Disciplina FLG 141 Introdução à Cartografia Prof a Fernanda Padovesi Fonseca A LOCALIZAÇÃO NA SUPERFÍCIE TERRESTRE
ESPAÇO E TEMPO PARECEM TER UMA PRECÁRIA EXISTÊNCIA NA MENTE DOS CHAMADOS POVOS PRIMITIVOS, E SÓ FICAM MAIS SÓLIDOS COM A NOÇÃO DAS MEDIÇÕES. Carl Jung, Sincronicidade
Heranças do mundo grego para a cartografia Cláudio Ptolomeu, viveu em Alexandria, século II, e era um astrônomo e geógrafo. Usando os recursos da magnífica biblioteca da cidade ele produziu uma vasta obra cujos destaques são: A Grande Sintaxe Matemática e a Geografia. Nessas obras ele apresenta grande parte do conhecimento da antiga civilização grega. Em sua obra aparecem mapas extraordinários. Neles já estão presentes técnicas que encontramos nos mapas atuais e que compõem nosso SISTEMA DE ORIENTAÇÃO. Medidas da Terra - Pontos cardeais - Coordenadas geográficas - Projeção cartográfica Como os gregos produziram tanto conhecimento se por volta de 150 a.c. conheciam diretamente apenas uma pequeníssima parte da superfície terrestre (algo em torno de 8%)? Mesmo sem poder percorrer o planeta eles deduziram: o tamanho da Terra e sua esfericidade. O recurso que eles utilizaram foi a observação dos astros, o que veio constituir uma área do saber: a Astronomia. Algo, aparentemente banal, na observação dos astros foi chave para a produção de tanto conhecimento: a posição vertical do Sol em relação a um lugar. O momento do zênite solar. A observação atenta desse detalhe está na base da criação das coordenadas geográficas e da definição de pontos de orientação: os pontos cardeais.
OS GREGOS E O PARADIGMA ZENITAL CONHECIMENTOS E IDEIAS PRODUZIDOS A PARTIR DA OBSERVAÇÃO DO MEIO-DIA 1. A medida da circunferência da Terra: feita por Eratóstenes a partir da observação de um fenômeno na região de Syenes. Ele notou a imagem do Sol estava inteiramente refletida num fundo de poço. Os raios solares estavam verticais. Essa posição só acontece em duas épocas do ano em alguns lugares do planeta. No solstício de 21 de dezembro para o hemisfério Sul e no solstício de 21 de junho para o hemisfério Norte e nos dias próximos a eles. Como em outras localidades a distâncias conhecidas de Syenes esse meio-dia perfeito não ocorria, sempre havendo uma pequena sombra Eratóstenes concluiu que a Terra era curva e pôde calcular a medida de sua circunferência. 2. Pontos Cardeais: o uso do movimento aparente do Sol, da posição de nascimento (nascente, levante, oriente), passando pelo zênite solar, até a posição de desaparecimento do Sol (poente, ocidente), como fator de criação dos pontos cardeais, atualmente conhecidos por palavras de origem viking (Norte, Sul, Leste e Oeste).
FONSECA, Fernanda Padovesi; COSTA, Gilberto Pamplona ; OLIVA, Jaime Tadeu ; GIANSANTI, Roberto. Olhar Geográfico - 5ª série. 1ª. ed. São Paulo: IPEB - Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas, 2006. v. 1. 208p. P. 82
Etomologia de alguns termos (signos ) importantes Meridiano Derivada do latim meridiem quer dizer meio-dia Trópico De tropismo movimento de aproximação e afastamento. Um percurso. Equador Do latim Equalis, quer dizer, equânime, das a duas partes, igualdade. Paralelos Termo empregado para os traços que seriam paralelos ao Equador Solstício Do latim Sol stat. O sol pára. Sol parado numa posição. Equinócio Do latim Equi nox. Igual noite. Igual ao dia. 12 horas para cada um.
OS GREGOS E O PARADIGMA ZENITAL (II) 3.Meridiano: coordenada geográfica norte-sul que divide a esfera terrestre em duas partes iguais. 4. Equador: combinando os pontos cardeais com a medida da circunferência traçou-se um paralelo central na direção leste-oeste, que divide a Terra em duas partes iguais (equales, em latim): o Equador. 5. Trópicos: a percepção de que apenas numa faixa do globo que parte do equador na direção sul e na direção norte podem ocorrer meio-dias perfeitos deu origem a ideia de trópicos. É na faixa intertropical que ocorrem os momentos de zênite solar.
http://www.eram.k12.ny.us/education/compon ents/docmgr/default.php?sectiondetailid=175 00&catfilter=451#showDoc
UM MUNDO EM PARTES: UMA LONGA CRIAÇÃO DA CARTOGRAFIA Mapa T-O, aparece pela primeira vez numa obra de Isidoro de Sevilla, (aqui numa publicação de1472). Agora, vamos propor uma reflexão sobre a história da Cartografia e do conhecimento sobre o planeta. Leiam: A Europa é sobretudo uma ideia, mais que uma porção delimitada da superfície terrestre. Isso levanta o problema das divisões. São naturais ou culturais? Derivam da geografia física ou da geografia humana? (Grataloup, p. 17) Se admitirmos que é cultural, a divisão poderia ser outra. Observe a figura ao lado: trata-se de um representação medieval do mundo que ficou célebre como mapa T- O. Nela, o mundo está dividido em três continentes que seriam os segmentos povoados pelos três filhos de Noé. É evidente a vinculação da representação com a narrativa bíblica. Embora, com um olhar atual, não se perceba nenhum realismo nessa representação, ela deixou heranças duradouras: a ideia de velho mundo e novo mundo (a América que se acrescenta), a ideia de orientação do mapa (afinal ele tem o Oriente no alto), e especialmente a separação Ásia e Europa, que na verdade do ponto de vista físico compõem um único bloco continental.
