O PODER EM FOUCAULT E A RELAÇÃO COM A VIDA

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Transcrição:

O PODER EM FOUCAULT E A RELAÇÃO COM A VIDA Samuelli Cristine Fernandes Heidemann 1 Área de conhecimento: Direito. Eixo temático: Ciência do Direito, Teorias Jurídicas e a Relação do Direito com Ciências afins (produções interdisciplinares). RESUMO O objetivo deste artigo é analisar as modalidades de poder em Foucault, através de uma abordagem que abarca conceitos fundamentais, tais como o poder, a soberania, a disciplina, a microfísica do poder, a governamentalidade, o biopoder e a biopolítica. Ainda, tematiza os elementos que possibilitaram ao filósofo francês elaborar a concepção de poder a partir de práticas sociais, remetendo a relação entre poder e saber. Pois em Foucault, o poder não tem uma origem, uma essência, nem é algo que possa ser possuído, o poder é apto a ser exercido somente. Trata do controle social da sociedade disciplinar e apresenta o panóptico, onde a relação de poder baseia-se na sujeição constante do indivíduo. Compreende a passagem do exercício do poder sobre o corpo do sujeito para o corpo espécie e relaciona a questão da vida e da morte no contexto em que o poder passa a importar-se com a população. Palavras-chave: Disciplina. Poder. Vida. 1 INTRODUÇÃO O presente ensaio teórico trata da noção de poder presente, sobretudo, na obra Vigiar e Punir de Michel Foucault. Em suas análises do poder há um deslocamento do modo como ocorre a investigação, pois diferente das teorias clássicas que atribuíam ao Estado uma espécie de monopólio do poder, Foucault desenvolve uma análise a partir das margens, das periferias, dos micro poderes, e não mais do centro, isto é, do poder instituído pelo Estado. O autor francês quer, enfim, descobrir como o poder permeia todas as estruturas sociais, como se sucedem as relações sociais constituídas pelo poder. Neste sentido, trata-se de um estudo da obra que envolve o aspecto da relação poder/ saber da noção de poder disciplinar. O objetivo desse estudo é a pesquisa de cunho histórico das diferentes formas de poder analisadas por Foucault, suas transformações, sua constituição e articulação. Nesse sentido, em Vigiar e Punir, Foucault trata do tema da Sociedade 1 Graduada em Direito pela Unioeste/PR campus de Marechal Cândido Rondon. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Sociedade, Cultura e Fronteiras da Unioeste/PR campus de Foz do Iguaçu. Bolsista Capes/FA. E-mail: samucristine@gmail.com 925

Disciplinar, implantada a partir dos séculos XVII e XVIII, consistindo em um sistema de controle social através de várias técnicas. O poder, em um primeiro momento, identifica Foucault, era justificado pelo filósofos clássicos a partir da soberania. Pois, o soberano detinha o direito de deixar viver ou fazer morrer, seu poder legitimava-se pelos suplícios públicos. Mas, com o surgimento de novas tecnologias de poder, as sociedades europeias do século XVIII identificam o advento da categoria sujeito, onde os corpos físicos das pessoas tornam-se o primeiro espaço no qual fora exercida uma nova forma de poder. Com isso, a transformação das formas punitivas dos suplícios, deu lugar a uma suavidade dos castigos, ocorrendo o deslocamento da punição sobre o corpo, implicando em um novo regime de poder, em um emaranhado de saberes, técnicas e discursos científicos, que se formam e se entrelaçam com a prática do poder de punir. Sendo assim, o regime de poder disciplinar produz saberes que estrategicamente vão servir de mecanismo para moldar o comportamento dos indivíduos. Isto ocorre com a institucionalização das escolas, dos hospitais, dos quartéis, das prisões entre outros ambientes denominados como instituições de sequestro. Esta denominação é utilizada pelo fato de individualizar o sujeito e usar técnicas disciplinares para docilizá-lo, adestrá-lo, puni-lo. O panoptismo como modelo de exercício de poder, cuja técnica disciplinar garantia a subordinação e o adestramento espontâneo do sujeito, por meio do olhar constante e invisível, marca, igualmente, a sujeição constante do indivíduo neste período. Ao lado do poder disciplinar, surgirá ao final do século XVIII um tipo de poder que será nominado por Foucault de biopoder. A tecnologia de poder que vê o homem na condição de homem-máquina, em que o seu corpo é adestrado a fim de tornar-se um instrumento útil aos interesses econômicos, dá espaço, concomitantemente, ao biopoder cujo foco não é o corpo individualizado, mas o corpo coletivo. O biopoder não se diferencia somente do poder disciplinar, mas também do poder soberano, pois enquanto na soberania havia um direito do soberano deixar viver ou fazer viver, no biopoder haverá uma tecnologia de poder voltada para o fazer viver e o deixar morrer, que será um poder que vai se encarregar da preservação da vida, eliminando tudo aquilo que ameaça a preservação e o bem estar da população. 926

