PROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO PARA DECLARAR, COM EFEITO EX TUNC E ERGA OMNES, A INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº

Documentos relacionados
Nº COMARCA DE PORTO ALEGRE PREFEITO MUNICIPAL DE CAIBATE PROCURADOR GERAL DO ESTADO D E C I S Ã O

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ÓRGÃO ESPECIAL Relator: Desembargador SIDNEY HARTUNG

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ÓRGÃO ESPECIAL AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº

ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PARECER: 02/2015 ASSESSORIA JURIDICA Requerente: Mesa Diretora da Câmara Municipal de Rafael Godeiro.

18 a CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL N o 11496/08 RELATOR : DES.JORGE LUIZ HABIB

PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRITIBA DECRETO Nº. 033, DE 10 DE MAIO 2019

Ofício P.358/2014. Santos, 21 de outubro de

Órgão Especial DECISÃO

DIREITO ADMINISTRATIVO

MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO AUDITORIA INTERNA SECRETARIA DE ORIENTAÇÃO E AVALIAÇÃO PARECER SEORI/AUDIN-MPU Nº 1.113/2016

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

DECISÃO. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Marta Brandão Pistelli

AÇÃO CAUTELAR Nº / SP

Agentes Públicos. Rodrigo Cardoso

Câmara Municipal de Tijucas do Sul

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

TRIBUNAL PLENO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 94190/ CLASSE CNJ - 95 COMARCA DE VÁRZEA GRANDE

PODER JUDICIÁRIO ACÓRDÃO

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PREFEITURA MUNICIPAL DE SANT ANA DO LIVRAMENTO Palácio Moisés Viana Unidade Central de Controle Interno

Legislação Sintetizada para o Concurso do Tribunal de Justiça de Santa Catarina

Sumário. Proposta da Coleção Leis Especiais para Concursos Capítulo I

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de

ILEGALIDADE NO PAGAMENTO DE VERBAS RESCISÓRIAS A OCUPANTE DE CARGO DE CONFIANÇA

NOTA CONASEMS. ACS e ACE PROCESSO SELETIVO/CONTRATAÇÃO. 1. Forma de Admissão/Contratação do ACS e ACE

RECOMENDAÇÃO nº 03/2016

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Sumário PROPOSTA DA COLEÇÃO LEIS ESPECIAIS PARA CONCURSOS... 15

ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS DE NITERÓI LEI 531/85. Regime Jurídico 1. Constituição da República

PROCESSO: RTOrd

inconstitucionalidade de parte do tributo, sejam conferidos efeitos ex nunc à decisão.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. I mill IIIH lllfllljniííjll li! IHII Dl

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3ª REGIÃO

(G) Mandado de Segurança nº fls. 1

DIREITO CONSTITUCIONAL

AULA 10. Petição inicial. Amicus Curae Rejeição da PI Agravo Regimental (pode entrar até o pedido de inclusão de pauta Provido Não provido: arquivo

DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO PARA PREENCHIMENTO DE CINCO CARGOS DE PROCURADOR DO MUNICIPIO DE SÃO GONÇALO. ALEGAÇAO DOS IMPETRANTES

Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Agravo Regimental na Direta de Inconstitucionalidade nº

Princípios Constitucionais Versus Princípios da Administração Pública

DIREITO CONSTITUCIONAL

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MOREIRA DE CARVALHO (Presidente) e OSWALDO LUIZ PALU.

Diário Oficial Prefeitura Municipal de Caém

Tribunal Regional Federal da 3ª Região

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Poder Judiciário Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Segunda Câmara Cível

PROF. RAUL DE MELLO FRANCO JR. UNIARA


PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO CONSELHO SUPERIOR DA JUSTIÇA DO TRABALHO

DIREITO CONSTITUCIONAL

MUNICÍPIO DE ROLADOR/RS. Parecer 056/13/PJM

CONTROLE ABSTRATO Parte II. Jurisdição Constitucional Profª Marianne Rios Martins

PROCESSO: RTOrd

CAPÍTULO 1: NOTAS INTRODUTÓRIAS...1

Prefeitura Municipal de Guaratinga publica:

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº, DE (Dos Srs. Denis Bezerra e Rogério Peninha Mendonça)

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Exmo. Sr. Procurador Chefe da Procuradoria Regional do Trabalho em Santa Catarina Dr. Acir Alfredo Hack

T., acima identificados. ACÓRDÃO. AGRAVO DE INSTRUMENTO N /001 Comarca de Guarabira

RELATOR : CONSELHEIRO GILBERTO VALENTE MARTINS REQUERENTES : LUCIAN CARDOSO DE SOUZA NEVES

Classificação regimental: 1

Vistos e examinados.

Direito Administrativo

LEI Nº 9.868, DE 10 DE NOVEMBRO DE 1999

Direito Administrativo

ESPOLIO DE INGEBORG SCHOTT

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Registro: ACÓRDÃO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo Câmara Especial ACÓRDÃO

ARTIGO: O controle incidental e o controle abstrato de normas

Funções Essenciais à Justiça Arts. 127 a 135, CF/88

Diário Oficial do. Serviço Autônomo de Água E Esgoto Catu. quinta-feira, 27 de junho de 2019 Ano VI - Edição nº Caderno 1

Direito Constitucional Procurador Legislativo 1ª fase

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ÓRGÃO ESPECIAL

Prefeitura Municipal de Palmeiras publica:

ocupadas exclusivamente por Auditor-Fiscal de Contas Públicas.

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 4ª CÂMARA CÍVEL Relator: Desembargador SIDNEY HARTUNG

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Prefácio Nota do autor Parte I Introdução ao controle

Supremo Tribunal Federal

ESTATUTO DOS SERVIDORES PÚBLICOS CIVIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESOLUÇÃO RC2 TC 00129/16 RELATÓRIO

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

ESTADO DO AMAZONAS PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO DE OLIVENÇA GABINETE DO PREFEITO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

CARTA DA FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE

Tribunal de Contas da União

N o 1.755/2016-AsJConst/SAJ/PGR

2. O Supremo Tribunal Federal: cúpula do Poder Judiciário e Corte Constitucional PARTE I EFICÁCIA DAS DECISÕES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Supremo Tribunal Federal

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

DESIGNAÇÃO / NOMEAÇÃO PARA FUNÇÃO DE CHEFIA

Parecer Jurídico nº 19/2016 Interessado: CAU/DF. Assunto: Contratação de profissional para exercício de cargo de livre provimento e demissão

146 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA Nº

Prefeitura Municipal de Andaraí publica:

Supremo Tribunal Federal

Cumprimento de Sentença:

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

INTERESSADA: CÂMARA MUNICIPAL DE IRACEMÁPOLIS SP At.: Dr. Rafael

Transcrição:

REPRESENTAÇÃO POR INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 176/2008, DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO. LEI QUE DISPÕE SOBRE O QUADRO DE CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO E FUNÇÕES GRATIFICADAS DO PODER EXECUTIVO MUNICIPAL DE SÃO GONÇALO, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. ELEVADO DESPROPORCIONAL NÚMERO DE CARGOS EM COMISSÃO, CUJAS ATRIBUIÇÕES NÃO SE ENQUADRAM NOS DITAMES CONSTITUCIONAIS. CONCURSO PÚBLICO QUE, EM REGRA, DEVE SER OBSERVADO NAS CONTRATAÇÕES EFETUADAS PELA ADMINISTRAÇÃO. INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE, PUBLICIDADE E EFICIÊNCIA ART. 37, CAPUT, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. EVIDENTE TENTATIVA DE BURLA À NORMA CONSTITUCIONAL. VIOLAÇÃO AO ART. 77, CAPUT E INCISOS II E VIII DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. PROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO PARA DECLARAR, COM EFEITO EX TUNC E ERGA OMNES, A INCONSTITUCIONALIDADE DA LEI Nº

