Tendências do Mercado de Trabalho na Região Metropolitana de São Paulo.

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Tendências do Mercado de Trabalho na Região Metropolitana de São Paulo. Jefferson Mariano 1 Lívia Inglesis Barcellos 2 Luíza Alves de Moraes 3 Resumo O trabalho tem por objetivo realizar uma análise descritiva do comportamento do mercado de Trabalho na Região Metropolitana de São Paulo. Pretende a partir dessa caracterização, sinalizar evolução e tendências do comportamento de segmentos populacionais em condições de vulnerabilidade nessa região em relação à inserção no mercado de trabalho. As estatísticas relativas ao mercado de trabalho indicam que, pelo menos, até o final de 2014 a situação do Brasil era amplamente favorável, com taxas reduzidas de desocupação. Em 2015 ocorreu uma reversão dessa tendência e já se observa uma tendência de crescimento acelerado do desemprego. No entanto, apesar do quadro favorável, pelo menos até 2014 existem grupos que encontram enormes dificuldades em relação à inserção e permanência no mercado de trabalho. A pesquisa investiga quais os grupos enfrentam maiores dificuldades em relação a esse movimento. O trabalho explora os dados disponibilizados pela Pesquisa Mensal de Emprego, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE. Trata-se de um levantamento que indica a taxa oficial de desocupação no Brasil, realizado em seis regiões metropolitanas do País (Rio de janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife). Palavras chave Trabalho; Mercado de Trabalho; Emprego; Desocupação. ABSTRACT The work aims to carry out a descriptive analysis of the labor market behavior in the Greater São Paulo.It wants from this characterization to evaluate and signal trends of behaviour in certain population groups in vulnerable conditions. Statistics in the region when entering the labor market indicate that at least until 2014 the situation in Brazil was largely favorable, with low vacancy rates. In 2015 there was a reversal of this trend and could be observed a trend of accelerated growth on unemployment rates. However, despite the favorable framework, at least until 2014 there were groups that had enormous difficulties with regards entering and remaining in the labor market. The research 1 Doutor em Desenvolvimento Econômico (Unicamp) e Analista Socioeconômico (IBGE) 2 Graduanda em Comunicação Social (PUC-SP) e Estagiária (IBGE) 3 Graduanda em Comunicação Social (Mackenzie) e Estagiária (IBGE).

investigates which groups face greater difficulties in relation to this movement. The paper explores the data provided by the Monthly Employment Survey, conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics - IBGE. It is a survey that indicates the official rate of unemployment in Brazil, conducted in six metropolitan regions (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador and Recife). KEYWORDS Work; Job market; Employment; Unemployment Introdução A partir da análise dos indicadores relativos ao mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é possível verificar um quadro de profundas diferenças no conjunto da população no que se refere aos indicadores de desemprego. Destaca-se também que dependendo da faixa etária pertencente há um distanciamento muito intenso das médias de taxas de desocupação. Desse modo, quais seriam as principais características da população mais suscetível ao desemprego e as perspectivas em relação a evolução do comportamento desse mercado, especialmente no caso das camadas mais vulneráveis da população? Com a leitura dos dados disponíveis nas estatísticas relativas ao mercado de trabalho na Região em questão é possível observar profundas diferenças em relação às taxas de desemprego. Acredita-se que existam faixas etárias que enfrentem maiores dificuldades em relação à inserção no mercado de trabalho, especialmente os trabalhadores jovens e que buscam o primeiro emprego. Outra dimensão importante do desemprego está relacionada à escolaridade da mão de obra. Pastore (1994) aponta a baixa escolaridade da mão de obra como um obstáculo para que parcela da população encontre inserção no mercado de trabalho. Todavia, os dados disponíveis não sugerem essa tendência. O que se percebe é que há um grande contingente de trabalhadores desempregados com elevada qualificação profissional e nível de escolaridade. Outra hipótese verificada, a partir das bases consultadas é que é

