Mapeamento morfoestrutural e características gerais das Furnas Gêmeas, Município de Ponta Grossa, Campos Gerais do Paraná



Documentos relacionados
Palavras-chave: Aquífero Furnas, qualidade da água subterrânea, poços tubulares profundos.

Considerações sobre a geomorfologia cárstica na região de Pinheiro Seco, Municípios de Castro, Doutor Ulysses e Cerro Azul - Paraná

SUMIDOURO DO LAJEADO DO SOBRADO, MUNICÍPIO DE PALMEIRA, CAMPOS GERAIS DO PARANÁ: IMPORTANTE GEOSSÍTIO DO SISTEMA CÁRSTICO DA FORMAÇÃO FURNAS

Levantamento preliminar do potencial espeleológico do carste não carbonático do Parque Nacional dos Campos Gerais (Paraná).

AQUÍFERO FURNAS - URGÊNCIA NA PROTEÇÃO DE MANANCIAIS SUBTERRÂNEOS EM PONTA GROSSA, PR

Análise dos Fatores que Condicionam a Estrutura do Relevo em Piraí da Serra, PR

CAPÍTULO 4 GEOLOGIA ESTRUTURAL DA ÁREA

PROCESSOS EROSIVOS NOS ARENITOS DA FORMAÇÃO FURNAS EVIDÊNCIAS DE SISTEMA CÁRSTICO NA REGIÃO DOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ

MUDANÇAS RECENTES NA CIRCULAÇÃO SUBTERRÂNEA DO RIO QUEBRA-PEDRA (FURNA DO BURACO DO PADRE, PONTA GROSSA, PARANÁ)

METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE RELEVÂNCIA: escala de análise. Allan Calux Redespeleo Brasil

ESTUDOS ESPELEOLÓGICOS DE CAVIDADES NATURAIS NO MUNICÍPIO DE MARABÁ/PA

A1.2 Águas subterrâneas. A1.2.0 Introdução 1

do substrato gnáissico.

QUESTÃO 1 EXPECTATIVA DE RESPOSTA

SIG DE DISPONIBILIDADE HÍDRICA DO BRASIL

GEOGRAFIA. transformadas

SUMÁRIO DE TÍTULOS VOLUME 21 (SUMMARY OF TITLES VOLUME 21)

Figura 2.1. Baía de Todos os Santos (Grupo de Recomposição Ambiental/ Gérmen).

A BÚSSOLA COMO INSTRUMENTO DE ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO

2012 1ª PROVA PARCIAL DE GEOGRAFIA

Reflexos da extração de areia na morfologia do ribeirão dos Macacos-MG, entre 1989 e 2010

CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO GRÁBEN DO RIO MAMUABA E SUAS ADJACÊNCIAS

HIDROGEOLOGIA AVANÇADA. PARTE II Aula 03. üíferos. Os Aqüí. Prof. Milton Matta

Questões para Revisão Cap. 3-7ºs anos - prova 2

2 - pslavras@navinet.com.br, IBAMA/CECAV - MG, Rua Afonso Pena, n 236, Centro, Cep: , Lavras, MG.

LAUDO TÉCNICO DA PRAIA DA PONTA NEGRA MANAUS - AM

Projeto Lagoas Costeiras

RELEVOS CÁRSTICOS EM ROCHAS NÃO CALCÁRIAS: UMA REVISÃO DE CONCEITOS

13th International Congress of Speleology 4th Speleological Congress of Latin América and Caribbean 26th Brazilian Congress of Speleology

INTEMPERISMO, FORMAÇÃO DOS SOLOS E ÁGUA SUBTERRÂNEA. Profa. Andrea Sell Dyminski UFPR

PROJETO MORRO DO PILAR. Considerações sobre os aspectos de cobertura vegetal para manutenção das condições microclimáticas e tróficas das cavidades

O maior manancial de água doce do mundo

Análise estrutural aplicada à estabilidade de taludes. Antonio Liccardo

INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANA JANAÍNNA VALESKA BORATTO PROPOSTA DE MEIO INTERPRETATIVO NÃO PERSONALIZADO PARA O PARQUE ESTADUAL DE VILA VELHA

GEOGRAFIA E FÍSICA. Primeiro ano integrado EDI 1 e INF

À UNIDADE REGIONAL COLEGIADA RIO DAS VELHAS DO CONSELHO DE POLÍTICA AMBIENTAL DE MINAS GERAIS COPAM/MG.

