Introdução às teologias das religiões

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Transcrição:

ISSN 1809-2888 Licenciado sob uma Licença Creative Commons Introdução às teologias das religiões KNITTER. Paul F. Introdução às teologias das religiões. São Paulo: Paulinas, 2008. 398p. (Coleção Kairós.) ISBN 978-85-356-2309-3. Paul F. Knitter, é professor de Teologia, Religiões do Mundo e Cultura no Union Theological Seminary in the City of New York. Considerado um dos principais teólogos do pluralismo religioso, o enfoque de suas pesquisas é o levantamento crítico de aproximações cristãs a outras religiões. O autor dividiu a obra em quatro partes e em cada uma delas aborda os modelos de compreensão das religiões, a saber: de Substituição, de Complementação, de Mutualidade e de Aceitação. Paul Knitter acredita que para uma teologia cristã das religiões essas distintas receitas podem constituir oportunidades de aprendizado, oportunidades que, se forem mesmo degustadas, poderão realçar umas às outras, motivo pelo qual ele espera que as explicações de cada um dos modelos possam oferecer dados estimulantes e em número suficiente para que cada qual navegue pelas várias possibilidades ofertadas. Mais ainda: que esses dados e essas travessias conduzam cada um às suas próprias conclusões. Por isso ele propõe que todos os cristãos façam duas coisas: conversem uns com os outros e sejam capazes de cooperar com os adeptos de outras crenças religiosas. Na parte um, o autor apresenta o Modelo de Substituição. Segundo esse modelo, quando a mensagem de Jesus é de fato compreendida e aceita, ela promove transformações e altera o status quo. Vale dizer: muda as coisas de posição. Em poucas palavras: após conhecer Jesus, o modo de ser de cada um não será mais o mesmo. O Modelo de Complementação, descrito na parte dois, não contradiz o Modelo de Substituição, mas promove o equilíbrio necessário às preocupações que estão no âmago do modelo anterior. Ou seja, o Evangelho não só transforma, também confirma. O Deus que Jesus anuncia é um Deus que já ama as pessoas. Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VII, n. 36 133

Na parte três, o autor mostra aos cristãos que seguem os dois modelos anteriores que o Modelo de Mutualidade funciona em ambas as direções! O diálogo inter-religioso propõe ser um diálogo recíproco. Na parte quatro última, vemos que o autor insta que os cristãos deixem Deus ser Deus. Ele lembra que o âmago do Modelo de Aceitação é o mesmo âmago encontrado no Evangelho: o mandamento de amar ao próximo. Na parte 1, o autor aborda O Modelo de Substituição: somente uma religião verdadeira, destacando a substituição total e a substituição parcial. A substituição total apresenta a primeira das posturas cristãs em relação às demais crenças, postura essa que predominou durante a maior parte da história cristã: o Cristianismo estaria destinado a substituir todas as demais religiões. Para os missionários cristãos, Deus queria que houvesse apenas uma religião, a religião de Deus: o Cristianismo. O amor de Deus é universal, oferecido a todos, porém leva-se esse amor a cabo mediante a conformidade, a comunhão particular e singular com Jesus Cristo. A diferença entre substituição parcial e total tem a ver com a revelação. Os evangélicos mais moderados reconhecem e afirmam a revelação genuína de Deus nas demais religiões e por meio delas, e até se regozijam com esse fato. A voz de Deus é escutada no interior, a partir de movimentos dos sentimentos e mediante acontecimentos da história. Para essa visão cristã das religiões está estabelecido que Deus fala a outras pessoas de fé mediante a religião de cada um. Essa revelação pode tornar as demais pessoas de fé conscientes não só da existência do Divino, mas igualmente de que esse Divino é um tu/você pessoal, amoroso, convocador. Na parte 2, O Modelo de Complementação: o Uno dá completude ao vário, o autor chama a atenção para o avanço do Concílio Vaticano II ao tratar da necessidade de maior abertura e diálogo. Tal modelo representa o deslocamento de uma visão do Cristianismo como substituto das demais religiões, para um posicionamento de completude e de compreensão ponderada das demais tradições religiosas. Ele oferece uma teologia que atribui pesos iguais a duas convicções cristãs das quais já ouvimos falar: que o amor de Deus é universal, estende-se a todos os povos; mas alerta para o fato de o amor de Deus, particular, ter-se tornado real, concreto, em Jesus Cristo. Ao referir à maior abertura e diálogo, afirma que, embora o Papa Paulo VI tenha sido considerado o papa do diálogo, o Papa João Paulo II foi mais além, pois buscou aproximar-se das pessoas de outras crenças, por acreditar que o diálogo entre essas famílias religiosas seja Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VII, n. 36 134

