Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Doutores 2010: estudos da demografia da base técnico-científica brasileira - Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2010. DOUTORES BRASILEIROS E ÁREA MULTIDISCIPLINAR 1. Introdução Este livro se dedica a aprofundar e divulgar conhecimentos sobre a formação, emprego e as características demográficas dos doutores no Brasil1. São apresentadas informações detalhadas e na sua maior parte originais sobre a formação 1 A realização desses estudos é resultado de um intenso processo de colaboração do CGEE com o próprio MCT, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério da Previdência Social.
de doutores titulados no Brasil no período 1996-2008 e sobre o emprego destes no ano de 2008. A essas informações foi adicionada uma análise demográfica que buscou situar essa população específica na dinâmica populacional brasileira mais ampla. A expectativa é a de que esses registros possam vir a constituir-se numa importante fonte de informações sobre carências do mercado de trabalho brasileiro. Em especial, nesse momento, fizemos a seleção de informações e gráficos referentes aos doutores da Área Multidisciplinar. Esse eixo de formação no Brasil apresentou uma situação ímpar nesse relatório de 510 páginas sobre a atual pósgraduação brasileira. Referimo-nos a formação científica do país que passa por um intenso processo de crescimento, diversificação e amadurecimento, e nesse sentido, já atingiu uma escala e um padrão de qualidade que a distingue entre as nações emergentes. Os doutores constituem não só os indivíduos que receberam o mais elevado nível de qualificação educacional possível, como também compõem a parcela dos recursos humanos que foi treinada especificamente para realizar pesquisa e desenvolvimento (CGEE, 2010, p. 17). Mais de 87 mil pessoas obtiveram títulos de doutorado no Brasil no período de 1996 e 2008. O número de titulados no ano de 2008 foi 278% superior ao dos que titularam no ano de 1996. O objetivo principal do conjunto de estudos divulgados é contribuir para a ampliação e a divulgação de conhecimentos e informações sobre a população de doutores brasileiros, seu crescimento, diversidade, áreas de formação, condições de emprego, setores de atividade, remuneração, ocupação, composição por raça ou cor e por gênero, distribuição espacial, etc. (CGEE, 2010, p. 15). 2. Análise de Dados O desempenho mais destacado entre os doutores brasileiros aconteceu na área multidisciplinar. O crescimento anual médio do número de titulados nessa área foi de 59,8%. É bem verdade que a área praticamente não existia em 1996, quando apenas 3 doutores (0,1% do total) obtiveram seus títulos na área multidisciplinar. Contudo, o fato de a área ter titulado 415 doutores (3,9% do total) em 2008 e extraordinário e pode estar relacionado com o processo de mudança estrutural por
que passa atualmente a C&T, no qual se reduz a nitidez das fronteiras que separam as áreas do conhecimento e a própria ciência da tecnologia. Um item interessante é a inversão que teve no investimento das universidades federais que ultrapassaram o número de doutorados e da formação de doutores, em relação às universidades estaduais. Tanto, nota-se que o MEC a partir de suas normas e avaliações institucionais exigiu das universidades particulares adequações no sentido de estruturação de programas de pós-graduação. As universidades particulares absorvem mais facilmente a área multidisciplinar, pois seus editais são mais flexíveis e ainda se faz processos seletivos simples para cobrir espaços de docência em seus quadros.
O emprego dos doutores brasileiros é muito menos concentrado regionalmente do que a formação de doutores, isto é, muitos dos que titulam nos pólos de formação de doutores vão trabalhar em outras regiões ou unidades da federação. Além disso, o próprio emprego dos doutores está passando por um processo de progressiva desconcentração. Aos poucos ele começa a se direcionar para outras áreas de atuação além da educação. A docência ainda é a maior fonte de emprego e ressaltamos aqui as instituições federais, que tem uma formação contínua dentro do seu próprio quadro de professores. Professores que há 10 ou 15 anos atrás davam aula nessas instituições e não tinha formação stricto sensu, aos poucos receberam oportunidades, incentivos e valorização salarial para dar um upgrade na sua formação. Em destaque, professores que fizeram formação de doutorado no Exterior e os que recentemente foram incorporados aos Institutos Federais de Educação, que oportunizam aos professores fazer também essa formação, sem ônus para o colaborador, sem sair do sistema.
Chamamos atenção aqui para área de administração pública. No estado de Santa Catarina, vários concursos, principalmente os estaduais, já tem como etapa da seleção a prova de títulos. Nesta prova, existe uma valorização bem acentuada para os titulados mestres e doutores. Em relação quantidade de doutores e doutoras, as mulheres deixaram de ser minoria entre os doutores titulados no Brasil a partir do ano de 2004. O Brasil é um país pioneiro entre aqueles que conseguiram alcançar esse marco histórico da igualdade de gênero no nível mais elevado da formação educacional.