176/2008, DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO. Vistos, relatados e discutidos estes autos da Direta de Inconstitucionalidade nº 0012932-35.2011.8.19.000, em que figuram como Representante EXMO. SR. PROCURADOR- GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, como Representado 1 CÂMARA MUNICIPAL DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO e como Representado 2 EXMO. SR. PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO, ACORDAM os Desembargadores que compõem o Órgão Especial do, à unanimidade, em julgar procedente o pedido, nos termos do voto do Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 14 de maio de 2012. Desembargador JOSÉ CARLOS DE FIGUEIREDO Relator

RELATÓRIO Trata-se de Representação por Inconstitucionalidade, com pedido cautelar, proposta pelo Exmo. Sr. Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em que se postula a declaração de inconstitucionalidade, com eficácia ex tunc e erga omnes, da Lei nº 176, de 24 de julho de 2008, do Município de São Gonçalo, que dispõe sobre o quadro de cargos de provimento em comissão e funções gratificadas do Poder Executivo Municipal de São Gonçalo, e dá outras providências. Sustenta o douto Chefe da Procuradoria de Justiça, em síntese, que a referida norma viola: i) os princípios da moralidade, impessoalidade, eficiência e interesse coletivo, insculpidos no artigo 77, caput da Constituição do Estado do Rio de Janeiro; ii) a adstrição da destinação dos cargos em comissão e das funções gratificadas às atribuições de direção, chefia e assessoramento (art. 77, VIII da Constituição do Estado do Rio de Janeiro); iii) o princípio do concurso público (art. 77, II da Constituição do Estado do Rio de Janeiro); iv) a proteção do interesse público, eis que as nomeações efetuadas destinam-se a cargos permanentes, acarretando ônus financeiro para o Município; v) o princípio da proporcionalidade (artigos 9º, caput, 16 e 25 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro), diante da evidente desproporção entre o quantitativo de cargos efetivos e o de cargos em comissão e funções gratificadas. Aduz, ainda, o Representante que o Município de São Gonçalo celebrou Termo de Ajustamento de Conduta com o Ministério Público do Rio de Janeiro, no qual se comprometeu, em sua cláusula quarta, a promover o estudo, elaboração e publicação da nova lei municipal de criação dos cargos de provimento em comissão e das funções gratificadas da Prefeitura, que revogará totalmente a atual Lei Municipal nº 176/08, com a redução para 2.800 (dois mil e oitocentos) cargos e funções, o que não ocorreu. Requer a concessão da medida

cautelar, na forma do art. 105 do Regimento Interno deste Tribunal de Justiça, para suspensão da eficácia da Lei nº 176/2008 e, ao final, a procedência do pedido, para declarar, com eficácia ex tunc e erga omnes, a inconstitucionalidade da referida lei. Manifestação da Câmara Municipal de São Gonçalo, às fls. 87/89, e da Prefeita de São Gonçalo, às fls. 91/98, no sentido da constitucionalidade da lei. Medida Cautelar deferida, consoante acórdão de fls. 103/108, para suspender a eficácia da lei tão somente no que concerne às nomeações futuras. Pedido de reconsideração formulado pelo Município de São Gonçalo (fls. 113/117). Às fls. 151/152, petição do Município de São Gonçalo, requerendo sua participação na qualidade de amicus curiae. Decisão, às fls. 154, indeferindo os pedidos. Manifestação da Procuradoria-Geral do Estado (fls. 163/172), afirmando que os cargos em comissão previstos na Lei nº 176/2008 efetivamente se destinam ao exercício de funções de direção, chefia ou assessoramento. Aduz, ainda, que não há provas de desproporção entre o quantitativo de cargos em comissão e o de cargos de provimento efetivo. Ressalta, por fim, a necessidade de modulação de efeitos da declaração de inconstitucionalidade, de forma a assegurar a indispensável continuidade dos serviços públicos.

Parecer da d. Procuradoria de Justiça (fls. 174/180) no sentido da declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 176/2008. É o relatório. VOTO DO RELATOR Trata-se de Representação por Inconstitucionalidade que tem por objeto lei municipal que dispõe sobre o quadro de cargos de provimento em comissão e funções gratificadas do Poder Executivo do Município de São Gonçalo. dispõe que: O art. 37, II e IX da Constituição da República II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público. Da leitura do aludido dispositivo verifica-se a imperiosidade do concurso público, admitindo-se apenas duas exceções, quais sejam, as nomeações para cargo em comissão e as contratações por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público.

