Análise dos Fatores que Condicionam a Estrutura do Relevo em Piraí da Serra, PR
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1 Análise dos Fatores que Condicionam a Estrutura do Relevo em Piraí da Serra, PR Rafael KÖENE e Mário Sérgio de MELO Universidade Estadual de Ponta Grossa A região de Piraí da Serra é um representante remanescente das características naturais dos Campos Gerais do Paraná cuja localização se dá na borda leste do Segundo Planalto Paranaense. Está região foi modelada por um intenso tectonismo positivo conhecido como Arco de Ponta Grossa ocorrido no Mesozóico durante a abertura do Oceano Atlântico Sul. Este tectonismo causou grandes falhas, fraturas, lineamentos estruturais, escarpamentos, diques, etc., além de influenciar toda a dinâmica do relevo do Estado do Paraná. Piraí da Serra especificamente apresenta um relevo fragmentado em grandes blocos rochosos separados por profundos vales com orientação NW-SE, coincidente com o eixo principal do arqueamento crustal. As altitudes na área variam entre 1200 m a 700 m, com as cotas de maior valor localizadas na porção SE da área próximas à Escarpa Devoniana. O relevo de um modo geral pode ser caracterizado como Ondulado a Forte Ondulado. Este estudo utilizou-se de SIG e produtos de MNT para auxiliar na representação do relevo local, dentre estes produtos destacam-se um Modelo 3D e um Perfil do terreno. Palavras-chave: Sistema Terra. Meio ambiente. Desenvolvimento sustentável. Piraí da Serra é uma região de relevante interesse científico, pois congrega diversos fatores ambientais bastante singulares, como relevo, geologia, vegetação, além de uma rica cultura de povos tradicionais do passado, com a arte rupestre, e do presente, com seus costumes. Está localizada na porção centro-nordeste dos Campos Gerais do Paraná, sobre o reverso da Escarpa Devoniana, borda leste da Bacia Sedimentar do Paraná. A área em estudo situa-se em partes de três municípios, Castro, Piraí do Sul e Tibagi, com uma área de 519 km 2. Seus limites são representados pelo Rio Iapó a sudoeste, Rio Guaricanga-Fortaleza a noroeste, PR 090 a nordeste e a Escarpa Devoniana a sudeste. SEMANA DE GEOGRAFIA, 16., A PLURALIDADE NA GEOGRAFIA. PONTA GROSSA: DEGEO/DAGLAS, ISSN
2 208 R A F A E L K Ö E N E E M Á R I O S É R G I O D E M E L O O objetivo deste estudo é identificar e analisar os fatores que condicionaram e influenciaram a estrutura do relevo e a dinâmica da paisagem na região de Piraí da Serra. O relevo bastante movimentado apresenta profundos canyons paralelos, alternados com interflúvios de topos aplainados e encostas verticalizadas, controlando a vegetação, o uso da terra, os tipos de solos e a hidrografia local. Esta região foi modelada por um intenso tectonismo ocorrido durante a separação dos continentes Sul-Americano e Africano, no Jurássico-Cretáceo. Um dos reflexos desta separação foi o arqueamento da crosta terrestre na porção central do Estado do Paraná, conhecido como Arco de Ponta Grossa. Segundo Marini et al. (in BIGARELLA et al., 1967) essa região, talvez forçada por correntes de convecção no manto, ascendeu em abóboda, sofrendo distensão e dando origem a fraturas, falhas de tensão e basculamento de blocos rochosos. De acordo com Zalán et al. (in GABAGLIA et al., 1990), o Arco de Ponta Grossa faz parte das atividades de falhas NW-SE e NE-SW que resultaram de diferentes campos de esforços atuantes durante o Paleozóico, como resposta aos eventos colisionais que ocorreram nas margens ocidental e meridional do Gondwana. Estas falhas e fraturas principalmente as de direção NW-SE, serviram de condutos alimentadores dos derrames basálticos. Atualmente estes condutos encontram-se preenchidos predominantemente por diabásio, são os chamados diques de diabásio, muito comuns na região. Com a ação de fenômenos intempéricos e erosivos ao longo de milhões de anos, todo o basalto que cobria a região do Segundo Planalto Paranaense foi erodido, assim como outras unidades litológicas sobrejacentes, expondo em sua borda leste os arenitos da Formação Furnas que sustentam a Escarpa Devoniana. MATERIAIS E MÉTODOS A realização do estudo foi dividida em três etapas, coleta e leitura de dados e informações sobre o relevo de Piraí da Serra e todo o seu contexto geográfico, trabalhos de campo para reconhecimento da área e por último a análise de todos os resultados obtidos. O estudo teve como base de dados bibliografias diversas relacionadas à temática abordada, cartas topográficas, ortoimagens e trabalhos de campo. Foram utilizadas quatro cartas topográficas em escala 1:50.000, folhas Tibagi, Rincão da Ponte, Monte Negro e Piraí Mirim. Também foi criado um mosaico com quatro ortoimagens que cobriam a área em questão, do sensor SPOT 5 do ano de 2005, cedidas pelo Paranacidade/SEDU. As ortoimagens forneceram também, em formato digital, os vetores das curvas de nível, ou isolinhas com
