Governança a das florestas e Areas protegidas. Stéphane Guéneau IDDRI Instituto do Desenvolvimento Sustentavel e das Relações Internacionais



Documentos relacionados
Estratégias para evitar o desmatamento na Amazônia brasileira. Antônio Carlos Hummel Diretor Geral Serviço Florestal Brasileiro

Tratados internacionais sobre o meio ambiente

Desenvolvimento e Meio Ambiente: As Estratégias de Mudanças da Agenda 21

Economia de Floresta em Pé

ELEMENTOS PARA ESTRATÉGIA NACIONAL DE REDD+ DO BRASIL

Diversidade biológica de florestas: implementação do programa de trabalho

A Floresta Amazônica, as mudanças climáticas e a agricultura no Brasil

Convenção sobre Diversidade Biológica: O Plano de Ação de São Paulo 2011/2020. São Paulo, 06 de março de GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

CAPÍTULO 3 PROTOCOLO DE KIOTO

PROTEGENDO AS FLORESTAS DO PLANETA Biodiversidade & Clima

IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA. A VISÃO DO GOVERNO PARA A COP 21

Unidades de Conservação da Natureza

A perspectiva das Organizações Não- Governamentais sobre a política de biocombustíveis

Por que reduzir desmatamento tropical?

Povos Tradicionais e Indígenas da Amazônia Brasileira

I Curso sobre Pagamentos por Serviços Ambientais Porto Seguro, 1 de junho de Chris Holvorcem Instituto BioAtlântica

Nos estúdios encontram-se um entrevistador (da rádio ou da televisão) e um representante do Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural

Instrumentos Econômicos para a Gestão Ambiental Rural na Amazônia: desafios e oportunidades

Workshop sobre o Corredores de Biodiversidade do Escudo da Guiana para agilizar o suporte à realização das metas de Aichi de Biodiversidade

Climate Change, Energy and Food Security 13 de novembro de 2008 Rio de Janeiro

Grupo de Trabalho da Soja Moratória da Soja no Bioma Amazônia Brasileiro

A Floresta Amazônica. A maior floresta tropical do planeta. São 7 milhões de km2 espalhados ao longo de nove países:

4 por Os solos em prol da segurança alimentar e do clima

das Portugal, 19/05/2009

Fotografias PauloHSilva//siaram. Saber Mais... Ambiente Açores

A Água da Amazônia irriga o Sudeste? Reflexões para políticas públicas. Carlos Rittl Observatório do Clima Março, 2015

Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA)

Gestão Ambiental. Disciplina Ciências do Ambiente Profa Elizete A Checon de Freitas Lima

Cooperação científica e técnica e o mecanismo de intermediação de informações

Estratégia Nacional de Biodiversidade BRASIL. Braulio Dias DCBio/MMA

Serviços Ambientais. Programa Comunidades - Forest Trends

CERTIFICAÇÃO SOCIOAMBIENTAL

MANEJO DE PAISAGENS E CONSERVAÇÃO DE RECURSOS SOCIOAMBIENTAIS

PROJETO INTEGRADO ESCOLA VERDE: EDUCAÇÃO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE. Sustentabilidade e Biodiversidade

ANAIS DA 66ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC - RIO BRANCO, AC - JULHO/2014

MÓDULO I: Mudança do Clima e Acordos Internacionais. Efeito Estufa. Fontes de Emissões. Impactos. Acordos Internacionais

Proposta de 20 Metas Brasileiras de Biodiversidade para 2020

Cuiabá 23 de Setembro de 2012 REDD+ em Mato Grosso: Rumo à implementação. Panorama de REDD+ no Mundo e no Brasil

Política Estadual de Governança Climática e Gestão da Produção Ecossistêmica

PLANO DE GESTÃO DA TERRA INDIGENA SETE DE SETEMBRO EM CACOAL-RONDÔNIA-BRASIL. PAITER X PROJETO REDD+

Curso para Lideranças Comunitárias sobre. Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) e. Redução das Emissões do Desmatamento e Degradação (REDD)

Carta de Apresentação Documento Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura 11/06/15

5 Objetivos Principais

MANIFESTO SOBRE PRINCÍPIOS E SALVAGUARDAS PARA O REDD

CHAMADA DE PROPOSTAS Nº 1/2015

Ciências Humanas e Suas Tecnologias - Geografia Ensino Médio, 3º Ano Principais Conferências Internacionais sobre o Meio Ambiente