Nesse sentido, cumpre trazer à colação trecho das lições do prof. Diogo de Figueiredo Moreira Neto, in Curso de Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Ed. Forense, 2002, 12 ed., fls. 285, verbis: Há obrigatoriedade da aprovação prévia em concurso público, que vem a ser um certame seletivo de provas ou de provas e títulos, indispensável para qualquer investidura em cargo ou emprego público, sem exceções, salvo as previstas na própria Constituição. É a institucionalização do sistema do mérito e a sacralização da impessoalidade na administração de servidores públicos (art. 37, II, CF). O art. 77, caput e inciso II da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, em consonância com a Carta Magna estabelece os princípios a serem observados pela Administração Pública, assim como a regra da imperiosidade do concurso público, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. artigo: Mais adiante, estabelece o inciso VIII do supracitado VIII - os cargos em comissão e as funções de confiança serão exercidos, preferencialmente, por servidores ocupantes de cargo de carreira técnica ou profissional, nos casos e condições previstos em lei ; No caso vertente, verifica-se que o Município de São Gonçalo apresenta 7.635 cargos efetivos e 4.273 cargos em comissão e funções de confiança, o que constitui verdadeira desproporcionalidade entre o quantitativo de cargos efetivos e o de

cargos em comissão, restando patente a intenção do legislador de burlar a regra do concurso público para provimento de cargos na Administração Pública. Com efeito, o aludido quantitativo, ainda que se entenda, por hipótese, que os cargos comissionados atendem às funções de direção, chefia e assessoramento - questão a ser examinada abaixo - evidencia a ausência de proporção razoável na criação dos cargos comissionados. Importante observar que a desproporcionalidade do quantitativo de cargos é corroborada nas informações prestadas pela Câmara Municipal de São Gonçalo. Mas não é só. Consoante disposição inserta no art. 37, V da Constituição da República, norma de repetição obrigatória pela Constituição do Estado do Rio de Janeiro, os cargos em comissão destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento. Contudo, a Seção III da Lei Municipal nº 176/2008, além do desproporcional quantitativo de cargos em comissão, não atende, na maioria destes, ao comando constitucional relativo às funções inerentes aos referidos cargos. Verifica-se, nitidamente, que diversas atribuições descritas no art. 19 da referida lei não se coadunam com os ditames constitucionais. A título de exemplo, cumpre citar o disposto no art. 19, XVI, b, c e e :

Art. 19. (...) XVI- os ocupantes de cargos em comissão de Supervisor exercerão as seguintes atribuições, sem prejuízo das definidas em ato próprio que definirá suas atribuições especificas: (...) b) supervisionar a atividades administrativas (sic); c) exercer o controle de assiduidade do pessoal lotado no Setor; (...) e) supervisionar e orientar os serviços de copa e limpeza; Por fim, importante mencionar que a questão objeto da presente Representação não é nova no Judiciário, tendo ensejado anteriormente a propositura de Ação Civil Pública (proc. nº 2008.004.039235-6), com posterior celebração de termo de ajustamento de conduta (fls. 51/63), e a Representação por Inconstitucionalidade nº 2007.007.00045, da Lei nº 023/2003, do Município de São Gonçalo, que apresentava os mesmos vícios e foi declarada inconstitucional por este Órgão Especial. Isto posto, JULGO PROCEDENTE o pedido da Representação, para declarar, com efeito ex tunc e erga omnes, a inconstitucionalidade da Lei nº 176/2008, do Município de São Gonçalo. Rio de Janeiro, 14 de maio de 2012. Desembargador JOSÉ CARLOS DE FIGUEIREDO RELATOR Certificado por DES. JOSE C. FIGUEIREDO A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço www.tjrj.jus.br. Data: 17/05/2012 13:59:56Local: - Processo: 0012932-35.2011.8.19.0000 - Tot. Pag.: 8