LUGARES E PAISAGENS DO PLANETA TERRA

PROVA DE GEOGRAFIA 3 o TRIMESTRE DE 2012

PRH Piranhas-Açu Disponibilidade Hídrica Subterrânea (RP-02)

FACULDADE SUDOESTE PAULISTA CURSO - ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA- HIDROLOGIA

Proc. IPHAN nº / Portaria IPHAN nº 15, de 05 de maio de 2011

HIDROLOGIA AULA semestre - Engenharia Civil. Profª. Priscila Pini prof.priscila@feitep.edu.br

Universidade do Estado de Santa Catarina Departamento de Engenharia Civil TOPOGRAFIA II. Profa. Adriana Goulart dos Santos

Atividade de Aprendizagem 1 Aquífero Guarani Eixo(s) temático(s) Tema Conteúdos Usos / objetivos Voltadas para procedimentos e atitudes Competências

GEOLOGIA GERAL GEOGRAFIA

BACIA HIDROGRÁFICA OU BACIA DE DRENAGEM

Feições geomorfológicas da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Itaytyba Tibagi Paraná

Hidrogeologia Avançada: da Pesquisa à Engenharia

LISTA DE RECUPERAÇÃO 1ª SÉRIE EM

Compartimentação geomorfológica da folha SF-23-V-A

Ficha de caracterização do meio envolvente da escola

CRATERAS METEORÍTICAS NO BRASIL

CLASSIFICAÇÃO DE VALES INTRAMONTANOS DA SERRA DA BOCAINA, DIVISA ENTRE OS ESTADOS DO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

RESERVATÓRIOS DE DETENÇÃO HIDRICA: SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS DE DRENAGEM URBANA NO MUNICÍPIO DE CAMPINA GRANDE - PB

GEOMORFOLOGIA E MORFOESTRUTURA DA CARTA JACUMÃ, ESTADO DA PARAÍBA, REGIÃO NORDESTE DO BRASIL

Bloqueio atmosférico provoca enchentes no Estado de Santa Catarina(SC)

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE. Professor: João Carmo

PROGRAMA DA DISCIPLINA

DISTRIBUIÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA POR DOMÍNIOS GEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO JOÃO - RIO DE JANEIRO

CARACTERIZAÇÃO E ANÁLISE DAS ANOMALIAS DE DRENAGEM DA CARTA TOPOGRÁFICA DE RIO BOM PR. Danieli Barbosa Araújo 1 Karine Bueno Vargas²


PROJETO DE PESQUISA AGUAS CONTINENTAIS DO PARQUE ESTADUAL DE VILA VELHA PARANÁ BRASIL

Análise e Classificação Granulométrica de Sedimentos Quaternários em Perfil Estratigráfico de Margem Fluvial do Rio Itapocu - SC

Caracterização de subambientes costeiros com base na análise de superfície de tendência: exemplo do delta do rio Doce

COLÉGIO MARQUES RODRIGUES - SIMULADO

Norma Técnica Interna SABESP NTS 024

Juliana Aurea Uber, Leonardo José Cordeiro Santos. Introdução

Atividade 11 - Exercícios sobre Relevo Brasileiro Cap. 03 7º ano. Atenção: Pesquise PREFERENCIALMENTE em seu Livro e complemente a pesquisa em sites.

MAPEAMENTO DE FRAGILIDADE DE DIFERENTES CLASSES DE SOLOS DA BACIA DO RIBEIRÃO DA PICADA EM JATAÍ, GO

OS ESTUÁRIOS NA MARGEM CONTINENTAL SUL dialética do acontecimento sedimentar

2 Método sísmico na exploração de petróleo


Geoturismo em Tibagi Antonio Liccardo DEGEO - UEPG

EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA E RISCOS SOCIOAMBIENTAIS: EXPERIÊNCIAS EM ATIVIDADES DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

Tema Elemento geográfico Arquivo shape (.shp) Tipo de objeto Vegetação e ocupação

COLÉGIO MARISTA - PATOS DE MINAS 2º ANO DO ENSINO MÉDIO Professor : Bruno Matias Telles 1ª RECUPERAÇÃO AUTÔNOMA ROTEIRO DE ESTUDO - QUESTÕES

ANALISE DE ANOMALIAS DE DRENAGEM NA ÁREA ABRANGIDA PELA CARTA TOPOGRÁFICA DE MAUÁ DA SERRA PR

TOCAS DE CROCODILO EDITORIAL CONGRESSO DE PALEONTOLOGIA CAVERNAS NA ILHA DE FLORIANÓPOLIS

Colégio Santa Dorotéia

ANÁLISE MORFOMÉTRICA E GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO DA SALSA, LITORAL SUL DO ESTADO DA PARAÍBA/BRASIL

45 mm INDICADORES DE PALEOLINHAS DE COSTA E VARIAÇÕES DO NÍVEL DO MAR NA PLATAFORMA CONTINENTAL SUL DE ALAGOAS

rofa Lia Pimentel TOPOGRAFIA

O trabalho compreende a análise de três TCC - Trabalho de Conclusão de Curso.

