Recursos no Processo do Trabalho
1 a edição Novembro, 2012 2 a edição Outubro, 2013 3 a edição Maio, 2017
Mauro Schiavi Juiz Titular da 19 a Vara do Trabalho de São Paulo. Mestre e Doutor em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP. Professor Convidado dos Cursos de Pós-Graduação da PUC/SP (Cogeae), EPD (Escola Paulista de Direito), Mackenzie/SP, Rede LFG, Faculdade de Direito de Sul de Minas (FDSM) e ESA (Escola Superior de Advocacia). Recursos no Processo do Trabalho 3 a edição De acordo com o Novo CPC
R EDITORA LTDA. Todos os direitos reservados Rua Jaguaribe, 571 CEP 01224-003 São Paulo, SP Brasil Fone: (11) 2167-1101 www.ltr.com.br Maio, 2017 Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Peter Fritz Strotbek The Best Page Projeto de Capa: Fabio Giglio Impressão: Pimenta & CIa. Ltda. Versão impressa: LTr 5775.6 ISBN 978-85-361-9168-3 Versão digital: LTr 9142.5 ISBN 978-85-361-9238-3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Schiavi, Mauro Recursos no processo do trabalho : de acordo com o novo CPC / Mauro Schiavi. 3. ed. São Paulo : LTr, 2017. Bibliografia. 1. Direito do trabalho Brasil 2. Recursos (Direito) 3. Recursos (Direito) Brasil I. Título. 17-02624 CDU-347.955:331(81) Índice para catálogo sistemático: 1. Brasil : Recursos : Direito processual do trabalho 347.955:331(81)
Dedicatória Mais uma vez à Ida (in memoriam), à Angélica, à Lia, e à pequena Larrissa, por serem as razões de todo o meu esforço. Ao meu cachorro Zeus (mastino napolitano), que mesmo sem entender nada do que escrevo, está sempre ao meu lado com manifestações sinceras de carinho, amizade e lealdade.
Agradecimentos Aos cordiais e competentes servidores da 19 a Vara do Trabalho de São Paulo pelo incentivo, carinho e constante aprendizado na difícil missão diária de solução dos conflitos que envolvem a aplicação do direito processual do trabalho. Mais uma vez à LTr Editora, nas pessoas de Armando Casimiro Costa Filho e Luana Brandão, pela confiança, ajuda e incentivo na publicação deste trabalho.
Sumário Nota à 3 a Edição... 17 Apresentação... 19 Capítulo I Teoria Geral dos Recursos Trabalhistas... 21 1. Do conceito de recurso... 21 2. Natureza jurídica dos recursos... 22 3. Fundamentos dos recursos... 23 4. Classificação dos recursos... 25 4.1. Recursos ordinários e extraordinários... 25 4.2. Recursos de fundamentação livre e de fundamentação vinculada... 26 4.3. Recursos parciais e totais... 27 5. Dos pronunciamentos judiciais passíveis de recurso... 27 5.1. Sentença... 28 5.1.1. A questão da fundamentação das decisões... 29 5.1.2. Do julgamento parcial do mérito... 36 5.1.3. Do julgamento de improcedência liminar... 37 5.2. Acórdão... 39 5.3. Decisões Interlocutórias... 39 5.4. Despachos... 40 6. A questão dos dissídios de alçada e a recorribilidade... 41 7. Recursos e direito intertemporal... 46 Capítulo II Princípios dos Recursos Trabalhistas... 52 1. Do conceito e importância dos princípios no sistema recursal trabalhista... 52 2. Dos princípios recursais em espécie... 55 2.1. Duplo grau de jurisdição... 55 2.2. Taxatividade... 60 Recursos no Processo do Trabalho 9
2.3. Singularidade ou unirrecorribilidade... 61 2.4. Fungibilidade... 63 2.5. Proibição da Reformatio in pejus... 65 2.6. Variabilidade... 66 2.7. Dialeticidade... 68 2.8. Subsidiariedade... 71 2.9. Irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias... 87 2.9.1. Decisões interlocutórias recorríveis de imediato... 88 2.10. Princípio da Voluntariedade... 91 2.11. Lealdade e boa-fé... 92 2.11.1. A questão do assédio processual... 97 2.12. Duração Razoável do processo na esfera recursal... 109 Capítulo III Dos Pressupostos Recursais... 114 1. Conceito... 114 2. Pressupostos recursais intrínsecos... 115 2.1. Cabimento... 115 2.2. Legitimidade... 116 2.2.1. Da Legitimidade do terceiro... 117 2.2.2. Legitimidade do INSS... 117 2.2.3. Legitimidade do perito e advogado... 120 2.2.4. Da legitimidade do Ministério Público... 121 2.2.5. Capacidade das partes... 122 2.2.6. Representação... 124 2.2.7. Da regularização da representação processual... 126 2.2.8. Capacidade postulatória (jus postulandi)... 127 2.2.9. Da Legitimidade do preposto... 129 2.3. Interesse... 131 2.3.1. Do interesse recursal da parte que fora beneficiada pela extinção do processo sem resolução de mérito... 132 2.3.2. A parte beneficiada pelo decreto de improcedência total dos pedidos tem interesse recursal?... 133 2.4. Inexistência de fatos extintivo ou modificativo do direito de recorrer.. 136 10 Mauro Schiavi
