A TERRITORIALIZAÇÃO DE EVENTOS PARA O RECONHECIMENTO DA SEXUALIDADE LGBT s

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Transcrição:

A TERRITORIALIZAÇÃO DE EVENTOS PARA O RECONHECIMENTO DA SEXUALIDADE LGBT s DAL FORNO, Leandro 1 COSTA, Benhur Pinos da 2 Palavras-chave: Territorialização. Sexualidade. Redes Virtuais. Reconhecimento. Introdução Entender a materialização das atividades de reconhecimento social dos grupos LGBT s Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros principalmente pela emergência de eventos políticos e culturais, é o principal foco de nossa pesquisa. Mas para adentrarmos nesse mundo, inicialmente, o trabalho se propõe a apresentar e resgatar o surgimento do movimento LGBT no Brasil, e sua importância para a construção de enfrentamentos na desconstrução de uma sociedade heteronormativa, bem como suas lutas para o reconhecimento da sexualidade. Também busca compreender, através de conceitos de diferentes autores uma definição clara e objetiva do sentido de território e territorialidade, base fundamental para que a materialização dos eventos LGBT s ocorra. Assim, os territórios e as territorialidades tornam-se as categorias essenciais para nossa pesquisa, pois na condição de um espaço social heteronormativo (COSTA, 2008), territorializações e territorialidades contra-norma começam a se tecer. Observaremos também a construção de redes virtuais na organização dessas dinâmicas sociais. Entender a importância da construção de espaços de sociabilidade virtual para a efetivação material dos eventos que se referem às políticas de lutas pelo reconhecimento das diversidades sexuais são indispensáveis neste processo, ou seja, a expansão e consolidação do meio-técnico-científico-informacional como se refere SANTOS (1999) se estabelece pela disseminação de redes técnicas que produz o território, assim como o cotidiano (SANTOS, 1996), ou seja, o saber e o fazer cotidiano. Tal meio engessa e normatiza o cotidiano ditado pelo ordenamento imposto pela rede, mas, por outro lado, são pelas próprias redes técnicas normatizadoras que certos sujeitos podem dar vazão aos seus desejos e afetividades, 1 Jornalista Graduado em Comunicação Social Universidade de Cruz Alta UNICRUZ, mestrando do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria UFSM, le.forno@gmail.com 2 Prof. Dr. Orientador do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria UFSM, benpinos@gmail.com

assim como dinamizarem suas lutas de reconhecimento. E para tanto, este trabalho tem como ponto de apoio na práxis investigativa a Festa da Diversidade, realizada na cidade de Cruz Alta-RS. Metodologia As contribuições que a Geografia vem trazendo para a sociedade são resultados das intensas análises, discussões, debates, divergências e até mesmo de profundos enfrentamentos teórico/metodológicos que marcam uma revisão de seus paradigmas e conceitos, o que demonstra que à ciência geográfica vem passando por diversas críticas e transformações provocadas pelas mudanças culturais advindas de abordagens científicas desafiadoras, como a de gênero e sexualidade. Como nos coloca Silva (2010, p. 43), a Geografia hegemônica passou a ser interpretada quase que pelo avesso, numa perspectiva de compreender a produção de invisibilidades do discurso geográfico, procurando desvendar a perspectiva de quem formulou os conceitos-chave deste campo científico, assim como sua visão de mundo e sua posição de poder. E nessa revisão, que a Geografia Feminista, passa para o centro das discussões, fazendo a ponte inicial para a renovação do pensamento geográfico na produção de análises sociais e culturais. A geografia passa então a incorporar a noção de construção social do sexo, gênero e desejo e as relações de poder inerentes a ela, num processo de permanente tensão e movimento, e as escolhas teóricas implicam simultaneamente em operações metodológicas que lançam mão de instrumentos específicos. É importante dizer, portanto, que o estudo de grupos sociais invisibilizados é bastante árduo. As investigações voltadas às políticas identitárias dos últimos anos reivindicam uma postura reflexiva do pesquisador sobre os atos investigativos e sua posicionalidade em relação ao fenômeno que se estuda, tal qual argumentado por Knopp (2007). As tentativas de escapar às práticas geográficas criticadas por esta corrente, como a autoridade do pesquisador, seu comportamento no trabalho de campo e os modos de interpretação das realidades socioespaciais, produziu a concepção de que a investigação não é um produto, mas um processo. E enquanto processo, as experiências e as interações pessoais entre pesquisados e pesquisadores passam a compor os dados da própria investigação, e é isso que vem a desenvolver estes pressupostos, como perspectiva teórico-metodológica deste trabalho capaz de indicar os caminhos para se obter respostas à problemática em questão.