IV Fórum da Terra. " Mudança Climática o Desafio do Século XXI

SOLUÇOES HÍDRICAS MUNDIAIS

PROJETO DE LEI N o 1.847, DE 2003

Padrões Voluntários de Verificação Bruno Brazil

O Protocolo de Kyoto e o Mandato de Bali:

Conferência Ethos 2012

5/9/2013. Pior seca dos últimos 40 anos, o nível do rio Acre chegou a 1,57 m

Grandes Problemas Ambientais


ATIVIDADE DE ANALISE CRITICA DOS EIXOS, PROG

ExploraçãoIlegalde Madeira O Problema Europeu

COMISSÃO MISTA SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Política Ambiental das Empresas Eletrobras

Indo além do Pixel: o PRODES e a Mudança Climática Global.

FLORESTAS PLANTADAS E CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO BRASIL

O VALOR DA NATUREZA E A ENGENHARIA AMBIENTAL

Contexto. O fenômeno das cheias e vazantes na Amazônia acontece há seculos e as populações tradicionais sabem conviver com ele.

Sustentabilidade. Certificações Ambientais

NOVA SUDAM DESENVOLVIMENTO COM JUSTIÇA SOCIAL E CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS NA AMAZÔNIA

Identificação Contratação de consultoria pessoa física para desempenhar a função de Gerente de Projetos Pleno.

Fundação O Boticário de Proteção à Natureza PROJETO OÁSIS

Política ambiental e desenvolvimento sustentável

Mudanças Construtivas Construindo o Novo Paradigma Climático da Construção Civil

Aplicação da ferramenta Invest para identificação de Áreas de Risco de Contaminação no âmbito do Plano de Segurança da Água

Política Ambiental janeiro 2010

38º Café com Sustentabilidade FEBRABAN

Crise ambiental e saúde no planeta

Unidade de Conservação marinha passa a ser o 11º sítio Ramsar brasileiro e o primeiro na Bahia

Exemplos de políticas de compra responsável para produtos florestais. Exemplo 1

Termo de Referência nº Antecedentes

Desafios e iniciativas do Pará na agenda de clima da Amazônia

EFIÊNCIA DOS RECURSOS E ESTRATÉGIA ENERGIA E CLIMA

Reserva da Biosfera da Amazônia Central

Seminário de Atualização para Jornalistas sobre a COP 9 da Convenção sobre a Diversidade Biológica

PROJETO DE RECUPERAÇÃO DE MATAS CILIARES NO ESTADO DE SÃO PAULO. Programa Operacional do GEF: OP#15 (sustainable land management)

PROTEÇÃO DOS BENS AMBIENTAIS: PELA CRIAÇÃO DE UMA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (OME). Brasília, 20/04/2012 Sandra Cureau

Problemas Ambientais

Regulamento de Avaliação da Conformidade para Etanol Combustível

Centro de Conhecimento em Biodiversidade Tropical - Ecotropical

Serviços Ambientais e PSA, uma Visão Geral

A CARTA DE BANGKOK PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE EM UM MUNDO GLOBALIZADO

Mudança do Clima. Luiz Gylvan Meira Filho

SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO - SNUC

O papel das ONGs internacionais no suporte das ações voltadas ao desmatamento evitado. Ana Cristina Barros The Nature Conservancy

Capítulo 21 Meio Ambiente Global. Geografia - 1ª Série. O Tratado de Kyoto

GRANDES BARRAGENS: ENERGIA VERDE OU ESVERDEADA?

Uma Estratégia Produtiva para Defesa da Biodiversidade Amazônica

Plataforma Ambiental para o Brasil

Termo de Referência nº Antecedentes

ESTRUTURA DO ICMBio 387 UNIDADES ORGANIZACIONAIS SEDE (1) UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (312) COORDENAÇÕES REGIONAIS (11) CENTROS DE PESQUISA (15)

O Estado da Biodiversidade Brasileira: Genes, Espécies e Biomas

Povos tradicionais e locais; Acesso a conhecimento tradicional; Panorama legal nacional e internacional; Repartição de benefícios;

Estratégias Empresariais de Adaptação

U.N. CONFERENCE ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT RIO Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

Transcrição:

Governança a das florestas e Areas protegidas Stéphane Guéneau IDDRI Instituto do Desenvolvimento Sustentavel e das Relações Internacionais

Florestas : um assunto internacional? Câmbio climático : 2004, emissões do desmatamento: 16% das emissões globais do efeito de estufa ; 28% of das emmissões globais de CO2 (IPCC 2007). Terceiro lugar das fontes de emissões após setores da energia e industrial, mais do que o setor dos transportes.

