DETENÇÃO 1- Definição. Medida cautelar de privação da liberdade pessoal, não dependente de mandato judicial, de natureza precária e excepcional, que visa a prossecução de finalidades taxativamente 1 previstas na lei. - Os actos processuais com detidos são urgentes e os prazos correm em férias (art. 80º - O tempo de detenção conta como tempo de prisão preventiva, assim, em caso de condenação em pena de multa ou prisão, descontam-se os dias de detenção (art. 201º e 200º 2- Finalidades da detenção. 72 horas: 48 horas: 12 horas: - Julgamento em processo sumário (art. 217º, nº 1, al. a) e 346º - Primeiro interrogatório judicial pelo Juiz (art. art. 217º, nº 1, al. a) e 63º - Aplicação/execução de medida de coacção (art. art. 217º, nº 1, al. a) e 188º, nº 1 e 2º - Presença perante autoridade judiciária em acto processual (art. 217º, nº 1, al. b) - Estrangeiro que penetre ou permaneça irregularmente em território nacional (art. 72º, nº 1 Lei 9/2003, de 8/10). - Condução a posto policial para identificação (art. 53º, nº 3 3- Proibições/limites à detenção. - Advogados em exercício de funções, magistrados e defensores públicos, não podem ser detidos para assegurar a sua comparência imediata em acto processual (art. 217º, nº 2 1 «Ninguém pode ser detido ou preso senão nos termos expressamente previstos na lei vigente, devendo sempre a detenção ou a prisão ser submetida à apreciação do juiz competente no prazo legal» (art. 30º, nº 2 da Constituição). 1
- Os membros do Governo não podem ser detidos sem autorização do Parlamento, excepto se o crime tiver pena de prisão cujo limite máximo seja superior a 2 anos e em flagrante delito (art. 26º, nº 1, Lei 7/2007). - Os magistrados do MP, apenas podem ser detidos em flagrante delito, por crime punivel com pena de prisão superior a 2 anos (art. 41º, nº 1, Lei 14/2005). Em caso de detenção, são imediatamente apresentados ao Juiz competente (art. 41º, nº 2, Lei 14/2005). - Agentes diplomáticos, não podem ser detidos (art. 29º da Convenção de Viena sobre relações diplomáticas, ratificada pela resolução do Parlamento nº 24/2003, de 22/10). - Os funcionários consulares apenas podem ser detidos em caso de crime grave ou em virtude de decisão da autoridade judiciária competente (art. 41º da Convenção de Viena sobre relações consulares, ratificada pela resolução do Parlamento nº 24/2003, de 22/10). Em caso de detenção, tem que ser notificado de imediato o chefe do posto consular (art. 42º da Convenção de Viena sobre relações consulares). - Os deputados apenas podem ser detidos por crime doloso punível com pena de prisão superior a 5 anos (art. 11º, nº 1, lei 5/2004). - Os Juízes, apenas podem ser detidos em flagrante delito, se o crime tiver pena superior a 3 anos (art. 43º, nº 1, Lei 8/2002). Em caso de detenção, são imediatamente apresentados ao Juiz competente (art. 43º, nº 2, Lei 8/2002). 4- Detenção em flagrante delito. A) Definições: - Flagrante delito, verifica-se quando o crime é surpreendido durante a sua execução (art. 219º, nº 1, 1ª parte Exemplo: PNTL vê o arguido a dar uma facada na vítima. - Quase flagrante delito, verifica-se quando o infractor é surpreendido no local da infracção, no momento em que a acabou de cometer, evidenciando a surpresa, a existência e a autoria da infracção (art. 219º, nº 1, 2ª parte Exemplo: PNTL chega ao local e vê o arguido sobre o corpo da vítima com a faca na mão. - Presunção legal de flagrante delito, verifica-se quando o infractor não é detido no local da infracção, nem tão pouco durante a 2
