RELATÓRIO DO 1.º TRIMESTRE NEGOCIAÇÃO COLECTIVA 1
OS PRIMEIROS RESULTADOS SÃO DE CRISE MAS NÃO HIPOTECAM O FUTURO O ano de 9 revelou na contratação colectiva duas fortes tendências: diminuição do número de convenções negociadas e redução do número dos trabalhadores abrangidos. A perspectiva do recuo da economia e a actualização salarial que entretanto se verificou nas convenções colectivas revistas criaram grandes dificuldades para 1, a que se junta o inevitável aumento da inflação, durante o período de vigência das convenções, e o anúncio do congelamento dos salários na Administração Pública e no Sector Empresarial do Estado. A combinação destes factores provocou o pior cenário possível para a negociação colectiva e para o crescimento dos salários em geral. A par do aumento do desemprego e da precariedade de muito emprego criado não se perdeu a noção da luta por um trabalho digno, embora seja muito difícil, em tempo de crise, manter o mesmo nível de alerta e de combate, já que os trabalhadores que têm emprego estão empenhados em conservá-lo e os que o perderam procuram voltar ao mercado de trabalho com mais restrições. Durante o mês de Janeiro publicaram-se algumas convenções negociadas em 9, repetindo a prática de anos anteriores, com poucos indícios de actividade negocial até ao final de mês de Fevereiro. Assim, passou com toda a discrição o primeiro aniversário da entrada em vigor da primeira revisão do Código do Trabalho. Em relatórios anteriores (respectivamente,.º trimestre e anual) não só não foi ignorada a previsão de que o ano de 1 iria ser muito difícil como diferente, para o que se apontaram novas estratégias a ter em conta numa nova realidade na contratação colectiva a médio prazo. Para a UGT, no quadro do médio prazo, a negociação colectiva deve envolver um número reduzido de matérias importantes para ambas as partes, de forma a consumar o diálogo. Ao nível da negociação sectorial é absolutamente necessário dar sinais de diálogo para os trabalhadores e empresas e consumá-lo com acordos mutuamente vantajosos. Neste contexto «A actualização salarial é sempre possível e desejável para repor o equilíbrio concorrencial entre as empresas» (Rel.º de 9, pág. ) o que se começou
a verificar na segunda parte deste trimestre, ao nível sectorial e de acordos colectivos de trabalho. O aspecto mais relevante deste trimestre foi o número de convenções de texto global ter ultrapassado, não só a publicação de texto consolidado, como as convenções com apenas actualização salarial! 1. O número de trabalhadores abrangidos é bastante significativo Apesar do contexto em que a contratação foi estabelecida o número de trabalhadores abrangidos não deixa de ser significativo por razões anteriormente assinaladas. Há uma mudança de ciclo associada ao facto de a nova legislação permitir publicar de imediato a negociação acordada envolvendo grandes contratos colectivos sectoriais. O gráfico é bastante elucidativo porque marca bem a diferença entre dois períodos distintos num extensão temporal de seis anos. Gráfico 1 Trabalhadores abrangidos por convenções colectivas 6. 5.. 3.. Trabalhadores 1. 5 6 7 8 9 1 Fontes: DGERT/UGT. Nota: o valor do 1.º trimestre de 1 é provisório. Valores salariais actualizados pelas convenções colectivas A actualização salarial tem de ser contextualizada numa situação de incerteza quanto às previsões que se estabelecem em determinado momento. O Gráfico tem por pressuposto os valores médios apurados no primeiro trimestre, num cenário em que a crescimento mensal de preços em 1 tenha uma evolução mensal idêntica à ocorrida em 7 e 8. 3
Gráfico Variação salarial,5 3,5 3,5 1,5 1,5 -,5 6 8 1.º Trim 1 IPC Variação Nominal Variação Real Fontes: INE e DGERT Nota para o 1.º trimestre de 1: Previsão da UGT para o final de vigência das convenções Assim, no sector privado, para as convenções que foram objecto de actualização e de publicação não há perda do poder de compra durante o período de vigência, em termos médios. 3. Convenções colectivas publicadas e a sua distribuição por tipo de convenção Aparentemente, a contrariar a tese da publicação mais prematura, o número de convenções diminuiu bastante neste trimestre constando como o pior trimestre no período assinalado no Gráfico 3. Contudo, se a publicação dos processos concluídos se arrastasse como anteriormente teríamos ainda menos convenções publicadas no 1.º trimestre porque é bem possível, no conjunto deste ano, que o número possa ser inferior ao dos últimos anos. O ano de 5 é consequência de um ano () de transição em que foram publicadas poucas convenções, repercutindo-se no 1.º trimestre do ano seguinte a contratação que deveria ter sido feita no ano anterior, aumentando assim desmesuradamente o número de convenções publicadas no 1.º trimestre de 5. Nos anos seguintes, com mais convenções anuais publicadas, o fenómeno não se repetiu.
