Mecanismos Garantidores de Crédito para Micro e Pequenas Empresas: Principais Modelos, Abordagens Teóricas e Alcance



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Transcrição:

Mecanismos Garantidores de Crédito para Micro e Pequenas Empresas: Principais Modelos, Abordagens Teóricas e Alcance Resumo Autoria: Roberto Marinho Figueiroa Zica, Henrique Cordeiro Martins É notória a relevância que as empresas de micro e pequeno porte assumem dentro da economia nacional, como geradora de emprego e renda, além de sua representatividade no desenvolvimento econômico e social da nação. Os números que cercam o segmento comprovam esta assertiva, pois a quantidade de micro e pequenas empresas superam 5,7 milhões de estabelecimentos constituídos. Estas empresas, conjuntamente, geram uma massa de 38,4 milhões de empregos, representando 54,4% de todos os empregos gerados no país. Não obstante esta representatividade, a preocupação com o segmento aumenta quando se analisam questões relativas à obtenção de recursos junto a instituições financeiras, para o desenvolvimento das atividades empresariais. Dentre as causas apontadas para o insucesso na obtenção de recursos de terceiros, pesquisas realizadas indicam que a insuficiência total das garantias ainda é a preponderante. Desta forma, e considerando a necessidade das empresas em ofertarem garantias ao pleitearem financiamento, o artigo objetiva analisar os mecanismos alternativos de garantia de crédito disponíveis, apresentar seus principais indicadores na disponibilização de garantias às empresas e identificar quais suas contribuições no acesso ao crédito. O respaldo teórico de referência baseou-se, fundamentalmente, em quatro eixos que se interconectaram, abordando literatura disponível, possibilitando o referencial necessário à construção do trabalho. Os eixos teóricos definidos foram: o Cenário das Micro e Pequenas Empresas, onde foi possível apresentar os grandes números do segmento e sua relevância; o Panorama do Crédito, com a demonstração sobre o volume de crédito disponibilizado às empresas; as Dificuldades na Obtenção de Recursos, com estudos realizados sobre como ocorre crédito para o segmento; e o de Mecanismos garantidores de crédito, onde foram apresentados os principais modelos de garantia existentes na literatura. Para perseguir o objetivo proposto, a metodologia do trabalho se concentrou na obtenção de informações pertinentes, por meio de estudos de múltiplos casos ou modelos, tendo como paradigma as experiências nacionais de garantia de crédito. Foram realizados estudos pormenorizados dos fundos de avais, da análise de informações do mecanismo inovador adotado pela Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha e do movimento de constituição de novas Sociedades de Garantia de Crédito. Como resultado do trabalho foi possível sistematizar matriz com os principais indicadores dos fundos de aval e da sociedade de garantia, trazendo luz a várias questões importantes. Dentre as informações identificadas, pode-se destacar que a partir do inicio das atividades de cada mecanismo, até o final do ano de 2009, os avais concedidos atingiram o patamar de R$ 16,038 bilhões, viabilizando a concessão de R$ 21,5 bilhões em financiamentos. Por fim, a constatação a que se chega é que sem o aval complementar, os financiamentos realizados e identificados no trabalho não chegariam ao mercado financeiro e às empresas de menor porte, o que demonstra a adicionalidade que estes mecanismos trazem à economia nacional, agindo como instrumentos indutores de empregos e renda. 1

1 Introdução As micro e pequenas empresas MPE se destacam dentro da economia dos países, ao serem importantes pilares na criação de empregos e geração de renda, bem como no desenvolvimento econômico e social da nação (OCDE, 2006). Em solo nacional, a importância das micro e pequenas empresas é extremamente acentuada. Os números que cercam o segmento comprovam esta análise, pois a quantidade de micro e pequenas empresas no país superam 5,7 milhões de estabelecimentos (SEBRAE, 2007). Estas empresas, conjuntamente, geram uma massa de 38,4 milhões de empregos, representando 54,4% de todos os empregos gerados no país (IPEA, 2010). Estes números tendem a expandir se analisadas duas questões proeminentes: o fato da taxa de sobrevivência das MPE ter aumentado expressivamente nos últimos anos, chegando a 78% de permanência para empresas com até dois anos de abertura (SEBRAE, 2007); e em decorrência da capacidade empreendedora verificada no Brasil, ativando novos negócios. Atualmente, o país ocupa a 13 posição no ranking mundial de empreendedorismo, sendo a maior parte dos empreendimentos ocasionada por alguma oportunidade de mercado e não por necessidade (GEM, 2008). Considerando a relevância que o segmento das MPE assume, torna-se imprescindível a existência de condicionantes que favoreçam a obtenção de recursos financeiros de terceiros, em quantidade e condições adequadas. De acordo com Stiglitz e Weiss (1981), o acesso ao crédito é uma das mais importantes ferramentas ao desenvolvimento econômico de um país. Sem a obtenção de recursos as empresas diminuem sua capacidade produtiva e de investimento, reduzem os patamares de faturamento e de geração de emprego e renda, o que acaba contribuindo para o aumento nas taxas de mortalidade das MPE. Conforme apurado pela pesquisa realizada pelo SEBRAE-SP (2009), um dos principais fatores que tem restringido o acesso das MPE ao crédito bancário, reside na insuficiência total de garantias reais a serem oferecidas às instituições financeiras. Tal apontamento também se repetiu nas últimas pesquisas realizadas, o que demonstra a necessidade de buscar medidas e alternativas capazes de suplantar esta dificuldade. Deste modo, oferecer ao sistema financeiro mecanismos alternativos de garantias, que assegurem a outorga das garantias de crédito, com cobertura complementar direta e líquida, representa atribuir uma mudança significativa no atual panorama do crédito para as MPE, conforme afirma Santos (2006). Esta visão também é compartilhada por Pombo, Molina e Ramirez (2007), que ensinam que as garantias são mecanismos tradicionalmente utilizados pelo sistema financeiro para dar cobertura ao risco das suas operações, podendo ser, inclusive, instrumentos úteis para superar problemas decorrentes da assimetria de informações, tais como as Sociedades de Garantia de Crédito SGC. Assim, é imprescindível mencionar a existência de sistemas de garantia de crédito em vigência no Brasil, como os fundos de aval, subdivididos em: Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas - FAMPE; Fundo de Aval para a Geração de Emprego e Renda FUNPROGER; os recém instituídos Fundos Garantidores de Crédito FGI e FGO; e as Sociedades de Garantia de Crédito, como a Associação de Garantia de Crédito da região da Serra Gaúcha - Garantiserra e as demais SGC em franco processo de constituição. Ambas as formas serão apresentadas mais detidamente na pesquisa realizada. Tendo em vista as dificuldades encontradas por micro e pequenas empresas na obtenção de recursos financeiros de terceiros e a relevância do tema garantia de crédito para MPE e instituições financeiras, o objetivo desse artigo é a analisar os mecanismos alternativos de garantia de crédito disponíveis no Brasil, bem como apresentar seus principais indicadores na disponibilização de garantias às empresas e identificar quais suas contribuições no acesso ao crédito. 2

