Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal

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Transcrição:

Os jornalistas portugueses são bem pagos? Inquérito às condições laborais dos jornalistas em Portugal Gustavo Cardoso, Joana Azevedo, Miguel Crespo e João Sousa

Inquérito às condições laborais dos jornalistas Objetivo: analisar as condições laborais dos jornalistas portugueses conhecer a diversidade de percursos e perfis jornalísticos identificar os principais constrangimentos e desafios Inquérito composto por 78 perguntas Respondido por 1496 jornalistas (validados) Entre 1 de maio e 13 de junho de 2016 É o 6º grande estudo sobre os jornalistas e a atividade jornalística em Portugal produzido no âmbito do CIES/ISCTE-IUL, depois das investigações lideradas por José Manuel Paquete de Oliveira, José Luís Garcia e José Rebelo desde 1987.

Inquérito às condições laborais dos jornalistas O que vamos tentar caraterizar: Quem são os jornalistas inquiridos Qual a sua realidade profissional Em que condições trabalham O que afeta o seu desempenho Jornalistas com carteira profissional ou equiparados em Portugal: 6114 (dados CCPJ, 9 de janeiro de 2017)

Quem são os jornalistas em Portugal Os jornalistas inquiridos: têm em média quase 40 anos (em 1987 eram 1 ano mais velhos) 84,3% entre os 25 e os 54 anos concentram-se na maioria em Lisboa 2/3 (63,7%) trabalham na região de Lisboa (em 1987 eram cerca de 80%) metade dos restantes trabalha na região Norte (16,6%) São muito equilibrados em termos de: distribuição por sexo (51,8% de homens, contra 48,2% de mulheres) terem uma relação conjugal (pouco mais de metade 52,2%) Metade (50,7%) dos jornalistas inquiridos não tem filhos apenas 6,3% tem mais de 2 filhos A média situa-se em nos 1,85 filhos

Quem são os jornalistas em Portugal 2/3 (67%) têm mais de 10 anos de experiência 52,1% exerce a profissão há mais de 15 anos 33% tem menos de 10 anos de profissão - a maioria (17,9%) exerce há menos de 5 anos, sugerindo que nos últimos 5 anos há mais entrada na carreira do que nos 5 anteriores Em 1987: 16,6% tinham menos de 6 anos de experiência Apenas 25,4% tinha 16 ou mais anos de atividade Em 1990: Mais de um 1/3 exercia a profissão há menos de seis anos (35,9%) Só 28,9% era jornalista há mais de 15 anos

Que qualificações têm Quase 80% dos inquiridos tem licenciatura em 1987 apenas 39,8% tinha frequência universitária e só 15,2% era licenciado Em 1990 eram já 27,9% os jornalistas com curso superior completo Em 1997 eram 43,6% de jornalistas com formação superior Em 2006 licenciados tinham subido para 62,8% Em 2009 os valores quase não se alteraram (63,1%) A média de licenciados na população portuguesa com mais de 15 anos é de 17,1% (em 2015, INE/Pordata)

Que qualificações têm 66,7% dos licenciados estudou Ciências da Comunicação, Comunicação Social ou Jornalismo (em 1997 eram 45,1%) 9,7% estavam a estudar em 2016 55,3% realizou formação complementar nos últimos 5 anos, a maioria por iniciativa própria (40%) (em 1997 apenas 0,4% frequentava formação na sua área de atividade) A diversidade de formações e entidades formadoras é elevada O Cenjor é a instituição a que os jornalistas mais recorrem (28,1%) Só 15,3% fez formação proposta pela empresa Apenas 5,5% realizou formações internas nos últimos 5 anos

Entrada na profissão Os inquiridos entraram na profissão até aos 25 anos (79,8%) 69,2% realizaram apenas um estágio só 9,5% fez 3 ou mais 58% estagiaram menos de seis meses, mas os estágios foram mal orientados Apenas 40,8% foi avaliado através de um parecer final do orientador ou editor 46,1% não tiveram apoio ou orientação sistemática 40,5% afirmam que as suas peças não eram revistas 42,4% nunca acompanharam um profissional em reportagem 38,8% excederam o horário previsto de forma regular só 50,1% assinaram as suas peças mais importantes

