AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 233781-52.2013.8.09.0000 (201392337810) COMARCA DE GOIÂNIA AGRAVANTE : CARLOS MARANHÃO GOMES DE SÁ AGRAVADO RELATOR : MINISTÉRIO PÚBLICO : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO RELATÓRIO E VOTO Carlos Maranhão Gomes de Sá interpõe recurso de agravo de instrumento com pedido de efeito suspensivo contra decisão proferida pela MM. Juíza de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca de Goiânia, nos autos da ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra ele ajuizada pelo Ministério Público, aqui agravado. Na decisão recorrida (fls. 19/20), a dirigente do feito rejeitou as manifestações prévias dos requeridos e recebeu a petição inicial, determinando a citação dos demandados, nos moldes do artigo 17, 9º, da Lei nº 8.429/92. Em suas razões, após historiar os fatos, o agravante destaca a inexistência de nepotismo na contratação do Sr. Edmar Perillo, tio do governador Marconi Perillo, pois não 9 N AI 233781-52/an 1
possui com ele qualquer tipo de parentesco. Alega que o Sr. Edmar Perillo já ocupou diversos cargos públicos, o que nos mostra a sua experiência e expertise para desenvolver tais atribuições com a devida responsabilidade. Na sequência, afirma não possuir qualquer subordinação ao Governador do Estado de Goiás. Após, aduz que o fato de o agravante, então presidente da Metrobus, possuir relacionamento com o governador do Estado, não o impede de nomear o co-requerido. Colaciona jurisprudência. Aponta a inépcia da petição inicial, ante a ausência de suporte probatório das alegações aventadas. um funcionário fantasma. Refuta a tese de que o Sr. Edmar Perillo seria Liminar indeferida às fls. 171/174. Em sede de contrarrazões (fls. 180/192), o agravado alega que o Governador do Estado nomeia quem bem entender para chefiar uma Secretaria de Estado 9 N AI 233781-52/an 2
ou mesmo presidir uma autarquia, uma empresa pública ou uma sociedade de economia mista, razão por que pretender diminuir seu poder real de direção da Administração Pública estadual é militar contra a realidade. Afirma que a Metrobus é sociedade de economia mista, cujo capital majoritário pertence ao Estado de Goiás, jurisdicionada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Goiânia, sendo assim, se o Governador nomeia o Secretário de Estado que 'supervisiona' a sociedade de economia mista, é clarividente que controla ambos. conhecido e improvido. Por fim, pede que o presente agravo seja Instada a se pronunciar, a douta Procuradoria de Justiça ofertou o parecer de fls. 197/205, opinando pelo desprovimento do recurso, mantendo-se a decisão recorrida. É o relatório. Passo ao voto. Presentes os requisitos legais de 9 N AI 233781-52/an 3
admissibilidade do recurso interposto, dele conheço. Como visto, trata-se de agravo de instrumento interposto da decisão preliminar relativa à fase de recebimento da inicial proferida nos autos da ação civil pública por ato de improbidade administrativa com pedido de medida cautelar incidental proposta pelo Ministério Público, que rejeitou as manifestações prévias dos requeridos e recebeu a petição inicial, determinando a citação dos demandados, nos moldes do artigo 17, 9º, da Lei nº 8.429/92. O juiz singular assim compreendeu: A vista do exposto, rejeito as manifestações prévias (artigo 17, 8º da Lei 8.429/92) e, consequentemente, recebo a petição inicial, determinando a citação dos requeridos para contestarem, no prazo de 15 (quinze) dias (artigo 17, 9º da Lei 8.429/92 c/c artigo 297 di (sic) Código de Processo Civil). A Lei nº 8.429/92, em seu artigo 17, 6º, exige, para o recebimento da ação, tão somente que a petição inicial seja instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade. Senão vejamos: 9 N AI 233781-52/an 4
Art. 17- (...). 6º A ação será instruída com documentos ou justificação que contenham indícios suficientes da existência do ato de improbidade ou com razões fundamentadas da impossibilidade de apresentação de qualquer dessas provas, observada a legislação vigente, inclusive as disposições inscritas nos arts. 16 a 18 do Código de Processo Civil. Superior Tribunal de Justiça. Veja: A hipótese em questão já foi apreciada pelo PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECEBIMENTO DA AÇÃO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA. TIPIFICAÇÃO DOS ATOS. INDÍCIOS DE PRÁTICAS DE ATOS ÍMPROBOS. IN DUBIO PRO SOCIETATE. APLICAÇÃO DA LEI 8.429/1992 AOS AGENTES POLÍTICOS. COMPATIBILIDADE COM O DECRETO-LEI 201/1967. 1. (...) 9 N AI 233781-52/an 5