Sobre a metodologia do trabalho e a obtenção das informações pertinentes, o procedimento técnico para a investigação ocorreu por meio de estudos de múltiplos casos ou modelos, tendo como paradigma as experiências nacionais de garantia de crédito. Essa escolha de procedimento encontra abrigo em Gil (1999), ao orientar que o estudo de caso é caracterizado pelo estudo exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Deste modo, foram realizados estudos pormenorizados dos fundos de avais de abrangência nacional, da análise de informações da Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha, bem como no movimento, ora em curso no país, de constituição de novas Sociedades de Garantia de Crédito. A coleta de dados esteve embasada num amplo processo de análise documental, que assume uma natureza qualitativa e descritiva, fornecendo ao investigador a possibilidade de reunir grande quantidade de informações sobre o tema (TRIVIÑOS, 1987) A análise trabalhou dados dos fundos de avais existentes no país, da Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha e Chamada Pública do SEBRAE, voltada à constituição de Sociedades de Garantia de Crédito. As informações foram extraídas da bibliografia pertinente; endereços eletrônicos das instituições financeiras, de órgãos de atuação com MPE, de organismos de cooperação internacional, do Banco Central do Brasil; contato com especialistas no segmento; por meio de entrevistas e visitas técnicas às instituições financeiras e por meio da participação em fóruns sobre o tema. 2 - Referencial Teórico 2.1 Cenário das Micro e Pequenas Empresas Sabe-se que tanto nos países em estágio de desenvolvimento econômico, quanto naqueles que estão a caminho de seu pleno desenvolvimento, prevalecem em sua malha empresarial, em termos quantitativos, empresas de micro e pequeno porte (OCDE, 2006). No Brasil, a quantidade de micro e pequenas empresas MPE é bastante significativa. De acordo com levantamento realizado pelo SEBRAE (2008 a), tomando como fonte de referência dados da RAIS e MTE, existem 5.786.696 empresas de micro e pequeno porte registradas. Em conjunto, as micro e pequenas empresas com até dez trabalhadores ocupam uma massa de 38,4 milhões de empregos, representando 54,4% de todos os empregos gerados no país (IPEA, 2010). A quantidade de pequenos negócios que surge é fortemente estimulada tanto pela necessidade que muitas pessoas possuem de empreender, quanto pela possibilidade de geração de renda, por meio da identificação de alguma oportunidade de negócio. Tal afirmação encontra amparo na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2008), que aponta o Brasil na 13 posição mundial em empreendedorismo. Outra informação pertinente que traz a pesquisa é que pela primeira vez na série de pesquisas GEM, o Brasil atinge a razão de dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por necessidade. O percentual de empreendedores por oportunidade saltou de 38,5% em 2007, para 45,8% em 2008. Outra natureza de informações interessante a respeito do segmento é sobre a taxa de sobrevivência/mortalidade dos negócios. O percentual de sobrevivência das MPE nos primeiros dois anos passou de 51% em 2002, para o patamar de 78% em 2005, representando um acréscimo de 27% na quantidade de empresas que não fecharam suas portas. Nas empresas com até 4 anos de existência, o percentual de sobrevivência é 64,1% (SEBRAE, 2007). Entende-se que os dois fatores principais deste resultado positivo tenham sido a melhoria do ambiente econômico e a maior qualidade empresarial. Embora a taxa de mortalidade das empresas esteja reduzindo, torna-se relevante compreender as razões que ocasionam o fechamento das firmas. Dentre os itens citados como razões para a quebra dos negócios, a falta de crédito adequado às necessidades da empresa é 3

sempre citada como uma barreira a ser superada (MACHADO E ESPINHA, 2007; SEBRAE, 2007; ZICA E MARTINS, 2008). 2.2 Panorama do Crédito Não restam muitas dúvidas quanto à relevância do acesso ao crédito para desenvolvimento econômico de um país. Tal consideração encontra embasamento no seminal artigo escrito por Stiglitz e Weiss (1981), que consideram o crédito como um dínamo econômico fundamental. No campo microeconômico, sua falta pode gerar conseqüências negativas, sobretudo àquelas empresas que não possuem capacidade de gerarem caixa. Uma vez interrompido o fluxo de recursos, as empresas tem diminuídas sua capacidade produtiva e de realizar novos investimentos, oferecendo como conseqüência a redução dos patamares de faturamento e de geração de emprego e renda. A atividade bancária brasileira vem demonstrando um crescimento positivo e consistente na quantidade de recursos disponibilizados em crédito, indicando recuperação após contração verificada no final de 2008 e parte de 2009, em função da crise financeira mundial. De acordo com as informações do Banco Central do Brasil (2010), o volume de crédito concedido no sistema financeiro nacional atingiu R$1.410 bilhões em dezembro de 2010, representando 45% do PIB e um crescimento acumulando de 14,9% em doze meses. A título de comparação, no início da década o volume total de crédito, em relação ao PIB, era de inferior a 30%. Com a melhoria dos indicadores macroeconômicos percebe-se um reposicionamento das instituições financeiras, onde os grandes bancos passaram a diminuir suas operações de tesouraria e iniciaram um movimento migratório para o mercado de crédito (MATIAS, 2006). Mais recentemente, no período pós-crise financeira mundial, percebeu-se no Brasil um movimento de avanço dos bancos públicos na concessão de crédito, frente ao recuo das instituições financeiras privadas e estrangeiras. Conforme dados do Banco Central (2010), a distribuição do crédito passou a ser de 41,4% para as instituições financeiras públicas, 40,4% para as instituições privadas nacionais e 18,2% para os bancos estrangeiros. Em 2008, os bancos privados nacionais e os estrangeiros representavam 42,8% e 21% do total de crédito concedido, respectivamente. Cabe ressaltar que esta expansão da oferta de crédito se orientou principalmente para os financiamentos de bens de consumo, crédito para pessoas físicas, empréstimos consignados e para o crédito voltado às MPE. O crédito para pessoa física obteve um crescimento de 16,4%, sendo que o destinado para as pessoas jurídicas cresceu 10,6%, até novembro/2009, o que resultou na redução da participação dos empréstimos para pessoas jurídicas para 55% do total concedido. Em que pese à dificuldade encontrada no momento de classificação estatística das operações de MPE, tendo em vista a diversidade de parâmetros de enquadramento existentes e praticada pelas instituições financeiras, o que em na maioria dos casos divergem do patamar estipulado pela Lei Geral das MPE (microempresa: faturamento bruto anual de até R$ 240.000,00 - empresas de pequeno porte: faturamento de até R$ 2.400.000,00) é possível demonstrar uma racionalidade que indica o fluxo de recursos para as MPE. Valendo-se das informações do Banco Central (2010), é possível identificar que as operações de crédito para pessoa jurídica, no valor de até R$100 mil chegaram a R$125,9 bilhões, em novembro de 2009, representando 16% do total concedido às pessoas jurídicas. Nas demais faixas de empréstimos, as concessões entre R$100 mil e R$10 milhões representaram 38% do total concedido às empresas e as concessões acima de R$ 10 milhões atingiram o maior percentual dos últimos cinco anos, na ordem de 46%. É possível tomar por verdadeiro, que os valores concedidos dentro do patamar de até R$ 100 mil sejam, prioritariamente, destinados às operações de MPE. Cabe ainda mencionar que embora o 4

