A assinatura do autor por MARIO HELTON JORGE:7859 <mhj@tjpr.jus.br> é inválida APELAÇÃO CÍVEL Nº 1357999-2 DA VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES, INFÂNCIA E JUVENTUDE, ACIDENTES DO TRABALHO, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL, DA COMARCA DE FRANCISCO BELTRÃO. APELANTE: DORVALINA BIANCO SCHLICKMANN. APELADO: 1º OFÍCIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DE FRANCISCO BELTRÃO. RELATOR: Desembargador MÁRIO HELTON JORGE APELAÇÃO CÍVEL. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA REGISTRAL. MODIFICAÇÃO DA PARTILHA APÓS RECOLHIMENTO ITCMD. 1. ARGUIÇÃO DE DOAÇÃO DE PARTE DE IMÓVEL EM TROCA DE BEM MÓVEL CONSTANTE NO INVENTÁRIO. VALOR DA MEAÇÃO MANTIDO. FATO GERADOR NÃO CONFIGURADO. 2. DISTRIBUIÇÃO A MAIOR DOS QUINHÕES ENTRE OS DEMAIS HERDEIROS. INCIDÊNCIA DE TRIBUTAÇÃO. RECURSO PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n.º 1.357.999-2, da Vara de Família e Sucessões, Infância e Juventude, Acidentes do Trabalho, Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial, da Comarca de Francisco Beltrão, Página 1 de 5
2 em que é apelante DORVALINA BIANCO SCHLICKMANN e apelado 1º OFÍCIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DE FRANCISCO BELTRÃO. I EXPOSIÇÃO DOS FATOS A suscitada, DORVALINA BIANCO SCHLICKMANN, nos autos de Suscitação de Dúvida nº 0011182-53.2013.8.16.0083, interpôs recurso de Apelação Cível contra a sentença (fls. 437/440), que julgou procedente o pedido inicial e determinou que os herdeiros procedam à retificação da escritura pública ou pretendendo mantê-la, recolham o imposto de transmissão de bens imóveis inter vivos (ITBI), já que a viúva meeira dispôs de parte de sua meação em favor dos herdeiros, ocorrendo, portanto, o fato gerador do referido imposto. Condenou-a ao pagamento das custas processuais. Em suas razões recursais (fls. 49/55), alegou que o recolhimento de ITCMD se deu de modo correto, sendo desnecessária a incidência de ITBI. A d. Procuradoria Geral de Justiça (fls. 472/475 - TJ) opinou pelo provimento do recurso. É o relatório. II O VOTO E SEUS FUNDAMENTOS Não há óbice ao conhecimento do recurso, eis que preenchidos os pressupostos de admissibilidade. Trata-se de Suscitação de Dúvida, ajuizada pelo 1º OFÍCIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DE FRANCISCO BELTRÃO PARANÁ, em face de DORVALINA BIANCO SCHLICKMANN, Página 2 de 5
3 diante da ausência de recolhimento de ITBI, referente à doação de percentual de imóvel oriundo de meação. Com efeito, o art. 1.685 do CC determina que na dissolução da sociedade conjugal por morte, verificar-se-á a meação do cônjuge sobrevivente de conformidade com os artigos antecedentes, deferindose a herança aos herdeiros na forma estabelecida neste Código. Com o falecimento do de cujus, o montante partilhável resultou no valor de R$ 249.000,00, sendo que a meeira (apelante) tem o direito a R$ 124.500,00, metade, em princípio, de todos os bens deixados pelo de cujus, da seguinte forma: a) 50% do automóvel VW Gol, placa ANG- 3239, avaliado em R$ 16.000,00 b) 50% do Lote Urbano nº8, Quadra 331, Matrícula 5.714, avaliado em R$ 50.000,00. c) 50% do Lote Urbano nº 11, Quadra 331, Matrícula nº 5421, avaliado em R$ 85.000,00. d) 50% do Lote Urbano nº 12, Quadra 332, Matrícula 5.456, avaliado em R$ 98.000,00. Entretanto, a apelante alegou que, como necessita do automóvel para a sua locomoção diária, doou parte da sua fração do imóvel matrícula 5.714 aos demais herdeiros, ficando com 34% do imóvel, ao invés de 50% e, com a integralidade do automóvel, sendo indevida a cobrança de ITBI, vez que o valor da meação se manteve o mesmo. Do montante mor, a apelante recebeu 50%, representando R$ 124.500,00, e ressaltou que essa retificação da partilha ocorreu após o recolhimento de ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação fls. 33). Página 3 de 5
4 Dessa forma, cinge-se controversa sobre a incidência, ou não, de ITBI após o recolhimento de ITCMD, tendo em vista a alteração da distribuição dos bens. Com efeito, o ITCMD, é um imposto de transmissão causa mortis e doação de qualquer bem ou direito (Art. 155, I, CF), competindo ao Estado da situação do bem, se imóvel, e ao ente Federado do juízo sucessório ou domicílio do doador, relativamente aos demais bens (Art. 41, CTN e art. 155, 1º, CF). O ITBI, por sua vez, é o imposto sobre transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição (Arts. 35 a 42, CTN e art. 156, II, CF). Na hipótese, não está correta a exigência do recolhimento de ITBI para o registro do imóvel matrícula 4.714, porquanto não houve acréscimo patrimonial pela meeira, mas apenas uma distribuição diversa dos bens inicialmente prevista, pois a definição da meação não se dá em face da unidade, mas do monte mor. Entretanto, excluído o valor da meação do monte mor, cada herdeiro deveria receber R$ 24.900,00 (R$ 124.900,00 5) o que não ocorreu, eis que alguns receberam valores diversos dos seus respectivos quinhões (fls. 33v), sendo evidente a transferência de patrimônio e a necessária tributação nessa parte, sendo inviável, neste tópico, o registro do inventário. DIANTE DO EXPOSTO, conclui-se pelo provimento do recurso, para o fim de excluir a tributação, em relação à meação, e ex-offício determinar o recolhimento do ITBI ou ITCMD em relação aos quinhões dos herdeiros superiores a R$ 24.900,00, eis que houve transmissão de direitos. Página 4 de 5
5 III DISPOSITIVO ACORDAM os integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao apelo, para o fim de excluir a tributação em relação à meação, e ex offício determinar o recolhimento do ITBI ou ITCMD em relação aos quinhões dos herdeiros superiores a R$ 24.900,00, eis que houve transmissão de direitos, nos termos da fundamentação. O julgamento foi presidido pelo Desembargador Mário Helton Jorge (com voto) e dele participaram a Desembargadora Joeci Machado Camargo e o Juiz Substituto em 2º Grau Luciano Carrasco Falavinha Souza. Curitiba (PR), 14 de outubro de 2015. MÁRIO HELTON JORGE Relator Página 5 de 5