INTOXICAÇÃO EXPERIMENTAL COM ALECRIM VERNONIA NUDIFLORA EM OVINOS OVIS ARIES EXPERIMENTAL POISONING WITH ALECRIM VERNONIA NUDIFLORA IN SHEEP S OVIS ARIES João Regis Miolo 1 RESUMO Foi provocada a intoxicação experimental por Vernonia nudiflora, em quatro ovinos de dois anos de idade. As doses da planta administrada aos animais foram de 5, 10, 20 e 30 gramas por quilo de peso animal. As doses de 5 e 10 gramas por quilo de peso foram insuficientes para provocar intoxicação. Nos dois animais que adoeceram a ação tóxica da planta foi sobre o tubo digestivo. Concluiu-se que é improvável a planta causar intoxicações à ovinos sob condições naturais de ingestão, portanto não se enquadra como tóxica sob o ponto de vista veterinário. Palavras-chave: Intoxicação experimental, alecrim, vernonia, planta, ovinos, sistema digestivo. ABSTRACT There was provoked experimental poisoning by VERNONIA NUDIFLORA in four sheep s of two years old. The doses plants administrate of the animals was of 5, 10, 20 and 30 g/kg body.the doses of 5 and 10 g/kg there was no significant effect toxicology. In the diseased two animals the plant toxic action was digestive system. Was concluded improbably the plant poisoning cause in sheep s natural condition ingestion. Key words: Poisoning experimental, alecrim, vernonia, toxic plants, sheep s, system digestive gênero inclui mais de quinhentas espécies INTRODUÇÃO (HOEHNE, 1939). As plantas do gênero Vernonia No Rio Grande do Sul, a Vernonia pertencem à família das compostas e este nudiflora é conhecida pelo nome vulgar de 1 Professor da Universidade Federal de Santa Maria, RS.
25 Intoxicação experimental... alecrim e é considerada planta invasora muito comum. A toxicidade destas plantas sob o ponto de vista de intoxicação espontânea é discutida, e para bovinos a Vernonia não é um problema grave, pois são poucas as espécies da planta que estes animais comem e muitas aquelas que rejeitam, embora pastando em campos infestados por dezenas de espécies (HOEHNE, 1939). No Brasil, PURISCO (1972) observou toxicidade da planta Vernonia molissima em bovinos, intoxicando experimentalmente estes animais com a dose de 10 gramas por quilo de peso vivo. DOBEREINER et al. (1976), verificaram a intoxicação natural de bovinos pela Vernonia molissima na época de brotação dos pastos, principalmente após a queima dos campos, observando lesões hepáticas. Experimentalmente, utilizando doses de 10 e 20 gramas por quilo de peso vivo, verificaram as mesmas lesões observadas nos casos naturais da doença. BARONI & FERREIRA (1976), realizaram experimentos com Vernonia nudiflora em bovinos, verificando que na dose de 20 gramas por quilo de peso vivo, a planta deste gênero, não provoca a morte e tem ação principal sobre o tubo digestivo. Observaram ainda que a planta não é ingerida voluntariamente pelos animais sob condições naturais. Segundo TOKARNIA (1981), dizse que onde há ovinos não há alecrim, indicando que os animais limpam os campos desta planta. As intoxicações não ocorrem, pois as quantidades ingeridas não atingem a dose tóxica. O autor chama a atenção também para o fato de que inúmeras plantas recebem a denominação de alecrim e são enquadradas como tóxicas, porém não causam danos aos animais que ingerem. Posteriormente o mesmo autor realizando experimento com Vernonia sp em dois ovinos e utilizando a dose de 22 gramas por quilo de peso vivo (CASTILHO, 1976), confirmou como sendo a planta Vernonia nudiflora. Neste experimento que provocou a morte de um dos animais, os sinais clínicos e o exame post-mortem, confirmaram que a ação da planta dá-se principalmente no tubo digestivo, verificando ainda que a planta não é ingerida, em curto espaço de tempo em quantidades suficientes para produzir a intoxicação. DOBEREINER & TOKARNIA, 1984 intoxicaram experimentalmente sete bovinos e sete ovinos verificando que a Vernonia nudiflora Lessing sub arbusto da família Compositae possui propriedades tóxicas para essas duas espécies animais, e essas propriedades são irritantes sobre a mucosa do tubo digestivo. Os sintomas nos bovinos ocorreram quando da ingestão de