Dos inquiridos em 2016: Exercício da profissão 84,5% tem carteira profissional de jornalista e 5,2% o título provisório de estagiário Mais de 2/3 dos jornalistas trabalham numa redação (68,6%) 20,5% trabalham em casa 16,5% desenvolve outras atividades remuneradas em paralelo ao jornalismo 33,7% desenvolve atividades de ensino ou formação 25,9% está ligado a comércio ou serviços 13,5% dedica-se a escrita, revisão ou tradução

Exercício da profissão Mais de metade continua ligado à imprensa: 46,5% indicam imprensa como atividade principal (8,7% produzem para a imprensa como atividade secundária) O jornalismo online (site) ocupa a 2ª posição (23,1%) é a mais expressa como atividade secundária (15,9%), o que indica que 39% dos profissionais publica em sites outros 10,7% têm as redes sociais ou aplicações como atividade profissional A televisão ocupa ainda mais de um quinto dos jornalistas (20,3%) 12,4% dedicam-se à rádio 8,4% são os jornalistas de agência noticiosa

Exercício da profissão O texto continua a ser o tipo de conteúdo mais produzido (63,1%) Só 12,4% está mais dedicado à produção de vídeo 8,8% à fotografia 8,6% ao áudio O formato de conteúdo mais produzido pelos inquiridos: notícias (69,9%) 53,9% afirma produzir reportagens 38,7% produz entrevistas A maioria dos inquiridos é redator/repórter (58,9%), mas há grupos importantes de fotojornalistas (7,7%) e repórteres de imagem (6,8%) É relevante o número de jornalistas que ocupam cargos de direção (6,8%), chefia (4,2%) ou edição (11,3%), num total de 22,3%

Exercício da profissão As secções ou especialidades a que os jornalistas mais se dedicam (não de forma exclusiva) são: Sociedade (30,5%) Desporto (27,8%) Arte e Cultura (27,2%) Local/Regional (26,4%) Política (24,2%) Economia (23,2%) Quase metade (46,5%) produziu mais de 20 trabalhos nos últimos 3 meses mas há 21,5% que apenas produziu 3 ou menos peças Não parece haver uma relação direta forte entre o número de trabalhos produzidos e os rendimentos, exceto entre os jornalistas com menor rendimento

39,2% já passou pelo desemprego Interrupção da profissão (mas o regresso à atividade não foi tão complicado como seria de esperar) Dos mais de 500 inquiridos que já estiveram desempregados: quase dois terços (63,4%) voltaram a encontrar emprego em menos de 1 ano, e 32% em menos de seis meses Só 13,3% dos inquiridos afirma ter interrompido a carreira jornalística de forma voluntária para desenvolver outras atividades profissionais. Estas são muito variadas e dispersas, com as principais áreas a ser: Assessoria (16,7%), Comércio ou Serviços (10,9%) e Agências e Gabinetes de Comunicação (10,1%)

Participação e órgãos de regulação A participação sindical dos jornalistas inquiridos é baixa (apenas 25,2%) 56,5% nunca foi sindicalizado 18,3% já foi sindicalizado mas deixou de ser 22,1% afirma não ter interesse. 14,3% não adere ao SJ por razões financeiras A existência de órgãos de defesa e regulação dos jornalistas e da atividade jornalística dentro das empresas é reduzida só há Comissão de Trabalhadores em 31,8% dos casos só há Delegado Sindical em 36,4% dos casos Só há Conselho de Redação em 49,5% dos casos Verifica-se que a atividade jornalística é pouco regulada, mesmo dentro das empresas, apesar do enquadramento legal.