AULA 9: BORDAS DE PLACAS TRANSFORMANTES

GEOSSÍTIO SUMIDOURO CÓRREGO DAS FENDAS, PONTA GROSSA - PARANÁ

1. 2 Ocorrência de Água Subterrânea. b) - Solos Pedogênicos (Lateríticos):

Exercícios de Alteração na Paisagem e Morfologia Litorânea

Formas de representação:

CURSO: PÓS GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA DISCIPLINA: CLASSIF. MAPEAMENTO DE SOLOS

CARTOGRAFIA E IMAGEM ASTER APLICADOS NO MAPEAMENTO GEOMORFOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE CATU, BA.

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICO- ECONÔMICA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO (RMSP) PELO AQUÍFERO GUARANI

ANÁLISE MULTITEMPORAL DO PADRÃO DE CHUVAS DA ZONA OESTE DO RIO DE JANEIRO NO ÂMBITO DOS ESTUDOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

PROJETO BÁSICO COM DETALHAMENTO CONSTRUTIVO DOS MOLHES DE FIXAÇÃO DA BARRA DO RIO ARARANGUÁ, MUNICÍPIO DE ARARANGUÁ (SC)

PAINEL: A IMPORTÂNCIA DO AMBIENTE NO TURISMO CASE GEOPARQUES NO BRASIL: AS PROPOSTAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Classificação de Aroldo de Azevedo

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO / DIURNO PROGRAMA DE DISCIPLINA

DIAGNÓSTICO DA DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DO TERCEIRO SETOR EM BELO HORIZONTE 2006

Transcrição:

Mapeamento morfoestrutural e características gerais das Furnas Gêmeas, Município de Ponta Grossa, Campos Gerais do Paraná Pontes, H.S. (MESTRADO EM GEOGRAFIA - UEPG / GUPE) ; Massuqueto, L.L. (MESTRADO EM GEOGRAFIA -UEPG / GUPE) ; Flügel Filho, J.C. (BACHARELADO EM GEOGRAFIA - UEPG / GUPE) ; Barbosa, T.A. (DEGEO - UEPG / GUPE) RESUMO No Município de Ponta Grossa é comum a existência de formas e feições cársticas desenvolvidos no relevo dos arenitos da Formação Furnas. As feições do relevo mais marcantes são as furnas, conhecidas na bibliografia clássica como dolinas. As Furnas Gêmeas são duas dolinas distintas situadas uma ao lado da outra, sem conexão subterrânea. O presente estudo tem como objetivo analisar os aspectos morfoestruturais das referidas dolinas, a fim de discutir suas características e aspectos genéticos. PALAVRAS CHAVES Furnas Gêmeas; carste em arenitos; aspectos genéticos ABSTRACT In the Ponta Grossa City is common the existence of Karst shapes and features developed in relief of the Furnas Formation sandstones. The most notable features of the relief are the furnas, known in classical literature as sinkholes. The Furnas Gêmeas are two distinct sinkholes located next to one another, with no underground connection. The present study aims to analyze the morphostructural aspects of these dolines, to discuss its characteristics and genetics aspects. KEYWORDS Gêmeas Sinkhole; Karst in sandstones; genetics aspects INTRODUÇÃO As furnas existentes no Município de Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, são grandes crateras no terreno, denominadas por Maack (1956 e 1968) e Soares (1989) como poços de desabamento que apresentam dezenas de metros de diâmetro e profundidade que atingem mais de uma centena de metros. No município de Ponta Grossa são reconhecidas 13 furnas, mas destaca-se a ocorrência de diversas depressões no terreno e dolinas em formação, apresentando medidas inferiores a 10 metros de profundidade. Estas feições, como também outras geoformas do relevo, tais como: sumidouros e ressurgências (drenagem subterrânea); lagoas; túneis; caneluras; lapiés; bacias de dissolução (kamenitzas), alvéolos e túneis anastomosados, cúpulas e dutos de dissolução, espeleotemas, panelas e diversas cavidades subterrâneas, são consideradas como feições resultadas do processo de carstificação da rocha (MAACK, 1956; MELO, MORO e GUIMARÃES 2007; PONTES et al., 2011, MASSUQUETO et al., 2011; e MELO et al., 2011). A partir destas observações, ressalta que a região dos Campos Gerais, situada no Segundo Planalto Paranaense, borda leste da Bacia Sedimentar do Paraná, apresenta várias feições no relevo desenvolvidas sobre os arenitos da Formação Furnas (Siluriano/Devoniano) (ASSINE, 1996), pode ser classificado como um relevo cárstico não carbonático. A partir deste pressuposto, o presente estudo apresentará um mapeamento morfoestrutural das Furnas Gêmeas, mostrando a relação intrínseca entre estruturas tectônicas e o processo de carstificação da rocha. MATERIAL E MÉTODOS Para a realização deste trabalho foram utilizados os seguintes materiais: aparelho receptor GPS, modelo Map 62 Garmin; Bússula geológica Brunton 5008 Com- Pro Pocket Transit e; Trena a laser Leica Disto A6, mensuração com erro aproximado de 1,5mm. Para compreender as características morfoestruturais das Furnas Gêmeas, foram realizados trabalhos de campo para coleta de dados página 1 / 5

