Discurso de tomada de posse 3 de maio de 2017

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Transcrição:

Discurso de tomada de posse 3 de maio de 2017 Senhor Presidente da República Senhores Presidentes Doutor Jorge Sampaio e Professor Aníbal Cavaco Silva, Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente Senhor Doutor Artur Santos Silva Cara e Caros Colegas Caros colaboradores da Fundação Minhas Senhoras e Meus Senhores I. Introdução É com um sentimento de profunda gratidão pelo nosso Fundador e pela instituição que criou que aceito a confiança que os meus colegas do Conselho de Administração em mim depositaram. 1

As minhas primeiras palavras são naturalmente para o Senhor Presidente da República, que nos honra e que tanto gosto nos dá com a sua presença. Agradeço também a todos os amigos e colaboradores da Fundação que se quiseram associar a este momento especial, e com os quais todos os dias construímos esta obra sempre inacabada que é a Fundação Calouste Gulbenkian. Minhas senhoras e meus senhores, Confesso que no momento em que o Dr. Santos Silva me desafiou, a primeira imagem que me ocorreu foi aquela sucessão da galeria de retratos dos Presidentes desta casa Doutor José Azeredo Perdigão, Professor Ferrer Correia, Doutor Victor de Sá Machado, Doutor Emílio Rui Vilar e agora Doutor Artur Santos Silva, personalidades tão conhecidas e admiradas na sociedade portuguesa, que despertam uma mais do que merecida reverência. 2

Realista como sou, a verdade é que naquele momento senti uma certa apreensão face à magnitude da tarefa. Mas como sou uma mulher de coragem, e sei que na vida nada acontece por acaso, e que tudo tem o seu tempo, foi com grande determinação que assumi este desafio. Hoje é sem dúvida um dos dias mais marcantes da minha vida. Tenho a consciência de que o privilégio de assumir a presidência da Fundação Calouste Gulbenkian é apenas excedido pela responsabilidade de servir uma instituição cujo legado ao serviço do bem comum a todos nos honra. Fá-lo-ei com humildade, entusiasmo e sentido do dever, sabendo que posso contar com um grupo de Colegas cujas qualidades pessoais e profissionais são ímpares. É também um estímulo saber que a Fundação tem um conjunto de colaboradores que respeita e personifica o extraordinário legado da Fundação dos últimos 60 anos. Gostava hoje de recordar e sublinhar os tantos exemplos de dedicação, lealdade e compromisso que, no fundo, são a 3

alma desta casa. Num momento em que uma geração mais nova está a ser chamada a novas responsabilidades, importa que esta renovação assente numa verdadeira cumplicidade entre todos, de acordo com a própria cultura da instituição. II. Agradecimentos Suceder a uma personalidade com o prestígio do Doutor Artur Santos Silva torna ainda mais exigente a responsabilidade que me atribuíram. A Fundação muito deve à sua liderança sempre presente e dedicação, rigor, curiosidade intelectual, espírito empreendedor e capacidade de mobilização. Como tivemos oportunidade de ouvir, inspirou-nos a levar a Fundação cada vez mais para fora destes muros, chegando mais longe, dentro e fora do País, a sua preocupação principal, e alargando as nossas redes de parceiros e interlocutores. 4

Muito obrigada, Artur, Caro Presidente, por continuar a linhagem de presidentes ilustres da Fundação Calouste Gulbenkian. *** Sei que vou romper a tradição coimbrã da Faculdade de Direito - sou mulher, economista e de Lisboa - mas julgo que é mais uma prova da extraordinária capacidade de adaptação e evolução da Fundação. Neste momento tão especial, quero também reconhecer publicamente o quanto devo aos mestres que, ao longo da minha carreira, me orientaram e sempre me deram asas para poder voar. Estou a pensar na Eng.ª Alexandra Gomes, nos Professores Cavaco Silva e Valente de Oliveira, no Dr. Emílio Rui Vilar e, abusando do protocolo, no próprio Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. III. Enquadramento Caros Colegas, Colaboradores e Amigos, 5