Maioria recebe menos de 1000 euros por mês 69% dos inquiridos recebia em 2016 entre 501 e 1500 euros líquidos por mês 23,3% recebem entre 1001 e 1500 euros 23,9% fica no intervalo 701-1000 euros 21,8% auferem menos de 700 euros Se estabelecermos os 1000 euros como ponto de divisão, verificamos que: 57,3% ganham menos (apesar do rendimento mensal médio líquido dos inquiridos ser de 1113 euros) Só 19,4% dos jornalistas recebe mais de 1500 euros mensais No extremo oposto 11,6% jornalistas recebem menos de 500 euros por mês Desses, 7% nem sequer recebe 300 euros

Situação profissional e contratual Dos jornalistas inquiridos em 2016: 87,5% encontrava-se a trabalhar 7,9% em situação de desemprego 2,2% são reformados 2% estão em estágio 33,4% dos inquiridos são profissionais sem contrato fixo. Este grupo integra: colaboradores (16,4%), dos quais a maioria (8,8%) tinha uma avença e os restantes (7,6%) trabalhava à peça 17% de profissionais que se assumem como freelancers 2/3 dos jornalistas inquiridos tinham contrato de trabalho: 56,3% a ter contrato sem termo 10,5% a termo certo

Situação profissional e contratual Os contratos de trabalho dos jornalistas em 2016 eram maioritariamente: de 35 a 40 horas semanais (64,7%) 27,7% de inquiridos não sabem a carga horária semanal prevista no seu contrato Por contraponto aos quase 65% de contratos de trabalho até 40 horas semanais: 60,7% trabalham mais de 40 horas (13,8% tem uma semana laboral de 51 a 60 horas e 9% de mais de 60 horas) só 29,6% trabalha um número de horas similar ao previsto no contrato Apenas 3,9% diz ser remunerado pelas horas extraordinárias 10,2% é compensado em tempo de descanso pelo trabalho extra 63,4% não tem qualquer compensação pelo trabalho extraordinário

Carreira e futuro Mais de 80% não tem progressão há mais de 4 anos: 28,4% não progridem na carreira há mais de uma década 29,4% têm a carreira congelada há pelo menos 7 anos 22,5% não progridem há 4 a 6 anos 64,2% já pensaram abandonar a carreira. As motivações mais expressas são: baixo rendimento (21%) degradação da profissão (20,4%) precariedade contratual (14,3%)

Carreira e futuro Os inquiridos estão muito divididos quando à probabilidade de perderem o emprego: 35,1% consideram que ficar desempregado é improvável 40,9% consideram-no provável 15,7% afirmam que o desemprego é extremamente provável a curto prazo Apesar da maioria dos jornalistas que já passou pela situação de desemprego ter conseguido regressar à profissão em menos de um ano, a perceção dos inquiridos acerca da probabilidade de voltar a encontrar emprego no jornalismo perante uma situação de desemprego em 2016 é muito pessimista. Em caso de desemprego, apenas 9,5% considera provável voltar a encontrar emprego no jornalismo em menos de 12 meses 39,5% consideram extremamente improvável que tal aconteça (num total de 80% que acredita ser improvável voltar à profissão)

Autonomia e condicionalismos Na avaliação da sua autonomia profissional, os inquiridos consideram-se: autónomos em relação às pressões externas, visto que: apenas 13,2% se diz nada ou pouco autónomo em relação a poderes políticos ou outros 9,5% em relação à pressão das fontes Nos fatores internos, consideram a sua autonomia muito mais afetada: 31,5% dizem ser pouco ou nada autónomos em relação às decisões das chefias 41% em relação às decisões das administrações poucos se dizem totalmente autónomos em relação às chefias (9,9%) e às administrações (12,3%)