Para a realização do presente trabalho, utilizou-se pesquisa bibliográfica, abordando-se a temática através do método dedutivo. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O PODER EM FOUCAULT Com relação ao poder é possível dizer que dele derivam quatro tipos, que são disseminados em distintas instituições, a saber: o poder econômico, sob a forma de salário como pagamento/recompensa da força de trabalho; o poder político, em que as ordens de uns prevalecem sobre os outros; o poder judiciário, em que alguns possuem o condão de julgar e punir infrações e, por fim, o poder epistemológico, que extrai dos indivíduos um saber, um conhecimento estando já submetidos ao olhar e controlados por estes diferentes poderes (GODINHO, 1995). Para Machado (apud GODINHO, 1995, p.67), na concepção foucaultiana, o poder tem uma existência própria e formas específicas ao nível mais elementar. Assim, Foucault (1987) analisa as formas históricas do poder, a partir das suas práticas presentes dos séculos XVI ao XVIII. Tendo como preocupação não tomar o poder como um fenômeno de dominação maciço e homogêneo de um indivíduo sobre os outros (FOUCAULT, 1998, p.183). Para Foucault (1987) estudar o poder é estudar as técnicas e táticas de dominação, pois em sua concepção o poder não existe, o que existem são as práticas ou relações de poder que se estabelecem na sociedade. O poder é, portanto, elementar ao próprio funcionamento da sociedade. Conforme Godinho (1995) na concepção foucaultiana de poder, existem poderes disseminados em toda a estrutura social por intermédio de uma rede de dispositivos da qual nada nem ninguém escapam. O poder único não existe, mas, sim, práticas de poder. Deste modo, o poder não é algo que se possui, mas algo que se exerce. Sendo assim, o poder é algo que funciona estabelecendo relações. E mais, o poder não se constitui privilégio da classe dominante, mas expressa o conjunto das posições estratégicas utilizadas por determinada classe, e que pode ser manifestado e às vezes até reconduzido pelos dominados (FOUCAULT, 1987). 927

Eis que o poder tem a possibilidade de ser exercido negativo ou positivamente, pois se o poder apenas se exercesse de um modo negativo, ele seria muito frágil. Se ele é forte, é porque produz efeitos positivos [...] a nível do saber (FOUCAULT, 1998, p.148). 2.2 O PODER QUE PRODUZ SABER Poder e saber estão diretamente implicados, haja vista que em A Verdade e as Formas Jurídicas, Foucault (2002) relata a existência de uma relação entre poder e saber, ou seja, entre o poder político e o conhecimento. O poder como prática, invariavelmente, está em todos os lugares permeando as relações e as trocas que se estabelecem entre diferentes profissionais, nas quais o poder exerce-se a partir do conhecimento adquirido no campo dos saberes científicos. Conforme Foucault (1987, p.27) Temos antes que admitir que o poder produz saber; que não há relação de poder sem constituição correlata de um campo de saber. Para Foucault (1987) os saberes surgem como elementos de um dispositivo de natureza essencialmente estratégica, ou seja, como dispositivos de poder. Os saberes começam a ganhar contornos de disciplina no século XVIII, onde cada saber é organizado como uma disciplina que possui seus próprios campos e critérios de seleção. Há a possibilidade de descartar o saber não verdadeiro, o falso saber; suas formas de normalização e homogeneização de seus conteúdos e as formas de hierarquização desses saberes. A verdade está circularmente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam, e a efeitos de poder que ela induz e que a reproduzem (Foucault, 1998, p. 14). Portanto, o poder disciplinar, organiza cada saber em uma disciplina bem como estabelece suas possibilidades de intercomunicação, distribuição e hierarquia com os outros saberes (Foucault, 1999, 2002). Segundo Foucault (1999, p. 214) instaura-se um imenso e múltiplo combate dos saberes uns contra os outros dos saberes que se opõem entre si por sua morfologia própria, por seus detentores inimigos uns dos outros e por seus efeitos de poder intrínsecos. Por derradeiro, Foucault (1998, 1999) rompe com a tradição do pensamento epistemológico ao atribuir ao chamado senso comum como fonte de saber ao lado 928

do saber científico, até então única fonte de saber e de verdade. Assim, o saber é constituído por ambos e não existe nenhuma fronteira ou abismo entre ciência e senso comum. Não há relação de poder sem constituição de um saber, nem saber que não pressuponha e constitua relações de poder (Foucault, 1987). O poder disciplinar não demonstra apenas uma modelagem do corpo, mas acaba constituindo um conhecimento sobre o indivíduo. O indivíduo ao adquirir aptidões por meio do aprendizado de determinadas técnicas, acaba tendo o comportamento modelado. Assim, as aptidões misturam-se com as relações de poder. 2.3 O PODER EM VIGIAR E PUNIR Foucault (1987) faz uma análise histórica-filosófica sobre o poder em Vigiar e Punir, levando em consideração determinados contextos históricos. Para esta análise o filósofo francês centra seus estudos no sistema de punição presente desde a Idade Média. Foucault situa seu estudo percebendo a punição como uma função social complexa, na qual ele faz uma análise dos métodos punitivos como técnicas de poder, colocando a tecnologia do poder no princípio da humanização da penalidade e do conhecimento do homem. Billouet (2003) afirma que no século XVIII, começa a busca para que a humanidade seja respeitada, no que diz respeito aos castigos. A crítica ao suplício denota a insatisfação com o poder absoluto do soberano. Note-se que Foucault (1987, p.24) analisa a transformação dos métodos de punição tendo como pressupostos uma tecnologia política do corpo onde se poderia ler uma história comum das relações de poder e das relações de objeto. Dessa forma, ele descreve algo em comum: a forma como o poder se efetiva, como se forma, qual o espaço e quais os dispositivos dos quais ele se utiliza. Sendo assim, é através da história da violência nas prisões que Foucault (1987) demonstra como os regimes de poder se efetivam não só na prisão, como também na escola, no hospital, na sociedade, por meio de mecanismos de vigilância e controle. Esses mecanismos têm como referência um domínio institucional (escola, hospital, prisão, quartel, entre outros), no qual o poder disciplinar é exercido por meio da norma produzida. 929