Recordo muito bem o dia em que comecei a trabalhar nesta casa e, mais de 20 anos depois, tudo na Fundação me é próximo e familiar. Conheço as pessoas e os desafios que a instituição hoje enfrenta. Acompanhei bem de perto as mudanças que a Fundação foi vivendo nas últimas décadas, em função dos constrangimentos da sua perpetuidade, ou da própria alteração do contexto da sua intervenção. Assumo todas as escolhas passadas, e estou certa que os meus Colegas do Conselho de Administração me acompanham nos compromissos que considero essenciais para que a Fundação continue a desempenhar, de forma exemplar, a missão que lhe foi confiada por essa personagem fascinante do século XX que foi Calouste Gulbenkian. Hoje interessa-me, sobretudo, refletir sobre o seu momento presente e sobre as circunstâncias que condicionam o seu futuro. Será a partir desta leitura que construiremos a nossa 6

agenda, num equilíbrio entre o legado da Fundação e as exigências da modernidade. Sinto que os portugueses continuam a exigir e a confiar na Fundação Calouste Gulbenkian, o que é um grande estímulo para nós. Também, a integração nas principais redes de fundações internacionais, que projetou a Fundação para um patamar muito relevante a nível global, é uma mais-valia indispensável para uma eficaz intervenção nos grandes problemas do nosso tempo. Entre o local e o global, a Fundação deve continuar o seu trabalho filantrópico enquanto instituição portuguesa aberta ao mundo. ****** Numa coincidência feliz e muito simbólica, o meu mandato inicia-se quando decorre uma das mais importantes exposições que a Fundação alguma vez organizou: José de Almada Negreiros, Uma Maneira de Ser Moderno. 7

O Almada tem, para mim, uma das mais certeiras definições sobre o que significa ser moderno e que, como sabem, até deu origem ao título da exposição: Isto de ser moderno, dizia-nos, é como ser elegante: não é uma maneira de vestir mas sim uma maneira de ser. Ser moderno ( ), conclui, é ser o legítimo descobridor da novidade. Para mim, este é também o principal desígnio da Fundação, - a mais relevante instituição filantrópica portuguesa - antecipar o futuro e apostar na inovação, ajudando a preparar os cidadãos de amanhã. Uma Fundação como a nossa deve assumir-se como agente de mudança, utilizando para esse efeito todos os recursos que tem ao seu dispor, financeiros e não financeiros, bem como toda a sua experiência acumulada. A par de uma ligação mais estreita entre todas as atividades que a Fundação promove, importa dar maior expressão ao seu papel de mobilização e mediação, ativando o seu poder de convocatória. E contribuindo sempre para a produção de 8

conhecimento e para o ensaio de soluções para os principais problemas. Importa compreender que há novos desafios e, mantendose fiel às suas finalidades estatutárias, a Fundação tem de ousar trilhar caminhos novos, como, aliás, sempre o fez no passado. IV. Compromissos É neste contexto que assumo os seguintes compromissos: 1 - O primeiro é, desde logo, um compromisso com o futuro, garantindo que a Fundação acompanha os novos tempos, antecipando as questões essenciais que determinam as estruturas do conhecimento e o impacto da tecnologia na sociedade, e que asseguram a sustentabilidade dos recursos naturais e dos sistemas sociais. 9

2 - O segundo compromisso é com os mais vulneráveis, aqueles que mais necessitam do nosso apoio e que, como tal, deverão ser os principais beneficiários da atividade da Fundação. Esta é a responsabilidade primeira de uma instituição filantrópica como a nossa, que a todos pertence. 3 - O terceiro compromisso está relacionado com a importância da cultura, falo de arte, de educação e de ciência - que nos dá a sabedoria e constitui os alicerces da tão necessária tolerância nos tempos conturbados em que vivemos. Sabemos que uma sociedade culta dificilmente será compatível com uma sociedade que não é solidária. Como afirmava Sophia de Mello Breyner, em 1975, perante a Assembleia Constituinte, a cultura não existe para enfeitar a vida mas sim para a transformar para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade, e em justiça. 10