volume financeiro de recursos, para valores de até R$ 100 mil, esteja se expandindo, percentualmente esta faixa de empréstimo apresentou leve declínio. Tais indicadores reforçam o fato de que as empresas de menor porte têm enfrentado inúmeras barreiras na obtenção de recursos para alavancarem suas atividades, tanto nas instituições financeiras públicas quanto nas privadas. O que constataram Carvalho e Abramovay (2004, p.17), foi o não atendimento pelo Sistema Financeiro Nacional, genericamente, às necessidades de financiamento dos pequenos negócios, quando afirmam que o sistema financeiro brasileiro não atende às necessidades das pequenas e das microempresas. 2.3 Dificuldades na Obtenção de Recursos De acordo com Carvalho e Abramovay (2004), as dificuldades em obtenção de crédito decorrem basicamente de dois pilares estruturais: o alto custo financeiro e as fortes restrições de acesso ao crédito. O Brasil, historicamente, tem praticado elevadas taxas de juros comparativamente a outros países. No mês de Janeiro de 2010 a taxa de juros Selic atingiu o percentual de 8,75% a.a., sendo o menor percentual da década. Apesar de ainda elevado, comparativamente a outras economias desenvolvidas, este quadro tem apresentado significativa melhora, comportando-se de forma declinante e consistente. Para efeitos comparativos, em Outubro do ano 2000, a taxa Selic situava-se em 16,50% a.a. e no início de 2003 estava no patamar de 26,5% a.a.. Segundo Morais (2006), as reduções das taxas de juros fizeram com que os grandes bancos diminuíssem suas operações de tesouraria, que passaram a oferecer ganhos menores e estejam migrando paulatinamente para o mercado de crédito. Embora seja um dos fatores de inibição do crédito, o alto custo de empréstimos não tem se apresentado como o único problema das empresas de menor porte para o acesso a financiamentos. Segundo Stiglitz e Weiss (1981) problemas como os de assimetria de informação, seleção adversa e insuficiência de garantias têm preenchido a pauta de restrição dos financiamentos para as micro e pequenas empresas. A falta de garantias tem sido obstáculo recorrente e preponderante para as MPE acessarem o crédito. Constatação importante assumem Pombo e Herrero (2006, p 10), quando afirmam que a garantia é um bem ou recurso escasso, sobretudo aquelas garantias melhor qualificadas e ponderadas, o que provoca graves dificuldades no acesso a financiamento das micro, pequena e médias empresas. O agravante desta situação é justamente a percepção que a falta das garantias se dá nas duas pontas, tanto do lado da oferta e quanto da demanda. Sob a ótica da demanda, ou dos empresários, dentre as razões alegadas pelos bancos para não conceder empréstimos às MPE, a falta de garantias reais a oferecer foi a preponderante, com 16% das ocorrências na pesquisa realizada pelo SEBRAE-SP (2009). O desafio também é enfrentado pelas instituições financeiras, que, em determinadas situações, desejam ofertar o crédito e expandir suas carteiras de empréstimos, mas se vêem impossibilitadas em virtude desta mesma insuficiência de informações e de garantias confiáveis por parte das firmas. As garantias (colaterais) assumem dupla função dentro das práticas bancárias: a) cumprir a legislação pertinente; e b) reduzir os riscos da operação. No tocante ao risco, Stiglitz e Weiss (1981) mais uma vez contribuem ao analisarem que a exigência de garantia para a liberação dos recursos é também uma forma de discriminar comportamentos mais ou menos arriscados. Quanto maior for o risco da operação, maior será a quantidade e qualidade das garantias exigidas pelo agente financeiro para contratá-la. Constata-se que minimizar ou até mesmo eliminar, as barreiras impostas pela exigência de garantias, por meio de mecanismos adequados de complementaridade dos 5

colaterais exigidos, associando-se qualitativamente a formas simples e eficazes de fornecimento de informações pertinentes ao crédito às instituições financeiras, implicaria essencialmente no incremento do nível de empréstimos totais (SANTOS, 2006). 2.4 Mecanismos garantidores de crédito principais modelos Segundo Cassiolato, Britto e Vargas (2002), os mecanismos de garantia de crédito vêm sendo amplamente empregados em âmbito mundial. Para os autores, os esquemas de garantia de crédito ou de garantia mútua possibilitam a oportunidade de acesso ao Sistema Financeiro Nacional, àquelas empresas que não apresentam as condições necessárias para contratarem operações de financiamento em função da falta de garantias e de informações sobre o desempenho passado. De acordo com Pombo e Herrero (2003), o objetivo dos sistemas de garantias de crédito é a integração das micro e pequenas empresas com o sistema financeiro formal, sob melhores condições de juros, prazo e propiciando seu acesso. Além desse fato, este sistema apresenta outras possibilidades de atuação, como o oferecimento de avais técnicos, comerciais e de serviços de assessoramento empresarial a seus clientes. Os estudos realizados pelos autores identificaram a existência de três modelos gerais, que englobam todos os sistemas de garantias, sendo os Fundos de Garantia, os Programas de Garantia e as Sociedades de Garantia de Crédito. Os Fundos de Garantia dispõem de recursos limitados e transitórios, oriundos de programas públicos (estatais), fundações, ONG s ou de alguma cooperação internacional destinados a prestar garantias de crédito. As atividades operacionais de análise, concessão e recuperação, ficam delegadas às entidades financeiras, sendo que o postulante solicita o crédito e geralmente paga pelo uso da garantia. Desta forma, destacam-se as principais características deste modelo: a) possuir os recursos limitados e transitórios; b) recursos com procedência governamental ou de cooperação internacional; c) a análise, a concessão e a cobrança dos inadimplentes é realizada / delegada às instituições financeiras; e d) operar sob as formas de garantia de carteira ou garantias individuais. Nos Programas de Garantia sua articulação e administração normalmente se dão por meio de uma agência de desenvolvimento estatal, do Banco Central do país envolvido ou por algum banco público. Seus recursos podem ser limitados e renováveis, procedentes do Estado ou de organismos de cooperação multilaterais e bilaterais. A operação também é realizada pelas instituições financeiras, sendo que o usuário não possui nenhuma relação mais estreita com o programa. Destacam-se as principais características deste modelo: a) recursos limitados e temporários; b) recursos procedentes do estado e / ou de alguma cooperação internacional; c) pode possuir âmbito estatal ou interestadual; d) a operação básica é realizada pelas instituições financeiras; e) o usuário não possui nenhuma relação de fidelização com o programa. Segundo Baumgartner (2004) no Brasil, apesar de terem a denominação de Fundos de Aval, seu funcionamento assemelha-se ao de um Programa de Garantia de âmbito nacional. Por último, as Sociedades de Garantia de Crédito são associações destinadas à prestação de garantias complementares aos seus associados, conforme exigência do sistema financeiro. Possuem, também, o objetivo de prestação de avais técnicos e comerciais, bem como de serviços correlatos ao assessoramento financeiro de seus sócios, micro, pequenas e médias empresas. Podem ser âmbito local, regional ou estatal. A própria sociedade é quem realiza os serviços de análise e de concessão das garantias pleiteadas, assumindo a inadimplência e eventuais falências, se encarregando diretamente da atividade de recuperação das perdas. Conforme Lloréns (1996), as sociedades de garantia de crédito subdividem-se em: mutualista: realizada por instituição privada, com dotação de recursos privados e públicos; 6