Em Vigiar e Punir Foucault (1987) aborda a temática das relações do poder disciplinar, que expressam a forma como o poder era exercido na sociedade Moderna (século XVI e XVII). Foucault analisa em que medida o exercício do poder é visto como uma microfísica, cujas relações funcionam como exercício de poder e produção de saber. Desse modo, ao analisar questões referentes à loucura, à sexualidade, ou a respeito das instituições, tais como: prisões, hospitais, escolas, quartéis ou asilos, Foucault sempre se preocupou com o poder. Para Foucault (1987), o poder se deslocou do soberano e passou a existir através da norma, e assim, deixou de estar centralizado em uma figura e espalhouse pela sociedade nas instituições. Haja vista que, na Europa no século XVII, a internação passou a ser um movimento de reclusão e exclusão dos indivíduos, internando-se não só os loucos, mas também os pobres e os considerados vagabundos. São criadas as primeiras instituições disciplinares, nas quais todos aqueles que estavam à margem da sociedade, eram presos, e os loucos faziam parte desse grupo. Assim, na prática médica tem-se o poder sobre o doente, e o médico é tido como um veículo do poder. Ainda, é nesta época que houve a aliança entre igreja e Estado em prol dessa nova modalidade de poder, onde a reclusão simbolizava a redenção da moral condenável, e a clausura do mal. O internamento tanto serviria para a reclusão dos loucos e para a punição dos vagabundos, quanto para a consolação dos pobres. Desse modo, a igreja exerceu o poder sobre os pobres, doentes e miseráveis que se submetiam aos mecanismos do poder (FOUCAULT, 1987). 3 O PODER SOBERANO O poder soberano associa-se ao direito de deixar viver ou fazer morrer (simbolismo da potência de morte). A figura do sangue também está associada à soberania. Essa é, portanto, a forma como o soberano se sustenta em relação aos seus súditos (CARDOSO, 2008). Não é difícil ver que, se há algo que se encontra ao lado da lei, da morte, da transgressão, do simbólico e da soberania, é o sangue; a sexualidade, quanto a ela, encontra-se do lado da norma, do saber, da vida, do sentido, das disciplinas e das regulamentações. (FOUCAULT, 1999, p. 139). 930

4 O PODER DISCIPLINAR Nas sociedades europeias do século XVIII novas tecnologias de poder começam a despontar, tornando-se possíveis com o advento do sujeito, onde os corpos das pessoas são o primeiro espaço no qual essa nova forma poder é exercida. (FOUCAULT, 1987) Isto decorre da institucionalização das escolas, hospitais, quarteis, prisões, entre outros, locais em que o sujeito é individualizado e sobre ele utilizam-se técnicas disciplinares a fim de docilizá-lo (DINIZ; OLIVEIRA, 2013). Surge então o chamado poder disciplinar, tecnologia de poder que trata o corpo humano como uma máquina, objetivando adestrá-lo para transformá-lo em um instrumento útil aos interesses econômicos (DINIZ; OLIVEIRA, 2013). Os corpos dóceis, segundo a concepção de Foucault (1987) são comparados a objetos, tornando-se alvos diretos de poder. O corpo surge como retórica análoga à fabricação de uma massa informe que se manipula, modela, treina, obedece e ao se tornar hábil, extrai dos corpos o máximo de tempo e de forças que se multiplicam. Neste sentido, o corpo é objeto de investimento econômico, mais rápido e menos custoso. É o chamado homem-máquina, com um corpo útil, inteligível ou dócil, o corpo se torna objeto de uma coerção e disciplina sem folga, uma mecânica que envolve gestos, atitude, rapidez, codificação contínua do comportamento e poder infinitesimal (SILVA, 2011). Esses métodos impositivos da relação docilidade-utilidade, que permitem o controle minucioso das operações do corpo e que realizam a sujeição constante das forças, são o que se chama disciplinas. Muitas destas técnicas disciplinares existem há muito tempo em locais como conventos, exércitos e oficinas, mas somente nos séculos XVII e XVIII que as disciplinas se tornaram fórmulas gerais de dominação (SILVA, 2011). Assim a disciplina, segundo a genealogia foucaultiana, diz respeito tanto a uma modalidade de poder que se caracteriza por medir, corrigir, hierarquizar, quanto torna possível um saber sobre o indivíduo (PINHO, 1998, p. 189). A disciplina produz, para a modelagem e controle dos corpos, ferramentas que vão nortear todo o processo de construção do poder e normatização das 931