muito necessário e promissor, uma vez que a realidade do único Espírito Santo vivente e eficaz anterior a Cristo e posterior a ele é encontrado nas buscas e descobertas religiosas da humanidade. O Espírito sopra onde quer. Na parte 3, O Modelo de Mutualidade: várias religiões verdadeiras convocadas ao diálogo, o autor destaca as pontes filosóficas e as pontes mística e profética. Neste modelo, o maior peso penderá para o lado do amor universal e da presença de Deus em outras religiões, e tentará buscar responder a três questões cuja preocupação é promover o genuíno diálogo com outras religiões, que parece ser parte essencial do imperativo de amar ao próximo, amor que passa pela escuta e pelo respeito. Ao contemplar o terreno de outras tradições religiosas, os cristãos não percebem apenas a diversidade, mas parceiros potenciais ao diálogo, à convivência e ao debate coletivo. Todas as religiões têm direitos iguais de falar e ser ouvidas, com base no valor inato de cada qual. Este modelo busca evitar que alguma religião tenha superioridade pré-concedida em relação a todas as demais, o que a tornaria absoluta sobre todas as outras. Por isso ele chama a atenção para um reexame interior e destaca a releitura da Bíblia à luz das novas experiências com outras religiões a fim de serem encontradas novas maneiras de compreender Jesus que nos capacitem estar tão mais abertos às demais religiões quanto maior for o nosso compromisso com ele. No capítulo 7, em A ponte filosófico-histórica, John Hick chama a atenção para o centro do universo religioso: Deus. Não mais a Igreja, não mais Jesus. Todas as religiões parecem reconhecer que a Divindade ou o Real que de fato vivenciam e assumem é maior e mais forte do que elas vivenciam e assumem. No capítulo 8, em A ponte místico-religiosa, é visto que o que a distingue da ponte filosófico-histórica é o local de seu início. Os filósofos-historiadores começam com o ser humano, com a argumentação de que nenhuma religião pode pretender possuir a verdade plena, final, insuperável, acerca do Divino porque todo conhecimento humano é historicamente condicionado ou socialmente construído e, por conseguinte, limitado. É essencial a existência de diálogo entre as religiões. Para adentrar a casa de outra religião, temos de deixar nossa própria experiência de fé na soleira da porta. No verdadeiro diálogo inter-religioso, o coração fala ao coração. Cristo simboliza o vínculo dinâmico, a corrente unificadora que ata o divino ao humano e ao cósmico. Contrariamente, em A ponte ético-prática, observamos que as religiões novas têm oportunidade de compreender não apenas a si próprias, mas também umas às outras. Então, a realidade universal que invade todas as religiões pode ser indicada com uma única palavra: Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VII, n. 36 135

sofrimento, cujas dores afligem milhões de pessoas e assumem rostos diferentes, relacionados entre si e percebidos através da pobreza, vitimação, violência, patriarcado. Para além dos sofrimentos da humanidade existem os sofrimentos da Terra e de suas criaturas. A parte 4, O Modelo de Aceitação: várias religiões verdadeiras: assim seja, é constituída por três capítulos Fazendo as pazes com a diferença radical, Diferenças verdadeiras favorecem o diálogo verdadeiro, O Modelo de Aceitação: insights e questões e por Uma conclusão inconclusiva. Este modelo, o mais jovem, cresceu durante as duas últimas décadas do século XX, e pode ser considerado como filho do seu tempo em reação às inadequações dos demais modelos referentes a uma teologia cristã das religiões. Este modelo não defende a superioridade de uma dada religião nem busca o algo comum que torne todas elas válidas. Ao contrário, aceita a diversidade de todas as crenças. As tradições religiosas que o mundo apresenta são mesmo diferentes, e temos de aceitar essas diferenças. No capítulo 10, Fazendo as pazes com a diferença radical, percebemos o contexto do nosso mundo Pós-Moderno. A Pós-Modernidade é uma reação contra o otimismo do Iluminismo. Os Pós-Modernistas advertem que a razão não é aquela luz nítida, pura, à prova de falhas, que nos conduziria à verdade, pelo fato de ser livre da coerção da autoridade. Por quê? Principalmente por dois motivos: (a) a própria razão pode ser contaminada e manipulada ou explorada; (b) a razão pode significar coisas diferentes em culturas diferentes. No capítulo 11, Diferenças verdadeiras favorecem o diálogo verdadeiro Várias religiões, várias salvações, pode-se ver que a possibilidade mais promissora de alcançar esse equilíbrio (ou chegar mais perto dele) é o Modelo de Aceitação, mas uma aceitação favorável levada até seus limites. No capítulo 12, O Modelo de Aceitação: insights e questões, fica patente que as tradições religiosas que o mundo apresenta são mesmo diferentes e temos de aceitar essas diferenças. O Modelo de Aceitação difere dos outros na maneira pela qual considera as diferenças. Para os outros modelos, as diferenças constituem algo que eles querem ultrapassar, porém, para o Modelo de Aceitação, as diferenças são não apenas algo com o qual seja possível conviver temporariamente, mas algo com o qual se deseja viver permanentemente. Para Paul Knitter, é necessário um diálogo intercristão acerca das demais religiões e uma cooperação inter-religiosa, o que nos remete a falar de ecumenismo cristão cristãos de diferentes denominações e experiências históricas buscam aproximar-se uns dos outros e, Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VII, n. 36 136