corporativa: os recursos são mistos, mas com predominância de participação de entidades do setor público. Destacam-se como principais características do modelo de SGC: a) possuir âmbito local, regional ou estatal; b) realizar serviços de análise e concessão de garantias complementares aos seus usuários; c) prestar avais técnicos e comerciais; d) realizar serviços de assessoramento financeiro aos seus sócios; e) a garantia é individual; f) o relacionamento entre cliente e entidade gera fidelização, visto que o cliente estabelece relação e pagamentos diretamente à sociedade de garantia de crédito; g) assumir a inadimplência, eventuais falências e se encarregar da recuperação das perdas; h) aumentar o poder de barganha com as instituições financeiras, por melhores condições das formas de financiamento; i) potencializar a redução da assimetria de informações entre a oferta e a demanda. 3 O Alcance dos Fundos de Aval e das Sociedades de Garantia de Crédito Atualmente no Brasil existem quatro fundos de aval aptos a realizarem contratações, sendo o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas FAMPE, o Fundo de Garantia do Programa de Geração de Emprego e Renda Funproger, o Fundo Garantidor para Investimentos FGI e o Fundo de Garantia de Operações FGO. Cabe salientar que, desde a institucionalização do FGI, o Fundo de Garantia da Promoção da Competitividade FGPC deixou de realizar novas operações. No tocante às Sociedades de Garantia de Crédito existe apenas uma única iniciativa em operação no país, a Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha Garantiserra. Outras iniciativas para constituição de SGC estão em franco processo de desenvolvimento. 3.1 Fundos de Aval 3.1.1 Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas - FAMPE As informações do FAMPE foram obtidas pelo endereço eletrônico do SEBRAE (2009), na análise de relatórios gerenciais e pelo contato estabelecido com a Unidade de Acesso a Serviços Financeiros da entidade. O FAMPE foi o primeiro fundo de aval a ser constituído no país. Instituído em julho de 1995 pelo SEBRAE, surgiu com a finalidade de viabilizar a concessão de garantias complementares nos financiamentos e empréstimos pleiteados pelas MPE, junto às instituições financeiras credenciadas. A intenção ao se constituir o fundo, foi a perspectiva de reduzir as barreiras enfrentadas pelos empresários de micro e pequenos negócios, incapazes de oferecer as garantias totais exigidas pelas instituições financeiras. Pode-se dizer que o fundo foi o pioneiro e indutor da criação dos demais fundos no país (ZICA, 2008). Desde sua criação, até o mês de dezembro de 2009 já foram beneficiadas 129.257 empresas. Como possui a característica de complementar as garantias já oferecidas pelas empresas, o Fundo de Aval não substitui por completo a necessidade do proponente ao crédito apresentar outras garantias, tampouco poderá ser utilizado quando o cliente apresentar todas as garantias exigidas pelo agente financeiro. Outro fator é que agente financeiro poderá exigir garantias somente para a parcela do financiamento não coberta pelo FAMPE. Ao contratar um financiamento ou empréstimo com uma micro ou pequena empresa, a instituição financeira realiza a análise de crédito e solicita as garantias sobre o pleito. Caso o cliente não possua a integralidade dos colaterais exigidos, poderá complementá-las com o FAMPE, contratando-o junto ao agente financeiro conveniado. Os limites da garantia podem assumir até 80% do valor financiado. O patrimônio do fundo é formado por recursos provenientes do orçamento do SEBRAE, pelas receitas provenientes da cobrança da Taxa de Concessão de Aval TCA e pelos rendimentos das aplicações financeiras dos recursos do fundo. O saldo do fundo, com 7

