Morfometria do Município de Jenipapo de Minas no Vale do Jequitinhonha

Documentos relacionados
ANÁLISE DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS DO MÉDIO DA BACIA DO RIO PARAÍBA DO SUL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO-RJ.

3 - Bacias Hidrográficas

NOVO MAPA NO BRASIL?

FACULDADE SANTA TEREZINHA - CEST COORDENAÇÃO DO CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL PLANO DE ENSINO

CONCEITOS DE CARTOGRAFIA ENG. CARTÓGRAFA ANNA CAROLINA CAVALHEIRO

ZONEAMENTO CLIMÁTICO DO CEDRO AUSTRALIANO (Toona ciliata) PARA O ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Universidade Federal do Paraná - Setor de Ciências da Terra

Análise espacial do prêmio médio do seguro de automóvel em Minas Gerais

Aula 2 Sistemas de Coordenadas & Projeções Cartográficas. Flávia F. Feitosa

Histórico da Quantificação do Desmatamento no Estado do Amapá e busca de novas tecnologias

USO DA TERRA E COBERTURA VEGETAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO XIDARINI NO MUNICÍPIO DE TEFÉ-AM.

ANEXO 6 Análise de Antropismo nas Unidades de Manejo Florestal

CARTOGRAFIA DE RISCO

CARTOGRAFIA. Sistemas de Coordenadas. Prof. Luiz Rotta

Comparação de métodos de cálculo do fator topográfico (LS) da Equação Universal de Perda de Solo (EUPS)

Relatório elaborado pela. ONG Sustentabilidade e Participação

Estudo sobre a dependência espacial da dengue em Salvador no ano de 2002: Uma aplicação do Índice de Moran

O USO E OCUPAÇÃO DA BACIA DO ALTO CURSO DO RIO UBERABINHA, MG E OS REFLEXOS NA PERMEABILIDADE DO SOLO E NA RECARGA DA ZONA SATURADA FREÁTICA

Metodologia para conversão de Modelo Digital de Elevação em Modelo Digital do Terreno

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS UEA INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA - INPA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLIMA E AMBIENTE

Projeto de Escopo de Trabalho de Estudo Preparatório para o Projeto de Prevenção de Desastres e medidas mitigadoras para Bacia do Rio Itajaí

GEOGRAFIA COMENTÁRIO DA PROVA DE GEOGRAFIA

DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS E AS FORMAÇÕES VEGETAIS DO BRASIL. Módulo 46 Livro 2 páginas 211 a 216

PROPOSTA DE COOPERAÇÃO

Mapeamento geoambiental da área interfluvial dos rios Ibicuí e Jaguari - São Vicente do Sul, RS 1

Seminário Energia Soluções para o Futuro Geração Hidrelétrica. Flávio Antônio Neiva Presidente da ABRAGE

BANCO DE DADOS GEOGRÁFICOS E WEBMAPPING. Prof. Angelo Augusto Frozza, M.Sc.

2 03/11 Relatório Final R.A. O.S. O.A. PU. 1 30/09 Alterado Endereço do Terreno R.A. O.S. O.A. PU

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS

EVTEA - H Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental das Hidrovias

Teoria dos erros em medições

DISCIPLINA SIG EXERCÍCIO 1: MUDANÇA DE SISTEMA DE COORDENADAS (GEOGRÁFICAS LAT/LONG PARA UTM CÓRREGO ALEGRE)

Geografia. Aula 02. Projeções Cartográficas A arte na construção de mapas. 2. Projeções cartográficas

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Reserva Extrativista Chico Mendes

MODIFICAÇÕES NO CLIMA DA PARAIBA E RIO GRANDE DO NORTE

REGULAMENTO DA POLÍTICA DE MANUTENÇÃO E GUARDA DO ACERVO ACADÊMICO DA ESCOLA DE DIREITO DE BRASÍLIA EDB

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES SOCIOAMBIENTAIS ORIENTADAS AO PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

PESQUISA DO MERCADO IMOBILIÁRIO EM BELO HORIZONTE: ALUGUÉIS

Aula 01 Período

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: CONHECIMENTO DOS AGRICULTORES DO ASSENTAMENTO SANTA CRUZ, NO MUNICIPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Cartas e Mapas. Planimetria e Altimetria. Fonte: IBGE, Noções de Cartografia, 1999.

