das enfermeiras demonstrou não apresentar dificuldades nessa ausculta, com o Sonar Doppler, indicando que importantes atividades de acompanhamento pré-natal foram asseguradas em seu processo de formação. Entende-se que as atividades citadas são habilidades (saber-fazer) que exigem esforços para atingir a proficiência. As habilidades se constroem ao sabor de um

treinamento, com experiências renovadas, quando o profissional tem oportunidade para exercitá-las alcançando largo conhecimento (saber) para terem atitudes (saber-ser) diante das situações de risco que as gestantes possam vivenciar (DOTTO; MAMEDE, 2008). CONCLUSÃO As enfermeiras, apesar de possuírem habilidades e conhecimento técnico científico para realizar a consulta de pré-natal de qualidade, se deparam com a sobrecarga de trabalho que lhes é imposta dificultando sua atuação. Apesar de evidenciadas essas habilidades, muitas competências essenciais em obstetrícia preconizadas pela Confederação Internacional das Parteiras - ICM - foram desenvolvidas de forma incompleta, com baixa frequência ou não foram desenvolvidas. Tendo em vista a responsabilidade atribuída às enfermeiras durante o pré-natal, é importante o incentivo à qualificação dessas profissionais, a fim de garantir um cuidado recomendado segundo a OMS/ICM/MS. Ressalta-se a importância da capacitação do profissional de enfermagem em relação às competências essenciais em obstetrícia para que ele permaneça atualizado com base nas melhores evidências científicas, adotando, assim, uma postura ativa no que diz respeito ao processo educativo. REFERÊNCIAS BERNARDES, Ariane C. F. et al. Inadequate prenatal care utilization and associated factors in Sao Luis, Brazil. BMC Pregnancy Childbirth, n. 14, v. 1, p. 266, 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual técnico do pré-natal e puerpério. Atenção à gestante e à puérpera no SUS. Secretaria do Estado de São Paulo, SP, 2010. DOTTO, DOTTO, Leila M. G.; MAMEDE, Marli V.; MAMEDE, Fabiana V. Desempenho das competências obstétricas na admissão e evolução do trabalho de parto: atuação do profissional de saúde. Esc. Anna Nery. Rio de Janeiro. v. 12, n. 4, p. 717-725, dec. 2008. Lelia M. G.; MAMEDE, Marli V. Atenção qualificada ao parto: a equipe de enfermagem em Rio Branco, Acre, Brasil. Rev. esc. enferm. USP [online]. v. 42, n. 2, p.331-338, 2008. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/s0080-62342008000200017>. Acesso em: 15 dez. 2016. FERRAZ, Lucimare; BORDIGNON, Maiara. Mortalidade materna no Brasil: uma realidade que precisa melhorar. Rev. Baiana Saúde Pública. n. 2, v. 36, p. 527-38, 2012. LEITE, Eliana P.C.; CLÁPIS, Maria. J. A Participação dos profissionais de enfermagem na assistência às parturientes no município de Alfenas-MG. Cogitare Enferm. v. 15, n. 4, p. 757-758, out./dez., 2010. NARCHI, Nádia Z. Exercise of essential competencies for midwifery care by nurses in São Paulo, Brazil. Midwifery. v. 27, n. 1, p. 23-29, feb., 2011.

VIELLAS, Elaine F. et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. v. 30, supl. 1, p. S85-S100, 2014.