Carros Híbridos e Elétricos: Os riscos e as soluções Jorge Leite Director Nacional
Ruído ou informação? Regra geral o som do trânsito é visto como poluição sonora. No entanto todos nós tiramos proveito das informações transmitidas pelo som.
Ruído ou informação? Os peões com deficiência visual podem utilizar o som do trânsito para detetar um cruzamento, para andar paralelo à estrada, para identificar o momento certo para atravessar e para identificar a rua em que estão. Usam o som do trânsito para identificar a presença das viaturas e prever os seus movimentos.
Ruído ou informação? Os peões com visão plena também utilizam a ausência de barulho para escolher o momento de atravessar a rua (sem olhar). Os ciclistas podem interpretar a ausência de barulho como o momento certo para mudar de faixa ou como indicação que podem relaxar porque não se está a aproximar nenhuma viatura.
Ruído ou informação? Contudo, a informação apenas existe, ou apenas pode ser interpretada, quando o nível do som é confortável. Alto demais não se consegue discriminar Baixo demais não se consegue detetar
Reduzir a poluição sonora Consequentemente a ACAPO está a favor de reduzir a poluição sonora em termos globais porque aumentará a quantidade e qualidade de informação sonora disponível para os peões com deficiência visual e o público em geral. No entanto cada viatura deve produzir ruído suficiente para permitir a sua deteção e permitir interpretar os seus movimentos, o que não acontece com os carros elétricos e híbridos quando estes circulam a baixa velocidade.
Quais os riscos? O risco mais óbvio é que o peão entra na estrada no momento errado. Pode acontecer quando um carro está em andamento ou parado.
Quais os riscos? O risco menos óbvio é que alguns peões com deficiência visual perdem confiança e deixam de circular sozinhos na rua. Perdem a sua autonomia.
Acidentes e seus parentes Acidentes, Quase-acidentes e, Incidentes
Acidentes e seus parentes Acidente contato físico entre a viatura e o peão Quase-acidente o contato físico não aconteceu por uma questão de frações de segundo ou por milímetros. Incidente um acidente não aconteceu porque alguém alertou o peão para o perigo (buzina, grito) e o peão não ficou à frente da viatura.
Acidentes e seus parentes Existem estatística sobre os acidentes na estrada, mas nada sobre quase-acidentes e incidentes. Numa fábrica uma série de incidentes resultará num novo procedimento. Na estrada uma série de incidentes pode resultar numa perda de confiança por parte do peão.
Exageramos os riscos? A posição das associações das pessoas com deficiência visual tem sido criticada, explicitamente nos EUA e indiretamente no Reino Unido.
Exageramos os riscos? Ninguém discute que os carros elétricos e híbridos emitem menos ruído a baixas velocidades. A questão é se estas viaturas estão envolvidas em mais acidentes com peões.
Exageramos os riscos? A NHTSA (National Highways Traffic Safety Administration) publicou um relatório técnico em setembro de 2009 intitulado: Incidence of Pedestrian and Bicyclist Crashes by Hybrid Electric Passenger Vehicles
Estudo da NHSTA Objetivo: Analisar a prevalência de acidentes com carros elétricos híbridos (HEV) sofridos por peões e ciclistas e comparar as taxas com os acidentes com carros com motores de combustão interna (ICE) em condições semelhantes.
Estudo da NHSTA HEV 8 387 viaturas envolvidos em acidentes 77 acidentes com peões (0,9%) 54 acidentes com ciclistas (0,6%) ICE 559 730 viaturas envolvidos em acidentes 3 578 acidentes com peões (0,6%) 1 862 acidentes com ciclistas (0,3%)
Estudo da NHSTA Segundo os autores: O estudo mostra que acidentes de peões e ciclistas com viaturas HEV e ICE acontecem frequentemente em estradas com limites de velocidade reduzidas, durante o dia e quando as condições atmosféricas são boas. A taxa de acidentes das HEV é superior à taxa das ICE.
Estudo da NHSTA Cuidado com os números! O estudo não diz que 0,9% das HEV chocam com peões, mas antes que 0,9% dos acidentes envolvendo HEV também envolverão peões. Ou seja, quando um condutor de uma HEV tem um acidente é mais provável que choque com um peão do que um condutor de uma ICE (9 vezes em mil comparado com 6 vezes em mil).
Estudo da NHSTA Pode haver diversas variáveis: - o perfil dos condutores; - as HEVs circulam mais em espaços urbanos onde circulam mais peões; - o motor quase silencioso à baixa velocidade convida o peão a chocar com a viatura.
Exageramos os riscos? Project report PPR525 foi elaborado ao pedido do Ministério de Transportes pelo Transport Research Laboratory e publicado em 2011 Assessing the perceived safety risk from quiet electric and hybrid vehicles to vision-impaired pedestrians
Projeto PPR525 Segundo os autores: HEV têm menos acidentes do que ICE; Proporcionalmente mais HEV batem em peões do que ICE; Os dados disponíveis não permitem explicar esta diferença; O número de acidentes com pessoas com deficiência foi insuficiente para chegar a uma conclusão; Deve-se alargar o grupo das HEV para incluir os modelos mais silenciosos das ICE.
Exageramos os riscos? Os autores do estudo americano e do relatório britânico falam na necessidade de haver mais dados para analisar melhor as variáveis e identificar os riscos. Mas mais dados implica mais acidentes.
Exageramos os riscos? Não! Porque o número de acidentes é irrelevante. O que influencia o comportamento do peão não é o risco objetivo, mas antes a sua perceção do risco.
perceived risk O estudo identificou o fator chave no título: O risco percecionado (risco subjetivo) Se me sinto seguro, atravesso a rua. Se não sinto seguro, não atravesso sozinho. ou; Fico nervoso e arrisco no momento errado.
perceived risk Temos de eliminar não só os acidentes mas também reduzir ao máximo os quase-acidentes e os incidentes. A solução existe!
Ninguém discute que os carros elétricos e híbridos emitem menos ruído a baixas velocidades. Ninguém discute que é mais fácil detetar a presença de um carro elétrico ou híbrido equipado com um sinal de alerta que funciona quando o carro circula a baixa velocidade.
A legislação americana Pedestrian Safety Enhancement Act of 2010 A lei que prevê um aumento na segurança do peão obriga o Ministro de Transportes a estudar e definir uma norma de segurança que assegure um meio de avisar peões cegos e outros das operações de viaturas com motor, até Janeiro de 2014.
A legislação americana As HEVs terão de ser equipadas com um som de alerta que permite um peão detetar a sua presença, direção, localização e operação; O condutor não precisa de ativar o som e não pode desativá-lo; O som de alerta é emitido enquanto o ruído de carro é insuficiente para ser detetado por um peão. O fabricante pode fornecer um ou mais sons para cada viatura; O fabricante deve fornecer o mesmo som ou conjunto de sons para cada marca e modelo
O som de alerta De acordo com a lei americana, o som de alerta tem de ser entendido pelos peões como o som de uma viatura em operação.
As expetativas da ACAPO Um som de alerta tem de ser entendido pelos peões como o som de uma viatura em operação. Um som que permite prever a posição, os movimentos e a velocidade das viaturas HEV que estão paradas ou a circular à baixa velocidade. Com o intuito de eliminar ao máximo os acidentes, quase-acidentes e incidentes, e assim manter os atuais níveis de autonomia entre os peões com deficiência visual.
Jorge Leite jorgeleite@acapo.pt