muito difícil afirmar que o Brasil tenha presenciado uma situação de pleno emprego, como chegou a ser sugerido por vários economistas. Esse cenário só ocorreu para um grupo muito específico da população. No Brasil, apesar do crescimento e diversificação das atividades produtivas nas últimas décadas, ainda é elevada a informalidade e essa assertiva pode ser validada a partir da observação do quantitativo de trabalhadores na condição de conta própria (pessoas que trabalham explorando seu próprio negócio, sozinha ou com sócio). Gráfico 1 Distribuição da População Ocupada de 10 anos ou mais de idade segundo Posição na Ocupação Brasil 2000/2010. Em Percentual. 50 45 40 36,5 45,3 35 30 25 20 15 24,5 23,5 20,2 21,5 Carteira Assinada Sem Carteira Assinada Estatutário Conta Própria 10 5,6 5,4 5 0 2000 2010 IBGE Censos Demográficos 2000 e 2010. Na comparação entre os censos 2000 e 2010 é possível perceber um avanço do grau de formalização do mercado de trabalho brasileiro com o crescimento no percentual de trabalhadores com carteira assinada. No entanto, ainda era grande o contingente de trabalhadores sem proteção (sem carteira ou conta própria). Ressalte-se que no âmbito da literatura da sociologia do trabalho há um profundo debate relativo a definições em torno do conceito de informalidade. Os autores Rosenfield e Almeida (2014) relativizam os aspectos de fragilidade

desse modo de inserção no mercado de trabalho, destacando uma maior autonomia em relação à subordinação do assalariamento, apesar dos problemas relativos à inexistência de proteção social. Há ainda leituras que apontam a natureza complementar das atividades informais para a economia brasileira. Segundo Hart (2010) as atividades autônomas apresentam potencial de geração de renda entre as camadas mais pobres da população que, de certo modo, não são absorvidas pelo mercado formal de trabalho. Porém, é inegável que esse processo tende a fazer com que se cristalize um contingente de trabalhadores que ao longo de toda sua atividade laboral passe ao largo de qualquer sistema de proteção social, e, mesmo em contexto de crescimento a economia seja incapaz de absorver essa mão de obra. No texto de Costa (2010) é possível observar que não se trata de um fenômeno recente pois, A constituição de um mercado formal de trabalho, que, no auge do período de crescimento econômico, a década de 70, atingiu apenas 50% da população economicamente ativa, conviveu pari passu com a expansão de todo complexo de formas de trabalho informal em pequenas empresas de fundo de quintal, no campo, e nas inúmeras e precárias formas de trabalho autônomo ou doméstico, cujos padrões de contratação e assalariamento passavam ao largo da legislação trabalhista e social e de qualquer possibilidade de representação coletiva (Costa, 2010, p174). No presente trabalho há uma separação entre os dois grupos trabalhadores sem carteira assinada e conta-própria. Apesar de ambos enfrentarem situação de fragilidade especialmente em relação a integração a sistema de proteção social, os trabalhadores sem carteira estão em situação de ilegalidade. Ou seja, a legislação brasileira não permite que as empresas estabeleçam essa modalidade de contratação.

A Região Metropolitana de São Paulo A Região Metropolitana de São Paulo possui importante participação na economia do País e do Estado de São Paulo. Parte significativa da produção industrial e das atividades de serviços para as empresas concentra-se nessa Região, que é composta por 39 municípios. Com população superior a 18 milhões de habitantes, representa o principal mercado consumidor da América Latina. Em decorrência disso, corresponde também a principal concentração de trabalhadores e desse modo, ao maior mercado de trabalho do País. O dinamismo desse mercado e a dimensão da oferta de trabalho faz com que a região seja também polo de atração de trabalhadores de outras regiões do País. Parcela da mão de obra inserida nos setores mais dinâmicos da economia do país e do Estado está nessa região, em razão da importância de seu polo industrial. Por exemplo, mesmo no estado de São Paulo é possível observar a grande concentração da atividade indústria de transformação na região. Cartograma 1 Pessoas Ocupadas na Indústria de Transformação. Municípios do Estado de São Paulo - 2013

Em razão dessa estrutura, a região apresenta, em termos proporcionais, uma das maiores participações de trabalhadores formalizados (com carteira assinada e estatutários). Inclusive, se observada a série histórica da evolução do perfil desse mercado constata-se o aumento do grau de formalização ao longo dos últimos anos. Em 2000 os trabalhadores com carteira assinada representavam 36,46% do total e em 2010 passaram para 45,29%. Adiciona-se a esse contexto a evolução positiva da variação do salário médio real ao longo do período. Somente entre 2004 e 2012 ocorreu um aumento em termos reais de 63,25% no salário mínimo (Leite; Salas, 2014). Desse modo, é lícito afirmar que em termos gerais houve significativo avanço desse mercado no Brasil. Tabela 1 Pessoas com 10 anos ou mais, ocupadas, por posição na ocupação. Brasil - 2010. Em percentual. Participação Posição na ocupação 2000 2010 Total 100,00 100,00 Empregados - com carteira de trabalho assinada 36,46 45,29 Empregados - militares e funcionários públicos estatutários 5,63 5,39 Empregados - sem carteira de trabalho assinada 24,49 20,17 Não remunerados em ajuda a membro do domicílio 3,97 1,72 Trabalhadores na produção para o próprio consumo 3,10 4,01 Empregadores 2,89 1,97 Conta própria 23,46 21,46 IBGE - Censos Demográficos. Os indicadores de desocupação na região também apresentaram o mesmo comportamento. Houve uma intensa queda nas taxas ao longo desse período. Em 2014, a desocupação chegou ao patamar mais baixo, sinalizando uma situação muito próxima de pleno emprego. Nos últimos anos, apesar da redução da expansão do crescimento da economia, pelo menos até 2014, as taxas de desocupação no Brasil mantiveram-se em patamares muito baixos. O mesmo pode ser observado na RMSP.

