Potencial de girassol como planta bioativa para o controle do gorgulho do milho Sunflower potential as bioactive plant for control of the maize weevil. PINTO, Jader Ribeiro 1 ; BUZÓ, Elisa Bärwaldt 1 ; LIMA, Adriana Tavares de¹; GENTILINI, Fabiane Pereira¹; KRÜGER, Alexandra Peter 2 ; CARDOSO, Francine Bueno¹; COSTA, Emily Cardoso; FRAGA¹, Camila Barcelos¹. 1 Instituto Federal Sul-rio-grandense, Câmpus Pelotas Visconde da Graça, Pelotas, RS, jader.ribeirop@gmail.com; 2 Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, alexandra_kruger@hotmail.com. Resumo: No Laboratório de Fitossanidade do Câmpus Pelotas Visconde da Graça (CaVG), do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSUL), conduziu-se o presente estudo com o objetivo de verificar o potencial de girassol para o controle do gorgulho do Milho (Sitophilus zeamais) por meio da comparação no desenvolvimento da população de insetos com grãos com infestações naturais. Os tratamentos constituíram-se de arroz polido, arroz com casca, milho e o girassol, utilizando-se 5 repetições de 40gde grãos de cada tipo. Cada repetiçãofoi acondicionada em frascos de vidro âmbar onde 20 gorgulhos adultos não sexados foram colocados, procedendo-se em seguida o fechamento dos frascos com TNT (Tecido Não Tecido)e elástico. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado e o experimento foi conduzido em estufa B.O.D. nas condições de fotofase de 12 horas, temperatura de 25±2 C e U.R. de 70 ±10 %, com avaliações aos 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56, 65 e 70 D.A.T. (Dias Após o Tratamento). A análise dos resultados indicou bom desenvolvimento na criação em arroz polido e no milho, inclusive permitindo o incremento populacional após 49 dias em ambos os grãos. Essa informação, apesar de não ser objetivo principal, traz uma importante contribuição para futuros testes. Por se tratar de praga primária, capaz de atacar grãos íntegros, o resultado obtido no tratamento com girassol, sugere a possibilidade da presença de substâncias bioativas no mesmo, pois ocorreu 100% de mortalidade dos insetos, já na primeira avaliação. Palavras-chave: Sitophiluszeamais, Helianthusannuus, armazenamento. Abstract: This study was conducted in the Laboratory of Plant Protection of Campus Pelotas Visconde da Graça (CaVG), of the Instituto Federal Sul-rio-grandense(IFSUL), in order to verify the potential of sunflower to control maize weevil (Sitophilus zeamais) by comparing the development of insects with grain population in which the natural occurring infestations. The treatments consisted of polished rice, rice with husk, maize and sunflower, using 5 replicates of 40g for every kind of grain. Each repetition was packed in amber glass bottles which 20 unsexed adults weevils were placed, then proceeding to closing the bottles with TNT. The experimental design was completely randomized and the experiment was conducted in BOD, on the conditions of photoperiod of 12 hours at 25± C and RH 70±10%, with assessments at 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56, 65 and 70 DAT (Days After Treatment). The results indicated good development in the creation of polished rice and corn, including allowing the population increase after 49 days in both grains. Because it is primary pest, able
to attack intact grain, the result obtained in sunflower suggests the possibility of the presence of bioactive substances in it, obtained 100% mortality of insects already in the first evaluation. Keywords: Sitophilus zeamais, Helianthus annuus, storage. Introdução O gorgulho do milho, Sitophilus zeamais(motschulsky) (Coleoptera: Curculionidae), é uma praga primária de grãos armazenados, que ataca cereais em geral (LOECK, 2002). Devido ao seu potencial de dano em vários tipos de produtos vegetais armazenados, as suas populações são controladas, via de regra, com agrotóxicos, os quais permanecem muitas vezes como resíduos nesses produtos que farão parte da alimentação humana e animal. Nesse sentido, são importantes pesquisas que busquem uma utilização de métodos agroecológicos