Indicadores Sociais Municipais Uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010

Projeto Nascentes Urbanas. MÓDULO BÁSICO Autora : Deise Nascimento Proponente: OSCIP Instituto Árvore da Vida

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO CONSELHO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO SECRETARIA DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

Unidade 1: O Computador

Agenda. Requisitos para desenvolvimento do sistema de informação DW-e IS. Comparação de plataformas de integração. Requisitos de sistema

REPRESENTAÇÃO DO RELEVO

austral leste ocidente

Análise hipsométrica da parte brasileira da bacia do rio Paraguai utilizando dados SRTM

TERCEIRÃO GEOGRAFIA FRENTE 4A AULA 11. Profº André Tomasini

a) a inclinação do eixo da Terra em 23º.27 e o seu movimento de translação.

PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA DE CAMPO GRANDE

A dissertação é dividida em 6 capítulos, incluindo este capítulo 1 introdutório.

INFORME ETENE. INVESTIMENTOS EM INFRAESTRUTURA NO NORDESTE 2ª Edição 1. INTRODUÇÃO

O Desenvolvimento Sustentável na Ótica da Agricultura Familiar Agroecológica: Uma Opção Inovadora no Assentamento Chico Mendes Pombos - PE Brasil

2º ano do Ensino Médio. Ciências Humanas e suas Tecnologias Geografia

Data Envelopment Analysis in the Sustainability Context - a Study of Brazilian Electricity Sector by Using Global Reporting Initiative Indicators

Desenho Topográfico. Conceitos de Projeções Cotadas Conceitos Planimetria e Altimetria Curvas de Nível Interpolação Exercício

PRINCIPAIS UNIDADES PARCEIRAS :

SILVA, Marcio Sousa da (1); LEMOS, Sílvio Santos de (2) MORAES, Allana Bezerra de (3)

Painel de Contribuição Núcleo Socioambiental - NSA (Fevereiro/2016)

EDITAL DE SELEÇÃO PARA MESTRADO 2016 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO (UNIFEI)

ASPECTOS GERAIS ECONÔMICOS -

Deswik.Sched. Sequenciamento por Gráfico de Gantt

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DA RESPOSTA ESPECTRAL DA VEGETAÇÃO DO BIOMA PAMPA, FRENTE ÀS VARIAÇÕES DA FENOLOGIA

APRESENTAÇÃO DA CERTIFICAÇÃO OCUPACIONAL

ANÁLISE COMPARATIVA DOS DADOS METEOROLÓGICOS NAS ESTAÇÕES AUTOMÁTICAS E CONVENCIONAIS DO INMET EM BRASÍLIA DF.

Banco de Sons. Nota Técnica

Avaliação Ambiental Estratégica o que investigam as nossas Universidades? André Mascarenhas

3/19/2013 EQUIPAMENTOS. Trator de lâmina D9T. Caminhão basculante. Escavadeira hidráulica

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM MÍDIAS NA EDUCAÇÃO JULIANA LEME MOURÃO ORIENTADOR: PAULO GUILHERMETI

BANCO DE DADOS GEOGRÁFICOS E WEBMAPPING. Prof. Angelo Augusto Frozza, M.Sc.

