HERANÇA DE RESISTÊNCIA DO ALGODOEIRO A RAMULARIA AREOLA 1 (*)

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Transcrição:

Página 975 HERANÇA DE RESISTÊNCIA DO ALGODOEIRO A RAMULARIA AREOLA 1 (*) Tanara Garcia de Novaes 1 ; Wilson Paes de Almeida 1 ; Yeshwant Ramchandra Mehta 1. ( 1 Iapar - Instituto Agronômico do Paraná, Rod. Celso Garcia Cid, km 375, Bairro Três Marcos, CEP: 86047-902, Londrina, PR, e-mail: tanara@iapar.br), Ivan Schuster 2.( 2 Coodetec - Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola, BR 467, km 98, Cx. Postal 301, CEP: 85813-450, Cascavel-PR.); Paulo Aguiar 3, ( 3 Fundação MT, Rua Antonio Teixeira dos Santos, 1559, CEP: 78.750-000, Cx. Postal 79, Rondonópolis-MT). RESUMO - A mancha-de-ramularia, causada pelo fungo Ramularia areola, é uma das doenças de destaque na cotonicultura brasileira. Há alguns anos, esta doença era considerada de final de ciclo da cultura, mas em anos recentes tornou-se a doença de maior importância econômica nas principais regiões produtoras de algodão do Brasil. Dentre as alternativas de controle, estão o uso de fungicidas e o uso de cultivares resistentes, sendo que o último é o ideal. Visando estudar a herança da resistência do algodoeiro a R. areola, foram avaliadas populações derivadas do cruzamento entre a cultivar FMT02102996 tido como resistente e a cultivar FMT 701 tido como suscetível. As plantas foram classificadas como resistentes ou suscetíveis por meio de inoculação artificial em casa-de-vegetação. Realizou-se teste de segregação por meio do qui-quadrado. Os resultados obtidos indicam que a resistência do algodoeiro à mancha de ramularia é condicionada por um gene dominante. Este resultado pode auxiliar o planejamento dos programas de melhoramento do algodoeiro na incorporação da resistência a R. areola em novas cultivares, também constituindo informação básica para o início de trabalhos de mapeamento genético deste gene de resistência. Palavaras-chave: Mancha-de-ramularia, Gossypium hirsutum, genética. INTRODUÇÃO A mancha-de-ramularia, causada pelo fungo Ramularia areola, é uma das doenças de destaque na cotonicultura brasileira. Também conhecida como falso oídio, os sintomas desta doença 1 Apoio Financeiro: OEPAS - Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária

Página 976 iniciam-se com lesões pequenas (3-4 mm de largura) com formato angular, de coloração verde claro, na face superior da folha e esbranquiçada na face inferior, devido à esporulação abundante. Em fase avançada da doença, as lesões tornam-se necróticas, de cor marrom-escura com clorose severa ao redor das lesões, e as folhas caem precocemente, afetando a produção. No Brasil, até algum tempo atrás, essa doença era considerada como secundária, ocorrendo apenas no final do ciclo da cultura do algodoeiro. Porém, nos últimos anos, com o aumento da área cultivada e deslocamento das áreas de cultivo para a região Centro-Oeste, aliado à substituição de germoplasma e mudança no sistema de cultivo, a doença passou a surgir mais cedo, sendo hoje responsável por perdas estimadas em 30% da produção na região do cerrado (UTIAMADA et. al., 2003) e de até 75% em cultivares mais suscetíveis à doença no Estado de Mato Grosso (CIA et. al., 1999). Em países como Madagascar e Índia, a mancha-de-ramularia já foi responsável por perdas acima de 60% da produção em algumas safras. Na ausência de cultivares resistentes e agronomicamente desejáveis, a doença está sendo controlada através de 4-5 aplicações de fungicidas durante o ciclo da cultura, onerando, assim, o custo de produção. O controle pode ainda ser feito através de uso de cultivares resistentes desde que, o conhecimento sobre as fontes de resistência e o mecanismo de herança de resistência esteja disponível. Neste sentido alguns estudos abordando herança de resistência na cultura do algodoeiro foram realizados em relação a algumas doenças como a mancha de estenfílio, causada por Stemphilium solani (METHA; ARAIAS, 2001a), mancha-angular (ZANDONÁ, et. al., 2005), ramulose (ZANDONÁ, et. al., 2006), e doença azul (PUPPIN, et. al., 2007). O objetivo deste trabalho foi estudar a herança da resistência do algodoeiro à mancha-deramularia, visando facilitar o planejamento do trabalho de melhoramento para incorporação de resistência em novas cultivares de algodoeiro agronomicamente desejáveis. MATERIAIS E MÉTODOS As populações para o estudo de herança foram obtidas do cruzamento entre a variedade FMT 701 (suscetível) e FMT 02102996 (resistente). Retrocruzamentos entre o F1 e o progenitor resistente (RC1F1R), e o progenitor suscetível (RC1F1S) também foram realizados. Destes cruzamentos foram avaliadas as progênies F1, F2, RC1F1R e RC1F1S. As plantas foram cultivadas em casa de vegetação, em vasos de 30 cm de diâmetro contendo solo esterilizado (mistura em proporções iguais de solo areia e composto). Sementes de todas as populações juntamente com os progenitores foram multiplicadas

