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Transcrição:

1 XVIII Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias SNBU 2014 Um olhar sobre o acervo de obras raras do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand - MASP Ivani Di Grazia Costa Luciana Maria Napoleone Magda de Oliveira Guimarães Luiza Wainer

2 RESUMO O presente estudo descreve a experiência sobre a organização de 400 obras raras pertencentes ao acervo bibliográfico da Biblioteca e Centro de Documentação do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubrind - MASP. Demonstra a elaboração de uma metodologia para identificar livros raros e estabelece padrões para duas categorias: as obras raras e as obras especiais. Apresenta a catalogação descritiva em MARC21 para essas obras principalmente o detalhamento, as especificidades e o histórico de cada obra como documento único. Palavras-Chave: 1 Obras raras ; 2 Biblioteca de Artes ; 3 Metodologia ; 4 Catalogação descritiva ; 5. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP ABSTRACT Describes the experience of the Library and Documentation Center of São Paulo Museum of Art during the project Organization and conservation of 400 rare books from the São Paulo Art Museum Library and Documentation Centre s Rare Book Collection. Illustrates the elaboration of a methodology to identify rare books that differentiates and establishes identification standards for two categories: books that are proven rare and books that are circumstantially rare. Depicts how the descriptive cataloging of rare and special works is done by library staff, concerning themselves with a high level of information that represents the physical aspects of the work, its contents, and the collection as a whole. Keywords: 1 Rare books ; 2 Art Library ; 3 Methodology 4 Descriptive Cataloging 5 São Paulo Museum of Art Assis Chateaubriand, MASP

3 UM OLHAR SOBRE O ACERVO DE OBRAS RARAS DO MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND-MASP APRESENTAÇÃO A Biblioteca e Centro de Documentação do MASP possui um rico acervo de livros e catálogos na área de artes plásticas, arquitetura e história da arte com enfoque na coleção de obras de arte do museu. Para suprir as necessidades dos pesquisadores, em 1977, Pietro Maria Bardi e Lina Bo Bardi doaram ao museu a sua biblioteca especializada. Do núcleo inicial de materiais bibliográficos doados pelo casal Bardi destaca-se a coleção de obras raras; uma valiosa seleção de obras dos séculos XVI a XIX sobre história da arte e arquitetura. Entre os anos de 2005 e 2006, foi desenvolvido o projeto intitulado Organização e conservação de 400 obras raras da Coleção de Obras Raras da Biblioteca do Museu de Arte de São Paulo, a partir do qual foi possível estabelecer uma metodologia para identificação e catalogação da coleção. O processo de elaboração da metodologia permitiu a combinação do conhecimento especializado de tratamento de obras raras oferecido por um consultor em obras raras com larga experiência na área, e a prática da equipe da biblioteca no tocante à representação descritiva e temática das obras bibliográficas do acervo de artes. A partir do projeto e com a catalogação de novos documentos, raros ou não, foi construído um novo olhar sobre o acervo, que possibilitou a identificação de elementos de descrição até então despercebidos, permitindo uma catalogação mais apurada e um conhecimento mais profundo da coleção. O trabalho relata a experiência da Biblioteca na aplicação da metodologia elaborada após a finalização do projeto, tendo como um dos principais resultados o desenvolvimento de competências para o tratamento da coleção de obras raras e especiais.