condutas, adotando caracteres para sua aquisição: constrói quadros; prescreve manobras; impõe exercícios; enfim, para realizar a combinação das forças, organiza táticas. Diante destes processos progressivos é retirado cada momento do tempo dos indivíduos, perpassando uma escala gradual e evolutiva em busca do aumento de suas potencialidades, criando assim uma nova maneira de gerir o tempo e tornálo útil, por recorte segmentar, por seriação, por síntese e totalização (FOULCAULT, 1987). As fábricas, colégios e quarteis como espaços disciplinares utilizam técnicas de observação do controle do tempo, dos movimentos e gestos, como forma de relacionar forças produtivas de trabalho com utilidade do tempo. O momento histórico das disciplinas é formar um mecanismo que torna o corpo tanto mais obediente quanto mais útil e assim inversamente (FOUCAULT, 1987). Foucault observa que o controle passa a garantir a qualidade do tempo, utilizado a não ser desperdiçado em atividades não úteis à instituição. O controle é continuamente garantido pela presença de fiscais e pelo afastamento de tudo que pode servir de distração ao vigiado (AGUERO, 2008). No contexto deste processo de dominação, há a utilização do saber como domínio e disciplina que se exerce também sobre os corpos dos outros para que estes operem como se quer. Para tanto, são empregadas técnicas que visam rapidez, eficácia e aptidão determinadas. Este modelo de racionalização utilitária de minúcias disciplinares, arranjos sutis e detalhes são pertinentes à microfísica do poder (FOUCAULT, 1987). Mas, além da clausura como característica dos quartéis e dos conventos, importa aos espaços disciplinares a divisão dos corpos pelos pontos estratégicos para tirar o máximo de vantagens e neutralizar os inconvenientes de interrupção de trabalho e agitações. Para isso, foi fundamental o cuidado com as presenças e as ausências, em demarcar onde e como encontrar os indivíduos, instaurar as comunicações úteis, enfim, vigiar o comportamento de cada um (SILVA, 2011). O princípio da ordem tinha, portanto, a finalidade de evitar a formação de grupos, bem como estabeleceu cada sujeito em um lugar, hierarquicamente controlado (AGUERO, 2008). A disciplina, clausura da microfísica do poder tem por finalidade fabricar corpos submissos e dóceis e, delimitados a um espaço calculado, treinado com fins 932

de isolamento do corpo e da alma. O espaço se compara a um sepulcro provisório de conversão moral destinado a formar uma consciência regenerada para que o indivíduo possa estar de volta à sociedade (FOUCAULT, 1987). Conforme Aguero (2008) a vigilância dos corpos e o controle do indivíduo no tempo e no espaço são, segundo Foucault, estratégias utilizadas pelo poder com o intuito de garantir a docilização do sujeito e torná-lo útil à sociedade. 4.1 O PANÓPTICO É no Panóptico, modelo de prisão desenvolvido por Jeremy Bentham, que Foucault (1987, 1998, 2002) demonstra como age o poder disciplinar. Sua arquitetura propicia que o poder seja exercido de uma forma anônima e que ao mesmo tempo circule por todos. Bentham escolheu o Panóptico como arquitetura para a vigilância onde o objetivo era assegurar uma vigilância que fosse ao mesmo tempo global e individualizante separando cuidadosamente os indivíduos que deviam ser vigiados (Foucault, 2004, p. 216). Sua forma circular garantia a observação sistemática dos corpos nas várias Instituições. A torre de vigia, ao centro, cuidadosamente construída para se manter invisível às observações externas. E ao redor, as celas eram construídas justamente com o propósito de visibilidade do observatório, onde os indivíduos a serem vigiados eram colocados (FOUCAULT, 2004). Relata Silva (2011) que as celas tinham duas janelas, uma para o interior e a outra para o exterior permitindo que a luz atravesse a cela de lado a lado. Aqui, o efeito do Panóptico induz no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. O objetivo é fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos. Na torre poderia como não haver um vigia, mas o importante era manter a incerteza quanto a isto. O indivíduo sabia que poderia estar sendo vigiado e isso bastava para mantê-lo disciplinado (SILVA, 2011). Foucault (2004, p.218), escreve que o Panóptico representava um olhar que vigia e que cada um, sentindo o peso sobre si, acabará por interiorizar, a ponto de observar a si mesmo; sendo assim, cada um exercerá esta vigilância sobre e contra si mesmo. 933