14 Gráfico 2 Taxa de Desocupação na RMSP 2002/2014 (meses de dezembro) 12 10 8 6 4 2 0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 IBGE: Pesquisa Mensal de Emprego Porém, as taxas de desocupação correspondem a uma média ponderada. Desse modo, os pesos são diferenciados em função da região, setores de atividade e faixa etária da população economicamente ativa. O mercado de trabalho O principal indicador conjuntural é obtido pela Pesquisa Mensal de Emprego, elaborado pelo IBGE, que possibilita observar informações relativas ao mercado de trabalho na Região. Segundo essa pesquisa, a população ocupada compreende pessoas que tinham trabalho na semana de referência. Essas são divididas em algumas categorias de posição na ocupação: Empregados com e sem carteira assinada; Trabalhadores por conta própria; Empregadores; Não remunerados (auxilio a membro de unidade familiar que era empregado); Não remunerados (auxilio ao membro de unidade familiar que era conta própria ou empregador);

Militares e funcionários públicos estatutários; Os dados mais recentes da pesquisa (agosto de 2015) indicavam a existência de aproximadamente nove milhões de pessoas ocupadas na semana de referência. A população ocupada é compreendida por pessoas que tinham desenvolvido pelo menos uma hora de trabalho na semana de referência. Como já destacado, o mercado de trabalho da região seguiu, em certa medida, a mesma tendência observada no País. Ressalte-se que esse fato se deve em grande parte ao peso que essa região representa nas principais pesquisas socioeconômicas. Os problemas do mercado de trabalho: pessoas mais vulneráveis. Alguns problemas se apresentam para o mercado de trabalho do Brasil e de modo específico para a região, em relação à caracterização das pessoas desocupadas e às categorias de posição na ocupação. Em relação à desocupação, é importante destacar que os valores correspondem a uma média. No entanto, existem diferenças em relação aos grupos populacionais. As taxas se apresentam muito mais elevadas entre a população jovem. Ao longo da série histórica disponível a situação ficou ainda mais crítica. Em 2002 a desocupação entre os jovens de 15 a 17 anos estava em 32,5%, mas em 2014 alcançou 40,3%. Tabela 2 Taxa de desocupação na Região metropolitana de São Paulo 2002/2015 (Meses de Dezembro) Grupos de idade Período 2002 2015 15 a 17 anos 32,5 40,3 18 a 24 anos 20,3 21,0 25 a 49 anos 9,2 6,6 50 anos ou mais 5,2 2,7 IBGE: Pesquisa Mensal de Emprego

É verdade que se trata de um fenômeno de amplitude global. Mesmo os países da zona do euro enfrentam problemas relacionados ao desemprego entre a população jovem e as dificuldades de inserção no mercado em busca do primeiro trabalho. (MARIANO, 2015) No Brasil, esse quadro se agrava em razão da existência de um grande grupo de jovens que, além de não trabalharem, também não estão inseridos no mercado de trabalho. Assim, trabalhadores jovens, muitos com elevado nível de ensino, integram o grupo de pessoas com maiores dificuldades em relação à inserção no mercado de trabalho. Os dados da última divulgação apontam que 64,79% dos trabalhadores desocupados possuíam mais de 11 anos de estudo, e apenas 11,26% tinham menos de 8 anos de estudo. Gráfico 3 Trabalhadores desocupados por anos de estudo. RMSP - Agosto de 2015 23,95 3,2 64,79 Mais de 11 anos entre 8 e 10 anos menos de 8 anos IBGE - Pesquisa Mensal de Emprego - 2015 Outra dimensão que possibilita identificar fragilidade em relação à inserção no mercado de trabalho está associada à situação de ocupação. Os dados

