Observatório sobre a Produção, Comércio e Proliferação das Armas Ligeiras da Comissão Nacional Justiça e Paz

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Transcrição:

Observatório sobre a Produção, Comércio e Proliferação das Armas Ligeiras da Comissão Nacional Justiça e Paz Breves notas para a Audição de 18 de Novembro de 2010 no Grupo de Trabalho da 4.ª Revisão da Lei das Armas da 1.ª Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República I Agradecimento O Observatório agradece ao Grupo de Trabalho o convite feito para a Audição relacionada com a 4ª Revisão da Lei das Armas, o que permite reatar os contactos com a Assembleia da República, quer em sede de 1.ª Comissão, quer em contactos com o seu Presidente e representantes dos diversos Grupos Parlamentares, dando a conhecer o resultado das suas actividades e as principais preocupações em cada um destes momentos. II Perspectiva da Luta contra a Proliferação das Armas Ligeiras O Observatório considera que qualquer tomada de posição sobre a 4.ª Revisão da Lei das Armas não poderá ser feita fora do contexto da luta contra a proliferação das armas ligeiras, quer em Portugal, quer ao nível global. Com efeito, a Lei n.º 5/2006 constitui um dos pilares legislativos em que se apoia, em Portugal, aquela luta através de um controle tão exigente quanto possível das armas ligeiras na posse dos cidadãos, do seu comércio, interno e, sobretudo, externo. Conjuntamente com a aplicação do Código de Conduta da União Europeia para a exportação de armas, da Lei n.º 49/2009 de 5 de Agosto que regula as condições de acesso e exercício das actividades de comércio e indústria de bens e tecnologias militares e do Protocolo das Nações Unidas sobre a Produção e Comércio ilícitos de Armas (em processo de ratificação na Assembleia da República), constitui o enquadramento legal para o controle das armas e para a redução do seu número, em particular das consideradas armas ilegais, e, como tal, qualquer alteração que corresponda a um enfraquecimento do seu grau de exigência inicial constitui uma redução da eficácia do conjunto de instrumentos tão laboriosamente criados com aquele fim. Convirá também não esquecer que Portugal se encontra activamente empenhado no processo internacional de luta contra a proliferação de armas ligeiras, em particular no âmbito da Nações Unidas, como por exemplo no Programa de Acção contra o comércio ilícito de armas ligeiras em todos os seus 1

aspectos e na elaboração de um Tratado sobre o Comércio de Armas, que se pretende bastante exigente quanto a objectivos e força de aplicação, pelo que convirá proceder internamente em sintonia com as posições afirmadas nos organismos internacionais. III Pontos referidos pelo Observatório no decurso da Audição A 4.ª Revisão da Lei das Armas está a ser feita a partir da Proposta de Lei n.º 36/XI e do Projecto de Lei n.º 412/XI/2.ª. São inúmeras as alterações apresentada nestes dois documentos. O Observatório seleccionou um número relativamente reduzido de questões que considera mais relevantes e sobre elas apresentou as seguintes considerações: 1. Período extraordinário para legalização de armas não manifestadas ou registadas. O Projecto de Lei n.º 412/XI/2.ª, no seu n.º 3 Manifesto e detenção provisória propõe um período de 180 dias para quem pretenda entregar voluntariamente ou proceder à legalização de armas não manifestadas ou legalizadas, não havendo lugar a procedimento criminal. O Observatório é de opinião de que, mais tarde ou mais cedo se deverá considerar um período de moratória para entrega de armas que permita recolher a maior quantidade possível de armas ilegais. No entanto, a criação deste período de excepção deverá ser preparado com muito cuidado para não se repetir o relativo insucesso da moratória realizada em 2006 logo no início da entrada em vigor da Lei n.º5/2006 (apenas cerca de 6.500 armas recolhidas, das quais, cerca de 4.100 foram legalizadas e apenas cerca de 2.400 foram retiradas da circulação). Numa perspectiva de luta contra a proliferação das armas e sabendo-se que deverão existir centenas de milhar de armas ilegais em Portugal (a última estimativa conhecida elaborada em 2010 pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra apontava para um número de 1,2 milhões), conviria antes do mais definir a que universo de armas se destinava a nova moratória certamente às armas adquiridas ilegalmente pelas pessoas que viram aumentar a sua percepção de insegurança e preparar um programa de redução de tal percepção. Este programa por certo envolveria toda a sociedade pois ultrapassaria em muito as funções e competências das forças de segurança, repousando mais na execução de políticas de natureza social dirigidas á luta contra as desigualdades e passando em muitos casos por uma política correcta de alojamento na malha urbana e eliminação de zonas de construção clandestina. Neste contexto a definição de um período de excepção constituiria o culminar de esforços conjugados de muitos sectores da Administração Pública e da sociedade civil tornando-se impossível de determinar a priori a sua oportunidade. Uma tarefa desta magnitude luta contra a percepção de insegurança poderia ser executada no âmbito de uma colaboração entre o Legislativo e o Executivo que encontraria um processo relativamente expedito de definição de um calendário adequado para uma moratória que maximizasse o seu sucesso, afastando, assim, o perigo de desgaste para a criação de um novo 2