base em dezembro de 2009, é de R$ 444,3 milhões, significando uma alavancagem na ordem de 5,74 vezes. O valor da carteira de garantias concedidas pelo fundo até aquele período era de R$ 2,5 bilhões. A tabela 1 visa demonstrar a performance do fundo nas operações contratadas desde sua constituição. Tabela 1: Desempenho das operações do FAMPE. Valores em R$ Ano Número de Financiamentos Avais Avais Avais Honrados Operações Concedidos Concedidos Recuperados 1995 189 4.174.000,00 1.978.000,00 - - 1996 635 19.824.000,00 6.286.000,00 - - 1997 3.518 131.643.000,00 55.976.000,00 502.150,00-1998 3.586 114.678.000,00 53.425.000,00 2.421.540,00 1.140,00 1999 1.472 61.022.800,00 42.880.470,00 7.785.912,00 69.140,00 2000 4.258 104.433.500,00 49.339.020,00 8.802.392,00 182.940,00 2001 1.708 62.768.600,00 25.332.350,00 11.303.912,00 280.068,00 2002 1.480 40.939.156,00 24.749.796,00 14.427.112,00 910.400,00 2003 647 24.668.448,00 11.524.580,00 10.285.710,00 1.172.020,00 2004 253 11.627.810,00 4.156.890,00 5.246.452,00 1.244.758,00 2005 137 7.832.050,00 2.301.940,00 5.447.350,00 1.410.020,00 2006 398 15.172.066,00 6.662.512,00 1.779.644,00 1.678.486,00 2007 521 23.442.406,00 12.095.123,00 643.130,00 1.469.947,00 2008 66.634 2.137.989.701,00 1.652.102.083,00 147.822,00 1.871.514,00 2009 43.821 1.554.569.421,00 1.186.661.979,00 689.590,00 1.872.466,00 Total 129.257 4.314.784.958,00 3.135.471.743,00 69.482.716,00 12.162.899,00 Fonte: SEBRAE/UASF, 2010. Data base: 31/12/2009 Nota-se que nos anos de 2008 e 2009 houve grande demanda para o Fampe, sendo em quase sua totalidade capitaneada pelo Banco do Brasil, que é o principal agente financeiro operador. Tal situação de acréscimo pode ser entendida como a utilização do fundo como medida anticíclica durante a crise financeira (originária nos Estados Unidos da América), bem como por certa redução de recursos do Funproger à época. 3.1.2 Fundo de Garantia da Promoção da Competitividade FGPC Os dados e informações sobre o Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade FGPC foram obtidas por meio de análises e considerações extraídas no endereço eletrônico do BNDES, bem como pelo contato estabelecido com a gerência do Departamento de Política e Gestão dos Instrumentos de Garantia para Acesso ao Crédito. O FGPC foi criado em dezembro de 1997, pela Lei 9.531, sendo regulado pelo Decreto nº. 3.113. O fundo foi instituído com recursos do Tesouro Nacional, ficando sua administração sob a responsabilidade do BNDES. Sua finalidade é a de garantir uma parte do risco de crédito das instituições financeiras nas operações que utilizem as linhas de financiamento do BNDES, especificamente BNDES Automático, FINAME, FINEM e Apoio à Exportação. O FGPC atua com um mecanismo de segundo piso, estabelecendo vínculo contratual diretamente com os agentes financeiros autorizados para utilizar linha do BNDES. A análise do proponente recai fundamentalmente sobre a instituição financeira, bem como as atividades decorrentes da operação, a recuperação do aval. Desse modo, a decisão quanto às garantias, inclusive a utilização do fundo de aval, é da instituição financeira ao aprovar a operação. Com o advento da Lei nº 12.087, de 11 de Novembro de 2009, que instituiu os Fundos Garantidores de Crédito, as novas operações com o FGPC foram suspensas. As atividades decorrentes de avais honrados e avais recuperados, por já terem sido contratados 8

anteriormente, continuam a ocorrer. A tabela 2 demonstra a performance do fundo nas operações contratadas. Tabela 2: Desempenho das operações do FGPC. Valores em R$ Ano Número de Financiamentos Avais Avais Avais Honrados Operações Concedidos Concedidos Recuperados 1998 284 32.900.000,00 20.100.000,00 - - 1999 1.078 162.200.000,00 116.100.000,00 - - 2000 3.428 532.500.000,00 400.100.000,00 100.000,00-2001 4.236 712.500.000,00 544.300.000,00 5.800.000,00-2002 4.094 898.400.000,00 684.500.000,00 21.900.000,00 2.900.000,00 2003 2.760 752.100.000,00 548.400.000,00 35.100.000,00 100.000,00 2004 1.116 369.700.000,00 225.800.000,00 13.200.000,00 500.000,00 2005 443 94.500.000,00 60.600.000,00 51.800.000,00 1.800.000,00 2006 72 12.600.000,00 8.100.000,00 19.800.000,00 10.500.000,00 2007 23 2.800.000,00 1.900.000,00 104.800.000,00 17.100.000,00 2008 1 200.000,00 100.000,00 11.200.000,00 6.900.000,00 2009 - - - 4.300.000,00 12.200.000,00 Total 17.535 3.570.400.000,00 2.610.000.000,00 268.000.000,00 52.000.000,00 Fonte: BNDES/AC/DEPOG, 2010. Data base: 31/12/2009 Os valores apresentados são históricos e aproximados. A sazonalidade no pagamento de honras de aval está impactada pelo contingenciamento orçamentário. 3.1.3 Fundo de Garantia do Programa de Geração de Emprego e Renda Funproger Os dados e informações aqui expressos foram obtidos a partir da análise do regulamento de operações do Fundo de Aval para a Geração de Emprego e Renda Funproger e do contato com a Diretoria de Micro e Pequenas Empresas do Banco do Brasil. O Funproger foi criado pela Lei 9.872, de 23/11/1999 e regulamentado pela resolução nº. 409, de 28/10/2004, do Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador CODEFAT, estando vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego. Seus recursos têm origem no Fundo de Amparo ao Trabalhador FAT, e o seu gestor é o Banco do Brasil. O fundo tem por finalidade avalizar as pessoas físicas e jurídicas, tomadoras de financiamentos por meio das linhas de crédito do Programa de Geração de Emprego e Renda - PROGER Urbano. São beneficiários as microempresas e empresas de pequeno porte com faturamento bruto anual de até R$ 5 milhões, pessoas físicas do setor informal da economia, profissionais liberais, cooperativas e associações. O Funproger participa na operação creditícia como avalista, de modo a complementar as garantias apresentadas pelo proponente. Em termos patrimoniais, o Funproger foi formado inicialmente por um aporte inicial do FAT de R$ 50 milhões. O patrimônio do fundo cresce pelas receitas provenientes da cobrança da Comissão de Concessão de Aval CCA e dos rendimentos das aplicações financeiras. A alavancagem do fundo é de 11 vezes sobre o saldo. Assim como o FAMPE, quando o proponente do financiamento não possuir a integralidade dos colaterais exigidos, poderá complementá-lo com a garantia do Funproger. Deverá para isto, pleitear a outorga do fundo no momento de contratar a operação. O limite desta garantia complementar pode representar até 80% do valor financiado. O fundo admite que haja combinação de garantias com outros fundos, desde que o total não ultrapasse os 80% do total. O teto de aval por proponente é de R$ 160 mil. Os prazos da garantia podem compreender todo o prazo do financiamento, incluindo o período de carência. De acordo com Macedo e Sanches (2008) o Funproger impacta positivamente na cadeia socioeconômica ao possibilitar o acesso ao crédito aos tomadores, que sem a cobertura 9