Página 977 paralelamente em todas as fases do trabalho para evitar o efeito da idade das sementes na expressão dos sintomas da doença (METHA; ARIAS, 2001a). Vinte sementes de F1 foram semeadas e as plantas foram autofecundadas para obter sementes da geração F2. Preparo de inóculo e inoculação. Um isolado monospórico de R. areola previamente determinado como o mais agressivo (Isolado do município de Londrina, da coleção do IAPAR), foi utilizado em todas as inoculações. Colônias do fungo cultivadas por 5-10 dias em meio de cultura específico (V8) para a esporulação, foram utilizadas para preparo do inóculo. Logo após a inoculação, as plantas foram transferidas para uma câmara com umidificador onde permaneceram 48 horas no escuro a temperatura de 21 º C e umidade relativa do ar de aproximadamente 100 %. Após esse período, as plantas foram transferidas para a casa de vegetação, com temperatura variando entre 20 a 30 C. Inoculações e avaliações. O fungo foi multiplicado em placas de petri contendo meio de cultura V8. Após 5-10 dias de crescimento foi feita uma raspagem nas placas com o auxílio de lâmina de vidro e água destilada. O inóculo foi ajustado aproximadamente a 10 6 conídios/ml (METHA, et. al., 2001b). Aos 20 dias após a emergência, as populações segregantes e dos progenitores foram inoculadas utilizando-se um pulverizador manual (Marca Guarany), e incubadas em câmara de crescimento a 21 o C com umidade relativa (HR) do ar de 95%, por 48 h. Após esse período, as plantas inoculadas foram transferidas e para casa-de-vegetação. RESULTADOS E DISCUSSÃO A severidade da infecção nas folhas foi avaliada 15-20 dias após a inoculação utilizando-se uma escala visual da área foliar infectada (AFI). A AFI foi traduzida em reação da planta da seguinte forma: Resistente=AFI Traço (0-0,1%) (reação não compatível); suscetível=afi >0,1% (reação compatível, variando entre pústulas pequenas com pouca clorose e pústulas grandes coalescentes e maiores que 3mm, mostrando severa clorose, causando a senescência precoce e morte da folha. Os resultados obtidos foram submetidos ao teste de qui-quadrado. Todas as plantas da cv. resistente FMT 02102996 apresentaram resistência ao patógeno, e da mesma forma todas as plantas da cv. suscetível FMT 701, mostraram suscetibilidade (Fig. 1). As plantas da geração F1 mostraram resistência completa, como esperado, e as plantas da geração F2 segregaram entre resistentes e suscetíveis. Os resultados obtidos para a população derivada de FMT 701 x FMT 02102996 ajustaram-se todos à segregação de um gene dominante condicionando a

Página 978 resistência da cultivar FMT 02102996 à mancha-de-ramularia. A geração F2 segregou de acordo com a proporção esperada de 3:1 (R:S) e a geração RC1F1s segregou na razão de 1:1, enquanto que as plantas da geração RC1F1R, foram todas resistentes, conforme o esperado (Tab. 1). Com base nos resultados obtidos pode-se afirmar que a herança da resistência do algodoeiro à R. areola é monogênica. Este resultado pode auxiliar o planejamento dos programas de melhoramento do algodoeiro na incorporação da resistência a R. areola em novas cultivares, também constituindo informação básica para o início de trabalhos de mapeamento genético deste gene de resistência. A B C Figura 1. Sintomas de Ramularia areola no algodoeiro. A e B cultivar suscetível (FMT 701); C - cultivar resistente (FMT 02102996). Tabela 1. Teste de qui-quadrado para os padrões de segregação para área foliar infectada por Ramularia areola, baseado nas reações dos progenitores a das populações segregantes do cruzamento das cultivares de algodoeiro (Gossypium hirsutum) FMT 701 X FMT 02102996. População Reação Foliar** Número de indivíduos em cada categoria de infecção* N total Razão Observada Esperada de teórica R S R S indivíduos (R:S) FMT 701 S 10 0:1 0 10 0 10 -- Χ 2