A IMPORTÂNCIA DA IMPRENSA O primeiro mapa impresso é um mapa-múndi esquemático em T-O, que aparece numa edição das Etymologies de Isidoro de Sevilha (Augsbourg, 1472). O novo meio favorece inicialmente às formas tradicionais de saber e de literatura e responde a demanda de um público letrado que era ainda aquele do livro manuscrito. (Christian JACOB, p. 90)
PAPEL DA OBRA DE PTOLOMEU A redescoberta da Geografia de Ptolomeu é exemplar dessa dinâmica [o surgimento da imprensa]. A obra do cartógrafo alexandrino do século II de nossa era estava perpetuada na tradição bizantina e era conhecida também dos sábios árabes. Ela é, por outro lado, ignorada do Ocidente latino [...] É no final do século XIV que os primeiros manuscritos gregos de Ptolomeu são introduzidos na Itália, a favor do renovado interesse pelo helenismo. Em 1409, Jacopus Angelus termina a tradução latina do texto: seu manuscrito é recopiado e é distribuído nas bibliotecas européias. Copia-se também, por vezes, os mapas que eram encontrados nos manuscritos bizantinos... (Christian JACOB, p. 90)
PAPEL DO MAPA DE PTOLOMEU A redescoberta de Ptolomeu no século XV é certamente um dos eventos fundadores da cartografia moderna. Parecia, entretanto, que esse retorno [a uma obra do século II] à ciência alexandrina constituía uma regressão em relação à cartografia náutica [portulanos], cuja finalidade prática implicava uma representação tão fiel e atual quanto possível das costas do mar Mediterrâneo como das costas atlânticas. Retornar a Ptolomeu, era momentaneamente negligenciar as explorações mais recentes em proveito de uma representação do mundo ultrapassada, nas suas opções cosmográficas como em relação sua nomenclatura toponímica. O retorno, entretanto, não foi em vão. Independentemente de sua exatidão e de sua atualidade, a Geografia de Ptolomeu traz um novo modelo de cartografia, novos instrumentos técnicos e conceituais. O tratamento da cartografia moderna, constitui um dos resultados da ciência grega e dos diferentes sistemas de projeção e suas geometrias respectivas, e dá instruções precisas para traçar o conjunto de pontos geodésicos levantados em vista do estabelecimento de um mapa que recobrem o desenho cartográfico. Os mapas regionais, são traçadas sobre uma grade ortogonal, que permite localizar os lugares segundo suas coordenadas de longitude e de latitude. A Geografia de Ptolomeu, após sua introdução teórica, se apresenta por outro lado, como um catálogo de posições e de topônimos, que devem permitir preencher os diferentes mapas regionais do mundo. (Christian Jacob)
PAPEL DO MAPA DE PTOLOMEU Redescoberta da ciência grega, certamente, mas também etapa decisiva para redefinir os métodos da cartografia moderna: a ausência de projeção e de quadriculagem dos mapas náuticos, invadidos pelos reticulados das linhas de rumo (Rhumbs lines), cuja retilinearidade poderia somente definir as rotas marítimas, as primeiras edições impressas de Ptolomeu oferecem a solução de uma geometria que evita alterar as formas do mapa-múndi quando se aproxima dos pólos, de uma cartografia localizando os lugares segundo posições mensuráveis... A Geografia de Ptolomeu desempenha na cartografia do Renascimento o papel que desempenhará o Almagesto do mesmo autor para a Astronomia e a cosmologia modernas: nem Mercator nem Copérnico não teriam sido possíveis sem esse ponto de partida. A imprensa conduz a difusão dos mapas de Ptolomeu, a multiplicação das edições permite o aperfeiçoamento progressivo das pranchas. Comparando esses mapas com as cartas náuticas (portulanos), constata-se a informação ultrapassada dos primeiros, e a falta de projeção dos portulanos. Donde a interpolação dos mapas modernos com a coleção de Ptolomeu, mostrando os primeiros signos de uma partilha entre uma cartografia histórica e uma cartografia devotada à descrição do mundo atual, com sua toponomia, suas divisões de fronteiras. Quadro esse anterior de uma ruptura mais radical com a herança grega, e que inicia-se com a realização do primeiro atlas moderno, o Theatrum orbis Terrarum de Ortelius (1570). (Christian Jacob)
A REVOLUÇÃO PTOLOMAICA E A INCLUSÃO DA AMÉRICA Planisfério de Waldseemuller (1507) Primeira aparição da palavra América. Este mapa foi feito em Saint-Dié-des-Vosges, na França, em 1507 para uma nova edição da Geografia de Cláudio Ptolomeu. A oeste do planisfério um continente muito estreito e alongado permite reconhecer o litoral oriental da América. A palavra America aparece pela primeira vez, na parte mais larga da América do Sul. No final do século XIII os mapas T-O estavam com seus dias contados. A multiplicação de informações, os problemas cartográficos cada vez mais insuperáveis (como a medida da latitude) colocados pela hipótese da Terra plana, estão na origem da procura de uma outra concepção do mundo. É nesse momento que se dá a revolução ptolomaica, e se retoma o entendimento da esfericidade da Terra. No final do século XV e início do XVI muitos cartógrafos empreenderam a tarefa de corrigir (acertar medidas, acrescentar partes) o mapa de Ptolomeu.