4 OBRA RARA E ESPECIAL: CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO Definir o que é obra rara é uma atividade complexa. Ana Virginia Pinheiro (2009, p.31-33) resume a dificuldade da definição de raridade bibliográfica através de alguns precedentes e mitos. Cada livro possui uma história cultural, como, onde e quando foi editado, além disso, aponta a autora a fragilidade dos argumentos para a definição das características da raridade. Já os mitos resumem-se em todo livro antigo é raro ou um livro é raro quando é o único existente no mundo. A autora considera cinco aspectos para a identificação de uma obra rara: 1 limite histórico; 2 aspectos bibliológicos; 3 valor cultural; 4 pesquisa bibliográfica; e 5 características do exemplar. Mindlin (2008) e Reifschneider (2008) destacam aspectos físicos ao abordar os critérios de avaliação de uma obra, observando itens como possuir dedicatória e autógrafos, anotações manuscritas, marcas de posse, encadernação (inclusive exóticas e feita por encadernadores mestre ), edições de luxo, traduções de autores renomados, edições clandestinas e vários outros aspectos podem estabelecer um lugar de destaque em uma coleção. Para Oliveira (1985 apud NARDINO; CAREGNATO, 2006) as obras raras podem ser conceituadas em duas categorias obras comprovadamente raras e obras circunstancialmente raras. Obras podem ser consideradas raras pelas indicações da bibliografia ou por critérios estabelecidos pela instituição que as abriga. A pesquisa bibliográfica ou a pesquisa do título colabora com a descrição e definição da importância histórica de uma obra rara. Existem dicionários, enciclopédias especializadas e catálogos de bibliotecas, que podem ser consultados, além de catálogos de venda impressos ou disponibilizados na internet. Para determinar se um exemplar é raro ou especial, é necessário estabelecer parâmetros que nos levem a elaboração de uma metodologia própria, que pode variar de acordo com a instituição, principalmente quando se trata de obras especiais. Como é revelado por Nardino e Garagnato (2006, p.386) Por possuírem objetivos distintos, cada biblioteca deve estudar detalhadamente seu perfil e elaborar uma política que determine os critérios que serão adotados para melhor atender às necessidades de seus usuários.

5 METODOLOGIA ADOTADA PELA BIBLIOTECA DO MASP As decisões e procedimentos adotados durante o projeto de organização e conservação de obras raras foram compilados em um documento, Metodologia de Catalogação de Obras Raras e Especiais de 2007 e, posteriormente, integrados ao Manual de Catalogação utilizado na Biblioteca do MASP. Adotado o princípio apresentado por Nardino e Caregnato - obras comprovadamente raras e obras circunstancialmente raras e avaliando a coleção de obras incluídas no projeto, concluiu-se que poderiam ser divididas em dois níveis: obras raras (aquelas consideradas raras sob qualquer aspecto de avaliação) e obras especiais (aquelas que apresentam alguma característica de raridade embora não possam ser incluídas no primeiro nível). Foram definidos critérios de identificação objetivos como data de publicação, tiragem limitada, e também critérios em parte subjetivos, referentes a tipo de encadernação, de ilustração ou obras consideradas históricas. Para a identificação de obras raras, os critérios mais significativos estabelecidos referiam-se à data de publicação, sendo a data limite para o Brasil diferente da data de referência para publicações estrangeiras, em virtude da instalação tardia da imprensa no país, apenas no início do século 19. Os critérios adotados para identificação de obras raras foram os seguintes: Obras publicadas até 1850 no exterior 1 ; Obras publicadas no Brasil até 1900; Publicações de luxo com tiragens limitadas e ilustrações originais independentemente da data; Obras com poucos exemplares existentes / conhecidos. Para a identificação de obras especiais (circunstancialmente raras), os critérios adotados foram mais diversificados, porém foram agrupados em dois blocos. O primeiro deles abrangia critérios relativos às características físicas da obra (encadernação, ilustrações, formato), importância histórica para a área de artes e existência de poucos exemplares. O 1 1 O AACR2, item 2.12, considera como monografias impressas antigas os livros, folhetos e cartazes publicados antes de 1821, nos países que seguem as convenções européias de editoração.