Em paralelo, acredito ser importante destacar as projeções demográficas da população brasileira. Indica-se que os grupos de idade acima de 25 anos serão, no Brasil, os de maior crescimento populacional durante os próximos trinta anos. Com isso, quase metade da população brasileira deverá estar na faixa de 35 a 54 anos de idade por volta do ano 2040. Projeções essas, que começam a direcionar públicos-alvo, concorrências possíveis e evolução no ensino, no sentido de mais pessoas envolvidas com pós-graduações.
O fato mais marcante do período foi à rápida expansão de programas de doutorado de natureza multidisciplinar, que cresceram 730% durante o período. Esta característica está certamente associada a recente evolução da ciência que tem integrado áreas tradicionais do conhecimento científico, aumentado a densidade de conhecimento científico na fronteira do desenvolvimento tecnológico e ampliado as zonas de fertilização mútua onde, muitas vezes, é difícil distinguir tanto os limites das disciplinas tradicionais, quanto às fronteiras entre aquilo que é considerado rigorosamente científico e aquilo que é essencialmente tecnológico. Existiu também um crescimento, na área multidisciplinar de programas com alta pontuação na avaliação da CAPES.
É interessante notar que os programas multidisciplinares são os mais recentes a se instalar no Brasil e que seu padrão de distribuição espacial reflete as novas tendências de desconcentração regional, as quais ainda vão provavelmente demorar a se manifestar nas áreas mais tradicionais da pós-graduação.
Aqui situamos a localização dos cursos da área multidisciplinar em instituições federais, estaduais, municipais e particulares, dando destaque a quantidade deles em instituições federais que gozaram de uma estrutura e financiamentos maiores do governo nos últimos anos.
Aqui se exemplifica alguns doutorados na área multidisciplinar e sua quantidade de alunos entre homens e mulheres. Destacando a maioria das mulheres em doutorados multidisciplinares na área de ensino e maioria de homens na área de materiais (engenharias). 3. O emprego dos doutores no Brasil Aqui, começamos uma discussão sobre a empregabilidade dos doutores formados em programas multidisciplinares. Em um panorama geral nota-se o aumento do desemprego para os titulados doutores no Brasil. Mas esse gráfico comparado com o aumento do número de doutores no Brasil nos últimos anos, mostra que o número de VAGAS não foi suficiente para absorver os docentes formados no mercado, ou em outras ocupações disponíveis. Cresceu muito o número de formados e as vagas não supriram essa necessidade de empregabilidade.
é curioso notar que os doutores das ciências exatas e da terra apresentam tanto a menor média de vínculos empregatícios, como a menor taxa de emprego, enquanto que os doutores das ciências sociais aplicadas não só apresentam a mais alta taxa de emprego, como estão no grupo que apresenta a média mais elevada de vínculos empregatícios. Aqui a percentagem dos doutores formados na área multidisciplinar se encontra em uma condição mediana.
Destaque para contratação e absorção desse contingente nos grandes centros urbanos, não necessariamente os estados mais populosos, dando destaque a região Sul e Sudeste. 3.2. Remuneração Os doutores titulados entre 1996 e 2006, que se encontravam empregados no ano de 2008, receberam a remuneração média mensal de R$ 7.671,00, a preços de novembro de 2009, na soma de seus vínculos empregatícios.
Os doutores do sexo feminino receberam no ano de 2008 uma remuneração mensal média 11% menor do que a dos doutores do sexo masculino. A remuneração média dos doutores, no ano de 2008, na região Centro-Oeste é 13% superior à média nacional. A área multidisciplinar continua com sua valorização, agora na área salarial, tendo a terceira maior remuneração. Destacamos novamente, que a área da educação é a maior empregadora dos doutores do Brasil com quase 77% das oportunidades, seguida da área pública com 11% das oportunidades. O caráter da formação de um doutorado é formar docentes e pesquisadores, não especificando na pesquisa sobre a diferença, por exemplo, de um mestrado acadêmico e profissional e suas destinações, nem dados de empregabilidade na área específica da pesquisa (P&D).
Os doutores foram analisados também, no sentido de saber a quantidade de vínculos empregatícios que eles tiveram. Geralmente a condição de vínculo em uma universidade federal, a maior empregadora desses doutores, exige dedicação exclusiva, o que diminui a média de vínculos.
Os recém-doutores da área Multidisciplinar não se distanciam na porcentagem de empregabilidade, estando em 5 lugar nesse item. Acompanhando o aumento de vagas nessa área e a quantidade crescente de doutores formados.
Essa empregabilidade e índice de vínculos empregatícios dentro da área multidisciplinar, em especial na área interdisciplinar, apresenta um bom índice de acesso ao mercado formal.
A partir deste relatório é possível traçar, sucintamente, parâmetros sobre a atual formação, atuação e empregabilidade dos doutores no Brasil e estratificar de forma positiva, que a área multidisciplinar se encontra em expansão e seu mercado de atuação cresce na mesma proporção. Com novos planos, ementas e vagas em concursos, propiciando ao doutor da área interdisciplinar uma boa perspectiva de surgir mais cursos formação e áreas de inserção profissional, aqui estamos, para construir com excelência a caminhada da área multidisciplinar.