disponibilizados na tabela 1 apontam o crescimento nas modalidades de inserção mais precárias. Na RMSP, houve crescimento no número de trabalhadores por conta própria, ao contrário das demais categorias, de agosto de 2014 para mesmo mês de referência em 2015. Somente no último ano (2015) houve crescimento de 5% desse grupo, o equivalente a 81 mil pessoas a mais trabalhando por conta própria. Deve-se destacar que além da ausência de proteção, esse grupo de trabalhadores recebe rendimentos inferiores aos empregados com carteira assinada. É importante destacar esse crescimento do número de trabalhadores nessa categoria, uma vez que se trata de modo de inserção precária no mercado de trabalho. Ou seja, trabalhadores sem proteção alguma. Ressalte-se que parcela desses trabalhadores aparece na Pesquisa de Emprego e desemprego (Dieese/Seade), na classificação de desemprego oculto por trabalho precário. Soma-se aos contra própria o expressivo contingente de trabalhadores sem carteira assinada. As assimetrias entre as cidades da RMSP. Outro aspecto importante, que possibilita identificar as pessoas em condições menos favoráveis nesse mercado, diz respeito à distribuição dessa população nos municípios que integram a Região. Existe uma limitação das pesquisas conjunturais, no sentido de levantar informações sobre esse mercado para municípios. Muitas vezes, em razão do desenho amostral dessas pesquisas, não é possível obter valores com qualidade para esse nível territorial. No entanto, informações disponíveis nos censos demográficos permitem estabelecer alguns aspectos do mercado, referentes a esses municípios. Por exemplo, como já destacado, entre 2000 e 2010 houve queda no número de trabalhadores sem carteira, porém aumentou o contingente de conta-própria. Porém, a soma dessas duas categorias aponta um quadro em que quase metade dos trabalhadores dessas localidades enfrenta condições bastante precárias de trabalho. No Brasil, por exemplo, a soma dessas duas categorias correspondia a 41% da população economicamente ativa.

Desse modo percebe-se que há dois movimentos em curso no que se refere ao comportamento desse grupo de trabalhadores. Em termos conjunturais percebe-se o agravamento em decorrência da desaceleração da atividade econômica e, em termos estruturais, da incapacidade do mercado de trabalho em absorver trabalhadores mesmo em contexto de expansão da atividade produtiva, como foi possível observar especialmente ao longo da última década. Ao longo desse período, os municípios da Região Metropolitana de São Paulo apresentavam números próximos da média da região em relação à participação dos trabalhadores conta-própria, próximo de 18%. Há outro problema relacionado à estrutura produtiva desses municípios. A organização das atividades econômicas não possibilita o incremento na oferta de trabalho. Basta observar a distribuição das atividades. Um número reduzido de municípios possui estrutura produtiva diversificada. Os menores e mais periféricos dependem basicamente das atividades associadas à administração pública. De acordo com a tabela 3 na Cidade de São Paulo e municípios com estrutura produtiva mais diversificada, a participação do Valor Adicionado da Administração Pública e Serviços Públicos correspondia a 7,32% do total. Ou seja, nesse caso, maior parcela das atividades econômicas advém da atuação dos setores industriais e de serviços. Na outra extremidade, há um conjunto de cidades com expressiva participação da administração pública no Valor Adicionado do município. Nesse caso, a presença de atividade econômica é muito reduzida. Trata-se inclusive de localidades cuja maior parcela da receita advém de transferências constitucionais e reduzida presença de receita própria.

Tabela 3 Participação do valor adicionado bruto da administração pública em relação ao total do município. Municípios da Região Metropolitana de São Paulo 2013 Em percentual Município % Município % Município % Barueri 4.01 Arujá 11.08 Guararema 17.30 Cajamar 4.59 Embu das Artes 11.10 Biritiba-Mirim 17.59 Osasco 5.81 Caieiras 11.14 Poá 18.11 São Caetano do Sul 6.99 Taboão da Serra 12.04 Rio Gde da Serra 19.20 São Paulo 7.32 Suzano 12.73 Carapicuíba 20.25 São Bernardo do Campo 7.74 Itapecerica da Serra 12.79 Itaquaquecetuba 21.35 Itapevi 8.49 Mauá 12.96 Salesópolis 21.59 Cotia 8.50 Vargem Gde. Paulista 13.15 F. Vasconcelos 21.80 Guarulhos 8.85 Ribeirão Pires 14.32 São Lourenço da Serra 23.14 Santana de Parnaíba 8.98 Franco da Rocha 14.89 Embu-Guaçu 23.57 Diadema 10.38 Santa Isabel 15.20 Juquitiba 25.65 Mogi das Cruzes 10.75 Jandira 16.23 Francisco Morato 32.16 Santo André 10.90 Mairiporã 16.26 Pirapora Bom Jesus 33.08 IBGE Produto Interno Bruto dos Municípios do Brasil 2013. Esse aspecto faz com que trabalhadores desses municípios tenham que promover grandes deslocamentos, não só para trabalho como para escola. De acordo com a tabela 4, na capital apenas 1,1% dos residentes realizam deslocamentos para outros municípios com intuito de trabalhar ou estudar. Nos municípios caracterizados como cidades dormitório esse percentual é muito elevado. Em Ferraz de Vasconcelos, Francisco Morato, Poá, Rio Grande da Serra Taboão da Serra e Jandira esse percentual apresentam proporção superior a 20%. São Caetano do Sul não se enquadra nessa categoria em razão da grande participação das atividades econômicas de indústria e serviços. No entanto, apresenta também movimentos pendulares superior a 20% em razão do porte (149,3 mil habitantes) e da proximidade em relação à capital.