6 segundo bloco reunia obras especiais para a instituição, relativas à história e memória do Museu e de seus fundadores. No primeiro grupo, os critérios adotados para identificação de obras especiais foram os seguintes: Obras com poucos exemplares existentes / conhecidos no Brasil; Obras de formato grande (LGR) ou de formato muito pequeno ou com material adicional / suplementar; Obras com ilustrações de qualidade artística (qualidade de impressão); Obras com encadernação especial (ex. encadernação vitoriana ou encadernação artesanal.); Obras históricas que datam do período inicial de cada movimento artístico Foram ainda considerados especiais para a instituição, integrantes do segundo grupo, exemplares pertencidos à coleção de P. M. Bardi e Lina Bo Bardi que apresentem: obras com dedicatórias importantes obras com dedicatória para P.M. Bardi ou relacionadas ao MASP obras com anotações de Lina Bo Bardi ou P.M. Bardi; obras de/sobre o P.M. Bardi obras de/sobre Assis Chateaubriand e outros diretores do Museu obras publicadas pelo MASP As obras especiais, identificadas pela sua importância para a memória institucional do MASP, certamente não seriam consideradas especiais em outras bibliotecas. Entretanto, sua identificação e preservação são essenciais para o museu, tanto para a preservação de sua memória, quanto para o atendimento de pesquisadores que procuram informações sobre a história e atuação do MASP. PROCESSAMENTO TÉCNICO DE OBRAS RARAS E ESPECIAIS Optou-se pelo alto nível de detalhamento das obras, apresentando informações que

7 possam retratar os aspectos físicos do livro e seu conteúdo. A metodologia foi baseada no Descriptive Cataloging of Rare Books, 2 nd edition, da Library of Congress, e no Examples to accompany Descriptive Cataloging of Rare Books, como parâmetro para a catalogação das obras raras, juntamente com as normas de catalogação já utilizadas na Biblioteca do MASP, baseadas no AACR2. Há normas específicas do AARC2 para as monografias impressas antigas nos itens 2.12 a 2.18 e também regras para títulos uniformes de incunábulos nos itens 25.3 e 25.4 O trabalho de representação descritiva segue os parâmetros definidos na metodologia, e a informação é registrada na base local MASP21 que tem seus campos configurados em MARC, para os quais foram definidas orientações específicas de preenchimento, de acordo com as normas de catalogação e fontes de indexação adotadas. Como uma obra rara pode ser tanto um livro como um catálogo ou um periódico, neste quadro de campos específicos estarão enumerados também campos que podem ser utilizados para os tipos de materiais: livro, catálogo, periódico, analítica de livro e analítica de periódico. Alguns campos específicos de obras raras e especiais são: 091, 098, 563, 925. Tabela 1 : Campos Marc 910 Tipo de material 041 Idioma 091 Localização de obras raras 098 Localização original 100 Autor pessoal 110 Autor corporativo entrada principal 111 Evento entrada principal 130 Título uniforme (entrada principal) 210 Título abreviado 222 Título chave 240 Título uniforme 245 Título 246 Variação do Título 250 Edição 260 Imprenta 300 Descrição física 310 Periodicidade corrente 321 Periodicidade anterior 362 Área de numeração informação de datas de publicação e/ou

volume 440 Série 500 Notas gerais 501 Nota Com 504 Nota de bibliografia 505 Nota de conteúdo 506 Nota de Restrição de Acesso 508 Nota de Crédito 510 Nota de citação / referência 530 Nota de disponibilidade de forma física adicional 534 Nota de versão original 535 Nota de localização de originais /duplicatas 536 Nota de informação sobre financiamento 544 Nota de localização de outros materiais de arquivo 545 Dados biográficos ou históricos 546 Nota de idioma 561 Nota de histórico de procedência 562 Nota de identificação de cópia ou versão 563 Encadernação 581 Nota de publicações sobre materiais descritos 583 Nota de ação 585 Nota de exposição 586 Nota de premiação 591 Comentários sobre a obra descrita 600 Assunto Nome pessoal 610 Assunto Entidade /Autor corporativo 611 Assunto Evento 630 Assunto Título uniforme 650 Assunto Termos tópicos 651 Assunto Nomes geográficos 653 Assunto Termos livres 655 Assunto Gênero/Forma 656 Assunto Ocupação 657 Assunto Função 658 Assunto Curriculum 690 Assunto Local 699 Assunto Adicional 700 Autor secundário 710 Autor corporativo Entrada secundária 711 Evento entrada secundária 740 Título analítico relacionado não controlado Entrada secundária 772 Título Relacionado Entrada de Registro Fonte 773 Entrada Analítica Item Hospedeiro 780 Entrada de título anterior 785 Entrada de título posterior 856 Acesso e Localização Eletrônica 8