A meu ver, a Fundação encontra-se numa posição de vantagem. Dispõe da experiência, mas também de todos os instrumentos necessários para atingir estes três compromissos como um todo. E esta é a minha mensagem principal: vejo a Fundação como uma instituição filantrópica, única e una, que constrói a sua identidade na diversidade da sua intervenção, da arte à ciência, da educação à beneficência, as quatro finalidades estatutárias definidas pelo nosso fundador, numa combinação equilibrada de recursos. 11

V. Agenda À luz dos compromissos que mencionei, empenhar-me-ei na promoção da seguinte agenda: 1. Projetar a Fundação como um todo, alinhada pela mesma visão e missão, aumentando o impacto social das suas atividades. Reforçaremos pois o planeamento estratégico e a colaboração entre todas as áreas, articulando virtuosamente as suas valências e competências em torno de uma visão comum. 2. Concretizar uma nova abordagem da política de intervenção da Fundação, orientada para a resolução de problemas, procurando um maior foco, transversalidade e inovação assentes em três pilares fundamentais a coesão social, a sustentabilidade e o conhecimento. 12

3. Afirmar a Fundação como impulsionadora da preparação das novas gerações e das novas lideranças nas diferentes áreas em que atuamos, o que significa pôr a tónica da ação naquilo que acreditamos que o futuro vai exigir. 4. Potenciar a criação artística nas suas infinitas possibilidades, ativando o papel cívico da cultura, entendida num sentido amplo de criação, de inovação e de promoção da acessibilidade da cultura a todos os cidadãos. 5. Destacar o potencial das artes no questionamento, compreensão e diálogo entre diferentes épocas e civilizações, nomeadamente entre o Ocidente e o Oriente, tirando partido do legado e coleção do Fundador, bem como da relação próxima com as Comunidades Arménias. 13

6. Posicionar a Fundação como um centro de reflexão e debate, que enquadre os problemas de Portugal com os problemas da Europa e do Mundo, em parceria com as principais fundações, think tanks e universidades, contribuindo para a consolidação de um modelo de sociedade humanista e de diálogo entre culturas. 7. Aumentar a flexibilidade da organização no sentido de maior descentralização e transversalidade, baseada numa cultura interna de agilidade, responsabilidade e compromisso. 8. Manter a liberdade de opção nos caminhos a seguir, sem nunca diminuir a qualidade daquilo que fazemos, mas com a consciência de que a prudência na gestão dos recursos exige sempre escolhas. 14

VI. Conclusão A terminar, uma nota pessoal Tenho sido muito feliz nesta casa, indo agora, espero, viver um novo ciclo com a alegria e o entusiasmo de sempre e com um renovado sentido de futuro e de esperança. Sei que só consegui chegar até aqui com o apoio permanente da minha família. E por isso, quero acima de tudo, dizer agora às minhas netas que uma carreira profissional é apenas, e só, uma parte importante da nossa vida. A realização pessoal vai muito mais além, e exige escolhas, sensibilidade e bom senso que preservem o essencial - o amor, a família e a integridade. Conciliar uma carreira com a família é um desafio também para os homens, mas a verdade é que as mulheres têm-se confrontado com mais dificuldades e incompreensão e têm feito um longo e persistente caminho na procura da igualdade. 15

Espero sinceramente que daqui a 5 anos todos os que têm confiado em mim tenham orgulho no meu mandato como a primeira mulher Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. Senhor Presidente da República, Estou certa que a Fundação poderá contar consigo em todas as ocasiões. Saiba que esta será sempre a sua Casa e que aqui encontrará interlocutores interessados e dedicados. Como não vejo melhor forma de começar o meu mandato e ainda que não estivesse previsto, gostaria de o convidar, se assim entender adequado, de subir a este palco e usar da palavra. Isabel Mota 3 de Maio de 2017 16