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Transcrição:

Mary Dota: Um Núcleo Sem Limites 1 Isabella Christina Silva de LIMA 2 Mayara Crepaldi CHAVES 3 Pedro Henrique SACARDO 4 Renan da Silva WATANABE 5 Vitor Reghine MANFIO 6 Daniela Pereira BOCHEMBUZO 7 Mayra Fernanda FERREIRA 8 Universidade Sagrado Coração USC, Bauru, SP RESUMO Esta proposta aborda a produção de um radiodocumentário sobre o Núcleo Habitacional Mary Dota, localizado em Bauru-SP, considerado nas décadas de 80 e 90 como o maior núcleo populacional da América do Sul. Atualmente, apresenta a maior densidade populacional da região central do estado de São Paulo e é tido por seus moradores como uma região bem-sucedida, detentora de estrutura comercial, educacional e cultural únicas. A identificação dos moradores com o local tem propiciado a eleição de representantes na Câmara Municipal de Bauru e outros órgãos representativos da cidade. Para relatar essa história, o trabalho envolveu pesquisa documental, pesquisa de campo e pesquisa bibliográfica, permitindo a elaboração de um produto radiofônico que reflete sobre a importância do local para o crescimento da cidade. PALAVRAS-CHAVE: jornalismo; rádio; radiodocumentário; Mary Dota; critérios de noticiabilidade. 1. INTRODUÇÃO O início da história radiofônica no Brasil se deu, oficialmente, em sete de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da Independência do país. No entanto, segundo Ortriwano (1985), a implantação do meio de comunicação ocorreu apenas no ano seguinte e não atingiu a demanda de toda a população. 1 Trabalho submetido ao XXIII Prêmio Expocom 2016, na Categoria Jornalismo, modalidade JO15 Documentário Jornalístico e Grande Reportagem em áudio e rádio. 2 Estudante do 7º semestre de Jornalismo da USC, e-mail: isabellalima0405@hotmail.com. 3 Estudante do 7º semestre de Jornalismo da USC, e-mail: mayara-6@hotmail.com. 4 Estudante do 7º semestre de Jornalismo da USC, e-mail: pedrohterrabranca@hotmail.com. 5 Aluno líder e estudante do 7º semestre de Jornalismo da USC, e-mail: renansw2@hotmail.com 6 Estudante do 7º semestre de Jornalismo da USC, e-mail: vitormanfio@hotmail.com. 7 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Jornalismo, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade (GPECOM/USC), email: daniela.bochembuzo@usc.br. 8 Co-orientadora do trabalho. Coordenadora e professora do Curso de Jornalismo, membro do Grupo de Pesquisa Comunicação, Mídia e Sociedade (GPECOM/USC), email: mayra.ferreira@usc.br.

[...] o rádio nascia como meio de elite, não de massa, e se dirigia a quem tivesse poder aquisitivo para mandar buscar no exterior os aparelhos receptores, então muito caros. [...] Nasceu como um empreendimento de intelectuais e cientistas e suas finalidades eram basicamente culturais, educativas e altruísticas. (ORTRIWANO, 1985, p. 14). No decorrer dos anos, o rádio foi se expandindo e se adaptando a todos os públicos, vivendo seus anos dourados durante as décadas de 1930 e 1940. Após esse período, é lançado o fator que desencadearia o declínio do veículo radiofônico: a televisão. Quando surge, ela vai buscar no rádio seus primeiros profissionais, imita seus quadros e carrega com ela a publicidade (ORTRIWANO, 1985, p. 21). Segundo a autora (1985), para enfrentar essa concorrência da televisão, o rádio precisou se adaptar e reestruturar sua programação com menor suporte financeiro para conseguir atrair a atenção de seus ouvintes novamente. Com um conteúdo mais voltado ao jornalismo, o veículo foi se tornando, de certo modo, um companheiro dos ouvintes e se consolidou, principalmente, por seu lado voltado à prestação de serviço. No entanto, ao desertar um pouco dessa vertente, é possível encontrar alguns programas híbridos, que são pouco difundidos no território brasileiro e que indicam o potencial criativo e informativo do rádio. Dentre estes, estão os programas especiais e os documentários. Este último, que se enquadra no desenvolvimento deste trabalho, é definido por Ferraretto (2001, p. 57) como o formato que aborda um determinado tema em profundidade. Baseia-se em uma pesquisa de dados e de arquivos sonoros, reconstituindo ou analisando um fato importante. Inclui, ainda, recursos de sonoplastia, envolvendo montagens e elaboração de um roteiro prévio. Essa produção do roteiro deve ser feita com muita atenção, pois há a necessidade de se imaginar tudo que envolve a veiculação do conteúdo, desde como será feita a abordagem até a consequência dessa mensagem para o receptor. O redator que produz tal roteiro terá em mente a voz de um apresentador, um momento determinado na estratégia de programação, um público alvo e um determinado efeito sobre esse público, dados que não estarão explícitos no papel encaminhado à cabine de locução. (MEDITSCH, 1999, p. 178). Meditsch (1999) também destaca que, para o roteiro ser bem aceito por grande parte do público, o texto precisa ser simples, pois deve-se levar em consideração que se