Potencial de Produção de Sedimentos e de Inundação da Sub-Bacia do Ribeirão Caveirinha Goiânia GO

Veracel Celulose S/A Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias Período: 2006 a 2009 RESUMO EXECUTIVO

BALANÇO HÍDRICO COMO PLANEJAMENTO AGROPECUÁRIO PARA CIDADE DE POMBAL PB, BRASIL

GEOGRAFIA - 2 o ANO MÓDULO 64 OCEANIA

Laboratório Virtual de Sistema de Controle Via Web em Labview. 1/6

Nº 63 - Brasília - DF, quarta-feira, 02 de abril de 2008 Pág: 13 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO GABINETE DO MINISTRO

REQUERIMENTO. (Do Sr. ADALBERTO CAVALCANTI)

A EVOLUÇÃO. 1. Se não faltar Água Tudo Bem. 2. Pesquisa de Vazamentos e Macromedição. 3. Controle de Pressão

O BANCO DE DADOS. QUADRO I- Formas de acesso às informações disponíveis no Banco de Dados

3.2. Bibliotecas. Biblioteca Professor Antônio Rodolpho Assenço, campus Asa Sul: Os espaços estão distribuídos da seguinte forma:

DIREX Elaboração de Orçamentos sob a Égide da Lei 8666/1993 e do Regime Diferenciado de Contratação

Decreto Regulamentar n. º 10/2009, de 29 de Maio

Impresso em 26/08/ :39:41 (Sem título)

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - APP -

Relação de Disciplinas

PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIO PIC DIREITO/UniCEUB EDITAL DE 2016

NEOTECTÔNICA, SISMICIDADE NA BACIA DO PANTANAL E SUAS MUDANÇAS AMBIENTAIS

ESTUDO TÉCNICO N.º 12/2014

ÓRGÃO: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

INSTITUTOS NACIONAIS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INCT 2º SEMINÁRIO DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROJETO Formulário para Consultor Ad hoc

FORMULÁRIO DE SOLICITAÇÃO DE ABERTURA DE PROCESSO - FAP EMPREENDIMENTO: EMPREENDIMENTOS MILITARES

Projeto Nascentes Daniel Augustos Cordeiro Fernandes Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sapucaí

A RNP e a Educação no Brasil

Como Elaborar uma Proposta de Projeto

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO ACESSIBILIDADE CULTURAL: ARTICULAÇÕES E REFLEXÕES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Edital

Geografia Capítulo 2. Cartografia. Introdução

Transcrição:

- 1 - Ministério da Educação Brasil Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM Minas Gerais Brasil Revista Vozes dos Vales: Publicações Acadêmicas Reg.: 120.2.095 2011 UFVJM ISSN: 2238-6424 QUALIS/CAPES LATINDEX Nº. 08 Ano IV 10/2015 http://www.ufvjm.edu.br/vozes Morfometria do Município de Jenipapo de Minas no Vale do Jequitinhonha Prof. Jorge Luiz dos Santos Gomes Engenheiro de Petróleo, Mestre e Doutorando em Geofísica Instituto de Ciência Engenharia e Tecnologia ICET Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM E-mail: jorge.gomes@ufvjm.edu.br http://lattes.cnpq.br/7107455057259788 Prof. Dr. Antônio Jorge de Lima Gomes Engenheiro Civil, Mestre e Doutor em Geofísica Instituto de Ciência Engenharia e Tecnologia ICET Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UFVJM E-mail: antonio.gomes@ufvjm.edu.br http://lattes.cnpq.br/9689665046386798 Resumo: Jenipapo de Minas está localizado no semiárido brasileiro tendo problemas com drenagem e abastecimento de água urbano e rural. A análise morfométrica contribui com indicadores, principalmente na interação entre as vertentes e a rede de canais fluviais de uma bacia hidrográfica. Os resultados mostram altos valores de declividade. Dos 282,29 km² do município, 34,14% da área possui declividade entre 6 e 12%, 33,75% entre 12 e 20%, 14,05% entre 3 e 6%, 11,08% entre 20 e 40%, e 6,98% tem declividade entre 0 e 3%. Não há áreas com declividades acima de 40%. As altitudes variam de 342 a 993 metros com a sede na cota 385m, estando 40,23% da área do município entre 600 e 900m de altitude. Palavras-chave: Morfometria, Declividade, Drenagem, Bacia Hidrográfica, Meio Ambiente.