Discussões e Resultados Na Geografia, novos desafios têm surgido, trazendo algumas reflexões associadas à discussão geográfica em decorrência das radicais transformações ocorridas na organização do espaço, principalmente nas relações políticas, econômicas, sociais, culturais e ambientais, as quais têm interferindo na organização da sociedade. Tais transformações exigiram um esforço ampliado, da ciência geográfica, na medida em que os efeitos da globalização provocaram mudanças significativas não só nos lugares, mas também nos sujeitos, que passaram a contar, cada vez mais intensamente, com a influência de determinados processos e conteúdos que possibilitaram a retomada de discussões acerca da formação da sociedade contemporânea. E essa mudança do pensamento geográfico, a qual acompanha a desconstrução de um conhecimento universalizado, passando para um saber diversificado, novas possibilidades de reconhecimento das invisibilidades passa a fazer parte dos estudos e práticas investigativas da ciência geográfica. Como explica Salvi (2000) esse desafio põe em relevo alguns dos mais básicos e tidos como um dos mais consensuais conceitos sobre racionalidade, verdade e progresso na pesquisa. Entre essas atitudes transformadoras, encontra-se as abordagens de gênero, conduzidas por um movimento científico-político das geografias feministas, as quais tem produzido uma compreensão da geografia cultural contemporânea através da incorporação da identidade ao gênero na representação social do espaço. A partir daqui, a Geografia Cultural começa a incorporar outros debates, em sua práxis investigativa, entre eles o da sexualidade. Como nos coloca Silva (2011, p.187) apesar das dificuldades enfrentadas pela ciência geográfica em aceitar o desenvolvimento de investigações na área de sexualidade, muitos pesquisadores brasileiros e ativistas políticos têm apresentado um importante trabalho para a disseminação dessa temática através da Geografia. Contudo, a desconstrução da linearidade entre sexo, gênero e desejo possibilitou uma nova linha científica de pensamento denominada Geografia Queer. As idéias queers possibilitaram um avanço dos estudos sobre as sexualidades. Segundo Knopp (2007), a emergência queer tem contribuído com campos já consolidados, que passam a problematizar o significado da sexualidade nas instituições e na vida social como um todo. Neste sentido, grupos e movimentos surgem com a intenção de mobilizar e organizar estas minorias. Os movimentos sociais vinculados ao direito de exercício da sexualidade expandem-se na luta pelo reconhecimento dos sujeitos LGBT s Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros. Este mesmo movimento passa a tecer táticas culturais e políticas que

influenciaram no despertar de sujeitos e agentes, que passaram a interagir e mobilizar a comunidade LGBT, não só nos grandes centros, mas também em pequenas cidades do país. Silva (2000, p. 25), nos expõe que as relações sociais nas pequenas cidades possibilitam a criação de códigos particulares e territórios específicos, cuja lógica só pode ser entendida no desenrolar da vida cotidiana e do universo cultural que lhes dá sentido. E é a partir desse contexto que o trabalho se propõe compreender e analisar o evento Festa da Diversidade, realizado na cidade de Cruz Alta, região noroeste do Rio Grande do Sul, o qual, ainda que de forma parcial, nos possibilitou alguns resultados, os quais podemos afirmar que em cidades do interior, com perspectivas e dinâmicas diferentes, há a possibilidade de se materializar territorialidades específicas de reconhecimento e exercício da sexualidade, através de jogos micropolíticos e táticas de representação das sexualidades. Objetivo Este trabalho tem como objetivo compreender como a Festa da Diversidade constitui território de exercício da sexualidade LGBT, bem como de reconhecimento social, em Cruz Alta-RS, analisando a trama relacional/locacional que a constitui, bem como conhecer a relação entre o exercício das sexualidades e o processo de apropriação espacial expressa na Festa. A partir daqui, também pretende reconhecer os elementos de conflitos e alianças constituintes na visão dos grupos de ativistas LGBT s que compõem a Festa. Considerações Finais Este é o inicio de uma busca incessante para construirmos uma nova Geografia sobre os fluxos de interações sociais baseadas nas afetividades e nas (micro) políticas LGBT s. Isto nos permitirá contribuir as novas abordagem de pesquisa em Geografia e assim dar maior amplitude de ação de nossa ciência, fazendo desconstruir e reconstruir categoriais e estratégias metodológicas, assim como adentrar a campos sociais tidos, até muito pouco tempo, como transgressores e divergentes dos projetos sociais comuns, promovendo ao olhar geográfico uma maior capacidade de adentrar as invisibilidades contidas no social, sendo assim, contribuiremos a uma ciência menos preconceituosa e mais cidadã.

Referências Bibliográficas COSTA, Benhur Pinos da. Por uma Geografia do cotidiano: território, cultura e homoerotismo na cidade. (Tese de doutorado). Programa de Pós Graduação em Geografia UFRGS. Porto Alegre: UFRGS, 2008. KNOPP, Larry. On the Relationship Between Queer and Feminist Geographies. The Professional Geographer, 59 (1), p. 47 55, 2007. SALVI, Rosana Figueiredo. A questão pós-moderna e a Geografia. Revista do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina VOLUME 9 NÚMERO 2 JUL./DEZ. 2000. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Ed. Hucitec, SP. 1996. Modo de produção técnico-científico e diferenciação espacial. Revista Território, ano IV, nº 6, jan./jun. 1999. SILVA, Joseli Maria. Cultura e territorialidades urbanas: uma abordagem da pequena cidade. Revista de História Regional nº 5, p. 9-37. 2000. Os desafios para a expansão da Geografia das Sexualidades no Brasil e os limites do diálogo científico internacional. Espaço, gênero e poder: conectando fronteiras / org. Joseli Maria Silva e Augusto Cesar Pinheiro da Silva. Ponta Grossa PR, Todapalavra, 2011.