do fundo, encontrariam dificuldades para oferecer as garantias adequadas. Sob esta ótica, concluem os autores, o fundo contribui para a criação de empregos e geração de renda. A tabela 3 apresenta a performance do fundo nas operações contratadas. Tabela 3: Desempenho das operações do Funproger. Instituição Financeira Banco do Brasil Banco da Amazônia Banco do Número de Operações Financiamentos Concedidos Avais Concedidos Valores em R$ Avais Avais Honrados Recuperados 574.601 8.916.699.597,46 6.930.129.338,06 569.403.277,70 40.936.433,90 72 8.071.625,45 4.270.593,14 338.814,26-23.870 114.162.780,56 87.017.834,47 8.555.695,64 659.147,78 Nordeste C.E.F. 248 9.209.441,64 4.604.720,82 3.243.823,20 178.876,62 Total 598.791 9.048.143.445,11 7.026.022.486,48 581.541.610,80 41.774.458,30 Fonte: Banco do Brasil/DIMPE, 2010. Data base: 31/12/2009 3.1.4 Fundos Garantidores de Crédito Os Fundos Garantidores de Crédito, subdivididos em Fundo de Garantia de Operações FGO e Fundo Garantidor de Investimentos FGI foram instituídos pela Lei nº 12.087, de 11 de Novembro de 2009. Segundo o texto da lei, o objetivo dos fundos é de garantir diretamente o risco em operações de crédito para a) microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte; b) empresas de médio porte, nos limites definidos no estatuto do fundo; e c) autônomos, na aquisição de bens de capital, nos termos definidos no estatuto do fundo; e de garantir indiretamente as operações cobertas por demais fundos e Sociedades de Garantia de Crédito, além da possibilidade de aquisição de cotas de outros fundos garantidores ou FIDC. Os fundos poderão ser criados, administrados, geridos e representados por instituição financeira controlada direta ou indiretamente pela União. Terão natureza privada e patrimônio próprio, separado do patrimônio dos cotistas e da instituição administradora. O Fundo de Garantia de Operações - FGO, constituído pelo Banco do Brasil tem por finalidade garantir parte do risco dos empréstimos e financiamentos concedidos pelas instituições financeiras cotistas do Fundo para micro, pequenas e médias empresas, micro empreendedor individual, e autônomos transportadores rodoviários de carga, na aquisição de bens de capital inerentes a sua atividade. O FGO limita-se a conceder garantia de a) no máximo, 80% do valor da operação de investimentos, sendo o valor da garantia limitado a R$ 500 mil por proponente; b) no máximo, 60% do valor da operação de empréstimos para capital de giro, sendo o valor da garantia limitado a R$ 150 mil por proponente, com garantia fidejussória com recursos líquidos compatíveis com a obrigação; ou c) no máximo, 80% do valor da operação de empréstimos para capital de giro, sendo o valor da garantia limitado a R$ 100 mil por proponente, com garantia fidejussória sem recursos líquidos compatíveis com a obrigação. O valor máximo a ser garantido pelo FGO será limitado a 12 (doze) vezes o montante dos recursos que constituem o patrimônio do fundo. Para a contratação de operações com garantia do fundo, os agentes financeiros devem integralizar previamente, cotas em volume correspondente a 0,5% (meio por cento) do valor total garantido pelo FGO para a instituição financeira. Esta integralização poderá ser realizada em dinheiro, títulos da dívida pública, ações, títulos privados ou outros direitos com valor patrimonial. 10

O FGO começou a operar no final do ano de 2009, mas já conta com 146.291 operações, realizadas pelos agentes financeiros: Banco do Brasil, com 120.030 operações, Banco Nossa Caixa, com 10.350 e Caixa Econômica Federal, com 15.911. Foi garantido o valor de R$ 3.257.848.320,44, viabilizando R$ 4.591.452.251,05 em financiamento (posição de fev. 2010). O Fundo Garantidor de Investimentos - FGI tem por finalidade garantir o risco de financiamentos concedidos a micro, pequenas e médias empresas (conforme definição de porte do BNDES) e as pessoas físicas do segmento de transporte e cargas na aquisição de bens para suas atividades. A garantia do FGI é concedida ao agente financeiro, visando facilitar o acesso ao crédito para seus clientes enquadráveis. Não se trata de um seguro de crédito, tão pouco o isenta o beneficiário do crédito de cumprir com suas obrigações financeiras. O limite de utilização do FGI, por beneficiário, é de R$ 10 milhões. Cabe salientar que o Agente Financeiro deverá integralizar cotas do fundo equivalentes ao valor de 0,5% do valor das garantias que pretende contratar. O valor máximo de exposição do fundo na prestação de garantias é de 12 vezes o seu patrimônio líquido. O fundo ainda não iniciou suas operações no mês de março de 2010 e se intensifique ao longo dos próximos meses. Atualmente seis instituições financeiras já são subscritoras do FGI: Banco Volvo, Banco Fidis (grupo FIAT), Banco CNH, Banco Ribeirão Preto, Caixa RS - Agência de Fomento, Itaú Unibanco - além do próprio BNDES. Outros quatro agentes financeiros já estão em processo de habilitação: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. - BDMG e Nossa Caixa Desenvolvimento - Agência de Fomento do Estado de São Paulo. Ao final do processo de habilitação, estas instituições estarão autorizadas a contratar operações com garantia do BNDES FGI. Posição do FGI em 31/12/2009: Patrimônio Líquido: R$ 688.163.531,58; Saldo Disponível para novas garantias: R$ 8.257.962.378,96. 3.1.5 Composição integrada dos Fundos de Aval Com base nas informações dos cinco fundos de aval foi possível sistematizar a seguinte tabela com os principais indicadores. Tabela 4: Desempenho das operações dos Fundos de Aval. Valores em R$ FUNDO Número de Financiamentos Avais Avais Avais Concedidos Operações Concedidos Honrados Recuperados FAMPE 129.257 4.314.784.958,00 3.135.471.743,00 69.482.716,00 12.162.899,00 FGPC 17.535 3.570.400.000,00 2.610.000.000,00 268.000.000,00 52.000.000,00 Funproger 598.791 9.048.143.445,11 7.026.022.486,48 581.541.610,80 41.774.458,30 FGI - - - - - FGO 146.291 4.591.452.251,05 3.257.848.320,44 - - Total 891.874 21.524.780.654,16 16.029.342.549,92 919.024.326,80 105.937.357,30 Fonte: Elaboração própria, 2010. 3.2 Sociedades de Garantia de Crédito no Brasil O movimento em prol da constituição de Sociedades de Garantia de Crédito SGC no país data do início do ano 2000, quando entidades de apoio, poder público, instituições financeiras e lideranças empresariais começaram a realizar estudos e visitas técnicas às instituições internacionais que já utilizavam essa metodologia de garantia de crédito. 11