- 2 - Introdução Jenipapo de Minas tem sérios problemas de drenagem e de abastecimento urbano e rural, neste sentido estudos de morfometria contribuirão com melhores projetos de engenharia, políticas públicas, formas de drenagem, recursos hídricos e demandas ambientais. O clima semiárido é um tipo de clima caracterizado pela baixa umidade e baixo índice pluviométrico, estando presente no Brasil nas regiões Nordeste e Sudeste, principalmente no norte de Minas Gerais, incluindo o Vale do Jequitinhonha onde está situado o Município de Jenipapo de Minas. O curso d água mais importante do municipio é o rio Setúbal e o rio intermitente denominado de Córrego dos Bolas, fazendo com que a maior parte da região tenha forte dependência da disponibilidade de água superficial. O maior desafio a ser enfrentado nas regiões semiáridas é o de fixar o homem do campo na sua terra, evitando o aumento de desempregados e da marginalidade nas grandes cidades. Uma das melhores alternativas é proporcionar meios de acumulação de água no próprio terreno do agricultor (COSTA ET AL, 1998). A análise morfométrica corresponde a um conjunto de procedimentos que caracterizam aspectos geométricos e de composição dos sistemas ambientais, servindo como indicadores relacionados à forma, ao arranjo estrutural e a interação entre as vertentes e a rede de canais fluviais de uma bacia hidrográfica (CHRISTOFOLETTI, 1999). Segundo Antonelli e Thomaz (2007) a combinação dos diversos dados morfométricos permite a diferenciação de áreas homogêneas. Estes parâmetros podem revelar indicadores físicos específicos para um determinado local, de forma a qualificarem as alterações ambientais. A maioria das matas ciliares do rio Jequitinhonha e de seus afluentes desapareceram e a maior área de preservação está presente atualmente no Vale do Mucuri. Destaca-se também sua importância nos estudos sobre vulnerabilidade ambiental em bacias hidrográficas. Neste sentido a análise morfométrica apontará indicadores que contribuirão para um maior conhecimento hídrico e ambiental do Município de Jenipapo de Minas.

- 3 - Área de estudo De acordo com o IBGE (2014) o Município de Jenipapo de Minas está localizado na região semiárida do país, possuindo um bioma de cerrado e mata atlântica. O Município de Jenipapo de Minas está localizado no nordeste do estado de Minas Gerais e está situado no Vale do Jequitinhonha, no chamado médio Jequitinhonha, conforme se apresenta na Figura (1). Possui uma área de aproximadamente 284 km² (IBGE, 2014). Figura 01 Localização Regional do Município de Jenipapo de Minas. A população do município no ano de 2015 foi estimada pelo IBGE (2014) e corresponde a 7.580 habitantes. Base de dados STRM e IBGE A base são os dados numéricos de relevo e da topografia da região de estudo, obtidos pela nave espacial americana NASA, durante a missão conhecida como SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). O modelo digital de elevação (MDE) do SRTM, com 1 segundo de arco (aproximadamente 30 metros de resolução espacial), é distribuído gratuitamente pelo governo norte-americano através do site Earth Explorer do Serviço Geológico americano USGS. O contorno do Município de Jenipapo de Minas foi adquirido no site do IGBE e extraído do arquivo shapefile dos municípios do Brasil (atualizado em 2010). O contorno do município serviu de base para delimitar e filtrar os dados STRM dentro da área de estudo.