3. Pressupostos recursais extrínsecos... 137 3.1. Preparo... 137 3.1.1. Depósito recursal... 137 3.1.2. Da constitucionalidade do depósito recursal... 144 3.1.3. Possibilidade de dispensa do depósito recursal ao litigante beneficiário da justiça gratuita... 146 3.1.4. Instrução Normativa n. 03/93 do TST... 149 3.2. Regularidade formal... 152 3.2.1. Assinatura... 155 3.2.2. Recurso Interposto por meios de fax e eletrônico... 156 3.2.3. Resolução n. 136/14 do Conselho Superior da Justiça do Trabalho. 163 3.3. Tempestividade... 179 3.3.1. Privilégios de prazo... 184 Capítulo IV Dos Efeitos dos Recursos Trabalhistas... 186 1. Conceito... 186 2. Do efeito devolutivo... 186 2.1. Extensão e profundidade do efeito devolutivo... 188 3. Efeito translativo... 192 4. Regressivo... 193 5. Substitutivo... 193 6. Suspensivo... 194 7. Expansivo... 195 Capítulo V Do Processamento dos Recursos Trabalhistas... 197 1. Juízos de admissibilidade e de mérito dos recursos... 197 2. Procedimento... 200 3. Contrarrazões... 202 4. Do art. 932 do Código de Processo Civil (poderes do relator)... 204 5. Saneamento das nulidades... 209 5.1. Das nulidades... 209 5.2. Do saneamento das nulidades em grau recursal... 213 5.3. Saneamento de nulidades no recurso de revista... 215 Recursos no Processo do Trabalho 11
Capítulo VI Da Uniformização da Jurisprudência Trabalhista... 219 1. Da jurisprudência... 219 2. A questão do precedente judicial e o Código de Processo Civil... 221 3. Força vinculante da jurisprudência dos Tribunais... 225 4. Da uniformização da jurisprudência dos Tribunais Regionais do Trabalho. 231 5. Do incidente de Resolução de Demandas Repetitivas no âmbito dos Tribunais Regionais do Trabalho... 236 6. Do incidente de Assunção de Competência... 241 7. Incidente de solução de demandas repetitivas no TST... 242 Capítulo VII Recurso Ordinário... 260 1. Conceito... 260 2. Regramento legal... 262 3. Hipóteses de cabimento... 262 4. O momento de impugnação das decisões interlocutórias e os protestos... 263 5. Singularidades do Rito Sumaríssimo... 265 6. Efeitos do recurso ordinário... 266 7. Os 3 o e 4 o do art. 1.013 do CPC e a teoria da causa madura e sua aplicação no recurso ordinário trabalhista... 266 8. O reconhecimento da prescrição de ofício no recurso ordinário... 269 9. Procedimento... 276 10. Juntada de documentos... 276 Capítulo VIII Do Recurso de Revista... 280 1. Conceito... 280 2. Regramento Legal... 282 3. Hipóteses de cabimento... 284 3.1. Divergência jurisprudencial (Lei Federal)... 284 3.1.1. Divergência Jurisprudencial (Interpretação de Lei Estadual, convenção coletiva, acordo coletivo, sentença normativa ou regulamento de empresa)... 288 3.2. Violação de literal dispositivo de Lei Federal ou da Constituição da República... 288 3.2.1. Violação a princípios constitucionais... 295 12 Mauro Schiavi
3.3. Recurso de revista em acórdão proferido em Agravo de Instrumento... 298 3.4. Remessa necessária e recurso de revista... 298 4. Pressupostos específicos do Rercurso de Revista... 299 4.1. Extrínsecos... 299 4.2. Intrínsecos... 304 5. Prequestionamento... 304 5.1. Prequestionamento ficto... 307 5.2. Dispensa de prequestionamento... 308 6. Vedação do reexame de fatos e provas... 309 6.1. Singularidade da execução... 311 6.2. Execução de título executivo extrajudicial, execução fiscal e certidão negativa de débitos trabalhistas... 314 7. Atualidade da divergência e admissibilidade do recurso de revista... 315 8. Singularidade do Rito Sumaríssimo... 315 9. A polêmica questão da transcendência... 316 10. Efeitos do Recurso de Revista... 320 10.1. Devolutivo... 320 10.2. Efeito Suspensivo no Recurso de Revista... 323 Capítulo IX Dos Embargos de Declaração... 324 1. Conceito... 324 2. Regramento legal... 324 3. Cabimento... 325 4. A questão das decisões extra, ultra e citra petita e os embargos de declaração. 327 5. Caráter infringente dos Embargos (Efeito modificativo)... 330 6. Embargos de declaração em face de decisão interlocutória... 330 7. Embargos de declaração e contraditório... 331 8. Embargos de declaração protelatórios e multa... 332 9. Embargos de declaração e prequestionamento... 333 10. Do processamento dos embargos de declaração... 333 Capítulo X Agravo de Instrumento... 336 1. Conceito... 336 2. Regramento legal... 336 Recursos no Processo do Trabalho 13