período de excepção, que se adivinha, caso fosse atendida a proposta do Projecto de Lei n.º 412/XI/2.ª. 2. Leilões de Armas. A 4.ª Revisão da Lei das Armas não contempla o fim da figura do Leilão de Armas prevista no Art.º 79º da Lei n.º 5/2006. O Observatório considera que não faz qualquer sentido que as armas apreendidas, recuperadas, achadas ou entregues às forças de segurança sejam, depois de declaradas perdidas a favor do Estado, postas novamente no circuito comercial através de um leilão, organizado pelas próprias forças de segurança que, mutas vezes, as recuperaram com risco da própria integridade física. Todas essas armas deveriam ser destruídas, aliás no respeito das prioridades de destino das armas perdidas a favor do Estado, como o estipula o n.º 2 do Art.º 78º da Lei n.º 5/2006, como tem acontecido em numerosos outros países que têm tomado iniciativas semelhantes. 3. S.I.G.A.E. Sistema Integrado de Gestão de Armas e Explosivos. A boa execução da Lei das Armas depende, em boa medida, da existência de um sistema informático adequado que assegure os registos e as ligações entre os principais intervenientes dos processos contemplados naquela Lei: detentores de armas, compradores, armeiros, carreiras de tiro, importadores, exportadores, forças de segurança, etc.. A Lei prevê que os registos e comunicações sejam feitos sobre suporte informático e o S.I.G.A.E. terá sido concebido com essa finalidade. Ao fim de 5 anos de aplicação da Lei das Armas convirá assegurar que aquele sistema informático está a ser utilizado em todo o seu potencial, que toda a informação relevante esteja já carregada em particular a que respeita a todos os processos de concessão de licença de uso e porte de armas de modo a que todos os que as possam utilizar estejam cobertos em termos de informação relevante de modo a assegurar um controle efectivo sobre as armas legais. É preciso ter presente que muitas das alterações feitas ou propostas para ser introduzidas ao longo da curta vida da Lei das Armas têm implicações naquele sistema informático, obrigando à introdução de modificações nas suas funcionalidades, ou a novos carregamentos de dados, com os correspondentes custos financeiros, que importa ver assegurados antes de as concretizar, sob pena de ineficácia. Destas considerações resulta uma interacção estreita entre o Poder Legislativo e as Forças de Segurança no sentido de uma informação completa sobre a operacionalidade do S.I.G.A.E. em qualquer momento e as necessidades de verificação do cumprimento da Lei das Armas e de novas actualizações no sentido do seu aperfeiçoamento. Neste aspecto o Observatório propõe que, numa perspectiva de cooperação (e nunca de controle) fosse criada uma Auditoria técnica independente ao S. I.G.A.E. que informasse em simultâneo a Assembleia da República e as Forças de Segurança, em particular a P.S.P., sobre a adequação do sistema informático ao que lhe é exigido por força da Lei e das suas sucessivas alterações, sobre o grau de carregamento de todos os dados 3