alternativos ao uso dos agrotóxicos. A agricultura agroecológica temse destacado como uma das alternativas de renda para os pequenos agricultores, devido à crescente demanda mundial por alimentos mais saudáveis (CAMPANHOLA e VALARINI, 2001), sendo conveniente estudos nesse sentido. No presente trabalho realizou-se um experimento com o objetivo de verificar se os grãos de girassol (Helianthusannuus) apresentam potencial de efeito sobre a população de insetos, que indiquem potencial de uso como planta bioativa em preparações de caldas inseticidas, para utilização em cultivos e produtos de base agroecológica. Nesse sentido, argumenta Knaak et al. (2012), que estudos têm sido realizados procurando avaliar o efeito de substâncias presentes em plantas sobre diferentes espécies de insetos-praga. Como o estudo se deu por meio de comparação da sobrevivência e evolução da população em diferentes grãos (arroz polido, arroz com casca, milho e girassol), paralelamente, se pode avaliar em qual desses seria possível a obtenção do melhor desenvolvimento populacional. Esse dado é importante para subsidiar futuras pesquisas, pois nos bioensaios, precisa-se obter um grande número de espécimes para os testes, sendo valiosa a informação de qual é o melhor substrato para conduzir uma criação massal. Metodologia O estudo foi realizado no Laboratório de Fitossanidade do Câmpus Pelotas Visconde da Graça (CaVG), do Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSUL, com insetos obtidos da criação própria, conduzida em frascos de vidro (2L de capacidade)
tampados com tecido voile contendo milho (1,5Kg), os quais permaneceram em sala climatizada com temperatura de 25±5 C e umidade relativa de 70±10%. No momento da instalação do experimentoretirou-se espécimes adultos de S. zeamais não sexados, em número suficiente para compor os tratamentos. A identificação da espécie foi realizada pelo autor, através da análise da genitália de fêmeas e machos, com auxílio de microscopia e das características apresentadas por Loeck (2002). O desenvolvimento populacional, avaliado pela presença de insetos vivos, foi estudado em grãos de arroz polido, arroz com casca, milho e girassol,sendo que cada tipo de grão constituiu um tratamento. As repetições foram em número de 5 por tratamento, sendo cada uma constituída de 40g do respectivo grão e 20 gorgulhos. Cada repetição foi acondicionada em frascos de vidro âmbar (120mL de capacidade) procedendo-se o fechamento dos frascos com TNT (Tecido Não Tecido) e elástico. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado e o experimento foi conduzido em Estufa B.O.D., nas condições de fotofase de 12 horas, temperatura de 25±2 C e U.R. de 70 ±10 %. As avaliações foram aos 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56, 65 e 70 D.A.T. (Dias Após o Tratamento), contando-se o número de insetos vivos e mortos de cada frasco, e retirando-se os mortos após a contagem. Devido a tanatose apresentada pela espécie, considerava-se morto o inseto que mostrava imobilidade após dois minutos de observação. Os resultados foram submetidos à análise de variância e as comparações de médias foram realizadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Resultados e discussões Nas primeiras avaliações do experimento, no arroz polido e no milho, de modo semelhante, até os 35 DAT, ocorreu um pequeno decréscimo na população de insetos, e depois, aos 42 DAT teve início uma ascensão populacional que ocorreu até o último dia do ensaio, conforme observa-se na Tabela 1. Infere-se como motivo da mortalidade inicial, nesses tratamentos, a incidência de causa natural pela idade dos insetos, já que se tinha variação nesse aspecto. Por outro lado, o crescimento ocorrido após a avaliação dos 35 DAT, inclusive com significâncias estatísticas, foi proporcionado pelo aparecimento de insetos de nova geração, demonstrando que o arroz polido e o milho constituem-se em substratos apropriados para o desenvolvimento, tanto dos estágios larvais quanto para a forma adulta de S. zeamais. Nesse sentido, Loeck (2002) cita que as larvas desse inseto dão origem a novos adultos em aproximadamente 35 dias, justamente o tempo em que começou a elevação do número populacional, confirmando-se portanto, o surgimento de uma nova geração. A análise dos resultados, portanto, indicou bom desenvolvimento da criação do inseto em arroz polido e no milho. Nesses grãos, inclusive, o incremento