O modelo arquitetônico do Panóptico no tocante à invisibilidade, é no sentido de ver sem ser visto, interior e exterior se submetem ao controle da observação. Com a arquitetura do Panóptico, Bentham se maravilha com o fim das grades, o fim das correntes, das fechaduras pesadas, pois neste sistema, basta que as separações sejam nítidas e as aberturas bem distribuídas. Esta geometria simples e econômica de uma casa de certeza permite a eficácia do poder. A eficácia do poder incorpóreo mais leve, mais rápido de coerção sutil sobre o corpo do outro, na sua invisibilidade, garante uma vitória perpétua que evita o embate físico (FOUCAULT, 1987). Segundo Foucault (1987) o Panóptico é uma técnica utilizada não somente na prisão, mas foi difundido para as fábricas, escolas, hospitais, exércitos e atua da seguinte forma: cada pessoa deve ficar em seu respectivo lugar e trancado em sua cela de onde pode ser visto pelo vigia. As paredes laterais não permitem seu contato com os demais companheiros. Torna-se visível, mas não se vê quem o vigia. Assim, o indivíduo passa a ser objeto de uma informação e objeto da constituição de um saber. Se forem pessoas doentes diminui-se o risco de contágio. Se forem operários evitam-se os roubos, as uniões em torno de reinvindicações comuns, as comunicações e distrações que atrasam a execução do trabalho ou que provocam acidentes (FOUCAULT, 1987). O Panóptico quer colocar nos detentos, operários, estudantes, soldados, pacientes etc., um efeito constante de visibilidade que produz uma consciência que garantirá o funcionamento do poder. O detento, o operário e o aluno incorporam os efeitos do poder, não sendo necessário que tenha alguém na torre observando-os, mas basta que eles se sintam observados para que eles mesmos controlem seus atos, gestos, comportamentos e desejos (FOUCAULT, 1987). O Panóptico é sonhado por Bentham como uma rede de dispositivos que estariam em toda parte e sempre alertas, percorrendo a sociedade sem lacuna nem interrupção (FOUCAULT, 1987, p. 172). O funcionamento do arranjo Panóptico conserva uma relação de disciplina-mecanismo de exercício de mais poder que atravessa toda uma sociedade. Na verdade, quem está submetido a um campo de visibilidade e, sabe disso, retoma por sua conta as limitações do poder e fá-las 934

funcionar sobre si mesmo tornando-se o princípio de sua própria sujeição (FOUCAULT, 1987). No Panopticon vai se produzir algo totalmente diferente; não há mais o inquérito, mas vigilância, exame. Não se trata de reconstituir um acontecimento, mas de algo, ou antes, de alguém que se deve vigiar sem interrupção e totalmente (Foucault, 2002, p. 88). O poder deixa de ser personalíssimo e físico como era na monarquia e passa a ser microfísico. Qualquer indivíduo pode fazer funcionar a máquina Panóptica. O desenvolvimento do panóptico funciona como uma espécie de laboratório de poder (BIANCO; MACHADO; SOUZA, 2004). O Panóptico aperfeiçoa o exercício do poder e permite ampliar a quantidade de pessoas que exercem o poder, ao mesmo tempo em que consegue atingir um grande número de pessoas. O poder, por meio do Panóptico, se exerce antes que alguma falta tenha sido cometida. Ele não quer intervir, mas ser exercido de forma espontânea, discreta e permanente (FOUCAULT, 2002). A sociedade disciplinar tem sua formação na generalização do panoptismo. A ideia do panóptico que aparentemente, não passa da solução para um problema técnico constrói um novo tipo de sociedade. Constitui-se uma sociedade de vigilância não para reprimir, mas para treinar, aperfeiçoar e tornar útil o homem dentro de uma determinada correlação de forças. A constituição do indivíduo não é baseada na negação de sua totalidade, mas o indivíduo passa a ser cuidadosamente fabricado, por meio de uma tática das forças e dos corpos (FOUCAULT, 1987, 1998, 2002). O Panóptico representou um modelo de exercício de poder, cuja técnica disciplinar garantia a subordinação e o adestramento espontâneo do sujeito a um poder que agia sobre ele, assim permaneceu até o início do século XX (AGUERO, 2008). 5 O BIOPODER No final do século XVIII surgiu outro tipo de poder, o chamado por Foucault de biopoder (DINIZ; OLIVEIRA, 2013). 935