A primeira iniciativa sob este modelo de garantia inovador foi instituída na região da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, no final do ano 2003 e apta operacionalmente em 2005. Desde então, existe um reconhecido esforço para que outras entidades possam ser constituídas no país. Prova disto foi o lançamento de chamada pública do SEBRAE (SEBRAE, 2008 b; ZICA, 2008), que oferece apoio técnico e financeiro para constituição de SGC. Deste modo, torna-se relevante a busca de informações sobre esse mecanismo de garantia, seu funcionamento e em qual estágio de desenvolvimento encontra-se a chamada pública para constituição de sociedades de garantia de crédito. No tocante a uma legislação específica, as SGC ainda ressentem de um marco regulatório e outros diplomas legais apropriados à atividade. Todavia, as SGC estão previstas na legislação em função da inclusão do artigo 60 A, na Lei Complementar 127/2007, que complementa a Lei Geral das MPE (LC 123/2006). O referido artigo traz a possibilidade da instituição do Sistema Nacional de Garantias de Crédito pelo Poder Executivo. O texto também indica que este sistema nacional de garantias de crédito integrará o Sistema Financeiro Nacional. Embora a questão esteja posta pela Lei Geral das MPE como uma necessidade de regulamentação, o marco regulatório ainda não foi expedido pelo Conselho Monetário Nacional. Tanto a Garantiserra, quanto as sociedades de garantia de crédito que vierem a se constituir devem ser registradas como associações. 3.2.1. Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha - Garantiserra Os dados e informações aqui expressos foram retirados do estatuto social da Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha, por meio de visita técnica, análise de relatórios mensais e do contato com os profissionais que trabalham na entidade. A Associação de Garantia de Crédito da Serra Gaúcha, ou Garantiserra, com sede na cidade de Caxias do Sul, é uma associação civil sem fins lucrativos, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público OSCIP e atua nos município da região da Serra Gaúcha. Possui o objetivo de promover a dinamização do desenvolvimento econômico, por meio da viabilização do acesso ao crédito às micro, pequenas e médias empresas da região, concedendo-lhes garantias complementares à oferecida pelo empresário, de acordo com a exigência das instituições financeiras. Além de prestar garantias, visando diminuir o risco dos negócios, a Garantiserra presta informações gerenciais, qualificação e suporte a projetos, assessoria empresarial, propiciando melhores condições de acesso ao crédito para seus associados. Outra característica da associação é o desenvolvimento da cultura associativa entre as empresas participantes e de forma indutora àquelas que ainda não estão dentro do modelo. A Garantiserra atua no primeiro piso, com contato direto com os associados, operando recursos do Fundo de Risco Local. O Fundo é gerido de modo a conceder recursos para operações de garantia de crédito para as modalidades de capital de giro, investimento misto e investimento fixo. Os recursos são empregados em três frentes: no a) Fundo de Risco Contragarantia; no b) Fundo de Risco Local; na c) Assistência Técnica. O segundo piso assegura (contra-garante) as operações do primeiro piso. Percebe-se que as instituições financeiras beneficiam-se da existência do Fundo de Contra-Garantia capitalizado, que assegura o pagamento de eventuais operações (ou o conjunto de operações), caso o Risco Local não possua liquidez para a cobertura. Outro benefício percebido para as instituições financeiras são os depósitos substanciais de recursos que ficam em suas agências. Como se trata de uma iniciativa pioneira no país, e relativamente recente, ainda consta poucas operações realizadas com a Garantiserra. Os dados informados (Tabela 5) por ano são acumulados. 12

Tabela 5: Desempenho das operações da Garantiserra. Valores em R$ Ano Quantidade de Número de Garantias Financiamentos Carteira em Associados Operações Emitidas Concedidos Atraso (%) 2006 (Nov) 207 55 1.406.192,00 Não disponível Não disponível 2007 (Out) 311 189 4.077.706,00 7.492.622,00 1,4 2008 (Dez) 359 290 6.064.593,00 10.984.046,00 1,6 2009 (Dez) 427 384 8.712.753,00 15.590.648,00 1,4 Fonte: Garantiserra, 2010. 3.2.2 Novas constituições de SGC Dentro da estratégia de fomentar e fortalecer instrumentos inovadores que estimulem o acesso ao crédito, sob custos e condições mais vantajosas, o SEBRAE lançou Chamada Pública (SEBRAE, 2008 b), em Março de 2008, com o objetivo de selecionar propostas de parcerias para receberem apoio técnico e/ou financeiro, destinadas à constituição de Sociedades de Garantia de Crédito voltadas majoritariamente para micro e pequenas empresas. O intuito da instituição, conforme descrito na Chamada Pública é de contribuir para a promoção de um amplo sistema de garantia de crédito no país, apoiando o surgimento de iniciativas, com vistas a oferecer maiores oportunidades de acesso ao crédito e serviços empresariais pelos pequenos empreendimentos. Segundo os termos da Chamada Pública, poderão ser apoiadas iniciativas de prestação de garantia complementar, no formato mutualista e de prestação de serviços empresariais às micro e pequenas empresas. O SEBRAE apoiará técnica e financeiramente as iniciativas sob as seguintes formas de apoio: a) Operação: com o ressarcimento de até 50% do total do projeto, para cobertura de despesas administrativas e operacionais (excluído pagamento de salários e encargos, aluguéis, aquisição de imobilizados e instalações civis) durante 30 meses; b) Assistência Técnica: em até 100%, de forma não reembolsável, para custear despesas com consultorias, treinamentos, eventuais missões e intercâmbio de informações, no prazo de até 30 meses; e c) Fundo de Risco Local: o valor a ser destinado será em consonância com a necessidade projetada, retornável após 5 anos, mas podendo ser renovável se houver interesse de ambas as partes. Para fazer face a estas despesas, a instituição destinará a quantia de R$ 30 milhões de já consignadas em seu orçamento. Segundo informações obtidas na Unidade de Acesso a Serviços Financeiros do SEBRAE, a Chamada Pública vem apresentando significativos avanços. Até o presente momento foram envolvidos 18 Estados da Federação, com uma extensa agenda de palestras, eventos, reuniões dos comitês gestores e amplo debate com lideranças empresariais, empresários, representantes de instituições financeiras e do poder público. Como efeito foram entregues 19 Cartas Consultas - primeira fase da Chamada Pública - de nove Estados da Federação, envolvendo 83 Proponentes e 193 Parceiros. O término da Chamada Pública ocorreu em Março de 2010. A expectativa do SEBRAE é que ao menos seis destas iniciativas estejam operativas em 2010 e outras possam também se juntar a este grupo. De acordo com os Planos de Negócios apresentados, estima-se que estas seis SGC atendam cerca de 9.000 empresas associadas nos próximos 60 meses (VALOR ECONÔMICO, 2009). 13