Florestas : um assunto internacional? Conservação da biodiversidade : Florestas tropicais = ecosistemas terrestres mais ricos em termo de diversidade de espécies: 50 % dos animais vertebrados, 60 % das variedades vegetais Estimação de 90 % das espécies terrestres (UNEP, 2001 ; FAO, 2005 & 2007)

Florestas : um assunto internacional? 4 biliões de hectares de florestas no Mundo (30% da superfície terrestre) Florestas tropicais : Asia do Sul-Este 204 miliões de ha América do Sul : 832 miliões de ha (Brasil 478 Miliões de ha) Africa central : 236 milhões de ha Taxa de desmatamento anual de 12, 9 milhões ha (1990-2005) Perda de 3% das florestas mundiais entre 1990 e 2005. Ritmo de 0,2% / ano (FAO 2007) Preocupação mundial

Florestas : um assunto internacional?

Florestas : um assunto internacional? Região Floresta de Floresta atual origem (1000km²) (1000 km²) Africa 6 799 2 302 Asia 15 132 4 275 América central 1 779 55 América Norte 10 877 8 483 América Sul 9 736 6 800 Europa 4 690 1 521 Russia 11 759 8 083 MUNDO 62 203 33 363

Governança global das florestas Divergencias nas negociações internacionais (Humphreys, 1996, 2006) desde o inicio nos anos 1980 Paises desenvolvidos : Floresta como bem publico mundial? Estrategia de boicote da madeira tropical PED : Bem publico mundial = accesso livre = pilhagem dos recursos e dos conhecimentos tradicionais sobre a biodiversidade Beneficios da conservação vão ao Norte, os Custos ficam no Sul. Soberania dos paises sobre os recursos florestais Extensão da negociação a todas as florestas (tropicais e outras).

Governança global das florestas Rio 92 : Declaração sobre florestas (soft law, medida não obrigatoria) 1995 : GIF (Grupo intergovernemental sobre florestas na Comissão do desenvolvimento sustentavel das NU) 100 propostas de ação Ausencia de consenso sobre temas importantes : financiamento, comercio, convenção obrigatoria 1997 : FIF (Forum intergovernamental sobre florestas): Meta : Implementação das propostas do GIF Buscar um consenso international para a elaboração de um mecanismo multilateral obrigatorio 2000, FNUF (Forum das NU sobre Florestas no Conselho economico e social das NU) Avaliação da implementação das 300 propostas GIF + FIF Negociações para o estabelecimento de um acordo obrigatorio 2006 : acordo voluntario

Governança global das florestas Uma arquitetura internacional complexa Instrumentos internacionais sobre florestas Entrada em vigor Unicamente sobre florestas : Forum des Nations Unies sur les Forêts 2000 Accord International sur les Bois Tropicaux 1996 Relacionados com florestas : Convention sur la diversité biologique 1993 Convention sur les changements climatiques 1994 Convention de lutte contre la désertification 1996 Convention de Ramsar sur les zones humides 1975 CITES (Comercio especies ameacadas) 1975 Convention sur les peuples indigènes et tribaux 1991 Accords de l Organisation mondiale du commerce 1995 Conv. conservation espèces migratrices sauvages (Bonn) 1983 Convention sur le patrimoine mondial (Unesco) 1975

Governança global das florestas Emergençia de novas formas de governança «Transnacional advocacy networks» (Activismo das ONGs) Regionalismo (Bacia do Congo) Govenança privada (normas de bom manejo florestal e certificação)

Governança global das florestas Elementos do «regime internacional» fragmentado (Gulbrandsen, 2004) Conservação dos ecossistemas e AP ; apenas um princípio normativo, não tem regulação Criterios e indicadores de manejo florestal : 9 processos regionais ; apenas ferramentas para compartilhar informações. Não tem objectivo, agenda e exigencias de atuação Comercio de produtos florestais : ITTO, CITES, WTO. Não tem medidas especiais sobre comercio sustentavel Sequestração do carbono. Protocolo de Kioto : creditos apenas para plantações ; não tem creditos para florestas existantes nem para MFS Implementação dos Programas Nacionais sobre Florestas Reporting mechanism (relatorio de atuação dos Estados). Mais recomendações do FNUF não obrigatorias => avaliação dos progressos árduo, ausencia de sanções.