métricos, fotográficos e descritivos. O levantamento topográfico das cavidades teve como base bibliográfica as técnicas apresentadas por Dematteis (1975) e a graduação de detalhamento do mapa espeleológico baseou-se nas propostas da BCRA (British Cave Research Association). Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa do Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (GUPE) financiado pela Fundação Grupo Boticário, denominado Estudo espeleológico das cavidades subterrâneas areníticas do Município de Ponta Grossa, Campos Gerais do Paraná. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Furnas Gêmeas, situadas no Parque Nacional dos Campos Gerais, são regionalmente conhecidas por este nome, mas segundo o Cadastro Nacional de Cavernas (CNC) da Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), foram denominadas de Furna do Passo do Pupo 1 e Furna do Passo do Pupo 2, devido ao nome da localidade onde situam-se ser chamada de Passo do Pupo. É digno de nota que as primeiras descrições científicas sobre as Furnas Gêmeas foram realizadas por Maack (1956 e 1968) e Soares (1989). Nestes trabalhos, os autores mencionam algumas características morfológicas das furnas, mas não se aprofundam muito na descrição das características estruturais e a influência na morfologia das feições. A Furna passo do Pupo 1 apresenta 93 metros de diâmetro em seu eixo maior e 47 metros em seu eixo menor (figura 1). Sua profundidade total é de 38 metros e nota-se que em seu interior há uma área mais profunda situada em sua porção oeste, apresentando um desnível de 15 metros entre uma porção e outra. Foram identificadas visualmente oito fendas e fraturas presentes nesta furna, as quais se distribuem nas direções N70 E, N30 E, N84 W, N45 W e N78 W. A Furna Passo do Pupo 2 é menor em relação ao diâmetro do que a Furna 1, mas a supera em desnível. Seu diâmetro no eixo maior possui 82 metros e no eixo menor apresenta 44 metros, destacando que a furna apresenta 53,6 metros de profundidade. Destaca-se que estas medidas foram obtidas por meio de trena a laser, apresentando erro aproximado de 1,5 milímetros. Foram observadas 8 fendas e fraturas em seu interior, distribuídas nas direções N20 W, N30 W, N60 W e N70 E. Observa-se que as Furnas Gêmeas estão controladas por um falhamento de direção geral N70 E, o qual condiciona a morfologia das feições em questão, bem como influencia na formação das outras dolinas do Município de Ponta Grossa. Esta falha ocasionou um rotacionamento de 23 dos blocos com direção de mergulho para N40 W. Segundo Sallun Filho e Karmann (2007) este falhamento está relacionado com as estruturas tectônicas presentes nas rochas do embasamento, geralmente encaixadas na direção NE-SW (relacionadas com o lineamento Itapirapuã), paralelas ao Arco de Ponta Grossa. Ressalta-se que um grande bloco de rocha foi rebaixado e rotacionado nas Furnas Gêmeas, destacando que este fato foi resultado da falha N70 E e de possíveis processos de erosão subterrânea, relacionados á processos hipogenéticos, o que possibilitou o rebaixamento desta porção de rocha (figura 2). No presente estudo, as furnas são compreendidas como um tipo de cavidade subterrânea natural, podendo ser denominadas como dolinas, poços e/ou abismos. Considera-se que o processo de formação das furnas é coincidente aos fatores condicionantes para a ocorrência de dolinas em área carbonáticas: permeabilidade condicionada, sobre tudo, por fraturas na rocha; dissolução das águas subterrâneas e superficiais e; desabamento de blocos de rocha. Tais processos ocorrem em fases distintas (períodos de tempo), mas a formação final desta feição (com o formato que se visualiza no presente), é caracterizada pela ação conjugada de diferentes momentos da dinâmica do carste em questão. Mapa das Furnas Gêmeas página 2 / 5