O foco do biopoder preconizam Diniz e Oliveira (2013) não é o corpo individualizado, mas o corpo coletivo. Este novo tipo de poder se diferencia não somente do poder disciplinar, mas também do poder soberano. No biopoder a tecnologia voltou-se a preservação da vida, eliminando tudo aquilo que ameaça a preservação e o bem estar da população. Desse modo, para Aguero (2008) o biopoder acaba por envolver todo o corpo social, valendo-se de uma tecnologia que funciona a partir da sedução, já que a intenção não é mais explicar ou convencer, mas seduzir e conquistar. Foucault reconhece os mecanismos que regulam as relações entre os sujeitos e o poder, mas alerta que os sujeitos não são, de modo algum, passivos às suas determinações, haja vista que nenhum poder é permanente e, ainda, diz sermos capazes de modificar a dominação em determinadas condições segundo o uso de estratégias precisas (AGUERO, 2008). E exatamente pelo seu caráter transitório está sujeito a falhas, por onde é possível a substituição da docilidade pela meta contínua e infindável da libertação dos corpos (GREGOLIN, 2003, p. 101). Ressalta Aguero (2008) ser possível identificar como meta de libertação dos corpos diversas formas de resistência, ou seja, maneiras de recusa do homem em permanecer em uma condição humilhante/degradante, articuladas em ações de enfrentamento contra as formas de dominação social. Os embates fazem parte da vida cotidiana, e mais, neles todos estão envolvidos, de uma ou de outra forma. O objetivo maior é construir novas relações sociais, uma sociedade nova onde os saberes e os poderes voltem-se ao bem comum e desapareçam determinadas formas de poder, normalmente opressoras. O biopoder em um panorama comparativo, dentro da narrativa do poder em Foucault, pode ser assim explicitado, a velha potência da morte em que se simbolizava o poder soberano será agora recoberta pela administração dos corpos poder disciplinar e pela gestão calculista da vida biopoder (FOUCAULT, 2007, p. 152). Neste contexto, compreende Cardoso (2008) a vida ganha destaque, no sentido que não representa mais um lugar inacessível, pois a problemática política denota a centralidade ocupada pelo fator biológico neste período. O exercício de 936

poder alicerça-se no biopoder, sobre uma instrumentalidade que se encarrega não da morte, mas que se ocupa em conhecer, organizar e controlar a vida. Foucault passa a considerar o poder como algo positivo, na medida em que o mesmo age sobre indivíduos livres que possuem um poder de transformação, indivíduos que se deixam incitar, seduzir, persuadir, intervindo sobre os corpos de modo a maximizar suas possibilidades, seja por meio da formação do sujeito como individualidade, o que se dá através da sujeição, da formação do homem-máquina pelos mecanismos disciplinares, utilizando-se técnicas de controle detalhado e minucioso que, articuladas a um saber, visam tornar os corpos dóceis e úteis; seja por meio do governo de uma população, da governamentalidade, enfatizando-se aqui a preservação do homem enquanto espécie, ou seja, a ação do governo passa a ser sobre uma pluralidade, entendida esta enquanto massa global, e a intervenção volta-se para o controle das regularidades, dos nascimentos, das mortes, das epidemias (TORRES, 2007). O biopoder vislumbra a espécie humana como um conjunto, seus cuidados voltam-se à população, o qual é caracterizado pela pretensão de regular questões como a do nascimento, da mortalidade, a média de vida das populações, enfim, os fenômenos coletivos mais relevantes para assegurar a existência, a manutenção, a saúde do corpo social e, não mais regular gestos que o corpo do indivíduo deve produzir, como fora exaltado no poder disciplinar (CARDOSO, 2008). A instrumentalidade do biopoder se soma à disciplina na visão de Cardoso (2008), havendo algo como uma sobreposição, uma contemplação de táticas. A tematização do Estado abriu campo às investigações que analisam as práticas de gestão de governo, ou o que Foucault denominou de governamentalidade. Os objetos de conhecimento da governamentalidade são, em síntese, a população, a economia e os dispositivos de segurança. É possível traçar um paralelo que de um lado compreende as ciências humanas, e do outro lado a forma do biopoder, para perceber que: Se as ciências humanas têm como condição de possibilidade política a disciplina, o momento atual da análise [genealógica de Foucault] parece sugerir que o biopoder, a regulação, os dispositivos de segurança estão na origem de ciências sociais como a estatística, a demografia, a economia, a geografia, etc. (MACHADO, 2007, p. 22-23). 5.1 O BIOPODER E A RELAÇÃO COM A VIDA O biopoder, como já mencionado, não suprimiu o poder disciplinar, haja vista que ele encontra-se em outro nível na escala do poder, ou seja, na medida em que 937

a técnica disciplinar se dirige ao homem corpo, o biopoder se dirige ao homem espécie (DINIZ; OLIVEIRA, 2013). A biopolítica, tomando isso como base, preocupa-se com as relações entre a espécie humana e o meio em que ela vive. Sua importância encaminha-se na proporção que a população necessita de boas condições do ambiente para preservar sua existência. Os fatores e problemas climáticos e geográficos, como também as epidemias e outras mazelas são considerados, já que afetam diretamente a população. Portanto, a biopolítica vai extrair o conhecimento necessário para a definição de qual área ela deve intervir com seu poder a partir das taxas de natalidade e mortalidade, vinculadas às diversas incapacidades biológicas. (FOUCAULT, 1999). A extração do poder reitera Foucault (1999) é importante no sentido que aperfeiçoa os mecanismos desse poder a fim de manter o equilíbrio da população, que objetiva prolongar a vida da espécie humana e alcançar a baixa da morbidade e alta da natalidade. Como sabido, poder disciplinar e biopoder se sobrepõem e se superpõem constante e incessantemente. Sendo que o tema da sexualidade é o melhor exemplo que Foucault fornece dessa espécie de acoplagem entre as duas modalidades de poder. Conforme Foucault foi no século XIX que a sexualidade tornou-se um campo de importância estratégica, porque dependia, simultaneamente, de processos disciplinares e biológicos, individualizantes e massificantes, controladores e regulamentadores. A sexualidade permeia-se exatamente entre os corpos dos indivíduos singulares e a unidade múltipla da população (FOUCAULT, 1999). No campo do saber produzido em conjunto pela fusão entre as mecânicas disciplinares e biopolíticas do poder, Foucault nos dá o exemplo da Medicina como um tipo de poder-saber que incide concomitantemente sobre os corpos individuais e sobre a população. A Medicina, portanto, assim como a sexualidade, possui tanto efeitos disciplinares como efeitos regulamentadores (Foucault 1999, p. 300-302). Existe um elemento comum que transita entre o poder disciplinar e o biopoder, entre a disciplina e a regulamentação, o qual possibilita a manutenção do equilíbrio entre a ordem disciplinar do corpo e a ordem aleatória da população. Eis que esse elemento é a norma, "que pode tanto se aplicar a um corpo que se quer 938