3.3 - Vantagens das SGC comparativamente aos fundos de avais Conforme apontaram Pombo e Herrero (2003) e Llisterri (2006), baseando-se nas melhores práticas das experiências internacionais, existem certas vantagens na utilização das SGC em relação aos fundos de avais. As SGC podem ser mais interessantes que os fundos, se vistas sob os seguintes prismas: a) possibilidade de efetuar convênios com diversas instituições financeiras, ampliando o leque de oportunidades para os associados; b) menor nível médio de inadimplência que os fundos, dada a redução do risco moral e da melhora da qualidade das análises de outorga das garantias; c) possibilidade de aproximação entre os parceiros, gerando negócios entre si, complementaridade de atividades, prestígio e engajamento socialempresarial, aprendizado mútuo; d) os fundos têm participação pequena em relação à grande carência de crédito e sua relação com a deficiência de apresentação de garantias; e) estímulo do protagonismo local; f) possibilidade de atração de novos negócios na região; g) aumento do poder de barganha perante as instituições financeiras (podendo, eventualmente, ocorrer um leilão reverso ). Segundo Llisterri (2006), o valor médio das garantias prestadas nos modelos das Sociedades de Garantia de Crédito é sensivelmente superior ao dos valores médios garantidos pelos fundos de aval. De acordo com Pombo, Molina e Ramirez (2007), do total de empresas que utilizam sistemas de garantia no mundo, 76,5% do total estão sob o modelo de sociedades de garantia (mutualista e corporativas). 4 Considerações Finais O segmento das micro e pequenas empresas assumem um importante papel dentro da economia do país, destacando-se como um dos principais vetores na geração de ocupação e renda e contribuindo para a geração do PIB nacional. Conforme mencionando anteriormente, as 5,7 milhões de MPE geram 38,4 milhões de empregos diretos, o que representa 54,4% de todos os empregos gerados no país. Esta representatividade tende a aumentar se considerado a manutenção do ambiente macroeconômico a qual estão inseridas, bem como pela melhoria das políticas públicas relacionadas especificamente a este público, como é o caso da Lei Complementar 123/2006, mais conhecida por Lei Geral das MPE. Outros dois aspectos que contribuem fortemente para o incremento da importância do segmento de MPE estão no nível de empreendedorismo brasileiro, onde cada vez mais o número de empreendedores que vislumbram uma oportunidade de mercado, supera àqueles que só o fazem por necessidade, e no fato de que o nível de mortalidade empresarial tem reduzido consideravelmente, passando de 49% em 2002, para 22% em 2005, para empresas com até 2 anos de atividade. Não obstante esta relevância torna-se necessário incluir nas agendas de discussões aspectos relacionados à necessidade das MPE em obterem recursos de terceiros, sob melhores condições de acesso e de custo. A escassez de crédito é um dos fatores que mais arrefecem o dinamismo econômico das empresas e o desenvolvimento social de uma nação. Embora o país esteja num movimento de constante crescimento da relação PIB versus crédito é inquebrantável a opinião de que as instituições financeiras, públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, devam continuar adequando e aprimorando produtos e serviços bancários às reais necessidades do segmento, redirecionando, por conseguinte, porção significativa do crédito direcionado às pessoas jurídicas. A questão creditícia é importante, pois quando se joga luz sobre as razões apontadas pelas MPE para a não obtenção de crédito junto às instituições financeiras, a insuficiência total de garantias é apontada como o principal obstáculo a ser superado pelos empresários de pequenos negócios nesta seara. Mesma dificuldade é também percebida pelas instituições 14

financeiras, que não conseguem reduzir o risco das operações em detrimento da falta de garantias e de informações confiáveis sobre o negócio, o que acaba dificultando a realização de diversas operações que teriam interesse de realizar. Como forma de aumentar o acesso ao crédito e reduzir as dificuldades em se apresentar as garantias exigidas pelo sistema financeiro, foram criados mecanismos que pudessem garantir as operações creditícias perante as instituições financeiras. Foi identificada, por meio de ampla pesquisa realizada, a existência de cinco Fundos de Aval no país, os quais quatro aptos a realizarem novas operações, sendo: FAMPE, Funproger, FGO e FGI. O FGPC deixou de realizar novas operações desde o surgimento do FGI. Em conjunto estes cinco fundos já viabilizaram R$ 16.029.342.549,00 em Avais Concedidos, desde o inicio das atividades de cada um, até o mês de dezembro de 2009 (FGO base de Fev.2010). Estes avais viabilizaram a concessão de R$ 21.524.780.654,00 em financiamentos concedidos. Também fruto da pesquisa foi identificada a existência de um modelo de Sociedade de Garantia de Crédito no Brasil. Situada na região da Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, a Garantiserra é a única experiência em vigência no país. A Garantiserra já disponibilizou, desde o início de suas atividades até o mês de dezembro de 2009, R$ 8.712.753,00 em garantias emitidas. Estas garantias complementares já viabilizaram R$ 15.590.648,00 em financiamentos concedidos. Outro destaque é o fato que estes financiamentos trazem economia às empresas associadas, pois as taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras, nas operações que contam com a garantia da entidade, são menores que as praticadas no mercado às demais empresas. Cabe ainda informar que está em curso uma Chamada Pública destinada à constituição de SGC no país. Conforme indicações do SEBRAE a perspectiva é que mais seis SGC venham a se constituir em 2010. Importante ressaltar que o estímulo ao surgimento e fortalecimento das SGC não deve ser compreendido como uma forma de substituir os modelos existentes, como os fundos de aval, mas a de continuar realizando melhorias constantes nos mecanismos existentes, além de ofertar alternativas de soluções de garantia às empresas e de ampliar a quantidade de MPE atendidas. A quantia de R$ 16,038 bilhões em avais concedidos conjuntamente pelos mecanismos garantidores, equivale a cerca de 0,51% do PIB de 2009. Comparativamente a outras economias, a relação Garantias versus PIB se apresenta similar ao apresentado por países como Estados Unidos, México, Alemanha, Espanha, Itália, Portugal, Argentina e Chile, mas inferior ao apresentado pela França, Finlândia, Canadá e Taiwan - com índices superiores a 1% em relação ao PIB - e bastante abaixo da experiência Japonesa e Sul Coreana, com patamares na ordem de 7,5% e 5,5% dos respectivos PIB (POMBO E HERRERO, 2003). Tal análise pode indicar a possibilidade de expansão das atividades de garantia de crédito no país, tendo como pano de fundo a melhoria dos indicadores macroeconômicos verificados na última década e a contínua expansão do volume de crédito disponibilizado. Por fim, a constatação a que se chega é que sem o aval complementar, os financiamentos realizados e identificados no trabalho não chegariam ao mercado financeiro e às empresas de menor porte, o que demonstra a adicionalidade que estes mecanismos trazem à economia nacional, agindo como instrumentos indutores de empregos e renda. 5 Referências BANCO CENTRAL DO BRASIL Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro: notas para a imprensa. 2010. Disponível em <http://www.bcb.gov.br/?ecoimpom>. Acesso em: 04 fev. 2010. 15

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