mais que isso, aprender uns com os outros. Todos sabemos quanto isso pode ser difícil, mas isso nos leva a intuir o seu valor. Knitter diz não acreditar que um diálogo intercristão sobre determinada teologia das religiões possa lograr êxito se os cristãos fizerem apenas isso. Afirma também que a discussão, apenas entre nós, acerca de outras religiões, não haverá de ir muito longe. Não haverá paz entre as nações a não ser que haja paz e cooperação entre as religiões! O livro de Paul Knitter é importante para todos os cristãos, independente de denominações religiosas, tanto quanto para os estudiosos da teologia ou teólogos orgânicos, homens e mulheres que procuram vivenciar o seguimento de Jesus Cristo e as causas do Reino. O livro alerta não apenas para a multiplicidade ou diversidade de religiões que relata, mas também por refletir as questões que buscam compreender o pluralismo religioso, além de proporcionar uma compreensão de diálogo ecumênico diante da fragmentação da religião cristã entre as várias correntes cristãs. O autor apresenta a necessidade de conhecer e dialogar com as várias denominações cristãs. Segundo Knitter, o crente atual tende a ser religioso e inter-religioso e leva mais a sério as outras denominações cristãs às quais não pertence. O ponto de vista do autor é importante para vivermos em um mundo de multiplicidade e variedade de religiões e também para buscarmos um Cristianismo profundamente plural. Ele nos convida a respeitar mais as outras religiões. O mais importante na proposta do autor é que todos os cristãos façam duas coisas: primeiro, dialoguem uns com os outros; segundo, cooperem com adeptos de outras ciências religiosas. É importante refletir, hoje, a questão do projeto do Reino, que foi a principal causa de a encarnação do Verbo ser possível, entender como as várias tradições teológicas buscam responder ao desafio do compromisso com o Reino de Deus. Refletir cada uma das dimensões teológicas é entrar em contato com uma prática teológica e pastoral dos vários grupos que representam cada uma dessas etapas, mas, ao mesmo tempo, oferece também a possibilidade de entender, compreender e assimilar essas práticas e perceber seus limites no atual momento da humanidade, as exigências dessas práticas para o aprofundamento perene e a busca de novos elementos para uma reflexão que possa levar a uma prática pastoral e experiência testemunhal mais próxima possível para a realização do Reino. Enfim, entender as várias teologias como possibilidade de um diálogo para ser possível estarmos a serviço de um compromisso maior com a realidade do Reino. Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VII, n. 36 137

As teologias apresentadas são caminhos que, na sua especificidade, procuram responder às várias perguntas dentro de determinado contexto histórico de um mundo profundamente plural e moderno. A mensagem cristã neste mundo marcado pelo secularismo e pela Modernidade encontra grandes desafios às várias compreensões teológicas para um possível diálogo ecumênico e inter-religioso. Apesar da riqueza apresentada em Paul Knitter, nos quatro modelos apresentados encontramos vários desafios para um diálogo mais eficaz. O processo histórico atual é extremamente ágil e muito dinâmico, bem por isso as perguntas feitas pelos modelos teológicos exigem sempre respostas novas, possibilidades de saída diante dos obstáculos para o diálogo entre teologias cristãs e ciência, teologias cristãs e Modernidade e, tão ou mais importante, entre as teologias cristãs e as teologias não cristãs. Acredito que os ensaios teológicos não podem ser receitas ou respostas absolutas para questões complexas, tais como violência, injustiça, guerra, fome, intransigência religiosa. Eles soem ser apenas contribuições para convivências pacíficas de uma cultura plural e tolerante. José Rocha Cavalcanti Filho 1 rocha-cp@uol.com.br Recebido: 10 de Agosto 2011 Aprovado: 04 de Setembro 2011 1 Doutorando do Programa de Estudos Pós-graduados em Ciências da Religião da PUC-SP. Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano VII, n. 36 138