- 4 - Resumo do dado SRTM: SRTM Version 3.0 Global 1 arc second Identificação: SRTM1S18W043V3 Data de publicação: 23/09/2014 Formato: GEOTIFF (16 bits) Resolução espacial: ~30 metros Unidade de altitude: metros Projeção: Sistema Coordenadas Geográficas Datum : WGS-84 Figura 02 - Modelo digital de elevação (SRTM) base. Software A utilização dos dados numéricos originais (Modelos Numéricos de Elevação) exige o emprego de softwares de geoprocessamento. Para o estudo realizado utilizou-se o software livre Quantum Gis QGIS (versão 2.10) integrado com as ferramentas de análise do software livre GRASS e dos algoritmos de análises hidrológicas TauDEM (Terrain Analysis Using Digital Elevation Models), que engloba um conjunto de ferramentas para construção de análises hidrológicas com base no Modelo Digital de Elevação (MDE). Análise morfométrica Foram extraídos dados de elevação, declividade e orientação dos dados SRTM, que forneceram parâmetros para composição dos mapas de declividades, orientação de vertentes e hipsométrico, com base nos dados SRTM. O conhecimento das declividades de uma determinada área da superfície terrestre é de fundamental importância para a aplicação e interpretação geomorfológica. Estas podem ser utilizadas no planejamento territorial, principalmente no que se refere aos usos da terra, haja vista, a estreita relação dos diferenciados níveis de declividades, com processos de transporte gravitacional, como por exemplo, o escoamento superficial, a erosão e os deslizamentos de terra e ainda tombamentos de fragmentos de rochas dentre outros. A declividade é a inclinação maior ou menor do relevo em relação ao horizonte. Entre dois pontos no

- 5 - terreno a declividade pode ser medida pela inclinação da reta que os une (GUERRA, 1980). Em imagens, a declividade é estimada pela análise dos desníveis entre pixels vizinhos (VALERIANO, 2008) (GAIDA ET AL., 2014). A análise de orientação de vertentes baseada em um MDE também é estimada pela análise entre os pixels vizinhos. São considerados os 8 pixels no entorno de um pixel de referência (D8). Esta função tem como entrada o grid de elevação hidrologicamente correta (FIGURA 03), saídas direção do fluxo D8 e inclinação para cada célula da grade. Em áreas planas são atribuídas direções mais afastadas de um lugar mais alto em direção à um lugar mais baixo, utilizando o método de Garbrecht & Martz (1997). Figura 03 Análise entre os pixels vizinhos (D8): MDE, declividade e orientação de vertente respectivamente (SHAPIO & WAUPOTITSCH, 2011). O passo seguinte foi a reclassificação dos dados processados com base na Tabela (01), para geração dos mapas temáticos e análises estatísticas. Os dados de declividade foram divididos em 6 novas classes segundo a classificação proposta por Lepsch et al. (1991). Segundo os autores as classes se distribuem em 0-3% (plano), 3-6% (suave ondulado), 6-12% (ondulado), 12-20% (forte ondulado), 20-40% (montanhoso) e maior que 40% (escarpado). As elevações foram reclassificadas para as 9 classes da Tabela (01), como também foram atribuídas falsas cores para cada classe, de forma a facilitar a interpretação e visualização das mesmas. Na reclassificação das orientação das vertentes foram redistribuídas em 8 classes: norte-nordeste (N-NE), nordeste-leste (NE-E), leste-sudeste (E-SE),