9 901 Tombo 902 Aquisição 903 Dados de catalogação 915 Coleção de periódicos 925 Diagnóstico de conservação 931 Link para imagem Fonte: Manual de catalogação Visando um trabalho de catalogação completo e preciso, a pesquisa é realizada em fontes bibliográficas disponíveis na Biblioteca do MASP e em sites de renomadas instituições que abrigam acervos de obras raras e antiquários. Durante esse processo são identificadas instituições que possuem exemplares similares aos da biblioteca (com a mesma datação ou de edição diferente). Antecipando a expectativa de acesso por parte dos pesquisadores e buscando a facilitação da consulta, sempre que possível, são incluídas nos registros informações sobre as condições de consulta, a existência de edições em outras bibliotecas e a disponibilidade do título em outras bibliotecas digitais. A indexação em um registro é realizada após a consulta no Vocabulário Controlado, complementada por várias ferramentas de indexação nacionais e estrangeiras: RANGANATHAN E O ACESSO ÀS OBRAS RARAS E ESPECIAIS Sob alguns aspectos, as Leis de Ranganathan influenciaram a tomada de decisões quanto ao tratamento de obras raras e especiais. S. H. Ranganathan (1892-1972), pensador e bibliotecário indiano, considerado o pai da Biblioteconomia na Índia, elaborou as Cinco Leis da Biblioteconomia em 1931. A Figura 1 representa um exercício de reflexão da equipe da Biblioteca do MASP. Resume as Leis de Ranganathan, traduzidas para a área da Ciência da Informação, e suas respectivas influencias no tratamento de obras raras e especiais. Este exercício pode ser refeito por ocasião de uma avaliação da metodologia empregada, para seu aprimoramento. Tabela 2 : Influência das Leis de Ranganathan no tratamento de obras raras e especiais

10 Leis da Ciência da Influência das leis para o tratamento da coleção de Informação (Rajagopalan e obras raras Rajan) 1 A informação é para o uso Registros bibliográficos das obras raras e especiais disponíveis no banco de dados na Internet Divulgação da forma de consulta já no registro bibliográfico : Consulta mediante solicitação por escrito e agendamento 2 A cada usuário sua Informações relevantes para a área de arte e arquitetura informação cadastradas no registro bibliográfico 3 Cada informação a seu Registro detalhado das obras raras e especiais do ponto usuário de vista físico e temático 4 Economize o tempo do usuário / Economize o tempo dos cientistas da informação Informações para facilitar o acesso às obras : condições de consulta, existência de edições em outras bibliotecas e para compra, disponibilidade do título em outras bibliotecas digitais, etc 5 O sistema de informação é um organismo em crescimento Ajustes no banco de dados para facilitar o acesso e a pesquisa Monitoramento do log de acesso Fonte: adaptação de BEFFA, Maria Lucia; NAPOLEONE, Luciana Maria. Estruturando a informação para um sistema virtual centrado no usuário: a avaliação do website do Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Direito da USP. In: FERREIRA, Sueli Mara Pinto; SAVARD, Réjean (Ed.). The virtual client: a new paradigm for improving client relations in libraries and information services: Satellite Meeting, São Paulo, August 18-10, 2004. München: K.G. Saur, 2005. p.60. A análise das Leis de Ranganathan trazem à discussão o binômio preservação e acesso de obras raras e especiais. REIFSCHNEIDER (2008) observa que tratar uma obra como rara não significa (...) restringir seu acesso, mas preservar algo que dificilmente poderá ser substituído. O desconhecimento leva à não-preservação e, portanto, à indisponibilidade de obras raras a pesquisadores, no futuro.