Figura 1: mapeamento morfoestrutural das Furnas Gêmeas (perfil e planta baixa) (fonte: Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas - GUPE). Furna Gêmea 2 página 3 / 5

Figura 2: as linhas marelas indicam os dois falhamentos, ressaltando que a porção central entre as duas falhas foi rebaixada (foto: Pontes, H.S.). CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo afirmando a influência das rochas carbonáticas, presentes no embasamento, no processo de formação das furnas, este trabalho considera que o processo de dissolução também ocorre no corpo do arenito, apresentando quatro momentos distintos da gênese, sendo eles: o primeiro momento da gênese está relacionado a processos tectônicos que geram permeabilidade por fratura na rocha; o segundo momento é caracterizado por processos hipogenéticos (processos originados em ambiente confinado), caracterizado pela erosão de águas subterrâneas e consequente alargamento de dutos, canais e descontinuidades da rocha; no terceiro momento, com o rebaixamento do nível freático regional e exumação do relevo em superfície, inicia-se o processo de formação de depressões no terreno e desabamento de blocos no interior de cavidades subterrâneas concomitantemente; o quarto e último estágio é o desabamento completo do teto da cavidade subterrânea, originando assim a dolina. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação Grupo Boticário pelo financiamento às pesquisas e aos membros do Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (GUPE) por todo auxílio na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA ASSINE, M. L. Aspectos da estratigrafia das seqüências pré-carboníferas da Bacia do Paraná no Brasil. Tese de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geologia Sedimentar, São Paulo, 1996. página 4 / 5

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) 9º SINAGEO - Simpósio Nacional de Geomorfologia MAACK, R. 1956. Fenômenos carstiformes de natureza climática e estrutural de arenitos do Estado do Paraná. Arquivos de Biologia e Tecnologia 11: 151 162. MAACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. Curitiba: BADEP/UFPR/IBPT,1968. 350 p. MASSUQUETO, L.L.; GUIMARÃES, G.B.; PONTES, H.S. Geossítio do Sumidouro do Rio Quebra-Perna (Ponta Grossa, PR, Brasil): relevante exemplo de sistema cárstico nos arenitos da Formação Furnas. Espeleo-Tema: Campinas, SBE, v.22, n.1, 2011. MELO, M.S.; MORO, R.S.; GUIMARÃES, G.B. 2007. Patrimônio natural dos Campos Gerais do Paraná. Ponta Grossa: Editora UEPG, 230p. MELO, M.S.; GUIMARÃES, G.B.; PONTES, H.S.; MASSUQUETO, L.L.; PIGURIM, I.; BAGATIM, H.Q.; GIANNINI, P.C.F.. Carste em rochas não-carbonáticas: o exemplo dos arenitos da Formação Furnas, Campos Gerais do Paraná/Brasil e as implicações para a região. SBE Campinas, SP Espeleo-Tema. v.22, n.1. 2011. p. 81-97. PONTES, H.S.; MELO, M.S.. Caverna da Chaminé, Ponta Grossa, PR, Brasil: potencial espeleológico, recursos hídricos subterrâneos e riscos geoambientais. SBE Campinas, SP Espeleo-Tema. v.22, n.1. 2011. p. 111-126. SALLUN FILHO, W.; KARMANN, I.. Dolinas em arenitos da Bacia Sedimentar do Paraná: evidência de carste subjacente em Jardim (MS) e Ponta Grossa (PR). Revista Brasileira de Geociências, volume 37 (3), 2007. p. 551-564. SOARES, O.. Furnas dos Campos Gerais (Paraná): depressões pseudocársticas. Anais do 1 Congresso de Espeleologia da América Latina e do Caribe, Instituto de Educação de Minas Gerais - Belo Horizonte, 1988. p. 40-54. página 5 / 5