3 A N Á L I S E D O S F A T O R E S Q U E C O N D I C I O N A M A E S T R U T U R A D O R E L E V O 209 equidistância de 20m e coordenadas x, y e z dando a localização e altitude das isolinhas. Os trabalhos de campo serviram para constatar a peculiaridade do relevo local, e para coletar informações diversas, dentre elas pontos de referência para localização e confirmação dos resultados feitos em laboratório. Em campo utilizou-se um receptor de sinas de GPS para coletar coordenadas de localização. Os dados representativos da dinâmica do relevo (mapas diversos) foram processados em ambiente SIG (Sistemas de Informação Geográfica) especificamente no programa Spring 4.3.3, que também oferece recursos de Modelagem Numérica de Terreno (MNT). Para gerar todos os produtos do MNT, foi necessário importar as isolinhas ou amostras para dentro do programa Spring e criar uma grade regular retangular de pontos com coordenadas e altitude. Depois de criada a grade fez-se a interpolação dos dados a fim de ajustar os pontos minimizando possíveis erros. Neste caso utilizou-se o método do interpolador por média ponderada por quadrante por cota, que considera além da ponderação e dos quadrantes, o valor de cota altimétrica de cada amostra a ser usada na estimativa do ponto da grade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos foram representados em diversos mapas temáticos, tais como Hipsométrico, Declividade, Feições do Relevo, Hidrografia e também um perfil do relevo e um Modelo 3D da área. O mapa Hipsométrico (Figura 1) destaca a amplitude do relevo da região de Piraí da Serra. As maiores altitudes encontram-se no reverso imediato da Escarpa Devoniana, alcançando no ponto mais alto 1290 m. Em direção a oeste e noroeste as altitudes vão diminuindo chegando à cota média de 700 m. A declividade do terreno (Figura 2) pode ser considerada, segundo a EMBRAPA (1999), como predominantemente Forte Ondulada (20 a 45%) a Ondulada (8 a 20%), ficando as classes Montanhoso (45 a 75%) e Relevo Escarpado (75 a 100%) restritas às regiões próximas aos canyons do Rio Iapó e do Arroio Palmeirinha. A hidrografia de Piraí da Serra é composta por diversos corpos hídricos de pequeno porte em padrão Treliça, geralmente encaixados em estruturas geológicas resultantes do arqueamento crustal. A densidade de corpos hídricos na área é de 1,66 por km 2. Os rios encaixados em estruturas de direção NW-SE fazem parte de micro-bacias que pertencem à bacia do Rio Guaricanga-Fortaleza, afluente da margem direita do Rio Iapó. O restante das micro-bacias que não fazem parte da bacia do Rio Guaricanga-Fortaleza, deságuam no Rio Iapó nas proximidades de seu Canyon.
4 210 R A F A E L K Ö E N E E M Á R I O S É R G I O D E M E L O Figura 1 Mapa hipsométrico Figura 2 Mapa de declividade As feições mais comuns encontradas na região, representadas em um mapa de Feições do Relevo, são os escarpamentos e/ou rupturas no relevo e os lineamentos estruturais. Encontram-se distribuídos por toda a área, mas com maior densidade próximos à Escarpa Devoniana. De maneira geral são escarpamentos e lineamentos retilíneos e alongados de orientação NW-SE. No Modelo 3D (Figura 3) e no Perfil da região (Figura 4) é possível identificar uma fragmentação da superfície terrestre na área de
5 A N Á L I S E D O S F A T O R E S Q U E C O N D I C I O N A M A E S T R U T U R A D O R E L E V O 211 Piraí da Serra em três grandes blocos rochosos paralelos orientados na direção NW-SE, separados por grandes fraturas de mesma direção. Figura 3 Modelo 3D Figura 4 Perfil do Relevo (Linha azul: NW para SE; Linha vermelha: SW para NE) Todas as estruturas geológicas e geomorfológicas presentes em Piraí da Serra são reflexo do soerguimento do Arco de Ponta Grossa. A direção NW-SE predominante nas estruturas coincide com o eixo principal deste fenômeno geológico. Outro reflexo pode ser notado no escarpamento e na inclinação do Segundo Planalto Paranaense (Figura
6 212 R A F A E L K Ö E N E E M Á R I O S É R G I O D E M E L O 3), que expõem os arenitos da Formação Furnas e apresentam as maiores altitudes locais. Esta inclinação é o que influencia toda a rede de drenagem da região, cujos rios correm para W e NW, geralmente encaixados em estruturas geológicas. As maiores declividades se dão nas bordas de grandes blocos rochosos separados por falhas, fraturas ou diques (predominantemente) de diabásio. Estes se localizam em fundos de vales encaixados em paredões de arenitos. O contraste altimétrico se deve ao fato de que o diabásio sofre intemperismo mais facilmente que os arenitos, originando solos espessos e favoráveis à instalação de florestas exuberantes, ao contrário dos solos oriundos dos arenitos que são pobres e mal estruturados, geralmente cobertos pelos campos nativos. CONCLUSÕES O Arco de Ponta Grossa e o intemperismo/erosão atuantes sobre um substrato com estruturas rúpteis, fortemente orientadas segundo a direção NW-SE, são os principais elementos condicionantes do relevo local e de toda a dinâmica da paisagem. REFERÊNCIAS MARINI, O. J.; FUCK, R. A.; TREIN, E. Intrusivas básicas jurássico-cretáceas do primeiro planalto do Paraná. In: BIGARELLA, J. J.; SALAMUNI, R.; PINTO, V. M. (Ed.). Geologia do Pré-Devoniano e Intrusivas Subsequentes da Porção Oriental do Estado do Paraná. Boletim Paranaense de Geociências, v. 1, n , Curitiba, ZALÁN, P. V. et al. Bacia do Paraná. In: GABAGLIA, G. P. R.; MILANI, E. J. (Coord.). Origem e evolução de Bacias Sedimentares. Rio de Janeiro: Gávea, 1990.
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