As Questões Agrária e Agrícola Brasileiras A Manutenção da Concentração Fundiária e a Modernização das Práticas Agrícolas
Renda da Terra representa a parcela do produto da terra que é paga ao proprietário pelo uso das forças originais e indestrutíveis do solo. (Ricardo, David. 1982, p. 65).
A Histórica Concentração de Terras no Brasil: Período Jango/ditadura militar A pressão popular sobre o governo tornava-se insustentável, quanto as reformas estruturais. As reformas de base indicadas por João Goulart tinham na reforma agrária uma de suas prioridades. A proposta estava alicerçada na desapropriação de fazendas superiores a quinhentos hectares marginais a estradas e propriedades superiores a trinta hectares próximas de açudes e projetos de irrigação financiados pelo Governo.
A Histórica Concentração de Terras no Brasil: Período Jango/ditadura militar Este elemento desagradou as elites locais e ampliou o medo dos EUA, visto a recente Revolução Cubana e a ampliação da presença socialista no seu hemisfério. A elite local somada aos militares e interesses dos EUA potencializaram o Golpe de 1964, impedindo a consolidação das reformas de base propostas por Jango. Contudo devemos lembrar que o ETR (estatuto do trabalhador rural) foi instituído, desencadeando um forte êxodo rural.
A Transferência de Pobreza do Campo para a Cidade o r P R f b o t r e C O R
O INCRA, nos dados do Cadastro Rural, designa como posse os imóveis rurais sem registro legal, independente do seu tamanho. As posses têm grande representatividade na estrutura fundiária brasileira. Elas podem estar em terras públicas, devolutas ou, em casos mais raros, em terras privadas. Por ser prática ilegal, há grande possibilidade do fenômeno ser superior ao alcançado pelos dados do INCRA. De acordo com o Instituto, em 2003 existiam no Brasil 1.172.980 imóveis de posse (27,3% do total de imóveis rurais do Brasil), os quais perfaziam 66.285.346,8 ha (15,8% da área total dos imóveis rurais brasileiros).
Militares e a Questão Agrária A criação do Estatuto da Terra no final de 1964, mais precisamente em 30/11/1964. O Estatuto poderia viabilizar a reforma agrária, porém os militares se preocuparam com os grande projetos transnacionais, abandonando em parte a questão agrária. A expansão do capitalismo no campo. A expansão da fronteira agrícola em direção à Amazônia.
Roberto Campos e a Reforma Agrária
Movimentos Pelo Acesso a Terra MST e LOC são dois exemplos atuais e diferentes de grupos que buscam o acesso a terra, tendo em vista a manutenção da estrutura fundiária concentrada, ociosa e em débito com o governo (ITR). A diferença entre as duas organizações esta inicialmente na popularidade e no tipo de ação. O MST mostra-se com uma proposta de assentamento dos trabalhadores, privilegia a ocupação de terras ociosas. Já a LOC (Liga Operária e Camponesa) possui uma ação mais agressiva, promovendo uma ocupação de todo o tipo de latifúndio, acompanhado de forte violência e assassinato dos proprietários.
Carlos Walter Porto Gonçalves
O processo de radicalização do discurso, contrário aos quilombolas e indígenas; povos fixados historicamente na terra e se organizando de forma diferenciada em relação as atuais propriedades com produção agrícola integrada aos CAIs; se espalha principalmente através dos Lobbies fixados no país tanto nas esferas estaduais e federais. O discurso dos políticos incita a violência e reafirma a apropriação da terra pela força e grilarem de terras de povos tradicionais. O discurso deu aos dois políticos gaúchos o prêmio de racistas do ano, segundo o grupo Survival da ONU. Latifundio e Violência O deputado Luis Carlos Heinze possui fortes vínculos com corporações agroindustriais, além de defender o interesse dos grandes latifundiários e grileiros de terras públicas, indígenas e quilombolas.
Módulos Rurais: O que é um Latifúndio? O módulo rural é definido a partir da dimensão de cada município, das necessidades para a produção dos pequenos produtores e das principais atividades agrícolas existentes na região em questão. Este fator possibilita grandes variações quanto a dimensão do módulo por município e a caracterização do latifúndio.
Módulos Rurais: O que é um Latifúndio? Minifúndio todo imóvel rural cuja dimensão é inferior ao módulo fiscal fixado para o município. Pequena propriedade o imóvel rural cuja dimensão esteja compreendida entre1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais. Média propriedade o imóvel rural cuja dimensão esteja compreendida entre mais de 4 (quatro) e 15 (quinze) módulos fiscais. Grande propriedade o imóvel rural cuja dimensão é superior a 15 (quinze) módulos fiscais.
TABELA 58 Dimensões dos módulos fiscais Unidades da Federação 2010 (em ha) conclusão Unidades da Federação Módulo máximo Módulo mínimo Mais frequente Rio de Janeiro 35 5 10 São Paulo 40 5 16 Paraná 30 5 18 Santa Catarina 24 7 20 Distrito Federal (2) 5 5 5 Goiás 80 7 30 Mato Grosso 100 30 80 Mato Grosso do Sul 110 15 45 Fonte: Incra Elaboração: DIEESE Nota: (1) Em metade dos município corresponde a 70 hectares, na outra metade, a 50 hectares (2) Módulo único Obs.: As variações resultam do fato de que o Incra determina o módulo fiscal para cada município levando em conta a qualidade do solo, relevo, acesso etc. MÓDULO FISCAL - Unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando os seguintes fatores: 1) tipo de exploração predominante no município; 2) renda obtida com a exploração predominante; 3) outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda e da área utilizada; 4) o conceito de propriedade familiar.
Módulos Rurais: O que é um Latifúndio? Latifúndio por dimensão: corresponde a grandes propriedades rurais, com atividade vinculada na agroindústria e seus produtos geralmente são destinados ao mercado externo. Latifúndio por exploração: esse tipo de propriedade tem como característica a improdutividade, pois o proprietário adquire terras com intuito de desenvolver especulação imobiliária, dessa forma não há nenhuma intenção de cultivá-las, não produzindo empregos, não gerando produção e não colaborando com imposto para o país. Empresa rural: propriedade de porte médio e grande que produz matéria-prima (laranja, soja, cana-de-açúcar, leite, carne, entre outros) destinada para as agroindústrias.
Ociosidade das Grandes Propriedades Durante a década de 1980, notamos que grandes instituições bancárias passaram a fugir da especulação financeira comprando terras. Muitas destas instituições já estavam aglomerando grandes extensões territoriais a partir do endividamento adquirido por muitos produtores (pequenos e médios) na busca pela modernização de suas lavouras. Grande parte das terras também foram adquiridas por especuladores imobiliários, na proximidade dos grandes centros urbanos em expansão. Muitos dos latifundiários, tirando a área de reserva florestal, não utilizam grande parte de suas propriedades de forma produtiva. Dados do INCRA (instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) mostram que mais de 80% dos latifúndios são ociosos em suas áreas produtivas.
48 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 GRÁFICO 10 62,5 Norte Distribuição das áreas dos imóveis rurais (1) não explorados por tipo de área - Brasil e Grandes Regiões 1998 (em %) 30,1 81,4 7,4 7,8 10,8 Aproveitável não utilizada 33,3 26,1 Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Não aproveitável 40,5 Preservação do meio ambiente (2) Grandes Regiões Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Área dos imóveis (em 1.000 ha) 21.018,2 4.112,6 1.379,2 701,7 11.137,3 38.348,9 Fonte: Incra. Estatísticas cadastrais. Elaboração: DIEESE Notas: (1) O conceito de imóvel rural definido pelo Incra encontra-se no glossário; (2) Áreas destinadas à Reserva Legal e Preservação Permanente Obs.: O Incra exclui 26.682 imóveis com dados inconsistentes: imóveis com área total menor que 99% do somatório das áreas exploradas, reserva legal, preservação permanente, inaproveitável e aproveitável não utilizada; imóveis com área total maior que 105% do mesmo somatório 30,6 13,8 55,5 64,4 8,1 27,6 63,4 8,4 28,1
Ociosidade das Terras no Brasil
Atores Rurais Produtor familiar. Latifundiários (pessoas físicas e jurídicas). Grileiro Posseiro Parceiro (meeiro) arrendatário Capataz trabalhador volante (bóia-fria) pistoleiro (jagunço ou trapizomba)
Conflitos e violência no Campo Grande parte da violência no campo brasileiro está vinculada a questão da posse da terra. Posseiros, grileiros, latifundiários e polícia vivem uma rotina de sangue e ódio no meio rural. A impunidade no campo deve-se a participação de políticos, funcionários públicos e policiais na maioria dos inquéritos.
Violência no campo contra a pessoa Brasil e Grandes Regiões 2010 (em %) Fonte: CPT. Conflitos no Campo Elaboração: DIEESE Nota: (1) Pessoas envolvidas em situações violentas, não apenas as que sofreram violência direta (2) São as mortes que acontecem em consequência dos conflitos Obs.: O número de conflitos e pessoas envolvidas refere-se à soma das ocorrências dos conflitos por terra (638), ocupações (180), acampamentos (35), conflitos pela água (87), trabalho escravo (204), superexploração e desrespeito trabalhista (38) e outros conflitos (4) contabilizados pela CPT TABELA 96 Violência Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil Em % Em n os absolutos Conflitos 33,5 37,1 15,5 5,5 8,4 100,0 1.186 Pessoas envolvidas (1) 29,7 42,1 19,1 2,5 6,6 100,0 559.401 Assassinatos 61,8 35,3 2,9 0,0 0,0 100,0 34 Tentativas de assassinatos 25,5 18,2 7,3 1,8 47,3 100,0 55 Mortos em consequência (2) 78,9 5,3 5,3 0,0 10,5 100,0 19 Ameaçados de morte 64,8 28,8 4,0 0,0 2,4 100,0 125 Torturados 50,0 25,0 0,0 25,0 0,0 100,0 4 Agredidos fisicamente 21,1 26,7 21,1 25,6 5,6 100,0 90 Presos 17,0 30,7 27,3 23,9 1,1 100,0 88
Peonagem: Escravidão por Dívida A escravidão por dívida continua sendo uma prática visível no campo brasileiro. Normalmente ocorre a partir do aliciamento de trabalhadores que são levados para áreas interioranas, distantes de suas moradias e dos olhos do poder público. A ação do Estado contra este tipo de prática está sendo potencializada na última década, porém os focos deste tipo de exploração ainda são numerosos, especialmente na região Norte e Nordeste.
Fonte: IBGE/MTA/SUS/CPT
Operações de fiscalização móvel de combate ao trabalho escravo Brasil 1997-2010 (em n os absolutos) Fonte: MTE. SIT/Defit/Detrae. Elaboração: DIEESE Nota: (1) Para cada irregularidade encontrada é lavrado um Auto de Infração que se transforma em Processo Administrativo com duplo grau de recurso. Sendo julgado procedente, é aplicada uma multa para cada infração. Obs.: a) Os dados sobre trabalhadores registrados não foram computados entre 1997 e 1999. Os dados de pagamento de indenizações não foram computados entre 1997 e 1999; b) Data de acesso: 16/02/2011 TABELA 99 Ano Operações Fazendas fiscalizadas Trabalhadores registrados Trabalhadores libertados Pagamento das Autos de indenizações infração (em R$ 1.000) lavrados (1) 1997 20 95-394 - 796 1998 17 47-159 - 282 1999 19 56-725 - 411 2000 25 88 1.130 516 473 522 2001 29 149 2.164 1.305 958 796 2002 30 85 2.805 2.285 2.084 621 2003 67 188 6.137 5.223 6.086 1.433 2004 72 276 3.643 2.887 4.906 2.465 2005 85 189 4.271 4.348 7.820 2.286 2006 109 209 3.454 3.417 6.300 2.772 2007 116 206 3.637 5.999 9.914 3.139 2008 158 301 3.021 5.016 9.012 4.892 2009 156 350 3.412 3.769 5.909 4.535 2010 143 309 2.745 2.628 8.786 3.982
Produção Familiar e Produção Comercial Historicamente a produção familiar esteve vinculada a agricultura de subsistência, contudo notamos uma forte transformação neste setor do campo brasileiro. A partir da Revolução Verde notamos que várias atividades familiares passaram a absorver tecnologia como forma de ampliara a produção e a renda. Contudo notamos que muitos produtores familiares passaram a ser excluídos ou a abandonar/perder suas propriedades em função da modernização e endividamento contraído. Existe uma imposição tecnológica das agroindústrias sobre os agricultores no intuito de obter uma melhor qualidade de produtos para atender as suas demandas de mercado.
A Revolução Verde A partir da década de 1950/60 notamos uma forte entrada de tecnologias destinadas as atividades rurais, provenientes dos países centrais, ou através da entrada de transnacionais no território brasileiro. Grande parte destas tecnologias (máquinas, químicos, matrizes) não estavam adaptadas a realidade climática e pedológica do Brasil. Instituições como EMBRAPA e EMATER foram criadas para adaptar tais tecnologias a realidade de solo e clima do país. A inserção destas tecnologias no campo brasileiro foi simultânea a criação do ETR, potencializando o êxodo rural
O CAI (Complexo Agroindustrial): A Exploração do Campo Pelo Capital Representa a atividade agrícola que encontra-se submetida a exploração capitalista antes e após a produção. Atualmente vários cultivos e agricultores encontram-se subjugados a esta transformação no processo produtivo rural. A imposição de padrões tecnológicos no processo produtivo, associado ao endividamento frente a instituições bancárias revelam a primeira face deste processo, onde estes revelam os fatores condicionantes para a integração entre agricultor e agroindústria a jusante. Neste processo notamos que o agricultor e sua família (produção familiar) estarão trabalhando para potencializar a produção com destino a agroindústria, não recebendo salário por esta exploração.
Bancos Maquinário Químico Veterinários Matrizes O CAI (Complexo Agroindustrial): A Exploração do Campo Pelo Capital Capitais (empréstimos) tecnologia espécies Agricultor Familiar INTEGRAÇÃO Fornecimento de Commodities Agroindústria a Jusante
Atividades Agrícolas Subordinadas a Pecuária Bovina (leite e carne) Avicultura (ovos e carne) Suinocultura Café Soja Algodão Cacau CAIs no Brasil Cana-de-açúcar (Complexo sucro-alcoleiro) Tabaco Feijão arroz Tomate vinha milho trigo Laranja
Surgimento de uma Burguesia Rural As agroindústrias que estabelecem a integração com produtores familiares desejam manter este tipo de relação e não estão interessadas em se estabelecer na terra (plantio/criação). Para manter a relação de exploração do produtor, fixando este na lavoura, notamos que os valores pagos aos agricultores serão elevados, possibilitando a permanência deste e dando continuidade a sua exploração. A ampliação dos ganhos somados ao consumo de produtos serviços e valores promove uma transformação no espaço rural, no trato com a terra e na absorção de valores externos ao ambiente em questão.
Bibliografia ATLAS DA QUESTÃO AGRÁRIA BRASILEIRA: UMA ANÁLISE DOS PROBLEMAS AGRÁRIOS ATRAVÉS DO MAPA. Eduardo Paulon Girardi Universidade Federal de Mato Grosso CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. 20.ed. Brasília: Câmara dos Deputados, 2003. CPT COMISSÃO PASTORAL DA TERRA. Caderno Conflitos no Campo Brasil. Todos os números entre 1986 e 2007. Goiânia/São Paulo: CPT-Loyola, 1986-2007. IBGE - http://www.ibge.gov.br (censo agropecuário 2007) NERA NÚCLEO DE ESTUDOS, PESQUISAS E PROJETOS DE REFORMA AGRÁRIA. DATALUTA Banco de dados da luta pela terra. Presidente Prudente: NERA/Unesp. Disponível em: <www.fct.unesp.br/nera>. OLIVEIRA, A. U. de. Barbárie e modernidade: as transformações no campo e o agronegócio no Brasil. Revista Terra Livre. São Paulo: AGB, n.21, p.113-156, 2º sem. 2003. PIKETTY, Thomas. O Capital no Século XXI. ed. Intrínseca. RICARDO, D.. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: AbrilCultural, 1982. 286 p. (Série Os Economistas). ROSS, Jurandir S. (Org.). Geografia do Brasil. EDUSP ZIEGLER. Jean. Destruição em Massa: A Geopolítica da Fome. ed. Cortez.