Entrevista PATRÍCIA RANGEL JORNALISMO ESPORTIVO: OS LIMITES ENTRE A INFORMAÇÃO E O ESPETÁCULO NA COBERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS NO BRASIL

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Transcrição:

Entrevista PATRÍCIA RANGEL JORNALISMO ESPORTIVO: OS LIMITES ENTRE A INFORMAÇÃO E O ESPETÁCULO NA COBERTURA DOS JOGOS OLÍMPICOS NO BRASIL Mara Ferreira Rovida 1 No momento em que a cidade do Rio de Janeiro sedia os Jogos Olímpicos, o jornalismo esportivo passa a ser o centro das atenções de consumidores de informação, mas também de pesquisadores da comunicação jornalística. É inevitável pensar nesse momento como uma oportunidade de observação de sujeitos que fazem parte de pesquisas sobre os fazeres jornalísticos. Será que a imprensa esportiva, principalmente a brasileira, está preparada para acompanhar um evento dessa magnitude? O que esperar das narrativas sobre a reunião de 10.500 atletas, disputando 42 modalidades esportivas de 33 diferentes esportes? 1 Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo, mestre em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Libero, jornalista, professora no curso de Jornalismo das Faculdades Integradas Rio Branco, membro do grupo de pesquisas do CNPQ Comunicação e Sociedade do Espetáculo. E-mail: mararovida@gmail.com

A visão da pesquisadora Patrícia Rangel Moreira Bezerra sobre esse momento do jornalismo esportivo brasileiro se baseia na vivência de jornalista e de estudiosa do assunto. Entre os pontos destacados na entrevista concedida à Revista Alterjor, estão as dificuldades enfrentadas pelos profissionais da comunicação para lidar com uma cobertura que envolve esportes quase desconhecidos. Ninguém fica completamente pronto para cobrir uma coisa que está fora da rotina da maioria das empresas jornalísticas. Por isso, muitos recorrem aos atletas aposentados como reforço na equipe de comentaristas. Os números do evento não deixam dúvidas sobre o desafio que representa, mas, segundo Patrícia Rangel, esse momento pode e deve ser encarado como uma oportunidade de aperfeiçoamento para a mídia esportiva. Por outro lado, é preciso tomar cuidado com o excesso de exposição e de expectativa dispensadas a alguns atletas. Me preocupo um pouco com a forma de tratamento dispensada a alguns atletas. As estratégias narrativas usadas têm a ver com essa perspectiva do herói e o esporte também é feito disso, de heróis. Mas é preciso ter cuidado com a informação e evitar os exageros, o espetáculo, para não prejudicar os próprios atletas. 7 Patrícia Rangel Moreira Bezerra é doutora em Processos Comunicacionais pela Universidade Metodista de São Paulo (2015), mestre em Comunicação Social pela Faculdade Cásper Libero (2007), jornalista, professora do curso de Jornalismo da ESPM e coordenadora dos cursos de Jornalismo, Relações Públicas e Rádio e TV das Faculdades Integradas Rio Branco. REVISTA ALTERJOR: O que representa esse momento das Olimpíadas para uma imprensa que, no seu cotidiano, está praticamente limitada a um único esporte, o futebol? PATRÍCIA RANGEL: Eu vejo como um momento de oportunidade, até mesmo para nós pesquisadores, porque esta é uma cobertura muito mais rica do que a da Copa do Mundo. Para a imprensa, é a chance de mostrar seu talento, afinal é o maior evento esportivo do planeta, envolvendo 42 modalidades esportivas. Assim, a gente sai da cobertura futebolística e passa para um universo muito mais amplo. Os jornalistas

podem aproveitar para aprender mais sobre outros esportes e, quem sabe, ampliar seu leque de especialidades. É uma boa oportunidade para isso. REVISTA ALTERJOR: A nossa imprensa está preparada para atuar no âmbito do jornalismo esportivo, deixando de lado seu status de mídia futebolística? PATRÍCIA RANGEL: Não. De jeito nenhum. É claro que não estou me referindo ao show de tecnologia que está sendo preparado principalmente pelas emissoras de televisão, mas ao que diz respeito ao conteúdo, à informação. É preciso observar que ninguém fica completamente pronto para cobrir uma coisa que está fora da rotina da maioria das empresas jornalísticas. Por isso, muitos recorrem aos atletas aposentados como reforço na equipe de comentaristas. Podemos contar nos dedos os bons jornalistas esportivos que chamamos de olímpicos. Mas eles existem e são muito competentes, como o Marcelo Laguna, editor do Lance Diário Esportes, que não entende de todas as modalidades, mas conhece bem algumas com destaque para o basquete. Infelizmente esse tipo de jornalista não encontra espaço porque a mídia não comporta essa variedade na cobertura, a não ser nesses momentos específicos. O Laguna é um repórter muito bom, do texto à capacidade de levantamento da informação, porque ele entende da cultura que envolve essas outras modalidades, conhece a história, enfim. Espero que a Olimpíada aqui possa deixar esse legado, essa mudança de foco na cobertura esportiva. Sou otimista e torço para que essa experiência possa trazer mudanças no jornalismo que produzimos. 8 REVISTA ALTERJOR: Além da questão cultural que envolve o futebol no Brasil, por que essa ênfase num único esporte? Qual o papel do jornalista no controle da visibilidade das outras modalidades? PATRÍCIA RANGEL: É muito complicado pensar nisso porque as políticas esportivas continuam muito arcaicas, ainda são dominadas pelos cartolas e não estou falando apenas dos cartolas do futebol, mas também daqueles das federações que enxergam com maus olhos a interferência da mídia. Há um interesse político, em outras palavras, um apego ao poder, ao dinheiro mesmo, por parte dessas pessoas que não estão, portanto,