3. Cabimento... 336 4. Procedimento... 339 5. Efeitos... 343 6. Juízo de retração... 343 Capítulo XI Agravo de Petição... 344 1. Conceito... 344 2. Regramento legal... 344 3. Cabimento... 345 3.1. Sentença de liquidação e o agravo de petição... 349 4. Delimitação das matérias objeto da controvérsia... 351 5. Procedimento... 353 Capítulo XII Do Recurso Adesivo no Processo do Trabalho... 355 1. Conceito... 355 2. Regramento legal... 355 3. Cabimento... 355 4. Processamento... 356 Capítulo XIII Pedido de Revisão... 358 1. Conceito... 358 2. Regramento legal... 359 3. Cabimento... 360 4. Procedimento... 361 Capítulo XIV Embargos para o TST... 362 1. Conceito... 362 2. Regramento legal... 362 3. Cabimento... 363 3.1. Da possibilidade de cabimento simultâneo de Embargos para o TST e de Recurso Extraordinário... 365 4. Embargos infringentes... 367 4.1. Procedimento... 368 5. Embargos de divergência... 368 5.1. Procedimento... 370 6. Embargos de nulidade... 371 14 Mauro Schiavi
Capítulo XV Recurso Extraordinário no Âmbito Trabalhista... 373 1. Conceito... 373 2. Regramento legal... 373 3. Cabimento... 377 4. Da repercussão geral no recurso extraordinário em matéria trabalhista... 379 5. Procedimento... 382 6. Recurso extraordinário e execução de sentença trabalhista... 383 7. Jurisprudência sumulada do STF sobre o recurso extraordinário... 384 Capítulo XVI Agravo Regimental... 387 1. Conceito... 387 2. Regramento... 388 3. Cabimento... 389 4. Procedimento... 389 Capítulo XVII Outros Meios de Impugnação das Decisões... 391 1. Da remessa necessária ou recurso de ofício... 391 2. Ação rescisória... 393 2.1. Conceito e natureza jurídica... 393 2.2. Hipóteses de cabimento da ação rescisória... 399 a) Se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juízo... 400 b) Proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente... 401 c) Resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão ou simulação entre as partes, a fim de fraudar a lei... 402 d) Ofender a coisa julgada... 402 e) Violar literal disposição de lei... 403 f) Se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou seja provada na própria ação rescisória... 406 g) Depois do trânsito em julgado, o autor obtiver prova nova, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável... 406 Recursos no Processo do Trabalho 15
h) Fundada em erro de fato verificável no exame dos auto... 407 2.3. Legitimidade para propor a ação rescisória... 407 2.4. Competência... 408 2.5. Da revelia na ação rescisória... 409 2.6. Procedimento... 409 2.7. Prazo para a propositura da ação rescisória... 414 3. Ação anulatória na Justiça do Trabalho... 416 4. Correição parcial... 419 5. Mandado de Segurança... 422 5.1. Conceito... 422 5.2. Do direito líquido e certo... 423 5.3. Das competências material e funcional... 426 5.4. Mandado de Segurança em face de decisões na execução... 429 5.5. Procedimento... 429 5.6. Da liminar e da recorribilidade da decisão que a aprecia... 434 5.7. Da recorribilidade da decisão no mandado de segurança... 436 5.8. Do prazo para interposição do mandado de segurança... 436 6. As liminares nos provimentos de urgência e os recursos no processo do trabalho... 437 Referências Bibliográficas... 441 16 Mauro Schiavi
Nota à 3 a Edição Agradeço, novamente, a todos que leram ou consultaram este livro, maiores incentivadores da continuidade de meus estudos, e da constante busca pelo aperfeiçoamento da obra. Esta é uma edição especial, pois é a primeira após a Lei n. 13.015/2014, que traz significativas mudanças no sistema recursal trabalhista, principalmente, nos recursos trabalhistas de natureza extraordinária e, também, posterior à aprovação do novo Código de Processo Civil (Lei n. 13.105/2015), que tem impactos relevantes no capítulo dos recursos trabalhistas, tanto na principiologia, pressupostos e julgamento dos recursos. A chegada do Novo Código de Processo Civil provoca, mesmo que de forma inconsciente, um desconforto nos aplicadores do Processo Trabalhista, o que exigirá um esforço intenso da doutrina e jurisprudência para revisitar todos os institutos do