Miolo, J.R. 26 10 à 25 gramas por quilo de peso da planta fresca, variando de dois a dez dias, e nos ovinos após a ingestão de 10 à 40 gramas por quilo de peso, durando de 24 horas à cinco dias. Constataram ainda que devido a pouca palatabilidade e baixa toxicidade, esta planta sob condições naturais não intoxica os animais. O objetivo deste trabalho é o de acrescentar informações ao conhecimento da ação tóxica da Vernonia nudiflora em ovinos no Rio Grande do Sul, procurando determinar se a planta pode ser enquadrada como tóxica sob o ponto de vista veterinário. MATERIAL E MÉTODOS Foram usados quatro ovinos, fêmeas, com aproximadamente dois anos de idade (quatro dentes) cada um, raça corriedale, clinicamente sadios e em regular estado nutricional, pesando entre 23 à 27 quilograma de peso vivo. Os animais permaneceram em jejum durante as 24 horas precedentes ao início do experimento e após a execução do experimento receberam como alimento, apenas alfafa e água, mantidos em boxes separados. Efetuou-se o exame clínico em todos os animais na manhã em que se realizou o experimento, constando desse exame, a verificação da temperatura retal, freqüência respiratória, cardíaca, inspeção e auscultação rumino-reticular, repetindo-se estes exames uma vez ao dia durante dois dias. A Vernonia nudiflora foi colhida na tarde do dia anterior do experimento, colhendo-se somente os 20 à 30 centímetros da parte superior da planta e em estado verde. A planta foi administrada manualmente por via oral aos animais, forçando-se a ingestão até atingir-se a dose desejada que variou de 5, 10, 20 e 30 gramas por quilo de peso vivo por animal. Todos os animais receberam a planta em um prazo de três horas, sendo observados clinicamente durante o dia. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados clínicos referentes ao exame efetuado antes da administração da Vernonia nudiflora, bem como após a ingestão da planta, acham-se nas tabelas 1,2,3 e 4. A quantidade da planta administrada na dose de 5 a 10 gramas por quilo de peso vivo, não foi suficiente para provocar alterações nos parâmetros clínicos observados, conforme constata-se nas tabelas 1 e 2. A quantidade de Vernonia nudiflora administrada na dose de 20 à 30 gramas por quilo de peso vivo, provocou alterações
27 Intoxicação experimental... digestivas nos animais que receberam a planta, manifestadas por anorexia, fezes diarréicas e com odor ácido, bem como atonia do rúmen, observadas nas tabelas 3 e 4. Os movimentos do rúmen reapareceram 24 horas após o início do experimento e mantiveram-se normais, daí em diante assim como as outras alterações observadas. Os animais se recusavam a ingerir a planta mesmo quando esta foi ministrada ao feno de alfafa. As variações da freqüência respiratória, cardíaca e temperatura corporal foram mínimas, conforme observado nas tabelas. Pela sintomatologia observada e os dados obtidos, verifica-se que a Vernonia nudiflora, enquadra-se no grupo das plantas que tem ação sobre o sistema digestivo, corroborando as afirmações de BARONI & FERREIRA, 1976 e CASTILHOS, 1976. Por outro lado, comprova-se que a ação tóxica da Vernonia, difere da outra composta, a Vernonia molissima, que tem ação hepatotóxica (DOBEREINER et al.,1976). A Vernonia tem portanto ação semelhante a da Baccharis coridifolia miomio, também uma composta, apenas apresentando os sintomas digestivos, bem menos acentuados e sem sintomas de excitação nervosa e morte, como ocorre no mio-mio (TOKARNIA & DOBEREINER, 1975). Em condições naturais os ovinos dificilmente ingerem a planta Vernonia, em curto espaço de tempo e em uma quantidade suficiente para que se verifique a intoxicação, concordando com a observação de CASTILHOS (1976), TOKARNIA (1981) e DOBEREINER & TOKARNIA, 1984. Por outro lado, a afirmação que os ovinos limpam os campos de Vernonia nudiflora (TOKARNIA, 1981), é difícil de comprender-se, visto que no experimento realizado os animais recusaram-se a ingerir a planta, mesmo quando estava misturada ao feno, confirmando a observação feita por BARONI & FERREIRA (1976) de que a planta não é ingerida voluntariamente pelos animais CONCLUSÕES Pode-se concluir que a Vernonia nudiflora, tem ação tóxica moderada sobre o sistema digestivo, não exercendo efeitos significativos no aparelho respiratório e circulatório, bem como em relação a temperatura corpórea. Somente a partir da ingestão de 20 gramas por quilo de peso vivo da planta, é que se manifestam as alterações clínicas digestivas, rapidamente superadas pelo
Miolo, J.R. 28 próprio animal, observado após 24 horas de intoxicação. Conclui-se também que a planta tem má palatabilidade, dificultando assim a ingestão espontânea da mesma, portanto não se enquadra na definição de planta tóxica sob o ponto de vista veterinário. A identificação botânica da espécie de Vernonia, deve ser a mais correta possível, a fim de determinar com certeza se a planta dessa espécie, denominada de alecrim, é realmente tóxica. REFERÊNCIAS BARONI, J.M.: FERREIRA, D.S. Intoxicação experimental com Vernonia nudiflora. Atualidades agropecuárias.4(22): p.6-11, 1975. CASTILHOS, L.M.L. Intoxicação experimental em ovinos por VERNONIA sp. In: Seminário do Curso de Pós Graduação em Medicina Veterinária-II, Universidade Federal de Santa Maria, 1976. DOBEREINER, J.R.; TOKARNIA, C.H; PURISCO,E. Vernonia Molissima, planta tóxica responsável pela mortandade de bovinos no sul de Mato Grosso. PESQ.AGROPEC.BRAS.SÉR.VET., 11: p.49-58, 1976. DOBEREINER, J.R. e TOKARNIA, C.H. Intoxicação experimental por Vernonia nudiflora (Compositae) em bovinos e ovinos. Pesq. Vet. Bras., 4(1): p.5-10, 1984. HOEHNE, F.C. Plantas e Substâncias Vegetais Tóxicas e Medicinais. São Paulo - Rio, Graphicars, p.355, 1939. PURISCO, E. Relatório do Instituto de Pesquisa Agropecuária do Oeste. Campo Grande, Mato Grosso, 1972. TOKARNIA, C.H. e DOBEREINER, J.R. Intoxicação experimental em bovinos por Mio-Mio (Baccharis coridifolia). Pesq. Agropec. Bras. Ser. Vet., 10: 79-97, 1975 TOKARNIA, C.H. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Km 47, Instituto de Zootecnia - Prof. Disciplina de Agrostologia e Plantas tóxicas. Informação Pessoal, 1981
29 Intoxicação experimental... TABELA 1 - Dados clínicos do ovino n.4386 antes e depois da administração da planta na dose de 5g/kg de peso vivo Temperatura (cm) 39.2 39.6 38.9 39.0 Freqüência respiratória/min 20 32 20 28 Freqüência cardíaca/min 108 140 116 110 Movimentos ruminais/min 0/2 2/2 3/2 3/2 TABELA 2 - Dados clínicos do ovino n.4389 antes e depois da administração da planta na dose de 10g/Kg de peso vivo Temperatura (cm) 38.3 39.6 39.7 39.5 Freqüência respiratória/min 24 28 32 30 Freqüência cardíaca/min 98 116 120 110 Movimentos ruminais/min 2/2 2/2 2/2 2/2 TABELA 3 - Dados clínicos do ovino n.4387 antes e depois da administração da planta na dose de 20g/Kg de peso vivo Temperatura (cm) 38.9 39.3 38.9 39.0 Freqüência respiratória/min 36 24 24 30 Freqüência cardíaca/min 108 116 110 110 Movimentos ruminais/min 3/5 0/5 3/5 3/5 TABELA 4 - Dados clínicos do ovino n.4385 antes e depois da administração da planta na dose de 30g/Kg de peso vivo. Temperatura (cm) 38.3 39.5 39.3 39.5 Freqüência respiratória/min 28 16 32 28 Freqüência cardíaca/min 106 120 80 110 Movimentos ruminais/min 2/5 0/5 2/5 2/5