- 6 - sudeste-sul (SE-S), sul-sudoeste (S-SW), sudoeste-oeste (SW-W), oeste-noroeste (W-NW) e noroeste-norte (NW-N). Com os todos os dados reclassificados, realizou-se uma contagem da área (em km²) por cada classe para fins de análise estatística. Para o geoprocessamento dos dados de declividades e orientações de vertentes foi utilizado o raster (arquivo do MDE) de elevação sem reclassificação. O raster de elevação, foi reclassificado posteriormente a extração dos dados de declividade e orientações. Como procedimento final foram elaborados os mapas de declividades, orientações de vertentes e hipsométrico (elevações) do Município de Jenipapo de Minas. Tabela 01 Reclassificação dos dados gerados de Elevação, Declividade e Orientação de Vertentes Orientação Elevações Classes Declividade (%) Classes Classes (graus) Exposição 1 0 3 1 300 375 1 0 45 N NE 2 3 6 2 375 450 2 45 90 NE E 3 6 12 3 450 525 3 90 135 E SE 4 12 20 4 525 600 4 135 180 SE S 5 20 40 5 600 675 5 180 225 S SW 6 > 40 6 675 750 6 225 270 SW W 7 750 825 7 270 315 W NW 8 825 900 8 315 360 NW N 9 > 900 Resultados A altimetria foi representada pelo mapa hipsométrico (Figura 04). As altitudes na área do Município de Jenipapo de Minas variam de 342 a 993 metros, logo, verifica-se uma amplitude altimétrica de 651 metros. A área foi dividida em nove classes hipsométricas, com espaçamento de 75 metros entre as mesmas (Tabela 02). A sede da prefeitura de Jenipapo de Minas está localizada na classe 2, com elevação de 385m.

- 7 - As quatro menores classes altimétricas (de 300 a 600m) representam 59,77% da área do Município de Jenipapo de Minas e as 5 maiores classes (de 600 a >900m) representam 40,23% da área do município. Conforme mostrado na Figura (05) as classes 1 e 9, apresentam as menores áreas em percentagem da área total do município 2,09% e 2,53% respectivamente, sendo a classe 1 associada as áreas do Rio Setúbal e seus afluentes na região. A classe 9, representa as regiões mais elevadas do município chegando até 993m de altura. Figura 04 Mapa de hipsométrico do Município de Jenipapo de Minas. As classes de elevação 2, 3, 4 e 5 juntas abrangem uma área de 192,71 km², que representa 69,42% da área total do município, logo são as classes de maiores ocorrências da área de estudo. A classe 3 de elevação (450 à 525m) abrange a maior área dentre todas as 9 classes de elevação, consisti em uma área de 68,04 km², logo 23,77% da área total do município.

- 8 - Os dois principais cursos d águas do Município de Jenipapo de Minas são o Rio Setúbal e o Córrego dos Bolas. O Rio Setúbal corta o munícipio nas áreas de menores elevações, adentrando o município na elevação de 382m e deixa o município na elevação 342m. O Córrego dos Bolas é intermitente e possui disponibilidade de águas na superfície somente nos meses com elevado índice pluviométrico, suas nascentes estão localizadas nas classes mais altas (de 825 a >900m) e suas águas desaguam no Rio Setúbal em 382m de elevação. Tabela 02 Distribuição das classes de elevações do Município de Jenipapo de Minas. Classes Elevações Área (Km²) % 1 300 375 5,98 2,09 2 375 450 45,68 15,96 3 450 525 68,04 23,77 4 525 600 51,38 17,95 5 600 675 33,61 11,74 6 675 750 27,19 9,50 7 750 825 22,63 7,91 8 825 900 24,50 8,56 9 > 900 7,24 2,53 Figura 05 Distribuição percentual das cotas de elevação do Município de Jenipapo de Minas.

- 9 - As declividades do Município de Jenipapo de Minas são mostradas no Mapa de Declividade na Figura (06). As declividades na área do Município de Jenipapo de Minas variam de 1,19 a 24,99%. A área foi dividida em seis classes de declividade mostrada na Tabela (03). As classes de declive (Figura 07) mostram que houve um maior predomínio de áreas com declividade de 6 a 20% (com relevo ondulado e forte ondulado), representando 191,64 km² de área, logo 67,89% da área total do município, abrangendo os relevos ondulado e fortemente ondulado. Verificou-se que os relevos classificados como plano, suavemente ondulado e montanhoso ocupam uma área de 90,64 km², logo representam 32,11% da área total. As áreas com declive de 0 a 6% são indicadas para o plantio de culturas anuais com o uso das práticas simples de conservação do solo, uma vez, que o próprio plantio em nível da cultura já controla o processo erosivo do solo, enquanto que as declividades de 6 a 12% são indicadas ao plantio de culturas anuais com o uso das práticas simples de conservação do solo mais intensivas e necessárias no controle do processo erosivo do solo (LEPSCH ET AL.,1991; FILADELFO JÚNIOR, 1999). Verificou-se que dos 282,29 km² da área de estudo, 34,14% desta área tem de 6 a 12% de declividade e que 6,98% da área possui declividade de 0 a 3%. As declividades de 20 a 40% (montanhoso) ocupam uma área de 31,28 km², na qual representa 11,08% da área do município. Não houveram ocorrências de áreas de áreas com declividades elevadas acima de 40% (escarpado) no Município de Jenipapo de Minas de acordo com os dados estudados neste artigo.