11 Uma vez que o livro raro normalmente tem acesso restrito por questões de preservação e segurança, faz-se necessário uma metodologia de catalogação abrangente que reproduza ao pesquisador as informações necessárias, para que ele possa conhecer o material e solicitar ou não sua consulta de acordo com suas necessidades. Pela análise dos arquivos de log de acesso, arquivos gerados pela utilização de um banco de dados ou um OPAC na Internet, no caso o banco de dados bibliográficos da Biblioteca do MASP, verifica-se que há procura significativa por obras raras e especiais. REIFSCHNEIDER (2008) trata desse aspecto da consulta a obras raras, observando que a disponibilização digital ajuda o pesquisador que necessita do conteúdo informacional, como o texto do livro, por exemplo, suprindo assim a demanda e mantendo a preservação do material que será consultado em ocasião de real necessidade, como em pesquisas que se tratem dos aspectos materiais do objeto (aspectos bibliológicos, informações de encadernação como costura, encadernação, textura). CONSIDERAÇÕES FINAIS A identificação da coleção especial e rara é a principal dificuldade para o tratamento e descrição do material. O estudo de padrões e experiências similares permite o estabelecimento de critérios de identificação, de parâmetros para seu tratamento e definição de políticas de conservação e acesso. Neste sentido a documentação dos critérios de identificação de obras raras e especiais e das decisões referentes à catalogação das obras, através da indicação específica do preenchimento dos campos MARC existentes na base de dados da Biblioteca foi e ainda é imprescindível para a continuidade do trabalho, para a formação de novos integrantes da equipe e para a consistência dos dados cadastrados no banco de dados. Os critérios de raridade devem ser avaliados sob as perspectivas do curador, do gerente da instituição ou dono do acervo; e do leitor. E, enfim, devem ser formalizadas recomendações metodológicas, que acumulem o universo de valores e circunstâncias envolvidas (PINHEIRO, 2009, p.33). O monitoramento e avaliação periódica da metodologia empregada são necessários com o intuito de aprimorá-la, ampliando assim as possibilidades de recuperação da informação e de estudo sobre a coleção. O conhecimento da coleção, seu histórico, sua procedência, seu conteúdo constitui um

12 dos fatores pra sua adequada descrição e o estabelecimento de relações da obra com a memória da instituição, aliado ao conhecimento especializado de obras raras e do domínio de técnicas de catalogação e indexação, permite o reconhecimento dos elementos importantes e incomuns para descrição dos diversos itens da coleção. O livro raro e especial constitui tanto suporte da informação bibliográfica como objeto museológico ou histórico, e seu tratamento e descrição deve contemplar ambos os aspectos. A metodologia desenvolvida durante o projeto possibilitou a uma visão conjunta da coleção, permitindo o delineamento mais preciso da visão de P. M. Bardi enquanto historiador e bibliófilo. Os três grupos originais da coleção, arte, arquitetura e miscelânea, representam como as opções de P.M. Bardi para seleção de obras significativas para seu estudo e trabalho como historiador e crítico de arte. O trabalho de divulgação supõe igualmente o domínio e conhecimento da coleção e suas potencialidades. Provavelmente a descrição sucinta dos documentos sem a visão do conjunto da coleção e do acervo bibliográfico, em geral, provocaria a perda de informação de pesquisa e de memória institucional. Do ponto de vista da recuperação da informação, os pesquisadores não encontrariam uma informação desejada e buscariam em outras instituições. Finalmente, o registro bibliográfico de obras raras e especiais pode ser considerado como fonte de pesquisa para outras bibliotecas, uma vez que o catálogo está disponibilizado na internet (http://masp.art.br/masp2010/biblioteca_catalogo_online.php). REFERÊNCIAS ANDRADE, Ricardo Henrique Resende de; CANTALINO, Maria das Graças N. A raridade como questão epistemológica e política: um novo paradigma para curadores de acervos especiais. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v.123, p.49-58, 2003. BEFFA, Maria Lucia; NAPOLEONE, Luciana Maria. Estruturando a informação para um sistema virtual centrado no usuário: a avaliação do website do Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de Direito da USP. In: FERREIRA, Sueli Mara Pinto; SAVARD, Réjean (Ed.). The virtual client: a new paradigm for improving client relations in libraries and information services: Satellite Meeting, São Paulo, August 18-10, 2004. München: K.G. Saur, 2005. p.49-71. BRUNET, Jacques-Charles. Manuel du libraire et de l amateur de livres.5. ed. Paris: Firmin Didot frères, 1860-1865. 6v. Disponível em: <http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k209347t.r=jacques+charles+brunet.langpt>. Acesso em : 30 jun. 2012.

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