Gráfico 3 Convenções colectivas publicadas 6 5 5 7 39 5 6 37 3 Convenções 1 5 6 7 8 9 1 Fontes: UGT/BTE Pouco habitual, mesmo para o primeiro trimestre, é o volume de acordos colectivos de trabalho (ACT) publicados (Gráfico ), atingindo três vezes mais do que o valor registado durante o ano de 9, duplicando em termos relativos anuais, e que será forçosamente objecto de maior aprofundamento no caso deste crescimento não abrandar. Gráfico Distribuição por tipo de convenção colectiva 1% 8% 6% % % CCT AE ACT % 1.º T 6 1.º T 7 1.º T 8 1.º T 9 1.º. 1 Fontes: UGT/BTE. Quanto aos AE e aos CCT nada a assinalar, enquadrando-se perfeitamente no contexto destes últimos três a cinco anos em que houve um ligeiro crescimento anual dos AE, mas agora parece tender para a estabilização. 5
. Conteúdo das convenções colectivas Nos apuramentos anuais sobressaiu sempre o tipo de convenção mais imediato e intuitivo, quanto ao seu conteúdo, traduzido na publicação de alterações salariais, que por regra têm revisões anuais. Mas até 5, provavelmente por prudência devido à legislação de 3, quando não foi possível, por lei, a publicação continuada de mais revisões salariais, passou a optar-se pelo texto consolidado. A partir de 6, em termos anuais, as convenções com publicação global passaram para o segundo lugar logo a seguir às actualizações salariais, definindo uma nova forma de encarar a contratação colectiva, o que pode revelar estabilidade e o regresso da confiança entre parceiros na mesa negocial. Nem sempre o 1.º trimestre tipifica o domínio das convenções globais sobre as convenções com texto consolidado, como atesta a excepção verificada em 9 (Gráfico 5), mas em períodos anuais a convenção global impôs-se. Gráfico 5 Conteúdo das convenções colectivas 35 3 5 15 1 5 1 9 31 8 11 1 8 3 13 1 6 7 8 9 1 6 Alt. Salarial Consolidado Global Novo Fontes: UGT/BTE Em 1, neste trimestre e pela primeira vez, a convenção global foi mais numerosa do que a alteração salarial. 6
5. O IRCT negocial e a sua extensão administrativa Com excepção do 1.º trimestre de 8 (Gráfico 6), nos últimos quatro anos, a publicação de portarias de extensão tem sido proporcional à publicação de convenções colectivas. Gráfico 6 Convenções Colectivas e Portarias de Extensão 5 3 1 1º T 6 1º T 7 1º T 8 1.º T 9 1.º T 1 Convenções Colectivas 7 39 5 6 37 RE/PE 19 33 9 Fontes: UGT/BTE É uma matéria que aparenta regularidade e parece estável necessitando agora maior concentração da atenção no tempo de emissão e nos conteúdos. A UGT apresentará brevemente um pequeno estudo sobre este período, incidindo precisamente no tempo médio que uma PE leva a ser emitida e avaliará a sua razoabilidade. 6. Cessação de vigência de convenções e arbitragens obrigatórias Neste período cessaram dois CCT no sector das empresas concessionárias de jogos, envolvendo dois sindicatos da UGT, e no sector da montagem, comércio e reparação de automóveis, afectando sindicatos filiados na CGTP. Não foi efectuada qualquer arbitragem obrigatória porque o MTSS não deu seguimento à arbitragem no sector da Hospitalização Privada, que tinha sido definida no último trimestre de 9, depois da audição na CPCS, no caso das partes não conseguirem obter um acordo global. O MTSS não só falha neste processo como continua a não publicar os fundamentos com que recusou arbitragens obrigatórias precedentes. Com este silêncio, que dura desde a alteração produzida ao primeiro 7
Código do Trabalho, para que a arbitragem obrigatória funcionasse, cria-se um terreno fortemente propício à especulação e à suspeita. Ainda neste trimestre não se conhece qualquer recurso à arbitragem necessária como se aguarda a PCT para o sector administrativo, com um atraso de quinze meses. CONCLUSÕES A principal conclusão reside na determinação com que se faz a negociação. É necessário, em primeiro lugar, criar condições para a negociação avaliando o que a outra parte, embora renitente e com toda a argumentação fornecida pela crise, tem interesse em fixar. A nível sectorial, devido à diversidade de empresas, dentro e fora das associações patronais, estabelecem-se com facilidade salários diferentes que a contratação colectiva do sector tem o efeito de equilibrar. A correcção salarial faz-se pela negociação e não pela sua ausência que cria sempre maiores distorções. Apesar de tudo e das nuvens negras que assolaram este primeiro trimestre de 1 atingiram-se resultados interessantes que é necessário consolidar no futuro. A actualização média salarial, no sector privado, foi encorajadora embora saibamos que vai ser desvalorizada pela inflação durante o período de vigência, mas constitui um exemplo para o Estado e para o seu sector empresarial. Não é aceitável o congelamento salarial como não é aceitável que as empresas do sector empresarial sejam todas tratadas da mesma forma. Neste particular a UGT rejeita a negociação por decreto havendo outras formas de reduzir o défice do Estado que não seja apenas pelo sacrifício do poder de compra dos trabalhadores, que em nada contribui para a animação da economia tendo até um efeito perverso. O número de convenções publicadas é baixo mas entre alguns grandes sectores, os que mais a crise afectou, houve exemplos de diálogo e concluíram-se convenções que hoje são bandeiras para outros sectores bloqueados há anos, como é o caso da montagem e comércio automóvel, que apresenta neste trimestre, elevados níveis de crescimento. Também de positivo é o registo da publicação de textos integrais em resultado da revisão dos seus conteúdos mas que, por prudência, merecem ser acompanhados e 8
estudados porque podem ser fruto de uma determinada conjuntura. No final do ano farse-á a avaliação como terá de ser feita com os ACT, se o seu crescimento for desproporcionado em relação aos outros tipos de convenções. Após uma breve análise sobre alguns dos aspectos que enformaram o 1.º trimestre cresceu a expectativa para o próximo período que poderá ou não vir a confirmar as tendências actuais da contratação colectiva. 9