- 10 - Figura 06 Mapa de Declividade do Município de Jenipapo de Minas. Tabela 03 Distribuição das classes de declividade do Município de Jenipapo de Minas. Declividade %) Relevo Área (Km²) % 0 3 Plano 19,71 6,98 3 6 Suavemente ondulado 39,66 14,05 6 12 Ondulado 96,37 34,14 12 20 Forte ondulado 95,28 33,75 20 40 Montanhoso 31,28 11,08 > 40 Escarpado 0,00 0 Total 282,29 100

- 11 - Figura 07 Distribuição percentual das classes de declividade do Município de Jenipapo de Minas. Outro aspecto avaliado foi à orientação de vertentes, conforme o Mapa de Orientação das Vertentes do Município de Jenipapo de Minas (Figura 08) que pode ser considerado um parâmetro de fundamental importância para correlações com a vegetação, determinando o grau de insolação devido o movimento aparente do Sol durante o dia e ano. Segundo Oliveira (1984) sabe-se que determinados povoamentos vegetais estão muito sujeitos à direção climática predominante que é determinada pela exposição topográfica a radiação solar. No Município de Jenipapo de Minas, considerando-se a orientação de vertentes em oito direções, foi verificado que a vertente de orientação Leste-Sudeste (E-SE) possui a maior área ocupando 40,32 km², logo 14,28% da área estudada (Tabela 04). No entanto, a vertente com orientação Norte-Nordeste (N-NE) apresenta a menor área ocupada 11,17%. As vertentes que ocupam a maior área são as orientadas para Leste-Sudeste (E-SE) e Sudeste-Sul (SE-S), juntas ocupam uma área de 80,07 km², que representa 28,36% dá área total de 282,29 km².

- 12 - Figura 08 Mapa de Orientação das Vertentes do Município de Jenipapo de Minas. Tabela 04 Distribuição das áreas em função da exposição do terreno do Município de Jenipapo de Minas. Orientação (graus) Exposição Área (Km²) % 0 45 N NE 31,53 11,17 45 90 NE E 36,50 12,93 90 135 E SE 40,32 14,28 135 180 SE S 39,75 14,08 180 225 S SW 37,13 13,15 225 270 SW W 32,30 11,44 270 315 W NW 31,98 11,33 315 360 NW N 32,78 11,61 Total 282,29 100

- 13 - Figura 09 Distribuição percentual das orientações das vertentes do Município de Jenipapo de Minas Conclusões As análises visam contribuir para o desenvolvimento de Jenipapo de Minas, através de estudos de morfometria para projetos de engenharia, políticas públicas, formas de drenagem, recursos hídricos e demandas ambientais como um todo. As elevações do Município de Jenipapo de Minas variam de 342 a 993 metros e a declividade de 1,19 a 24,99%. O mapa orientação de vertentes do Município de Jenipapo de Minas poderá servir de parâmetros de correlações com a vegetação, grau de insolação e exposição topográfica a radiação solar para analises futuras, como também para determinação de variáveis hidrológicas.