Tabela 4 Percentual de pessoas que estudavam ou trabalhavam em outro município Municípios da Região Metropolitana de São Paulo - 2010 Município % Município % Município % São Paulo 1.10 Cotia 11.61 Mauá 17.21 Juquitiba 4.02 Barueri 11.76 Itapevi 17.55 Santa Isabel 5.43 São Bernardo do Campo 11.82 Osasco 17.89 Salesópolis 5.80 Vargem Grande Paulista 12.12 Caieiras 17.94 Mogi das Cruzes 6.0 Pirapora do Bom Jesus 13.91 Santana de Parnaíba 18.2 Cajamar 6.61 Arujá 14.06 F. de Vasconcelos 20.23 Guararema 7.41 Diadema 14.48 São Caetano do Sul 20.35 Biritiba-Mirim 8.06 Santo André 14.71 Francisco Morato 21.04 S. Lourenço da Serra 8.41 apecerica da Serra 15.78 Carapicuíba 21.07 Guarulhos 8.84 Itaquaquecetuba 16.38 Poá 21.45 Embu-Guaçu 8.93 Franco da Rocha 16.93 Rio Grande da Serra 21.49 Suzano 10.39 Ribeirão Pires 17.08 Taboão da Serra 22.12 Mairiporã 10.59 Embu das Artes 17.14 Jandira 22.65 IBGE: Censo Demográfico 2010 E o agravante é que em sua maioria exercem as atividades que oferecem as condições mais precárias de inserção nesse mercado. Considerações Finais O trabalho em questão pretendeu observar o comportamento do mercado de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo e alguns aspectos para os municípios dessa região. Foi possível observar que se trata de uma região com um mercado dinâmico, porém com muitas assimetrias. Dos principais problemas encontrados, vale destacar especialmente os municípios menos dinâmicos, cuja estrutura econômica não possibilita a geração de empregos de modo a absorver a demanda local por trabalho. Outro aspecto desse estudo evidencia que, apesar da redução nas taxas de desocupação pelo menos até 2014, a população jovem enfrenta maiores dificuldades em relação à inserção no mercado de trabalho. Além disso, o mercado da região ainda enfrenta obstáculos para reduzir as formas precárias de trabalho. Esse aspecto se traduz na falta de dinamismo das atividades econômicas desses municípios. Em razão desse fenômeno, observou-se um grande número de movimentos pendulares, ou seja, residentes nos municípios com estruturas

econômicas menos desenvolvidas, deslocando-se para outros para trabalhar ou mesmo estudar. Desse modo, acredita-se que a redução das assimetrias no mercado de trabalho da região, especialmente com vistas a atender parcelas mais fragilizadas nesse mercado, tenha que necessariamente buscar por ações integradas que envolvam instâncias decisórias em um nível superior ao poder local. Referências Bibliográficas: ALMEIDA, M. (2012). O complicado debate sobre desindustrialização. Radar. Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura - n. 21 (ago. 2012) - Brasília: IPEA, 2012. BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos; MARCONI, Nelson. Existe doença holandesa no Brasil?. IN: BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos (org.). Doença Holandesa e Indústria. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2010. COSTA, M.S. Trabalho Informal: um problema estrutural básico no entendimento das desigualdades na sociedade brasileira. Caderno CRH, v. 23, n.58,2010. FUNDAÇÃO SEADE. Pesquisa de Emprego e Desemprego. São Paulo, 2012. HART, K. Informal Economy. In: HART, K; LAVILLE, J; CATTANI, A.D.(Org). The human economy: a citizen s guide. Cambridge: Polity Press, 2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Mensal de Emprego. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_ nova/default.shtm. Acesso em 01 de out. 2015. Censo Demográfico 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site.php#populacao. Acesso em 01 de out. 2015.

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