populacional nos 70 DAT foi de 4,68 e 3,2 vezes, respectivamente para o arroz polido e para o milho. E dada à significância estatística nessa avaliação, considerase que entre os grãos avaliados, o arroz polido é o melhor se o objetivo for a criação de S. zeamais para a obtenção de espécimes. Por sua vez, o arroz integro, com casca, não mostrou-se adequado para o desenvolvimento populacional, com mortalidades crescentes até os 65 DAT quando não houve mais sobrevivência. Esse resultado tem motivo indicado por Loeck (2002) quando cita que considera-se que o único inseto capaz de danificar o arroz com casca íntegra é Rhyzopertha dominica (F.). O tratamento com girassol apresentou mortalidade de 100% dos insetos já em 14 dias, apresentando diferença dos demais tratamentos, sendo que esse resultado sugere a possibilidade da presença de substâncias bioativas no mesmo. Este dado é importante por estimular novos estudos com preparações à base de extratos de grãos de girassol para a obtenção de método alternativo de controle de S. zeamais, visando-se a sua aplicação em grãos armazenados de forma agroecológica. Pereira et al. (2008) também encontraram ação do girassol em relação ao número de ovos viáveis e de insetos emergidos em experimento para outro inseto de grãos armazenados, Callosobruchus maculatus (Fabr.). Marangoni et al. (2012) relatam que novas substâncias são necessárias para o efetivo controle de pragas, oferecendo maior segurança, seletividade, biodegradabilidade, viabilidade econômica, aplicabilidade em programas integrados de controle de insetos e baixo impacto ambiental, e conforme os resultados obtidos nesse estudo, o girassol apresenta potencial como nova substância. Tabela 1. Médias de insetos vivos de Sitophilus zeamais criados em diferentes espécies de grãos. Pelotas, RS, 2016. Tratamento Arroz polido Milho Arroz com Girassol casca 0 DAT¹ 20,0²aDE 20,0aC 20,0aA 20,0aA 14 DAT 17,2aE 17,8aC 7,0abAB 0,0bB 21 DAT 16,2aE 15,2aC 5,6abAB 0,0bB 28 DAT 15,2aE 14,6aC 4,8abAB 0,0bB 35 DAT 14,4aE 13,2abC 3,8abB 0,0bB 42 DAT¹ 19,0²aDE 15,0abC 3,4bcB 0,0cB 49 DAT 33,2aD 25,2aC 4,0bB 0,0bB 56 DAT 54,4aC 43,0aB 4,2bB 0,0bB
65 DAT 74,2aB 50,2bAB 0,0cB 0,0cB 70 DAT 93,6aA 64,0bA 0,0cB 0,0cB ¹Dias Após o Tratamento. ²Médias seguidas pela mesma letra maiúscula (dentro da coluna) e minúscula (dentro da linha), não diferem entre si pelo teste de Tukey (P 0,05). CV=52,23%. Conclusões Nas condições em que o estudo foi conduzido, conclui-se que: Os grãos de girassol provocam elevada mortalidade em adultos de S. zeamais e por esta bioatividade apresenta-se como promissor para uso no controle agroecológico. Os grãos de arroz polido e de milho são substratos adequados para a criação dessa espécie. Referências bibliográficas CAMPANHOLA, C.; VALARINI, P.J. A agricultura orgânica e seu potencial ao pequeno agricultor. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.18, n.3, p.69-101, set./dez, 2001. KNAAK, N.; TAGLIARI, M.S.; MACHADO, V.; FIUZA, L.M. Atividade Inseticida de Extratos de Plantas Medicinais sobre Spodoptera frugiperda(j.e. Smith) (Lepidoptera: Noctuidae). BioAssay: 7:1, 2012. LOECK, A. E. Pragas de produtos armazenados. Pelotas: EGUFPEL, 2002. 113p. MARANGONI, C.; MOURA, N.F.; GARCIA, F.R.M.Utilização de óleos essenciais e extratos de plantas no controle de insetos. Revista de Ciências Ambientais, Canoas, v.6, n.2, p. 95 a 112, 2012. PEREIRA, A. C. R. L., OLIVEIRA, J. V.; GONDIM JUNIOR, M. G. C.; CÂMARA, C. A. G. da. Atividade inseticida de óleos essenciais e fixos sobre Callosobruchus maculatus (FABR., 1775) (Coleoptera: Bruchidae) em grãos de caupi [Vigna unguiculata (L.) WALP.]. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 32, n. 3, p. 717-724, jun. 2008.