- 14 - Abstract: Jenipapo de Minas is located in the Brazilian semiarid having problems with drainage and supply of urban and rural water. The morphometric analysis contributes indicators, especially in the interaction between the strands and the network of river channels of a hydrographic basin. The results show high slope values, which of 282.29 km² of the municipality, 34.14% of the area has slopes between 6 and 12%, 33.75% between 12 and 20%, 11.08% between 20 and 40% and 6.98% has slope between 0 and 3%. The Municipality does not have areas with slopes above 40%. The altitude ranges from 342 to 993 metersmm the municipal headquarters in the quota 385m, with 40.23% of the municipal area between 600 and 900m altitude. Keywords: Morphometry, Declivity, Drainage, Hydrographic basin, Environment. Referências ANTONELI, V.; THOMAZ, E. L. Caracterização do meio físico da bacia do Arroio Boa Vista, Guamiranga-PR. Rev. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v.8, n.21, p46-58, jun. 2007. CHRISTOFOLETTI, A. Modelagem de Sistemas Ambientais. São Paulo: Edgard Blücher, 1999 FOLADELFO JÚNIOR, W. S. Geoprocessamento aplicado ao estudo de ocupação do solo e de classes de declive. Dissertação de Mestrado - Universidade Estadual Paulista, Botucatu, Brasil. 1999. GAIDA, W.; GROSS, J. A.; BREUNIG, F. M.; GALVÃO, L. S.; TELES, T. S. Avaliação da topografia do Parque Estadual do Turvo, RS, utilizando o modelo digital de elevação ASTER GDEM Versão 2. 26º Congresso Brasileiro de Cartografia; 5º Congresso Brasileiro de Geoprocessamento; 25ª Exposicarta. Gramado, Rio Grande do Sul. 2014. GARBRECHT, J.; MARTZ, L. W. The Assignment of Drainage Direction over Flat Surfaces in Raster Digital Elevation Models. Journal of Hydrology, 193: 204 213. 1997. GUERRA, A. T. Dicionário geológico geomorfológico. 8. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.

- 15 - IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Minas Gerais: Jenipapo de Minas. 2014. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php? lang=&codmun=3135456>. Acesso em 05 Out. 2015. LEPSCH, J.F., BELLINAZZI JÚNIOR, R. 1991. Manual para levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de capacidade de uso. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, Brasil. 175 p. OLIVEIRA, M. C. Construção de uma Carta para Determinação de Orientação de Vertentes. Revista do Instituto Geológico, São Paulo, v. 5 n.2, p. 47-50, 1984. SHAPIO, M.; WAUPOTITSCH, O. GRASS GIS manual: r.slope.aspect. GRASS Development Team. 2011. Disponível em: <https://grass.osgeo.org/grass64/ manuals/r.slope.aspect.html>. Acesso em 05 Out.. 2015. USGS - U.S. Geological Survey. Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) 1 Arc-Second Global. 2015. Disponível em: <https://lta.cr.usgs.gov/srtm 1Arc>. Acesso em 05 jul. 2015. VALERIANO, M. M. Topodata: guia de utilização de dados geomorfométricos locais. São José dos Campos: INPE, 2008. Disponível em: <http://mtcm18.sid.inpe.br/col/sid.inpe.br/mtcz18@80/2008/07.11.19.24/doc/pu blicacao.pdf>. Acesso em 02 Abr. 2014. Texto científico recebido em: 02/10/2015 Processo de Avaliação por Pares: (Blind Review - Análise do Texto Anônimo) Publicado na Revista Vozes dos Vales - www.ufvjm.edu.br/vozes em: 24/11/2015 Revista Científica Vozes dos Vales - UFVJM - Minas Gerais - Brasil www.ufvjm.edu.br/vozes www.facebook.com/revistavozesdosvales UFVJM: 120.2.095-2011 - QUALIS/CAPES - LATINDEX: 22524 - ISSN: 2238-6424 Periódico Científico Eletrônico divulgado nos programas brasileiros Stricto Sensu (Mestrados e Doutorados) e em universidades de 38 países, em diversas áreas do conhecimento.