execução ou logo que ela findou, mas é perseguido logo após a prática do crime, ou encontrado com objectos ou sinais que mostrem claramente que ele acabou de cometer o crime ou nele participar (art. 219º, nº 2 Exemplo: PNTL chega ao local e vê um homem a fugir com a roupa cheia de sangue. B) Legitimidade para efectuar detenção em flagrante delito. - Qualquer autoridade judiciária (Juiz ou MP art. 1º, al. b) - Qualquer autoridade policial (art. 218º, nº 1 - Qualquer pessoa (se não estiver presente ou puder ser chamada autoridade judiciária ou policial, seguida de entrega imediata e auto de entrega - art. 218º, nº 2 e 3 C) Requisitos para efectuar detenção em flagrante delito. - Existir crime público (definição no art. 106º, nº 2 do C. Penal), punido com pena de prisão (art. 218º, nº 1 - Existir crime semipúblico (definição no art. 106º, nº 3 do C. Penal), punido com pena de prisão (art. 218º, nº 1 A detenção apenas se mantém se o titular do direito de queixa apresentar de imediato queixa (art. 218º, nº 4 5- Detenção fora de flagrante delito. A) Requisitos: Mandado do Juiz (art. 220º, nº 1 Mandado do MP: - Se for admissível a prisão preventiva (art. 220º, nº 2, al. a) - Existirem fortes indícios de que o arguido se prepara para fugir à acção da justiça (art. 220º, nº 2, al. b) - Não for possível, dada a urgência ou perigo na demora, esperar pelo mandado do Juiz (art. 220º, nº 2, al. c) - Nos casos de terrorismo, criminalidade violente ou altamente organizada (DL 4/2006, de 1/3, art. 3º), quando: - Haja fundados indícios da prática iminente de crime que ponha em risco a vida ou a integridade física de qualquer pessoa,e, 3
Pela autoridade policial: - Não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora, esperar pela intervenção do Juíz. - Se for admissível a prisão preventiva (art. 220º, nº 2, al. a) - Existirem fortes indícios de que o arguido se prepara para fugir à acção da justiça (art. 220º, nº 2, al. b) - Não for possível, dada a urgência ou perigo na demora, esperar pelo mandado do Juiz (art. 220º, nº 2, al. c) - Nos casos de terrorismo, criminalidade violente ou altamente organizada (DL 4/2006, de 1/3, art. 3º), quando: - Haja fundados indícios da prática iminente de crime que ponha em risco a vida ou a integridade física de qualquer pessoa,e, - Não for possível, dada a situação de urgência e de perigo na demora, esperar pela intervenção do Juíz. 6- Formalidades dos mandados de detenção. - Em triplicado (uma das cópias entregues ao detido, sob pena de ilegalidade da detenção art. 221º, nº 1, 3 e 4 - Tem que constar a data de emissão (art. 89º, nº 3 e 87º, nº 2, al. a) - Conter a assinatura da autoridade judiciária ou policial (art. 89º, nº 2 e 88º, nº 1 - Conter a identificação da pessoa a deter (art. 221º, nº 2, al. a) - Conter a indicação dos factos que motivam a detenção e circunstâncias que legalmente a fundamentam (art. 221º, nº 2, al. b) - Conter a identificação do número do processo a que se refere a detenção (art. 221º, nº 2, al. c) 7- Comunicação imediata da detenção. - Ao Juiz que a ordenou (se não lhe for presente de imediato art. 222º, al. a) - Ao MP, nos restantes casos (art. 222º, al. b) 4
8- A detenção é ilegal quando: - Violados os requisitos do art. 221º CPP (art. 221º, nº 4 - Violados os requisitos do art. 220º CPP (art. 221º, nº 4 - Falta de auto, relatório ou despacho que a fundamentem (art. 351º, nº 2 - Casos do art. 205º CPP (habeas corpus): - Quando efectuada ou ordenada por entidade incompetente. - Ser motivada por facto pelo qual a lei não a permita. - Estarem ultrapassados os prazos máximos de duração. - Manter-se fora dos locais legalmente permitidos. 9- Consequências da detenção ilegal: - Responsabilidade disciplinar para o magistrado ou polícia. - Indemnização (art. 351º - Habeas corpus (art. 205º - Libertação do detido (art. 223º - Prática de crime: - Denegação de justiça (art. 282º, nº 3 C. Penal). - Prevaricação (art. 287º, nº 2 C. Penal). - Abuso de poder (art. 297º C. Penal). João Alves Procurador-Procurador 5