Embrapa elabora estudo sobre gestão ambiental de estabelecimentos rurais na APA da Barra do Rio Mamanguape (PB) Geraldo Stachetti Rodrigues Maria Cristina Tordin Jaguariúna, junho 2005.
A equipe de pesquisadores coordenada por Geraldo Stachetti Rodrigues da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com o IBAMA-PB, sob a coordenação de Mary Carla Marcon Neves, desenvolve estudo de gestão ambiental de estabelecimentos rurais na APA da Barra do Rio Mamanguape (PB), como instrumento para realização do Plano de Manejo desta Unidade de Conservação Federal, em um projeto financiado pelo Conselho Brasileiro de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Figura 1. Vista da Barra do Rio Mamanguape. A Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, gerida pelo IBAMA/MMA, possui 14.460 ha de área e foi criada pelo Decreto n. 924 de 10 de setembro de 1993, com o objetivo de preservar o peixe-boi marinho (Trichechus manatus), fomentar o turismo ecológico e melhorar a qualidade de vida da população local. 2
Figura 2 Peixe-boi-marinho, espécie criticamente ameaçada, protegida na APA da Barra do Rio Mamanguape. A APA da Barra do Rio Mamanguape está situada no litoral norte da Paraíba, a aproximadamente 50 km de João Pessoa, sendo formada pelos estuários dos rios Mamanguape, Miriri e Estivas, partes dos municípios de Rio Tinto, Marcação Baía da Traição e Lucena, incluindo ainda alguns aglomerados e vilas dependentes da exploração dos recursos naturais locais e de atividades agropecuárias. O Plano de Manejo da APA objetiva seu uso sustentável, enfatizando as atividades agrícolas e pecuárias e ecoturísticas, explica Erasmo Rocha Lucena, Gerente Executivo do IBAMA na Paraíba, que esteve em visita à Embrapa Meio Ambiente em 24 de maio de 2005. Ele acredita que esse trabalho piloto da Embrapa Meio Ambiente será um diferencial para o desenvolvimento sustentável da região, e que poderá se tornar um modelo de gestão para outras APAs do país. Isis Rodrigues, pesquisadora colaboradora do projeto, explica que o trabalho envolve a avaliação dos perfis social, econômico e ecológico dos 42 municípios que compõem as bacias hidrográficas dos Rios Mamanguape e Miriri, que desembocam na área da APA em estudo, em uma análise regional. Mesmo as principais atividades urbanas causadoras de impactos negativos ao meio ambiente estão sendo consideradas, em um estudo sobre as fontes potenciais de poluição das águas, explica Luciana R. Antunes, bolsista do projeto. Os perfis social, econômico e ecológico da área de influência da APA estão sendo compostos com base em dados censitários do IBGE, levantamentos em instituições locais como a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA), a Universidade federal da Paraíba (UFPB) e o IBAMA, entre outras, além de imagens de satélites, mapeamentos diversos e trabalhos de campo. Cláudio C. de A. Buschinelli, 3
responsável pelos trabalhos de mapeamentos e base de dados digitais do projeto, enfatiza a importância do diagnóstico regional para a avaliação dos impactos ambientais das atividades rurais na APA. Figura 3. Mapa das bacias hidrográficas dos Rios Mamanguape e Miriri, área de estudo do projeto de Gestão ambiental das atividades rurais da APA. A avaliação de impactos ambientais, base para organização dos informações e para a gestão ambiental na APA, será realizada em estabelecimentos com as principais atividades desenvolvidas nas 4
comunidades rurais, como a carcinicultura, a cana-de-açúcar, a pesca, a cata de caranguejos e mariscos e a agricultura e pecuária de subsistência. Será sugerido um Selo de Garantia de Sustentabilidade pelo IBAMA, que agregará valor aos produtos. Estas iniciativas de gestão ambiental, ecocertificação e denominação de origem sustentável de produtos diferenciados são instrumentos valiosos para a organização produtiva que priorize qualidades especiais de ambientes e comunidades locais, favorecendo a conformação de relacionamentos mais éticos e solidários entre os produtores, de um lado, e os consumidores, de outro. Com isso, viabilizam-se as relações sociais que ampliam a inserção daqueles produtores comprometidos com o desenvolvimento sustentável, objetivo principal da gestão das Áreas de Proteção Ambiental, como a da Barra do Rio Mamanguape. 3 de dezembro de 2004, foi criado o Conselho Consultivo da APA da Barra do Rio Mamanguape, um dos instrumentos de gestão da Unidade, presidido pelo IBAMA através da Chefe da UC e tendo como membros a Universidade Federal da Paraíba; o Sebrae; o Incra; a Sudema; a AAGISA; a Emater; o Sindicato dos Trabalhadores Rurais; a Associação do Comércio do município de Rio Tinto; representante dos índios Potiguaras, as Prefeituras locais; a Funai; representantes do setor de produção de álcool do Estado, dos proprietários de terras na área e dos carcinicultores; representantes do Centro Nacional de Mamíferos Aquáticos, ONGs e representantes das comunidades. A participação de todos os atores envolvidos é fundamental na construção e implantação do Plano de Manejo da Unidade, acredita Mary Carla Marcon Neves, Chefe da APA. Sistema APOIA-NovoRural, desenvolvido na Embrapa Meio Ambiente para a gestão ambiental de atividades rurais, será apresentado em um curso de capacitação a ocorrer em 11, 12 e 15 de julho de 2005, na sede do IBAMA/PB, para os entrevistadores que irão aplicar o Sistema em estabelecimentos selecionados, de acordo com as atividades rurais representativas da produção agropecuária local, contando com dois dias de campo como parte prática do treinamento. O Sistema consiste de um conjunto de planilhas eletrônicas que integram sessenta e dois indicadores de sustentabilidade das atividades no âmbito do estabelecimento rural, abordando as dimensões Ecologia da Paisagem, Qualidade dos Compartimentos Ambientais (Atmosfera, Água e Solo), Valores Socioculturais, Valores Econômicos e Gestão e Administração, com visão espacial do estabelecimento rural. Os resultados da avaliação empregando-se esse Sistema favorecem a proposição de alternativas de manejo, tecnologias e práticas produtivas para a gestão ambiental, a eco-certificação e a denominação de origem sustentável da produção. 5
Finalmente, serão realizadas Oficinas de Trabalho sobre gestão participativa e desempenho ambiental das atividades rurais, envolvendo os produtores participantes do estudo, grupos de interesse e gestores em nível regional. Nessas Oficinas apresentam-se a metodologia de trabalho e os resultados das etapas anteriores, como subsídio para os grupos de trabalho debaterem a construção participativa de políticas públicas para a gestão ambiental das atividades rurais nos estabelecimentos e do território. Este enfoque de gestão ambiental territorial permite a realização das múltiplas funções da Área de Proteção Ambiental, enquanto provedora de desenvolvimento econômico sustentável, segurança alimentar, serviços ambientais, recursos naturais, e qualidade de vida para as comunidades locais. Figura 5. Vista de paisagem típica da APA da Barra do Rio Mamanguape. 6