relevantes para a aplicação da Lei das Armas e de outras Leis relacionadas com o combate à proliferação das armas ligeiras, e sobre o modo como a P.S.P. acompanha o relacionamento entre os principais interventores dos processos que tem de acompanhar no âmbito desta Lei. 4. Equiparação dos caçadores aos desportistas de tiro quanto aos Cursos de Actualização. Art.º 22.º n.º3 da Lei n.º 5/2006. A Proposta de Lei e o Projecto de Lei coincidem na proposta de equiparação dos caçadores aos desportistas de tiro tentando dispensa-los da frequência periódica dos Cursos de Actualização técnica e cívica em cada 10 anos previstos no Art.º 22.º da Lei das Armas. O Observatório não concorda com esta equiparação pois a responsabilidade pelo uso de muitas das armas das Classes C e D é muito elevada face ao potencial de tiro de muitas delas e o passado é fértil em exemplo da sua deficiente utilização e cuidado no transporte e guarda para, com uma discreta alteração da Lei reduzir em muito a sua exigência, tanto mais que se trata de uma formação a realizar com um intervalo tão largo durante o qual, por certo, haverá campo para recordar ou informar sobre matérias relevantes do ponto de vista técnico e cívico. Por outro lado nada se adianta sobre a prova, o que deixa em aberto o conhecimento sobre o efeito prático desta equiparação. 5. Alterações ao Art.º 60.º Autorizações prévias à importação e exportação e importação nº.7 e n.º 1 a)o Projecto de Lei 412/XI/2.ª propõe quanto ao n.º 7 do Art.º 60.º, que, numa exportação de armas, a consulta ao Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre o cumprimento pelo país de destino dos critérios no Código de Conduta da União Europeia sobre exportação de armas deixe de ser feita de modo sistemático e passe a ser feito apenas em caso de dúvida da P.S.P.. Sem querer pôr em causa a capacidade de recolha de informações por parte das forças de segurança, julga o Observatório que a cautela sistemática através do recurso aos canais diplomáticos reforça a qualidade das informações ajudando a manter o nível de exigência requerido pela aplicação do Código de Conduta e evitando dar um sinal de abrandamento da vigilância que, neste contexto é exigida aos países da União Europeia. Os exemplos de práticas que contornam os controlos sobre a veracidade das informações sobre os destinos finais abundam, sobretudo em situações de embargos, para nos permitirmos afrouxar cuidados que, ao que sabemos, funcionam sem problemas e com resultados muito positivos. b) O Projecto de Lei 412/XI/2.ª propõe, no n.º 1 do Art.º 60 que deixem de estar sujeitas a autorização prévia do Director Nacional da P.S.P. as importações e exportações da parte essencial das armas de fogo designada por carcaça. Sendo a carcaça a parte da arma curta de que faz parte e onde se fixa o punho e que encerra o mecanismo de disparo (Art.º 2 n.º 2 j) mal se percebe o alcance desta derrogação tanto mais que a falta de controlo sobre as características do mecanismo de disparo poderá permitir a alteração radical das características das armas que venham a receber a carcaça assim importada ou 4

exportada, razão pela qual o Observatório considera de não atender esta proposta. 6. Obtenção em simultâneo da caça de caçador e da licença de porte de arma para caçar. (Art.º 21 n.º 3 da Lei das Armas) O Observatório não vê qualquer objecção a esta alteração proposta quer pela Proposta de Lei, quer pelo Projecto de Lei desde que ela se inscreva numa perspectiva de simplificação e não se traduza num abrandamento de exigências consagrado nas anteriores versões da Lei das Armas. Esta apreciação é difícil de ser feita neste momento uma vez que, ao transferir para diploma regulamentador Portaria conjunta das áreas do Governo responsáveis pela administração interna e da agricultura, o conhecimento pormenorizado do alcance desta proposta, se retira a possibilidade de um julgamento fundamentado sobre esta matéria. 7. Notificação com a antecedência de 60 dias da data de caducidade da licença de uso e porte de armas (Art.º 28.º n.º 3 da Lei das Armas) O Observatório não vê qualquer objecção a esta proposta que consta, quer do Projecto de Lei, quer da Proposta de Lei, chamando, no entanto a atenção para o que haverá de acautelar no contexto do S.I.G.A.E. (Ver 3.º deste documento) que permita a aplicação imediata deste procedimento em toda a sua extensão. 8. Atribuição de competências para além da P.S.P. para a homologação prévia ou verificação das condições de segurança de cofres, armários e casas fortes. (Art.º 32.º da Lei das Armas) Esta proposta do Projecto de Lei 412/XI/2.ª traduz-se numa transferência para entidades não públicas de funções que a Lei comete, neste momento, a uma das suas fontes de segurança. Embora esteja prevista a homologação prévia destas entidades por Portaria do Ministério da Administração Interna, o Observatório considera que esta atribuição fora da esfera do Estado e do âmbito concreto das suas forças de segurança traduz-se numa sensível alienação dos seus poderes numa área que lhe deve estar reservada pela responsabilidade envolvida pelos actos em causa. Numa busca por um processo mais descentralizado de homologação prévia e de verificação muito haveria ainda por fazer convocando outras forças de segurança de proximidade como a G.N.R. ou, mesmo, as Polícias municipais. 9. Descriminalização dos actos de violação da renovação de licenças de uso e porte de armas ( Art.º 99.º - A n.º2 e n.º 3 da Lei das Armas) O Projecto de Lei e a Proposta de Lei coincidem nesta proposta á qual o Observatório não encontra qualquer objecção, concordando com a existência de uma menor ressonância ética e de uma menor censurabilidade jurídica no 5