2. Em ação civil pública por ato de improbidade, basta que o autor faça uma descrição genérica dos fatos e imputações dos réus, sem necessidade de descrever em minúcias os comportamentos e as sanções devidas a cada agente. 3. Para fins do juízo preliminar de admissibilidade, previsto no art. 17, 7º, 8º e 9º, da Lei 8.429/1992, é suficiente a demonstração de indícios razoáveis de prática de atos de improbidade e autoria, para que se determine o processamento da ação, em obediência ao princípio do in dubio pro societate, a fim de possibilitar o maior resguardo do interesse público. Precedentes. 4. (...) 5. Recurso especial não provido. (STJ, 2ª T., REsp. nº 1.197.406/MS, Recurso Especial 2010/0107195-7, DJe de 15/08/2013, Rel. Min. Eliana Calmon). entendimento, ilustro: Esta Casa também compartilha o mesmo 9 N AI 233781-52/an 6
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA INDÍCIOS DE PROMOÇÃO PESSOAL DE AGENTE POLÍTICO EM PROPAGANDA OFICIAL. RECEBIMENTO DA INICIAL. ART. 17 DA LEI 8.429/92. Na fase preliminar de recebimento da inicial em ação de improbidade administrativa, vige o princípio do in dubio pro societate, isto é, apenas ações evidentemente temerárias devem ser rechaçadas, sendo suficiente simples indícios (e não prova robusta, a qual se formará no decorrer da instrução processual) da conduta ímproba. Verificando o julgador indícios suficientes da existência do ato de improbidade (art. 17, 6º, Lei nº 8.429/92), deve receber a petição inicial da ação civil pública e mandar processá-la, depois de facultar ao réu a oportunidade de prévia manifestação. (TJGO, 2ª Câmara Civil, Agravo de Instrumento nº 352022-19.2012.8.09.0000, Rel. (a) Des. Zacarias Neves Coelho, DJ nº 1.320 de 12/06/2013). 9 N AI 233781-52/an 7
Neste contexto, em um juízo de cognição preliminar, os indícios de atividade ímproba são suficientes para o recebimento da petição inicial, não se exigindo para tanto o exame aprofundado do mérito. Assim sendo, a existência de parentesco entre o Sr. Edmar Ferreira Perillo e o Governador Marconi Perillo, bem assim o teor das declarações colhidas, indicando que o agravante seria funcionário fantasma da Metrobus, são mais que suficientes para embasar o recebimento da petição inicial, posto haver fortes indícios de violação aos princípios da Administração Pública quando da contratação questionada. Ao teor do exposto, conheço do agravo e negolhe provimento para confirmar a decisão agravada. É como voto. Goiânia, 05 de dezembro de 2013. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO RELATOR 9 N AI 233781-52/an 8
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 233781-52.2013.8.09.0000 (201392337810) COMARCA DE GOIÂNIA AGRAVANTE : CARLOS MARANHÃO GOMES DE SÁ AGRAVADO RELATOR : MINISTÉRIO PÚBLICO : DES. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. NEPOTISMO. FUNCIONÁRIO FANTASMA. RECEBIMENTO DA INICIAL. Em sede de juízo de cognição preliminar os indícios de atividade ímproba são suficientes para o recebimento da petição inicial, não se exigindo, para tanto, o exame aprofundado do mérito. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E IMPROVIDO. ACÓRDÃO em que são partes as supra indicadas. VISTOS, relatados e discutidos estes autos, 9 N AI 233781-52/an 1
ACORDA o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, em sessão pelos integrantes da Primeira Turma Julgadora da Quinta Câmara Cível, à unanimidade de votos, em conhecer do agravo e lhe negar provimento, nos termos do voto do relator. VOTARAM com o relator, que também presidiu a sessão, os Desembargadores Geraldo Gonçalves da Costa e Francisco Vildon José Valente. REPRESENTOU a Procuradoria Geral de Justiça o Dr. Luiz Gonzaga Pereira da Cunha. Goiânia, 05 de dezembro de 2013. ALAN SEBASTIÃO DE SENA CONCEIÇÃO RELATOR 9 N AI 233781-52/an 2