processo do trabalho e analisar a compatibilidade, ou não, das novas regras processuais civis. Por outro lado, trata-se de um momento bastante estimulante para os estudiosos do processo trabalhista, e uma rara oportunidade para a melhoria da prestação jurisdicional trabalhista com a busca de institutos processuais civis que possam ser transportados, com eficiência, para a jurisdição trabalhista. Novas frentes e novos caminhos se abrem para os operadores do Processo do Trabalho. As alterações mais sensíveis das recentes legislações se referem à uniformização da jurisprudência pelos Tribunais, determinando a legislação que ela espelhe às circunstâncias fáticas do caso concreto e também seja autorizada por um número significativo de demandas em que se discute a mesma tese jurídica. Por outro lado, há um nítido impulso, tanto pela Lei n. 13.015/2014, quanto pela Lei n. 13.105/2015 de observância obrigatória da jurisprudência firmada pelos Tribunais Superiores, pelos Tribunais de 2 o grau de jurisdição e, também, pelos Juízes de 1 o grau. Há posições otimistas e pessimistas quanto aos reais resultados do chamado direito jurisprudencial, argumentando alguns que ele trará segurança jurídica, confiança, reduzirá a litigiosidade e propiciará tratamento uniforme de demandas idênticas, materializando, pelo processo, o princípio da igualdade de todos perante a Lei. Outros se mostram céticos, argumentando que a uniformização da jurisprudência não trará redução da litigiosidade, provocará estagnação da jurisprudência, sensível redução do poder dos Juízes na interpretação do direito e centralização de poder nos Tribunais Superiores, além de ir contra tendência contemporânea de reconhecimento do direito à diferença e dos direitos das minorias. Recursos no Processo do Trabalho 17
O tempo e a prática cotidiana dirão quem está com a razão. A obra continua com o firme propósito de apresentar as visões da doutrina clássica e contemporânea, bem como a visão da jurisprudência, sempre destacando a visão pessoal do autor. São muitos os desafios que se iniciam. Boa leitura a todos. O Autor mauro.schiavi@uol.com.br 18 Mauro Schiavi
Apresentação Depois de ter escrito, sobre o direito processual do trabalho, os livros: Princípios do Processo do Trabalho, Competência Material da Justiça do Trabalho Brasileira, A Revelia no Direito Processual do Trabalho, Provas no Processo do Trabalho, Manual de Direito Processual do Trabalho e Execução no Processo do Trabalho, todos publicados pela LTr Editora, decidi enfrentar o capítulo dos Recursos no Processo do Trabalho com maior profundidade e maior detalhamento, o que exigia livro próprio. Sempre tive desejo pessoal de enfrentar o capítulo recursal trabalhista, que é complexo, muito criticado e apresenta aspectos positivos e negativos, mas que pode ser sensivelmente melhorado e aperfeiçoado sem grandes mudanças na legislação. Considero o capítulo dos Recursos um dos mais fascinantes, delicados e complexos capítulos do Processo. Por isso me proponho a enfrentar o tema, não só de forma descritiva, mas crítica, apresentando não só o panorama doutrinário e jurisprudencial sobre a temática, mas também reflexões pessoais, fruto de muitos anos de estudo sobre o tema e prática constante do processo do trabalho. Como fiz em obras anteriores, pesquisei considerável volume de doutrina e jurisprudência, procurando trazer ao leitor o maior número de informações possível sobre cada recurso trabalhista, sempre destacando opinião própria sobre cada assunto. Adiei, por algum tempo, a escrita deste livros, pois, primeiramente, busquei adquirir experiência e vivência em outros temas processuais, para, aí sim, me dedicar ao capítulo que busca a revisão e reapreciação dos atos processuais já decididos. Como nos trabalhos anteriores, parto da teoria geral do processo, do sistema processual civil e, por fim, o sistema processual do trabalho. Há muitas críticas ao sistema recursal trabalhista, máxime pela sua complexidade e morosidade. Muitos chegam a apontar que a sistemática recursal trabalhista é o grande vilão da efetividade do processo do trabalho. No entanto, me mostro otimista com o processo do trabalho e também com seu sistema recursal que, mesmo apresentando falhas, pode ser sensivelmente melhorado e aperfeiçoado sem grande modificações legislativas, mas com grandes contribuições da doutrina e jurisprudência e também de todos que militam na Justiça do Trabalho. Recursos no Processo do Trabalho 19