dispostas a permitir qualquer tipo de mudança nesse cenário. Além disso, tem a própria interferência do departamento comercial na redação esportiva. Isso é bem mais forte nessa editoria do que nas demais, aliás o esporte às vezes é tratado como se não fizesse parte do jornalismo, como se fosse um espaço separado. Há grande investimento publicitário na mídia esportiva e isso pesa na atuação de alguns indivíduos em especial, mas também na relação entre a redação e o departamento comercial. REVISTA ALTERJOR: Como você observa as narrativas sobre a infraestrutura criada para os jogos do Rio de Janeiro? PATRÍCIA RANGEL: O tratamento dado é o de espetáculo (Debord). Estou me referindo, sobretudo, à Rede Globo de Comunicações que é patrocinadora do evento. Então, não há uma postura de investigação, de reportagem para mostrar o que tem de errado, os problemas que não foram resolvidos. Nós soubemos por outras vias que dos 31 prédios entregues na vila olímpica, 20 estavam com problemas graves como falta de ligação com a rede de esgoto, janelas não instaladas, entre outras coisas. Claro que a Globo, pelo interesse de patrocinadora, não vai dar espaço para isso. Esse é o problema do envolvimento de uma empresa jornalística com a esfera publicitária, comercial do evento. Isso não deveria acontecer porque essa relação acaba prejudicando o distanciamento necessário ao jornalista para apurar a informação, para observar e apresentar ao público um dado mais completo e mais coerente. O caso da baía da Guanabara é exemplar pela expectativa gerada, e frustrada, de despoluição e pela forma como amadoristicamente a situação não resolvida foi contornada com o uso de barcos que formarão barreiras para diminuir a sujeira no espaço onde as competições serão realizadas. Essa pauta não foi trabalhada pelas equipes da Rede Globo com a atenção necessária. 9 REVISTA ALTERJOR: Diante disso, seria possível pensar numa outra abordagem? Como o jornalismo e o jornalista poderiam atuar para ajudar na concretização de algum legado dos Jogos Olímpicos?

PATRÍCIA RANGEL: Seria interessante pensar não apenas na cobertura do evento em si, mas no que vier depois. Chegando perto dos lugares onde acontecem projetos sociais envolvendo o esporte, acompanhando essas ações, o jornalista estaria proporcionando um apoio a essa transformação pelo esporte, esse seria o melhor legado. Para isso, a pergunta que deve ser feita é qual a pauta que vem depois das Olimpíadas? Se pudéssemos aumentar em 20% o espaço usado para outros esportes que não o futebol e usássemos parte disso para dar visibilidade a esses projetos sociais, seria muito bom. O brasileiro é muito engajado nesse tipo de projeto social e o esporte tem servido de apoio a várias iniciativas, então a mídia precisa fazer reportagem sobre isso, acompanhar o que vem sendo feito e o que pode ser aprimorado e ampliado a partir das estruturas físicas erguidas para as Olimpíadas que poderiam, e deveriam, ser usadas por esses grupos nessas ações sociais. Imagine a diferença que isso faria na vida de uma criança, de um jovem que teria acesso a quadras estruturadas, pistas para a prática de atletismo, por exemplo. REVISTA ALTERJOR: Como pesquisadora dessa área, o que você destacaria na cobertura jornalística até esse momento que antecede em alguns dias a abertura dos Jogos Olímpicos? 10 PATRÍCIA RANGEL: Fico atenta à forma como a mídia irá tratar alguns atletas, e alguns sinais disso já começaram a aparecer. É natural num evento desse porte, observarmos uma grande preocupação com a questão comercial porque é preciso pagar os investimentos e, claro, obter lucro. Por outro lado, o esporte precisa de heróis, ele também é feito desses personagens que se destacam e, muitas vezes, a necessidade de retorno financeiro é atendida por meio da exploração desse heroísmo. Mas é preciso ter cuidado até mesmo com o impacto psicológico que a alta exposição pode provocar nesses indivíduos. Preocupo-me um pouco com a forma de tratamento dispensada a alguns atletas. As estratégias narrativas usadas têm a ver com essa perspectiva do herói, mas é preciso ter cuidado com a informação e evitar os exageros, o espetáculo, para não prejudicar os próprios atletas. Falo particularmente de dois casos, o do Neymar e o do ginasta Arthur Zanetti. O primeiro representa a expectativa em relação à medalha olímpica de ouro para o futebol, ainda inédita, e o segundo foi o primeiro ouro olímpico

do Brasil e espera-se que sua façanha se repita. O tratamento que vem sendo dado a eles é espetacularizado e esse exagero é ruim. É preciso ter muito cuidado com a informação e evitar as fórmulas de espetacularização e, consequentemente, de esvaziamento de sentido porque isso prejudica a qualidade da informação, mas também tem impactos negativos para os atletas que se sentem pressionados. Referências DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 2012. RANGEL, Patrícia. Globo Esporte São Paulo: Ousadia e Experimentalismo na Produção da Informação-Entretenimento. Videre Futura, v. 1, p. 1-6, 2010.. Jornalistas ou artistas? Uma reflexão crítica sobre o fazer jornalístico esportivo. In: Anderson Gurgel; Ary Rocco Jr; José Carlos Marques; Márcio de Oliveira Guerra. (Org.). Comunicação e Esporte: reflexões. São Paulo: Intercom, 2012, v. 1, p. 41-56. 11