trata de uma meio cego: A limitação do código reduzindo tanto o número de itens léxicos quanto de operadores (regras gramaticais) de uso corrente aumenta a comunicabilidade e facilita a produção da mensagem. (LAGE, 1985, apud MEDITSCH, 1999, p. 178). Além disso, Chantler e Harris (1998 apud PESSOA, FERRARETTO e KLÖCKNER, 2010, p. 495-496) apontam que um radiodocumentário precisa contar com uma elaborada [...] abertura ou cabeça, para dar ao ouvinte a noção exata do que vai ser noticiado a seguir [...]. Para tanto, os autores (2010) acrescentam que o produtor possui alguns desafios, como o de buscar um desfecho para a história, a edição de imagens sonoras e a valorização do documentário por meio das palavras das outras pessoas causam mais impacto. Outro ponto citado por Pessoa (apud FERRARETO e KLÖCKNER, 2010) para uma boa produção, é que se faz necessário um grande número de fontes ouvidas, ou seja, um leque variado de entrevistas que contribuirão para a elaboração do produto, agregando credibilidade a ele. As entrevistas são definidas por Medina (2008, p. 8) como uma técnica de interação social, de interpretação informativa [...]; pode também servir à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação. Para se conseguir uma boa entrevista junto à fonte, o entrevistador necessita ir muito além das simples perguntas e da espetacularização. É imprescindível que o momento se torne um diálogo e não uma situação ensaiada. É uma busca em comum. O entrevistador e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona uma verdade. (MORIN apud MEDINA, 2008, p. 15). Inseridos neste contexto estão alguns subgêneros, dentre eles, destaca-se a entrevista conceitual, definida por Medina (2008, p. 16-17) como a busca por informações e interpretações sobre o tema com especialistas. Neste caso, o interesse está em conceitos, não em comportamentos ; e o perfil humanizado (2008, p. 18), que se trata de uma entrevista aberta que mergulha no outro para compreender seus conceitos, valores, comportamentos, histórico de vida. Por meio destes conceitos, foi escolhido um tema que se enquadrasse no desenvolvimento de um radiodocumentário a ser desenvolvido como atividade final da disciplina de Laboratório de Jornalismo Radiofônico II (Documentário), alocada no

quinto semestre do curso de Jornalismo da Universidade do Sagrado Coração. A decisão se deu pelo Núcleo Habitacional Mary Dota, localizado em Bauru, interior paulista. O conjunto foi inaugurado no dia 8 de dezembro de 1990. Em 2015, completou 25 anos e está entre os maiores núcleos habitacionais da América Latina, fator determinante para a escolha do tema. Suas construções foram designadas à população bauruense que buscava uma moradia adequada. A obra durou dois anos, com início em abril de 1988 (COHAB, 2015). Segundo dados da Cohab (2015), o núcleo foi construído em área de 170 mil metros quadrados. Durante a construção, foram edificadas 1.638 casas que possuíam três quartos, e 2.000 casas com dois quartos. O projeto habitacional foi de alta complexidade e, por conta disso, a construção foi dividida em três etapas. Na época, foram gastos dois bilhões e 560 mil cruzeiros, o que representa, atualmente, cerca de um milhão de reais. No decorrer da construção do núcleo, o prefeito Tuga Angerami deixou o mandato e Antônio Izzo Filho assumiu o cargo (PREFEITOS, c2010-2015), sendo o responsável pela entrega do conjunto habitacional. Com o passar dos anos, o Mary Dota tornou-se local para abertura de comércios, fomentando a economia do núcleo, que pode ser considerado, nos dias de hoje, independente, pois os moradores encontram estabelecimentos no local para compras e outras atividades diárias, sem a necessidade de se deslocar até o centro da cidade. Atualmente, conforme dados da Cohab (2015) e da Prefeitura de Bauru (ELIAS, 2015), o núcleo possui 3.638 casas com, aproximadamente, 20 mil moradores. O Mary Dota é popularmente comparado como uma cidade dentro de outra cidade, devido ao importante comércio local, além do número de moradores maior do que algumas cidades da região. Por conta de diversos fatores que envolvem o núcleo, o radidocumentário Mary Dota: um núcleo sem limites se relaciona com os critérios de noticiabilidade, que são a base para a compreensão da notícia enquanto produto. Podemos definir o conceito de noticiabilidade como o conjunto de critérios e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, isto é, possuir valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, é susceptível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de ser

transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo valor notícia. (TRAQUINA, 2008, p.63). Desta forma, o produto desenvolvido atende a uma proposta jornalística, pois é possível aliá-lo a tais critérios que são fundamentais para o interesse local e para a cultura vertentes em que este radiodocumentário se apoia. Segundo Traquina (2008), os valores-notícia são um elemento básico da cultura jornalística que os membros desta comunidade interpretativa partilham. Servem de óculos para ver o mundo e para o construir. Entre os critérios existentes nesta proposta estão a proximidade, a relevância, a objetividade e a novidade. Segundo Erbolato (2008), a proximidade possui características que geram interesse nas pessoas e cita que os fatos divulgados ocorrem no âmbito em que a população ou a comunidade está localizada. A relevância destaca-se por exercer a relação e a importância do produto entre as pessoas. Para algo ser relevante, é necessário um impacto, algo que seja atrativo, importante e compreensível. Este critério é fundamental no trabalho jornalístico, um elemento chave para que a notícia seja atrativa. Este valor notícia responde à preocupação de informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas. Este valor-notícia determina que a noticiabilidade tem a ver com a capacidade de o acontecimento incidir ou ter impacto sobre as pessoas, sobre o país, sobre a nação. (TRAQUINA, 2008, p. 80) A objetividade é um critério que reúne elementos para comprovar determinado fato por meio das fontes. O papel do entrevistado é extremamente importante para a compreensão do conteúdo. O jornalista exerce a função de revelar e expor dados e informações, contrariar e apurar o que foi dito pela fonte, questionar e buscar algo que comprove tais dados, ou seja, comprar a tese. Outra característica da notícia é a objetividade. Deve ser publicada de forma sintética, sem rodeios e de maneira a dar noção correta do assunto focalizado. Quem colhe dados, observando o local ou entrevistando pessoas capacitadas a proporcionar informações para a matéria, deve agir com isenção de ânimo. (ERBOLATO, 2008, p. 56)

Como último critério de noticiabilidade que dialoga com este produto está a novidade, que busca fatos novos, ou seja, conteúdos que não sejam rotineiros e apresentem elementos plausíveis para que não caiam em rotina. O novo é um atrativo que estimula a busca e a curiosidade dos ouvintes. Para Traquina (2008), o mundo jornalístico se interessa por algo que foi realizado pela primeira vez. 2. OBJETIVO O grupo visa mostrar, por meio dos conceitos apresentados aliados a este radiodocumentário, a autonomia do Núcleo Habitacional Mary Dota. O conjunto possui inúmeros aspectos que o condicionam ao patamar de uma cidade dentro de Bauru, como comércio local, festas, força social, política, entre outros, que contribuem para a comprovação dessa tese. 3. JUSTIFICATIVA Ao diagnosticar a importância do núcleo Mary Dota perante a cidade de Bauru e a paixão existente por grande parte dos moradores do local, mostrou-se evidente a necessidade de exploração de temática. O meio radiofônico foi escolhido, em um primeiro momento, com base na sua fugacidade (FERRARETO, 2001), pois se faz simultâneo e instantâneo, ou seja, além de ter um alcance maior no número de receptores, estes receberão mais rapidamente a mensagem a ser transmitida. Além disso, é possível destacar a sensorialidade, já que o rádio é um meio cego e há a necessidade de oferecer imagens sonoras. Por meio dos conteúdos difundidos no produto, o ouvinte terá a liberdade de criar, com base no que está sendo dito, a imagem do assunto/pessoa/fato (BARBOSA FILHO, 2003, p. 45). O formato radiodocumentário foi escolhido devido à sua função de análise, que é, de certo modo, mais aprofundada em relação aos demais modelos radiofônicos. Dessa forma, seria possível abordar um maior número de pontos relevantes, já que o radiodocumentário Constitui verdadeira análise sobre tema específico. Tem como função aprofundar determinado assunto, construído com a participação de um

repórter condutor. O documentário jornalístico mescla pesquisa documental, medição dos fatos in loco, comentários de especialistas e de envolvidos no acontecimento, e desenvolve uma investigação sobre um fato ou conjunto de fatos reais, oportunos e de interesse atual, de conotação não-artística. (BARBOSA FILHO, 2003, p. 102). Aliando esses fatores, optou-se pela produção deste conteúdo em decorrência das citadas relevância e magnitude do núcleo, que se destacam desde a sua inauguração. Além disso, o grupo visou uma temática diferente do que normalmente é veiculado na mídia a respeito do Mary Dota: em vez de notícias negativas sobre o local, questões que valorizassem inúmeras vertentes, desde o comércio até o âmbito social. 4. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS O início do processo de produção do radiodocumentário Mary Dota: um núcleo sem limites se deu por meio de pesquisa bibliográfica sobre as temáticas relacionadas ao produto, desde a história do rádio até a respeito de radiodocumentário, foco desta produção e citado por McLeish (1999) como de extrema relevância, pois [...] a principal vantagem [...] é tornar o tema mais interessante e mais vivo ao envolver um maior número de pessoas, de vozes e um tratamento de maior amplitude. É preciso entreter e ao mesmo tempo informar, esclarecer e também estimular novas ideias e interesses. (MCLEISH, 2001, p.192). Com intenção de valorizar o produto e tentar deixá-lo rico em detalhes, o grupo realizou uma pesquisa documental junto à COHAB Companhia de Habitação Popular de Bauru e à prefeitura da cidade, buscando elencar dados históricos relacionados ao Núcleo Habitacional Mary Dota, como aquisição do terreno, construtoras, número de casas, entre outros. Foram efetuadas também entrevistas, visando agregar informações a essas pesquisas. Além disso, tais entrevistas contribuíram consideravelmente para construção do produto, já que, em muitos casos, o fator memória se fez presente e enriqueceu o material. Ao reunir todos estes conteúdos, foi possível produzir o roteiro com base nos conceitos apontados anteriormente neste trabalho, fazendo referência à estrutura apresentada pelo autor Meditsch (1999). A partir disso, foram realizadas gravações no

laboratório de rádio da universidade e, posteriormente, as edições, tanto de locução quanto das entrevistas e trilhas sonoras utilizadas no decorrer do radiodocumentário. 5. DESCRIÇÃO DO PRODUTO Este radiodocumentário retrata a história do Núcleo Habitacional Mary Dota, desde seu surgimento até os dias atuais. O desenvolvimento, de uma forma geral, é um dos principais temas abordados na proposta, já que o núcleo foi considerado, durante muitos anos, o maior conjunto habitacional da América Latina, segundo dados concedidos pela instituição idealizadora do projeto, a COHAB (2015). O produto contou com a participação de 15 fontes, selecionadas para ilustrar cada subtema abordado ao longo do trabalho. Além disso, quatro fontes sinalizaram recursos ilustrativos no início do produto, a fim de despertar a atenção do receptor. As músicas que compõem a trilha sonoras foram elencadas de acordo com o assunto que estava sendo abordado, por exemplo, o instrumental da música Tá Perdoado, da cantora Maria Rita com um ritmo de samba envolvente, foi usada como fundo musical nas partes que abordavam alguns aspectos culturais do núcleo. Também foi utilizado, no início do trabalho, a música Meu Bairro Canta, do músico Rolando Boldrin, para relacionar com a temática abordada ao longo do radiodocumentário. No decorrer do produto, o grupo apresentou a história do Mary Dota em ordem cronológica e dividida por subtemas, sendo eles, o contexto econômico de Bauru na década de surgimento do núcleo; a atuação da COHAB Companhia de Habitação Popular; história da Mary Dota de quem o núcleo recebeu o nome; a referência do conjunto habitacional para a cidade; a influência do comércio do núcleo na economia de Bauru; os aspectos culturais específicos do Mary Dota; a potência que a região da Zona Leste, onde o conjunto habitacional está inserido, tem nas eleições; o projeto de uma subprefeitura no núcleo; o depoimento de uma moradora bem-sucedida que tem condições de morar em um bairro com mais status, mas que, por encontrar tudo o que precisa no Mary Dota, optou por morar no núcleo; e, por fim, o depoimento de umas das primeiras moradoras do Mary Dota, que conta como é ver todo o crescimento do núcleo durante os 25 e todo o seu afeto pelo núcleo.

Incluindo as músicas instrumentais e a ficha técnica, o radiodocumentário possui tempo total de 20 minutos e 05 segundos. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O radiodocumentário Mary Dota: um núcleo sem limites atendeu, na visão do grupo, a proposta estabelecida no início do processo. Além disso, conseguiu-se comprovar a tese de que o núcleo possui força para atender os seus moradores e ser considerado como uma cidade inserida no município bauruense. É possível afirmar que o produto se fez relevante e atendeu ao formato jornalístico de radiodocumentário, seguindo a estrutura aprendida em sala de aula. O resultado satisfez a equipe, pois, por meio do veículo radiofônico, que carrega embutido em suas características a acessibilidade de grande parte da população e o seu poder de sensorialidade, é possível atrair com mais facilidade os receptores. Outro fator que contribuiu neste trabalho foi a estrutura do radiodocumentário, já que, apesar de se trabalhar apenas com fatos verossímeis, há, de certo modo, uma liberdade textual, pois é permitido usufruir de construção lexical mais envolvente. Levando em consideração a temática abordada, pode-se notar que o produto atende a alguns critérios de noticiabilidade, pois, referente à proximidade, o assunto está ligado à população da cidade. Voltado para a relevância, o núcleo se faz pertinente tanto para seus moradores quanto para o desenvolvimento de Bauru. Já na objetividade, por meio de depoimentos, dados e informações, busca-se levar conhecimento aos ouvintes com uma estrutura cronológica e linear, adequadas ao rádio. Por último, há a novidade, pois o tema é pouco difundido na angulação abordada por este radiodocumentário. Inclusive, este foi um fator primordial para a escolha da temática, já que a visão midiática do Mary Dota é marginalizada e o grupo desejava proporcionar valorização e reconhecimento ao local. Portanto, a equipe acredita que retratar o Núcleo Habitacional Mary Dota como uma potência sem limites é um ganho para a população e para a própria cidade, além de ser uma satisfação cumprir o papel jornalístico de promover uma reflexão calcada na verdade e em histórias de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofônicos: os formatos e os programas em áudio. São Paulo: Paulinas, 2003. COHAB Companhia de Habitação Popular de Bauru. Mary Dota: dados levantados. Bauru, 2015. ELIAS, Ademir. Dados Mary Dota [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <mayara-6@hotmail.com> em 8 maio 2015. ERBOLATO, Mario L. Técnicas de Codificação em Jornalismo Redação, Captação e edição no Jornal da Rádio. São Paulo: Editora Ática, 2008. FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história e a técnica. Porto Alegre: Editora Sagra Luzzatto, 2001. MCLEISH, Robert. Produção de Rádio: um guia abrangente de produção radiofônica. São Paulo: Summus, 2001. MEDINA, Cremilda Araújo. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo: Ática, 2008. MEDITSCH, Eduardo. A rádio na era da informação: Teoria e técnica do novo radiojornalismo. Coimbra: Minerva, 1999. ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio: os grupos de poder e a determinação dos conteúdos. São Paulo: Summus, 1985. PESSOA, Sônia Caldas. Radiodocumentário: gênero em extinção ou lócus privilegiado de aprendizado? In: FERRARETTO, L.; KLÖCKNER, L. E o rádio? Novos horizontes midiáticos. Porto Alegre: Edipucrs, 2010. p. 494-505. PREFEITOS de Bauru desde 1896. Prefeitura de Bauru, c2010-2015. Disponível em: <http://www.bauru.sp.gov.br/arquivos/arquivos_site/publicacoes/prefeitos%20de%20b auru.pdf>. Acesso em: 9 jun 2015. TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo Volume l Por que as notícias são como são?. Florianópolis: Editora Insular, 2005.. - Volume ll A tribo jornalística uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Editora Insular, 2008.