Capítulo I Teoria Geral dos Recursos Trabalhistas 1. Do conceito de recurso Tarefa das mais árduas é fixar o conceito recurso, pois a lei processual é omissa a respeito e há múltiplas definições para o instituto. O Código de Processo Civil Brasileiro não nos dá o conceito de recurso, apenas no art. 994 (1). O termo recurso vem do latim recursus, que significa andar para trás, retorno, volta, reapreciação. O processo vem do latim procedere, que significa marcha avante, caminhar para frente. Desse modo, o processo sempre caminha para um desfecho e resolução da controvérsia. Quando há a fase recursal, retrocede o processo, para que seja possível a reapreciação de decisões dadas em fases processuais que já foram superadas. Como a Lei não define o conceito de recurso, esta árdua tarefa cabe à doutrina. Para José Carlos Barbosa Moreira (2) : Pode-se conceituar recurso, no direito processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de decisão judicial a que se impugna. Atente-se bem: dentro do mesmo processo, não necessariamente dentro dos mesmos autos. Nélson Nery Júnior (3) : Recurso é o meio processual que a lei coloca à disposição das partes, do Ministério Público e de um terceiro, a viabilizar, dentro da mesma relação jurídica processual, a anulação, a reforma, a integração ou o aclaramento da decisão judicial impugnada. (1) Art. 994, do CPC: São cabíveis os seguintes recursos: I apelação; II agravo de instrumento; III agravo interno; IV embargos de declaração; V recurso ordinário; VI recurso especial; VII recurso extraordinário; VIII agravo em recurso especial ou extraordinário; IX embargos de divergência. (2) Comentários ao Código de Processo Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 233. (3) Teoria geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: RT, 2004. p. 212. Recursos no Processo do Trabalho 21
Para Flávio Cheim Jorge (4) : Recurso é um remédio dentro da mesma relação processual de que dispõem a parte, o Ministério Público e os terceiros prejudicados, para obter a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração de uma decisão judicial. Conforme as definições acima, os recursos se destinam, dentro da mesma relação jurídica processual, à anulação, nos casos em que a decisão contém um vício pro cessual, a reforma, quando visa à alteração do mérito da decisão, ou integração ou aclaramento, quando a prestação jurisdicional não foi completa, ou está obscura ou contraditória. Na nossa visão: Recursos são os remédios processuais previstos na Constituição Federal ou na Lei infraconstitucional destinados à alteração de uma decisão desfavorável (anulação, esclarecimento ou reforma), dentro da mesma relação jurídica processual onde a decisão fora dada. Conforme a definição que adotamos, destacam-se as seguintes características: a) os recursos pressupõem lide pendente. Por isso, não são meios autônomos de impugnação da decisão. b)se destinam à anulação, nos casos em que a decisão contém um vício processual; à reforma, quando visa à alteração do mérito da decisão, ou integração e aclaramento quando a prestação jurisdicional não foi completa, ou está obscura ou contraditória. 2. Natureza jurídica dos recursos Existem duas correntes sobre a natureza jurídica dos recursos. Uma que assevera ser o recurso ação autônoma de impugnação da decisão, e outra como um meio de impugnação dentro da própria relação jurídica processual. Diante da sistemática do Direito Processual Civil brasileiro, os recursos não constituem meio de impugnação autônomo e sim instrumento de impugnação da decisão dentro da mesma relação jurídico-processual em que foi prolatada a decisão, pois pressupõe a lide pendente na qual ainda não se formou a coisa julgada. Como bem adverte Flávio Cheim Jorge (5) : A interposição do recurso não dá início a um novo processo. Apenas provoca o prosseguimento daquele que até ali vinha se desenvolvendo. Observe-se que até mesmo situações habituais permitem fazer essa observação, tais (4) Teoria Geral dos Recursos Cíveis. 4. ed. São Paulo: RT, 2009, p. 28. (5) Teoria Geral dos Recursos. 4. ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 26. 22 Mauro Schiavi