O papel das areas protegidas AP = Ferramenta principal das estrategias de conservação da biodiversidade florestal Ex desmatamento na Amazonia : dentro das AP = 1,3 % fora das AP = 17 %. Crescimento forte : 90 % das AP na lista das NU tem menos de 40 anos de existencia. Duplicação dos numeros de AP entre 1992 e 2002. Aumentação de 2% / ano das florestas destinadas à conservação da biodiversidade no periodo 2000-2005. (FAO 2007) AP representa 23 % das Florestas tropicais

Os principais pontos de debate Porque implementar as AP? Onde implementar as AP? Quais são os criterios de escolha dos lugares das AP? Visão utilitarista : Amelioração dos recursos geneticos pela agricultura Bem estar das populações que usam diretamente a biodiversidade Oportunidade de uso futuro (remedios...) Visão naturalista : nivel de biodiversidade (numeros e variedade de especies...) especies ameaçadas nivel de endemismo Visão pragmatica : probabilidade de sucesso da estrategia de conservação nivel de densidade humana (nivel de ameaça) Visão «simbolica» especies emblematicas (grandes mamiferos) ecossistemas emblematicos (Amazonia)

Os principais pontos de debate Oposição entre conservação e desenvolvimento : Uso sustentavel versus conservação pura: Classificação AP da IUCN : Cat V : AP para o uso recreativo Cat VI : AP para o uso sustentavel dos recursos Locke et Dearden (2005) : categorias V et VI da UICN não tem a conservação com objetivo.

Os principais pontos de debate Oposição entre conservação e desenvolvimento : Manejo florestal ou outro uso sustentavel? A exploração florestal com plano de manejo sustentavel é uma contribuição forte à conservação dentro e fora das areas protegidas : posição das empresas, industriais doadores (França), alguns paises do Sul (Brasil), alguns ONGs (WWF, IUCN) A exploração florestal seja com o sem plano de manejo tem impactos importantes sobre a biodiversidade. Deve ser proibida e substituida com outros usos sustentaveis : posição das ONGs (CI, TNC, WRM), doadores (EUA, UE) communidade cientifica (biologia...).

Os principais pontos de debate Oposição entre conservação e desenvolvimento : Participação das populações locais : Obstaculo aos objetivos de conservação (Niesten & Rice, 2004) e o mito das estrategias participativas (Oates 1999 ; Terborgh 1999) A participação como condição para a conservação e o papel dos conhecimentos tradicionais na conservação (Western & Wright, 1994 ; Hulme et Murphree 2001)

Os principais pontos de debate Instrumentos diretos ou indiretos?: Economia de bens ou economia de serviços? Instrumentos indiretos : pagar ações que contribuam indirestamente à conservação : Projetos integrados de desenvolmimento e conservação Instrumentos diretos : Compensação para a conservação : (Ferraro e Kiss, 2002) pagamento dos serviços ecossistemicos (Wunder, 2005) Concessões de conservação (Rice e Niesten, 2004) Compensações para desmatamento evitado (Moutinho).

Os principais pontos de debate Compensação para desmatamento evitado : chantagem ou possibilidade de financiar a conservação e as AP? Aliança de 20 paises (80 % das florestas tropicais) 21/09/2007, M. Kaban, Indonesian Forest Minister : Indonesia poderia vender ate 14 milhões m3 de madeira mais vende apenas 9 para promover sustentabilidade das florestas. «Who pays? We are saving the forest but taking an economic loss» 3/10/2007, M. Pembe, Ministro do Meio Ambiente da Republica Democratica do Congo : «Nous acceptons de contribuer à l'équilibre du climat, mais nous exigeons 3 milliards de dollars pour tout ce que nos forêts apportent comme bien pour résorber le dioxyde de carbone dégagé par les pays industrialisés»,

Os principais pontos de debate Compensação para desmatamento evitado : problemas tecnicos Cenario de base? Additionality Leakage Riscos ao longo prazo Implementação