disciplinar quanto a uma população que se quer regulamentar" (Foucault, 1999, p. 302). Foucault chama de sociedade de normalização, a sociedade proveniente da norma da disciplina e da norma da regulamentação, uma sociedade regida, portanto, por essa norma ambivalente, na qual coexistem indivíduo e população, corpo e vida, individualização e massificação, disciplina e regulamentação. No século XIX, ao dizer que o poder tomou posse da vida e/ou incumbiu-se dela, é dizer que ele conseguiu estender-se sobre toda a superfície que compreende do orgânico ao biológico, do corpo à população, mediante o jogo duplo das tecnologias de disciplina, de uma parte, e das tecnologias de regulamentação, de outra (FOUCAULT 1999, p. 302). Ainda, quanto ao poder disciplinar na sociedade contemporânea, este vai agir no detalhe, vai agir sobre os corpos nas mais importantes e também atenuadas incumbências do dia a dia. Atualmente, se investem nos corpos como uma tecnologia política que desestabiliza fronteiras entre o familiar e o estranho nas práticas corporais contemporâneas (FRAGA, 2006, p. 63). A modelagem dos corpos, as técnicas da disciplina visam a criação de não apenas corpos padronizados, mas também subjetividades controladas (MISKOLCI, 2006, p. 682). O controle dos corpos se tornou tão importante na atualidade que se constata através da aparência física tudo aquilo que cada um quer mostrar de sua subjetividade (SANT'ANNA, 2004, p. 20). Assim sendo, a noção de beleza exterior se tornou tão importante que marca a atualidade como a sociedade da aparência, dos rostos e corpos belos e esbeltos, tudo graças aos mecanismos exigidos e tidos como verdadeiros pelo poder disciplinar que fazem do uso de atributos, como veículos de informação, para controlarem a sociedade (GAMA; GAMA; PINHO, 2009). Diante disso, é sob o slogan da saúde que o biopoder expande seus domínios, se auto justifica por tornar as pessoas saudáveis, proteger e securitizar a vida. Um possível fracasso na efetivação desses objetivos de segurança, de proteção da vida, não decorre de uma ingerência ou de um obstáculo ao exercício de controles sobre a população. Mas, tal acontecimento pode sim representar uma prova da necessidade de reforçar e estender o poder dos especialistas, de sua intervenção, do reforço ainda maior à prevenção dos riscos que afligem o corpo social. Em suma, havia a promessa da normalização e da felicidade através da 939

ciência e da lei. Seu fracasso justificava a necessidade de reforçá-las (DREYFUS; RABINOW, 1995, p. 215). Do mesmo modo, é o que propõe a Bioética, na sua concepção lato sensu ao abarcar e designar questões éticas provenientes dos avanços nas ciências biológicas e médicas, problemas diretamente proporcionais ao acelerado desenvolvimento dos meios que atribuem ao homem o poder de interferência, de forma eficaz, nos processos de nascimento e morte, que até então se mantinham como campos ainda não dominados. Talvez essa possibilidade de controle da vida mais do que qualquer outra tenha despertado a humanidade para a necessidade de preservá-la (BARBOZA, 2003, p. 51-52). Quando se cogita da preservação da vida numa escala mais ampla, ou seja, no plano coletivo, é discutível o alcance e o sentido da vida e da morte (FERRAZ, 2009). Desse modo, é possível sustentar que os dispositivos legais atinentes à saúde e ao meio ambiente ensejam do Estado providências para evitar ou reduzir os riscos inerentes à vida em sociedade que guardam relação com o ambiente, qualidade de vida e saúde da população, como o controle estatal das pesquisas e terapias com células-tronco embrionárias humanas (FERRAZ, 2009). E este conflito bioético contemporâneo, evidentemente alicerçado, manifestase quando a sua solução deriva do fato de se ter que ultrapassar a fronteira da consciência que coloca vida e morte como limites, podendo a vida se estender e expandir-se. No tocante, mais especificamente, à reprodução humana, o conflito decorre do fato de que, outrora, a vida apenas se submetia às causas e imprecisões do acontecimento natural, ao passo que atualmente passou a ser uma função biológica programável (ALMEIDA; ZANIN, 2006). A vida, no contexto normativo, deve ser considerada na sua acepção biográfica mais compreensiva, justamente pela sua dinamicidade de significado e por ser um processo processo vital que se inicia com a concepção, transformase, progride, mas que mantem a identidade, até a mudança de qualidade, em que deixa de ser vida para ser morte. E, por isso, tudo que interfere em prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida. E mais, todo ser dotado de vida é indivíduo, isto é: algo que não se pode dividir, sob pena de deixar de ser (SILVA, 1989, p. 176). 940