Página 979 FMT 02102996 R 10 1:0 10 0 10 0 -- F1 R 20 1:0 20 0 20 0 F2 10 Segreg. 134 3:1 2 32 100,5 33,5 0,087 RC1F1R R 85 1:0 85 0 85 0 RC1F1S Segreg. 58 1:1 26 32 29 29 0,620 Inoculação realizada em casa de vegetação, nas plântulas de 25 dias de idade, com isolado agressivo de R. areola. A reação das plantas foi observada 15 dias após a inoculação utilizando uma escala visual de porcentagem de área foliar infectada; ** R=resistente; S=suscetível; Segreg=segregando; NS=não significativo (P=0,5). CONCLUSÃO A resistência do algodoeiro à R. areola é condicionada por um gene dominante. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO Os resultados obtidos permitem auxiliar a estratégia dos programas de melhoramento do algodoeiro com o objetivo de introduzir a resistência à mancha-de-ramularia. Por se tratar de uma característica de herança simples, até mesmo programas de retrocruzamento podem ser utilizados para converter cultivares elites suscetíveis em cultivares resistentes. O uso de cultivares resistentes evitará aplicações indiscriminadas de fungicidas minimizando, assim, o custo de produção e ao mesmo tempo contribuindo para um cultivo sustentável do algodoeiro no Brasil. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAUQUIL, J.; SÉMENT, G. Le faux mildiou du cotonnier (Ramularia areola Atk.) dans le sud-ouest de Madagascar. Coton et Fibres Tropicales, v. 28, p. 279-286, 1973. CIA, E.; FUZZATTO, M. G.; CHIAVEGATO, E. J.; FARIAS, F. J. C., ARAÚJO, A. E. Desempenho de cultivares e linhagens de algodoeiro diante da incidência de Ramularia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto. O algodão no século XX, perspectivas para o século XXI: anais. Campina Grande: EMBRAPA-CNPA, 1999. p.468-470.

Página 980 METHA, Y. R.; ARIAS, C. A. A. Herança da resistência a Stemphylium solani e insensibilidade a sua fitotoxina em cultivares de algodoeiro. Fitopatologia Brasileira, v. 26, p. 761-765, 2001a. METHA, Y. R.; PAES, W. A.; FREIRE, E. C. Reação de algumas cultivares do algodoeiro a Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODAO, 3., 2001, Campo Grande. Produzir sempre, o grande desafio: anais. Campina Grande: Embrapa Algodão; Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2001b. p. 584-586. PUPIN, O. J.; SCHUSTER, I.; PIRES, E.; BELOT, J.; SILVIE, P.; CHITARRA, L. G.; HOFFMANN, BARROSO, P. A. V. Herança de resistência do algodoeiro à doença azul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 6., 2007, Uberlândia. Anais... Uberlândia, 2007. SHIVANKAR, S. K.; WANGIKAR, P. D. Estimation of crop losses due to grey mildew disease of cotton caused by Ramularia areola. Indian Phytopathology, v. 45, n. 1, p. 74-76, 1992. UTIAMADA, C. M.; LOPES, J. C.; SATO, L. N.; ROIM, F. L. B., KAJIHARA, L.; OCCHIENA, E. M. Controle químico da ramularia (Ramularia areola) e ferrugem (Phakospora gossypii) na cultura do algodoeiro.in: CONGRESSO BRASILEIRO DO ALGODÃO, 4., 2003, Goiânia. Algodão: um mercado em evolução: anais. Campina Grande: Embrapa Algodão; Goiânia: Fundação GO, 2003.1 CD-ROM. ZANDONÁ, C.; METHA, Y. R.; SCHUSTER, I.; ALVES, P. F. R.; BOMFETI, C. A., BIBANCO, K. R. P., Silva, R. B., Lopes, L. P. Mecanismo genético de resistência em três cultivares de algodoeiro a Xanthomonas axonopodis pv. malvacearum. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 30, n. 6, p. 647-649. 2005. ZANDONÁ, C.; NOVAES, T. G.; METHA, Y. R.; SCHUSTER, I.; TEIXEIRA, E. A.; CUNHA, E. A. Herança de resistência à Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides em algodoeiro brasileiro. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v. 31, n. 1, p. 76-78. 2006.