Autonomia e condicionalismos Os inquiridos consideram o exercício livre da sua profissão muito condicionado o maior condicionalismo é a agenda (47,2%) seguida das condições de trabalho (43,6%) e do salário (43,5%) a conciliação com a vida pessoal e familiar condiciona 40,2% o medo de perder o emprego é uma preocupação para 36,6% 29,2% consideram-se limitados pela hierarquia são muito mais otimistas em relação à censura externa (14%) e à autocensura (17%) Conciliar a vida profissional e pessoal é mais difícil do que fácil: 46% a considera difícil gerir o dia-a-dia apenas 29,1% considera fácil gerir o quotidiano

Empresas e entidades externas A atuação de várias entidades em relação ao setor tem uma avaliação negativa por parte dos inquiridos em 2016, com exceção do Sindicato dos Jornalistas. As organizações patronais são as mais criticadas: 57,8% de avaliações negativas (19,9% são mesmo extremamente negativas) 5,4% dá nota positiva à atuação das empresas As entidades do Estado (Presidência, Parlamento, Governo) são muito criticadas: 54,3% considera a atuação do Estado negativo Outras entidades: 51,1% de opiniões negativas em relação à ERC 43,6% dá avaliação neutra à CCPJ 43,7% tem uma visão neutra do Sindicato dos Jornalistas (31,7%, consideram a sua atuação positiva)

Níveis de satisfação Os jornalistas mostram-se insatisfeitos com a evolução das condições de trabalho no setor, nos últimos 5 anos: 77,9% dizem-se insatisfeitos (48,8% estão mesmo extremamente insatisfeitos) apenas 11% se dizem satisfeitos A progressão na carreira e os salários são outros dois campos em que há grande insatisfação: 65,2% de insatisfeitos com a progressão na carreira apenas 19,7% que expressam a sua satisfação 63,6% de insatisfeitos com salários (33,2% estão mesmo extremamente insatisfeitos) há 25,3% de jornalistas satisfeitos

Níveis de satisfação A estabilidade laboral apresenta divisões na satisfação dos jornalistas inquiridos: 20,8% diz-se extremamente insatisfeito 25,2% relativamente satisfeito Em termos globais, a insatisfação tem 38,9%, contra 48,2% de satisfação. No caso das pressões e condicionalismos, as respostas dos jornalistas revelam-se equilibradas, apesar de ligeira tendência para a insatisfação (42,4% vs. 38,9%). A satisfação global dos jornalistas com a sua profissão é relativamente neutra: 43,2% dizem-se satisfeitos 34,4% dizem-se insatisfeitos Mesmo assim, 60,2% voltaria a escolher a profissão de jornalista se fosse iniciar de novo a sua carreira

O inquérito desafiava os jornalistas a elencar outras questões que considerassem relevantes e que não foram abordadas nas perguntas. Outras preocupações Os temas mais referidos foram:

É positivo que: Em conclusão (1) há um quase equilíbrio entre homens e mulheres, exceto em cargos diretivos o sexo não altere de forma significativa quanto trabalham ou ganham, a sua atuação ou perceção, seja sobre o conciliar a vida profissional e pessoal, ou sobre os condicionalismos ou entraves à autonomia É negativo que: mais de 50% recebam menos de 1000 euros por mês, a maioria trabalha mais de 40 horas por semana, quase 80% são licenciados e mais de metade investiu em formação nos últimos 5 anos. Isto representa grande disparidade entre qualificações, trabalho e retribuição Os inquiridos apontem grandes condicionalismos e entraves ao bom exercício da profissão, principalmente de fatores internos aos meios de comunicação em que trabalham

É negativo que: Em conclusão (2) A evolução das condições de trabalho no setor, nos últimos 5 anos, seja muito negativa Os estágios sejam mal acompanhados e avaliados Abandonem a profissão cedo (apesar de serem experientes) A progressão na carreira pareça quase impossível 2/3 já pensaram abandonar a carreira, o que indicia uma perceção dos inquiridos sobre a profissão mais negativa do que positiva perante o desemprego, 80% acreditar que é improvável voltar à profissão, pelo que a perceção de futuro na profissão é muito pessimista

Muito obrigado, jornalistas Foto: Alexandre Sabino (Media Lab ULHT)