RECOMENDAÇÃO Nº 09 PROPAC Nº 05/2015 A Defensoria Pública do Estado do Tocantins, mediante atuação do seu Núcleo Especializado de Direitos Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, denominado Núcleo de Ações Coletivas NAC, presentada por seu Órgão de Execução que ao final subscreve, no exercício das prerrogativas que lhe confere o art. 134 da CRFB (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014), c/c o art. 128, inciso X, da Lei Complementar Federal nº 80/94, art. 2º, caput, e incisos VII, VIII, X e XI, art. 53, inciso IX, ambos da Lei Complementar Estadual nº 055/2009 c/c art. 1º, incisos IV e VIII, art. 5º, inciso II, da Lei Federal nº 7.347/85, c/c art. 81, incisos I e II, na forma do art. 90 do Código de Defesa do Consumidor, e, ainda, de acordo com os preceitos gerais estatuídos no Código de Processo Civil e no microssistema de tutela jurisdicional coletiva, formado pela completa interação entre as Leis 7.347/85 e 8.078/90 1, dentre outras e: CONSIDERANDO que a Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014); 1 Os arts. 21da Lei da Ação Civil Pública e 90 do CDC, com normas de envio, possibilitaram o surgimento do denominado Microssistema ou Minissistema de proteção dos interesses ou direitos coletivos amplo senso, no qual se comunicam outras normas, com o Estatuto do Idoso e o da Criança e do Adolescente, a Lei da Ação Popular, a Lei de Improbidade Administrativa e outras que visam tutelar diretos dessa natureza, de forma que os instrumentos e institutos podem ser utilizados para "propiciar sua adequada e efetiva tutela" (art. 83do CD). RECURSO ESPECIAL Nº 1.21.254-RJ (201/0190387-2); Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima. Data do Julgamento: 05 de julho de 2012. 1 - Avenida Joaquim Teotônio Segurado, QD. 502 Sul, Edifício Sede, 2º andar, Ala Sul, CEP: 77021-654, Fone:
CONSIDERANDO a função institucional de promover a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, inciso LXXIV, da Constituição da República do Brasil outorga à Defensoria Pública legitimidade para promover a ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos, quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes, na forma do art. 1º, incisos IV e VIII, c/c art. 5º, inciso II, da Lei Federal nº 7.347/85, além de toda a legislação que compõe o Microssistema de tutela coletiva (Lei da Ação Civil Pública, Código de Defesa do Consumidor, Lei da Ação Popular); CONSIDERANDO que o art. 1º, inciso III, da Lei Federal nº 7.347/85, com a redação dada pela Lei Federal nº 13.004, de 24 de junho de 2014, outorgou à Defensoria Pública e aos demais legitimados a defesa do patrimônio público e social; CONSIDERANDO que a Constituição da República Federativa do Brasil elenca, entre os fundamentos da República Federativa do Brasil, a dignidade da pessoa humana, bem como o objetivo de construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 1º c/c art. 3º, da CRFB/88); CONSIDERANDO que as diretrizes da política urbana, inscritas no art.182 da Constituição da República Federativa do Brasil, tornam imperativa a observância dos preceitos insertos no Plano Diretor da Cidade e institui mecanismos eficazes de política urbana, com vistas à justa distribuição de bens sociais; CONSIDERANDO o direito constitucional à cidade e à moradia (arts. 6º e 182 da CRFB/88 c/c art. 2º, inc. I, do Estatuto da Cidade); CONSIDERANDO que o Brasil é signatário do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que, em seu artigo 11, parágrafo 1º, prescreve que o direito à moradia encontra-se compreendido no espectro de nível adequado de vida; CONSIDERANDO o teor do Relatório com ferramentas práticas para implementação do direito à moradia e Guia com princípios básicos em caso de remoções 2 - Avenida Joaquim Teotônio Segurado, QD. 502 Sul, Edifício Sede, 2º andar, Ala Sul, CEP: 77021-654, Fone:
forçadas, elaborado pelo Relator Especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada; CONSIDERANDO os princípios constitucionais da Publicidade, Motivação, do Devido Processo Legal, da Responsabilidade do Estado pelos atos administrativos e, ainda, o Princípio da boa-fé administrativa, erigidos na Constituição pátria com status de direito fundamental no Estado Democrático de Direito (art. 37, CRFB/88), aliados ao Princípio da Legalidade, que exige a absoluta submissão da Administração Pública às leis; CONSIDERANDO que a Constituição Federal disciplinou, em seu art. 182, a Política de Desenvolvimento Urbano, que tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento da função social da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes, bem como elevou o plano diretor de desenvolvimento urbano ao patamar de instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana, essencial para avaliar o cumprimento da função social da propriedade urbana; CONSIDERANDO a existência de Procedimento Preparatório para Ação Civil Pública PROPAC nº 05/2015, instaurado com vistas a tutelar os direitos das famílias impactadas pelo processo de desapropriação das áreas com vistas à construção do BUS RAPID TRANSIT BRT SUL, com análise especial quanto ao critério a ser utilizado para a fixação do quantum da indenização por área construída e por área não edificada; CONSIDERANDO que a construção do BRT (bus rapid transit) em Palmas-TO será realizada no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento Mobilidade Médias Cidades, que deve observar as diretrizes da Lei n. 12.587/2012, a qual instituiu a Política Nacional de Mobilidade Urbana, e que tem por objetivo, conforme art. 2º, contribuir para o acesso universal à cidade, o fomento e a concretização das condições que contribuam para a efetivação dos princípios, objetivos e diretrizes da política de desenvolvimento urbano, por meio do planejamento e da gestão democrática do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana; CONSIDERANDO que o Município de Palmas-TO, para execução do projeto de mobilidade urbana, obteve autorização para operação de crédito na ordem de R$ 238.384.642,26 (duzentos e trinta e oito milhões, trezentos e oitenta e quatro mil, seiscentos e 3 - Avenida Joaquim Teotônio Segurado, QD. 502 Sul, Edifício Sede, 2º andar, Ala Sul, CEP: 77021-654, Fone:
quarenta e dois reais e vinte seis centavos) junto à Caixa Econômica Federal 2, com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) precipuamente, o que pode se constituir na obra com maior investimento de recursos públicos na história deste Município; CONSIDERANDO que o Estatuto da Cidade, regulamentando o art. 182 da Constituição da República Federativa do Brasil, atualizou diretrizes para criação e aprovação do Plano Diretor de desenvolvimento urbano e tornou obrigatória a realização de audiências públicas e debates com a participação da população e de associações representativas de vários segmentos da comunidade, conforme preceitua o art. 40, parágrafo 4º, do citado texto normativo; CONSIDERANDO que a Lei 12.587/2012, a qual institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, tem como princípio contribuir para o acesso universal à cidade por meio também da gestão democrática do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana, segundo o art. 2º, art. 5º, inciso V, art 7º, inciso V, art 14, inciso II, assim como assegura a participação da sociedade civil no planejamento e fiscalização mediante, entre outros instrumentos obrigatórios, a realização de audiências e consultas públicas, conforme consta de seu art. 15; CONSIDERANDO que esse projeto de mobilidade urbana com implantação do BRT (bus rapid transit) no Município de Palmas-TO deve observar, além do Estatuto da Cidade, as diretrizes previstas na Lei 12.587/2012, que trata da Política Nacional de Mobilidade Urbana, conforme assinala a Portaria nº 328 3, de 19 de julho de 2012, do Ministério das Cidades; CONSIDERANDO que a participação popular no processo decisório é um imperativo da contemporaneidade e que sua ausência é um dos fatores catalisadores da ocorrência dos legítimos protestos populares contra as deficiências na prestação dos serviços públicos; 2 https://webp.caixa.gov.br/urbanizacao/siurbn/acompanhamento/ac_publico/sistema/asp/ptei_detalhe_contrato_occ. asp 3 http://www.cidades.gov.br/images/stories/arquivossemob/pacmobilidade/portaria_n_328_de_19_de_j ULHO_DE_2012.pdf 4 - Avenida Joaquim Teotônio Segurado, QD. 502 Sul, Edifício Sede, 2º andar, Ala Sul, CEP: 77021-654, Fone:
Dessarte, a Defensoria Pública do Tocantins, por intermédio de seu Núcleo de Ações Coletivas-NAC, presentada pelo Órgão de Execução ao final subscrito, no exercício das atribuições e prerrogativas outorgadas pelo art. 134 da Constituição Federal, e demais disposições constantes da Lei Complementar Federal nº 80/94 e Lei Complementar Estadual nº 55/09, RECOMENDA ao Município de Palmas que: a) Adote todas as providências necessárias à realização de audiências públicas para expor à população o projeto de mobilidade urbana e implantação do sistema BRT e as alterações previstas no sistema de transporte coletivo urbano; b) Que essas audiências públicas sejam amplamente divulgadas, visando a uma efetiva participação popular, com e-banner alocado no sítio eletrônico (portal na internet) do Município, nos prédios públicos municipais, unidades de saúde e postos de saúde da família, terminais de ônibus e demais locais que se entender convenientes; c) Que seja aberto espaço, nessas audiências públicas, para acolhimento de críticas, reclamações, sugestões ou dúvidas, conforme previsto nos artigos 31 a 35 da Lei 9.784/99, a serem formalizadas e analisadas em tempo hábil para eventual modificação do projeto executivo; d) Que, além desse espaço nas audiências públicas, o Município de Palmas crie mecanismo e abra prazo para recebimento de críticas, reclamações, sugestões ou dúvidas do referido projeto de mobilidade urbana, após a exposição deste à população; e) Que todas as críticas, reclamações, sugestões ou dúvidas sejam apreciadas, e que sua rejeição ou acolhimento apenas ocorra de maneira formal, com a exposição, pelo Poder Público, da justificativa que levou à aceitação ou rejeição. Ressalte-se que o descumprimento desta recomendação constitui em mora o destinatário quanto às providências solicitadas e poderá, em tese, implicar a adoção de todas as providências administrativas e judiciais cabíveis, em sua máxima extensão, contra os responsáveis inertes em face da violação dos dispositivos legais acima referidos. Requer-se, na hipótese de a presente recomendação não ser atendida, sejam encaminhados os fundamentos da negativa a este Núcleo de Ações Coletivas-NAC, no endereço constante do rodapé, no prazo de 15 dias, a contar do seu recebimento, conforme inteligência do art. 8º da Lei Federal nº 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública). 5 - Avenida Joaquim Teotônio Segurado, QD. 502 Sul, Edifício Sede, 2º andar, Ala Sul, CEP: 77021-654, Fone:
Palmas-TO, aos 18 de setembro de 2015. Isabella Faustino Alves Defensora Pública Coordenadora do Núcleo de Ações Coletivas-NAC 6 - Avenida Joaquim Teotônio Segurado, QD. 502 Sul, Edifício Sede, 2º andar, Ala Sul, CEP: 77021-654, Fone: