FLORA FICOLÓGICA DO MANGUEZAL DE ITACURUÇA / RJ

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Transcrição:

https://doi.org/10.15202/1981996x.2016v10n3p62 FLORA FICOLÓGICA DO MANGUEZAL DE ITACURUÇA / RJ FLORA FICOLÓGICA OF THE MANGUEZAL OF ITACURUÇA / RJ VIVIANE DA SILVA PINHEIRO Pós-graduada em Biologia Marinha e Oceanografia Departamento de Biologia Marinha Faculdades Integradas Maria Thereza vivianepinheiro@ymail.com GISA ENEIDA MARQUES MACHADO Mestre em Ciências Biológicas pelo Museu Nacional em taxonomia e ecologia de macroalgas Departamento de Biologia Marinha Faculdades Integradas Maria Thereza RAFAELA BALBINO DO NASCIMENTO SILVA Faculdades Integradas Maria Thereza CLARSON MARINHO Faculdades Integradas Maria Thereza RESUMO Dentre as muitas espécies que possuem adaptações necessárias para a sobrevivência no manguezal, estão as macroalgas da comunidade Bostrychietum, que são encontradas fixas em troncos ou pneumatóforos de mangue. Organismos fitobentônicos podem ser utilizados como bioindicadores de distúrbios de origem antrópica apresentando aplicação para a caracterização ambiental. Os manguezais são ecossistemas litorâneos e são caracterizados por sua grande produtividade primária e pela importância no ciclo de vida de diversas espécies marinhas. Este estudo apresenta dados preliminares quanto a distribuição, diversidade e abundância das espécies de macroalgas do manguezal de Itacuruçá (Mangaratiba /RJ). O manguezal foi dividido em três áreas (A, B e C), onde foi coletado o material para análise. Foram realizadas duas coletas (verão e inverno) para a comparação da biomassa seca de macroalgas desenvolvidas em troncos de mangue. O presente estudo revelou a influência que o clima proporciona no desenvolvimento dessas algas, bem como evidenciou que a biomassa total do verão foi consideravelmente maior do que a do inverno. Palavras-chaves: Macroalgas. Biomassa. Estação. ABSTRACT ISABELLA STEPHANOVICH FRANCELINO Faculdades Integradas Maria Thereza Among the many species with adaptations necessary for survival in the mangrove are community macroalgae Bostrychietum, which can be fixed in trunks or pneumatophores, for example. The mangrove Itacuruçá (Mangaratiba/RJ) was divided into three areas (A, B and C), which was collected the material for classification. There were two collections (summer and winter) and compared their biomass and distribution along the mangrove. This study revealed that the influence of the weather provides the development of these algae, total biomass was considerably higher in the summer than in the winter. Kyewords: Macroalgae. Biomass. Season INTRODUÇÃO De acordo com Schwarz (2003), o World Mangrove Atlas fez em 1997 uma estimativa de áreas totais de manguezais no mundo, chegando a aproximadamente 18 milhões de hectares. Entretanto, os números atuais ainda permanecem desconhecidos, com o agravante de que em 2002 a ITTO (International Tropical Revista Semioses, v 10, n.03, 2016 62

FLORA FICOLÓGICA DO MANGUEZAL DE ITACURUÇA / RJ Timber Organisation) estimou que em apenas uma década aproximadamente 100 mil hectares de mangue foram destruídos por ano. Wilkie e Fortuna, S (2003) afirmam que existem entre 1.000.000 e 2.000.000 hectares de manguezal no território brasileiro. Segundo Schwarz (2003), os manguezais se desenvolvem no campo de interação entre a terra e o mar, sofrendo mudanças constantes com a penetração do mar na competição pela terra e ainda são afetados pelo desenvolvimento de captação. Os manguezais são ecossistemas típicos de litorais, que tem por principal característica sua grande produtividade secundária e importância vital no desenvolvimento de vida de diversas espécies marinhas. Possuem, também, importância quanto à produtividade primária, representada por sua grande diversidade de espécies fotossintéticas, em que as algas possuem papel importante (Branco et al. 2003). Os autores ainda ressaltam que, mesmo que os manguezais sejam ambientes de grande riqueza, faz-se necessária uma grande adaptação fisiológica para os organismos que ali habitam tanto fauna quanto flora. A realidade de altas variações de salinidade que acontecem diariamente por causa da mistura de águas doce e salgada, controlada pela variação das marés, tem participação direta no estresse natural neste ambiente. Deve-se considerar também a participação da característica instável do solo formado por partículas muito finas e a expressivas mudanças na quantidade de água presente nestes ambientes. Os manguezais são ecossistemas que sofrem com a ação antrópica devido à crescente expansão urbana costeira, seja desmatando para obtenção de madeira, aquicultura, poluição de rios, modificações de seus cursos naturais e alterações hidrológicas devido a dragagens ao longo de sua extensão (ALONGI, 2002). O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em sua resolução de nº 303, do dia 20 de Março de 2002 dispõe sobre a necessidade de regulamentar as Áreas de Proteção Permanente (APPs). Levando em consideração que as APPs e outros ambientes territoriais que são protegidos em especial como importante instrumento de interesse ambiental, inclui-se nessas regulamentações o desenvolvimento sustentável e o valor dessas áreas no interesse das próximas gerações, e por tanto, em seu artigo 3º delibera que toda a extensão do manguezal seja considerado Área de Proteção Permanente (APP). Os manguezais são ecossistemas frágeis sujeitos a ações antrópicas diretas e indiretas, logo, estudos descritivos são necessários para conhecimento prévio das comunidades que os mangues abrigam para que, futuramente, em caso de interferências ou acidentes oriundos de atividades antrópicas, existam estudos para acompanhar as possíveis modificações. Este estudo pode servir de subsídios para avaliação deste ambiente. O presente estudo tem como objetivo identificar a expressão da assembleia de macroalgas do manguezal de Itacuruçá (Mangaratiba/ RJ). Como objetivos específicos: (1) Fazer o levantamento das espécies aderidas a troncos de mangue no manguezal de Itacuruçá (RJ); (2) Avaliar o peso seco das espécies que se expressam em três subáreas do manguezal de Itacuruçá (RJ) e nas duas estações no espaço de um ano; (3) Comparar a expressão de macroalgas entre as subáreas e entre as estações do ano. 2 Área de Estudo O manguezal de Itacuruçá (22º56 S: 43º53 W) está localizado no Distrito de Itacuruçá, Município de Mangaratiba, RJ (SIL- VA, 2007). Este manguezal possui fragmentos significantes de Mata Atlântica em estágio secundário, uma área de 994 hectares e sofre muita influência antrópica (MENEZES et al, 2008). O estado do Rio de Janeiro possui uma boa variedade de grandes ecossistemas, dentre eles está a Baía de Sepetiba, que apresenta uma área de 520 km², restringido a norte e a leste pelo continente e ao sul e a oeste pela Baía da Ilha Grande (Figura 1). Com a progressão da Restinga de Marambaia, houve uma considerável diminuição da hidrodinâmica local, o que permitiu o depósito da sedimentação oriunda dos rios, possibilitando a progressão dos manguezais, entre eles o presente manguezal em estudo. 63

Viviane da Silva Pinheiro Figura 1: Foto aérea do manguezal de Itacuruça/RJ. Fonte: Google Earth (2016) A área de ocupação do manguezal de Itacuruçá (Figura 2) foi dividida em três regiões de acordo com a estratificação da penetração da água do mar. O setor A = mais a montante, o setor B = intermediário e o setor C = mais a jusante. Figura 02 Mapa ilustrando a divisão das áreas. Fonte: Imagem cedida por Clarson Marinho e editada por Viviane da Silva Pinheiro. 3 METODOLOGIA 3.1 Análise qualitativa As coletas foram realizadas em duas estações do ano mais extremas: março (Verão) e agosto (Inverno) de 2016 com a finalidade de acompanhar a expressão na diversidade de espécies encontradas no manguezal. Foram selecionados aleatoriamente 10 troncos em cada setor (A, B e C) e na altura média de ocorrência de macroalgas foi raspada uma faixa de 10 cm em cada tronco (Machado; Nassar 2007). O material raspado foi acondicionado em sacos plásticos devidamente etiquetados, fixados em formaldeído e encaminhado ao laboratório de Zoobotânica das Faculdades Integradas Maria Thereza (FAMATH) para identificação, sempre que possível em nível de espécie. As amostras foram lavadas sob peneira e analisadas segundo bibliografia especializada (JOLY, 64

FLORA FICOLÓGICA DO MANGUEZAL DE ITACURUÇA / RJ 1965; NASSAR, 2012 e WYNNE, 2011). Após a identificação, as macroalgas foram divididas por espécies em frascos opacos e mantidas em temperatura ambiente aguardando a análise quantitativa. 3.2 Análise quantitativa Para obtensão do peso seco, as amostras foram reunidas por táxons, área e estação do ano e levadas à estufa 60º por três dias. Após a estabilização do peso seco foram pesadas em balança digital de precisão. Para cálculo da área foi usada a fórmula abaixo. Onde: H f = Altura da faixa; DAMOM = Diâmetro à Altura Media de Ocorrência de Macroalgas; N = Número de indivíduos de mangue. 3.3 Análise estatística Os dados finais foram submetidos à analise não paramétrica através do Programa PRIMER 5.2 afim de observar a similaridade entre os pontos e as épocas de coleta. Dados de Diversidade de Margalef (d) e de Equitabilidade de Pilou s (J ) também foram obtidos segundo as fórmulas abaixo. Onde: S= número de espécies; N = total de indivíduos. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificados seis táxons de macroalgas associados aos troncos de mangue no manguezal de Itacuruça/RJ: Bostrychia moritziana (Sonder ex Kützing) J.Agardh; Bostrychia caliptera (Montagne) Montagne; Catenella caespitosa (Withering) L.M.Irvine; Caloglossa leprieurii (Montagne) G.Martens; Bostrychia radicans (Montagne) Montagne e Rizoclonium spp.. Assim como consideram Machado & Nassar (2006), as espécies de Bostrychia apresentaram biomassa expressiva em todos os pontos, e as espécies C. caespitosa e B. radicans possuem ocorrências ocasionais, assim como foi observado por Pedrini (1997). O maior índice de Diversidade foi apontado no Verão na área B (intermediária) e o menor na área A (a montante). O Índice de Equitabilidade variou de 0,12 (área C no Inverno) à 0,75 (área A no Verão) e mostrou domínio de uma espécie na área A, tanto no verão quanto no Inverno (quadro 1). Quadro 1: Resultado dos Índices ecológicos aplicados às amostras do manguezal de Itacurucá/RJ -Onde d = Diversidade de Margalef e J = Equitabilidade de Pielou s (PRIMER). FONTE Foi observada a ausências de indivíduos de C. caespitosa, C. leupreurii e Rizoclonium spp. entre as amostras de Inverno e de B. radicans entre as amostras de verão. C. leupreurii e Rizoclonium spp., apesar de presentes entre as amostras de verão apresentaram biomassa pouco expressiva (0,001 g e 0,052 g respectivamente). Pellizzari (2014) encontrou C. caespitosa e Rizoclonium spp. apenas no verão, enquanto que as espécies C. leprieurii, B. caliptera, B. moritziana, B. radicans foram encontrada tanto no Inverno quanto no Verão, contrastando com este estudo sobre as espécies C. leprieurii 65

Viviane da Silva Pinheiro (encontrada apenas no Verão) e B. radicans (encontradas apenas no inverno). A coleta de verão apresentou maior biomassa (61,9g) com grande expressividade de um táxon em ambos períodos de coleta. Bostrychia moritziana apresentou maior biomassa em peso seco nos dois períodos de coleta representando aproximadamente 85% da biomassa no Verão e 89% no Inverno, apesar de não ter sido observada entre as amostras da área no inverno. Caloglossa leprieurii foi encontrada somente no verão, embora Pellizzari (2014) tenha encontrado no verão e no inverno. Este estudo mostrou uma grande predominância de Bostrychia moritziana no verão, apresentando maior biomassa na maioria das áreas, comparado ao inverno (Tabela 1) e baixa predominância de Bostrychia radicans. Pellizzari (2014), observou uma baixa predominância de Bostrychia moritziana no verão e igual predominância em ambas as estações com relação á Bostrychia radicans. A espécie C. caespitosa apresentou baixa predominância também, sendo que só foi encontrado em duas das três áreas e apenas no verão, o que foi explicado por Pedrini (1997), que afirma que a espécie C. caespitosa encontra-se dentro do grupo de ocorrências ocasionais. Rizoclonium spp e Caloglossa leprieurii foram encontradas em apenas uma das áreas, e com uma pequena representatividade no verão, embora Yokoya (1999) tenha encontrado Rizoclonium spp durante todo o ano e a Caloglossa leprieurii tenha aparecido em todas as suas áreas de estudo. Tabela 1: Biomassa seca dos táxons de macroalgas encontrados nos troncos de mangue no manguezal de Itacuruçá/RJ Verão Inverno Táxons / Áreas A B C A B C Bostrychia moritziana 0,628 17,938 34,291 no. 3,089 31,73 Bostrychia caliptera 0,086 3,302 3,109 0,365 0,756 0,92 Catenella caespitosa 1,016 no. 1,48 no. no. no. Caloglossa leprieurii no. < 0,001 no. no. no. no. Bostrychia radicans no. no. no. 1,62 0,008 0,047 Rizoclonium spp no. 0,052 no. no. no. no. Total 61,903 38,535 Atenção: (no.) = não observado nas coletas. A análise de similaridade de Bray-Curtis forneceu dois agrupamentos onde o primeiro reuniu amostras da área C (verão e inverno) e da área B (verão) com 90% de similaridade. O segundo agrupamento reuniu amostras da área A (verão e Inverno) e da área B (Inverno) com menor similaridade (84%). O dendograma demonstrou grande similaridade entre as mostras coletadas na Área C, tanto no verão quanto no Inverno (94 %). As áreas apresentaram grande similaridade e ficaram reunidas em mais e 65% de similaridade. (Figura 3). Figura 3: Dendograma de similaridade de Bray-Curtis entre as amostras coletadas Onde: AV = área A verão; BV = área B verão; CV = área C verão; AI = área A inverno; BI = área B inverno e CI = área C inverno. 66

FLORA FICOLÓGICA DO MANGUEZAL DE ITACURUÇA / RJ O Escalonamento Muldimensional (MDS) confirmou os agrupamentos apresentados no dendograma, com nível de estresse satisfatório (0,0) para respaldar sua interpretação, apesar de sugerir uma pequena distorção dos dados. Esse estresse pode ser resultante do número baixo de amostras, mas esperado para comunidades de macroalgas com ocorrência em manguezais (Figura 4). Figura 4: MDS para análise de similaridade de Bray-Curtis entre as amostras coletadas F Onde: AV = área A verão; BV = área B verão; CV = área C verão; AI = área A inverno; BI = área B inverno e CI = área C inverno. 67

Viviane da Silva Pinheiro CONCLUSÃO O presente estudo revelou a influência que o clima proporciona no desenvolvimento de macroalgas, visto que a biomassa total do verão foi consideravelmente maior do que a do inverno. O maior índice de diversidade foi apontado no Verão e os menores no Inverno. O gênero Bostrychia foi o mais abundante, estando presente em todas as áreas e estações. Foram identificados seis táxons de macroalgas no manguezal de Itacuruçá. De acordo com a distribuição da flora algal encontrada ao longo dos 30 pontos de coleta, a espécie Bostrychia moritziana destacou-se quantitativamente nas duas estações coletadas. As espécies Rizoclonium spp. e Caloglossa leprieurii foram encontradas em apenas uma das áreas da coleta feita no Verão. Considerando a diversidade de espécies encontradas em cada estação. Conclui-se que o desenvolvimento das macroalgas e sua distribuição são mais abrangentes no Verão. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONGI, D. M. Present state and future of the world s mangrove forests. Environmental conservation, v. 29, n. 03, p. 331-349, 2002. BRANCO, L. H. Z., MOURA, A. D. N., SILVA, A. C. D., & BITTENCOURT-OLIVEIRA, M. D. C. Biodiversidade e considerações biogeográficas das Cyanobactérias de uma área de manguezal do Estado de Pernambuco, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 17, p. 585-596, 2003. CONAMA, RESOLUÇÃO. Nº 303, DE 20 DE MARÇO DE 2002. 2010. disponível em: http://www. mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30302.html CUNHA, S. R. da; COSTA, C. S. Gradientes de salinidade e freqüência de alagamento como determinantes da distribuição e biomassa de macroalgas associadas a troncos de manguezais na Baía De Babitonga, SC. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, v. 6, n. 1, p. 93-102, 2002. JOLY, A. B. Flora marinha do litoral norte do Estado de São Paulo e regiões circunvizinhas. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Botânica, v. 21, p. 1-393, 1965. KIM, G. H., SHIM, J. B., KLOCHKOVA, T. A., WEST, J. A., & ZUCCARELLO, G. C. The Utility Of Proteomics In Algal Taxonomy: Bostrychia Radicans/B. Moritziana (Rhodomelaceae, Rhodophyta) As A Model Study1. Journal of phycology, v. 44, n. 6, p. 1519-1528, 2008. MACHADO,G. E. M.; NASSAR, C. A. G. Assembléia de macroalgas de dois manguezais do Núcleo Picinguaba Parque Estadual da Serra do Mar, São Paulo, Brasil. Rodriguésia Vol. 58, No. 4 (2007), pp. 835-846 MENEZES JR, L. F. Deslocamento de Artibeus lituratus (Olfers, 1818) (Mammalia, Chiroptera) entre ilha e continente no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Biota Neotropica, v. 8, n. 2, p. 243-245, 2008.(PAGINA 244) NASSAR, C. A. G.. Macroalgas marinhas do Brasil: guia de campo das principais espécies. Technical Books Editora, 2012. PEDRINI, A.G.; LIMA, D.S.; FILHO, O. P., SIL- VA, M.V. & PAULA, J. C. Algas Bentônicas Da Lagoa De Marapendi, Rio De Janeiro, RJ, Brasil1. Albertoa, v. 4, n. 18, p.233-244, 1997. PELLIZZARI, F. M., BERNARDI, J., SILVA, E. M., SILVA, M. C., & YOKOYA, N. S.. Benthic Marine Algae From The Insular Areas Of Paraná, Brazil: New Database To Support The Conservation Of Marine Ecosystems. Biota Neotropica, v. 14, n. 2, 2014. SCHWARZ, A. M. Spreading Mangroves: a New Zealand Phenomenon or a Global Trend. Water and Atmosphere, v. 11, p. 8-10, 2003. SILVA, Z. S. Estratégia Reprodutiva Do Caranguejo Goniopsis Cruentata (Latreille, 1803) (Crustacea, Brachyura, Grapsidae) No Manguezal De Itacuruçá, Baía De Sepetiba, RJ, Brasil. Seropédica: UFRRJ, 2007. WALSH, Gerald E. Mangroves: A Review. Ecology of halophytes, p. 51-174, 1974. WILKIE, M.L.; FORTUNA, S. Status And Trends In Mangrove Area Extent Worldwide. Forest Resources Assessment Programme. Working Paper (FAO), 2003. WYNNE, M. J. A checklist of marine algae of the tropical and subtropical western Atlantic: second revision. Nova Hedwigia, v.129, p.1-152, 2011. YOKOYA, N. S., PLASTINO, E. M., BRAGA, M., ROSÁRIO, A., FUJII, M. T., CORDEIRO- -MARINO, M. & HARARI, J. Temporal And Spatial Variations In The Structure Of Macroalgal Communities Associated With Mangrove Trees Of Ilha Do Cardoso, São Paulo State, Brazil. Brazilian Journal of Botany, v. 22, n. 2, p. 195-204, 1999. 68