facto de se deixar caducar uma licença, quando comparado pela posse de uma arma ilegalmente. Ao que parece a redacção do Art.º 99 A terá sido introduzida em sede de Assembleia da República quando da 3.ª Revisão da Lei das Armas. A confirmarse esta hipótese, conviria examinar as razões que presidiram à sua introdução para acautelar qualquer aspecto que, eventualmente, esteja a escapar aos legisladores de hoje. 10. Alargamento de 180 dias para um ano do prazo de cedência, a título de empréstimo de armas de fogo das classes C e D. (Art.º 38.º n.º 3 da Lei das Armas) Esta proposta da Proposta de Lei 36/XI não merece a concordância do Observatório por se tratar, também, de um período muito alargado que é passível de várias vicissitudes com a arma, devendo manter-se o actual prazo. 11. Licença B1 referência explícita aos cursos de formação técnica e cívica nas condições cumulativas de concessão de licença. (Art.º 14.º n.º 1, e) da Lei das Armas). A actual redacção desta alínea e) de n.º1 do Art.º 14.º da Lei das Armas refere que a licença B1 pode ser concedida a maiores de 18 anos que reúnam, cumulativamente as seguintes condições: e) sejam portadores do certificado de aprovação em cursos de formação técnica e cívica para o uso e porte de armas de fogo da classe B1. O Projecto de Lei 412/XI/2.º retira a expressão em cursos de formação técnica e cívica da redacção da alínea e) do n.º 1 do Art.º 14. Esta simplificação da redacção, mais, talvez, por razões formais, poderá abrir caminho, no futuro a um certificado de aprovação para uso e porte de armas de fogo da classe B1 que não contemple a frequência, com aprovação de cursos de formação técnica e cívica, o que, a verificar-se, seria uma significativa redução de exigência da Lei das Armas. Para prevenir tal eventualidade o Observatório sugere a manutenção da actual redacção da alínea e) do n.º 1 do Art.º 14 da Lei das Armas, bem clara quanto ao seu objectivo. 12. Legalização ou entrega ao Estado de armas encontradas pertencentes a familiares há muito falecidos. Há situações relativamente frequentes em que armas são encontradas arrumadas num sítio menos visitado de uma casa. Pertenceram a um familiar já falecido, sendo muitas vezes de calibre e com características diferentes das autorizadas. Tais situações não se enquadram, em rigor, nem nas previstas no Art.º 37.º da Lei das Armas Aquisição por sucessão mortis causa, nem no Art.º 82.º Entrega obrigatória de arma achada. 6

Conviria contemplar tais situações o que, por certo, promoveria a entrega ao Estado de número significativo de armas ou então, se se considerar que a Lei das Armas na sua actual redacção cobre tais situações, divulgar os procedimentos a obedecer para libertar as famílias de tão sério problema. 13. Licença para menores (Art.º 19.º -A- da Lei das Armas) E.T. Respondendo a uma questão do Grupo de Trabalho para a 4.º Revisão da Lei das Armas o Observatório pronunciou-se contra a actual redacção do Art.º 19 A da Lei das Armas, em particular quanto á simples autorização escrita de quem exerce a autoridade parental para que menores com a idade mínima de 16 anos para a prática de actos venatórios, por considerar que, numa perspectiva de luta contra a proliferação de armas não seja aconselhável, desde uma idade tão precoce, a convivência estreita com armas de fogo, sem o acompanhamento directo do responsável pela sua educação, pelo que tal possa influir na banalização da utilização de uma arma de fogo noutros momentos de sua vida. 14. Muitos mais aspectos poderiam ter sido considerados nestes comentários. No entanto, a partir da estimativa do tempo atribuído à Audição do Observatório, estes foram considerados merecedores de particular atenção na perspectiva da luta contra a proliferação das armas ligeiras. 25 11-2010 F.M.R.O. 7