Ambiência escolar Marista: desafios da educação popular na evangelização Adriano de Souza Viana 1 A práxis pastoral no ambiente educativo é sempre desafiante. Melhor dizendo, toda ação educativa é sempre desafiante. E para enfrentar tal desafio é fundamental que revisitemos métodos pedagógicos que fazem parte da história da educação, e também precisamos estar atentos às inovações que surgem com o tempo. Pensando a temática do módulo II do curso Escola em Pastoral, O fazer Pastoral na ambiência Marista, proponho nesse trabalho final, uma reflexão que nos sintonize com o método da Educação Popular olhando para a prática pedagógica de Jesus de Nazaré. A pedagogia de Jesus Para se falar de educação popular e evangelização é importante partirmos da fonte. Como afirmou o Prof. Aloirmar Silva: [...] é preciso revisitar os principais traços da experiência originária da fé cristã, bem como explicitar a sua essência, para que haja uma atualização coerente, capaz de oferecer sentido para os homens e as mulheres de hoje, sem provocar uma atitude de isolamento ou fechamento, mas uma abertura ao diálogo, à unidade, sem que aconteça descaracterização ou perda do essencial 2. 1 Coordenador de Pastoral na Escola Marista Champagnat de Terra Vermelha. 2 Cf. SILVA, 2014, p.03.
Para se pensar sistematicamente a evangelização é preciso olhar com critério e atenção a prática de Jesus de Nazaré. Aqui nesse trabalho, a base para esse olhar será a reflexão de Carlos Mesters e Francisco Orofino, no artigo A prática pedagógica de Jesus de Nazaré. Eles afirmam: buscar a prática pedagógica de uma pessoa é mergulhar na sua vida, no seu ambiente, nas suas relações, na sua fala, no seu pensamento [...] 3. A pedagogia de Jesus possui inúmeras características. No entanto, podemos sintetizar que a base para sua ação educativa se aproxima muito da educação popular. A capacidade de diálogo com a realidade de seu tempo é o que mais nos provoca a pensar nossas práticas pastorais no ambiente escolar a partir de sua ação. A escola de Jesus era a convivência com o povo de Nazaré. Nazaré era um povoado pequeno, onde todos conheciam todos. Eles conheciam Jesus e sua família (Mc 6,3). Jesus conhecia o povo (Jo 2,24-25). Nesta convivência de mais de trinta anos aprendeu as inúmeras coisas que todos nós aprendemos naturalmente, ao longo dos anos da vida [...] 4. É fundamental para a evangelização no ambiente escolar marista o constante retorno às fontes da fé. A pessoa de Jesus de Nazaré é o núcleo da missão do instituto e das unidades maristas 5, por isso esse ponto de partida é capital. 3 Cf. MESTERS; OROFINO. In: BEOZZO, 2004, p. 69. 4 Cf. BEOZZO, 2004, p. 75. 5 Cf. UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010, p. 36.
Educação popular e evangelização No Brasil e América Latina 6, e com alcance mundial, a reflexão de Paulo Freire é a essência da Educação Popular. Em um dos clássicos literários-pedagógicos de Freire ele afirmar que educar pressupõe o querer bem aos educandos 7. Algumas décadas antes do livro Pedagogia da Autonomia, Marcelino Champagnat, na França do século XIX já afirmava a mesma coisa, para bem educar é preciso amar e amar todos igualmente 8. O Evangelho de Jesus parte do principio que o amor 9 pode revolucionar a história da humanidade, pois faz parte do projeto de Deus para todos. Testemunhar e anunciar esse evangelho de amor precisa passar pela capacidade de dialogar aberta e maduramente. Freire também afirma que a educação popular se baseia na capacidade de dialogar. Ele diz textualmente: ensinar exige abertura para o diálogo 10. A ação de dialogar com os sujeitos que estão envolvidos no processo educativo é elemento que tem marcado o jeito marista de pensar e efetivar uma escola diferenciada, que eduque evangelização e vice-versa. Pensando a autonomia defendida por Paulo Freire no processo de educação popular podemos olhar, ajudados por Mesters e Orofino, para a fonte maior do trabalho educativo marista, e perceber que 6 Cf. ROCHA. In: BEOZZO, 2004, p. 69. 7 Cf. FREIRE, 1996, p. 141. 8 Cf. MARTINS, 2014. 9 Cf. SILVA, 2014, p.07. 10 Cf. FREIRE, 1996, p. 136.
Para Jesus, o verdadeiro processo pedagógico é aquele que permite à pessoa ficar de pé. Sustentando-se em suas próprias pernas e com suas próprias forças. [...] A verdadeira pedagogia é aquela que permite o ser humano conquistar sua autonomia, participando ativamente da construção da sociedade humana como prefiguração do Reino de Deus. 11 Conclusão Portanto, na práxis educativa na ambiência marista, é importante que nos alicercemos nos fundamentos da fé cristã. Baseando-se principalmente na própria prática de Jesus de Nazaré. A inculturação da proposta de Jesus para a realidade de nosso tempo, e para nossa cultura, pode usar elementos que nossa própria experiência de vida, como a educação popular nos ensina. Porém, essa forma de método pedagógico precisa também ser aprofundada para que a utilizemos de maneira eficaz. Contudo, um ponto não pode estar ausente do horizonte que visualizamos como meta do trabalho educativo e evangelizador: tornar as pessoas livres e sadias, autônomas nas suas próprias vidas e consciências. 11 Cf. BEOZZO, 2004, p. 88.
Bibliografia BEOZZO, Oscar (org.). Curso de verão XVIII: educar para a justiça, a solidariedade e a paz. São Paulo: Paulus; CESEP, 2004. (Coleção teologia popular). DEGRANDIS, Fernando. Confessionalidade e Evangelização na escola católica. CONGRESSO ESTADUAL DE TEOLOGIA, 1., 2013, São Leopoldo. Anais do Congresso Estadual de Teologia. São Leopoldo: EST, v. 1, 2013. p.014-020. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura). SILVA, Aloirmar José da. Evangelização e Pastoral. UBEE-UNBEC Província Marista Brasil Centro-Norte. EAD Escola em Pastoral, II Módulo Texto de Trabalho (2), 2014. MARTINS, Ir. Adelino da Costa. Estilo Marista de educar. Disponível em.: <http://www.pucrs.br/estilomarista/estilomarista.pdf> Acesso 21 jun. 2014, 10:00. UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica / União Marista do Brasil. Brasília : UMBRASIL, 2010.