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando a análise histórica das formas de poder em Foucault, a partir da Idade Média à sociedade atual, é possível compreender como o poder disciplinar se constituiu baseado no exercício e nas práticas de poder estabelecidas nas relações sociais praticadas em cada setor da sociedade. Foucault não tem a intenção de criar uma teoria do poder, pois ele acredita que o poder é algo que está em constante movimento, é, pois, uma força diluída nas relações sociais e a sua ocorrência é constante em todos os setores da vida. A concepção de poder para Foucault sob a ótica da estratégia mostrou como o poder pode funcionar em rede, assim como dele deriva um saber que, por sua vez, à medida que esse poder cria objetos de saber, acumula informações e as utiliza como conhecimento, aptas a produzir efeitos de poder, como, por exemplo, no século XVII, que se produziu a loucura, e no século XVIII que surgiu o panoptismo. Fez-se imprescindível narrar como se deu o poder soberano. Poder legitimado pelos suplícios públicos, onde cabia ao soberano fazer morrer ou deixar viver. Esta prática perdurou até o século XVIII, quando surgiu outra forma prática de poder, cujo objetivo era corrigir comportamentos desviantes. Sequencialmente, analisou-se o poder disciplinar com seus mecanismos e dispositivos disciplinares, entre eles o panóptico, os quais tinham por finalidade adestrar e docilizar os corpos dos operários, dos alunos, dos doentes e dos considerados prejudiciais ao funcionamento da sociedade. No entanto, apreendeuse que para se tornarem dóceis e produtivos, esses indivíduos eram submetidos às tecnologias do poder, sendo confinados em celas, distribuídos em filas, obedecendo a uma hierarquia e a uma cronologia. O Panóptico de Bentham é o modelo arquitetônico que sintetiza os novos dispositivos do poder disciplinar. Nele, a visibilidade é o traço característico, que permite o exercício anônimo do poder. Os indivíduos sentem-se vigiados permanentemente, tornando-se assim dóceis e úteis. É nesse controle do tempo, do espaço, na vigilância invisível, no controle e vigilância imaginária exercida pelos procedimentos disciplinares que funciona o poder disciplinar. Foucault define que o poder, ao qual ele denomina de biopoder é uma das formas de poder na sociedade de controle, ao lado do poder disciplinar. O biopoder 941

se exerce sobre a população e o conceito proposto pelo autor trata do poder sobre a vida, constituído no poder empregado para controlar os corpos individuais e a população. O poder disciplinar incide sobre o corpo, mas com as novas demandas da sociedade burguesa, a necessidade de controle passou a ser sobre o todo, sobre a população. Desse modo, surgiram as políticas higienistas de controle sobre a vida - a biopolítica. Os procedimentos e técnicas que o poder disciplinar exercia sobre os corpos, foram se deslocando do homem-corpo para o homem-espécie, ou seja, para a população. E assim, a partir da segunda metade do século XVIII apareceu uma nova tecnologia. Uma tecnologia que não exclui a disciplinar, mas que se aplica à multiplicidade dos homens como seres vivos, multiplicidade dos fenômenos como o nascimento, a doença, a morte, entre outros. Essa nova tecnologia, Foucault chamou de biopolítica da espécie humana. Pode-se afirmar que os deslocamentos que ocorrem na dinâmica do poder, as técnicas do poder ocorridas nos séculos XVII, XVIII e XIX, até o início do século XX e a passagem do exercício do poder sobre o corpo do indivíduo, para o corpo espécie, demarcaram o nascimento do biopoder. O poder se exerce e se estende até os seus limites, até a vida e a população. Assim, com a passagem do homem corpo para o homem espécie, o corpo não será mais alvo do adestramento, mas o corpo espécie, ou seja, a população será alvo do poder. Diante do que foi exposto, percebe-se que esta foi a forma como na época moderna, não está mais em jogo o direito de vida e de morte sobre os indivíduos, da teoria clássica da soberania, que consistia no poder do soberano em fazer morrer e deixar viver. Com a tomada da vida como objeto de exercício do poder, a época moderna opõe ao velho direito de vida e morte da soberania: um poder de fazer viver e deixar morrer. REFERÊNCIAS AGUERO, Rosemere de Almeida. A Construção do discurso sobre o trabalho infantil: mídia, imagens e poder. Três Lagoas, 2008. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras, área de concentração de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Campus de Três Lagoas. 942

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