Campos e Limites da Medicina. Luiz Roberto Londres Todos os direitos reservados

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Transcrição:

Campos e Limites da Medicina

Premissa Para podermos definir campos e limites da Medicina devemos entender antes o que é a Medicina Praticamos a Medicina que está de acordo com nossa definição, ainda que seja, essa definição, inconsciente e não formulada

Modelos Médicos Há dois principais modelos entre os quais os teóricos de Medicina se dividem: Modelo de Seldin (Biomedicina) Modelo de Engel (Medicina biopsicosocial)

Proposição de Seldin Medicina é uma disciplina que é útil a um campo estreito porém, vital.. Ela não pode trazer felicidade, ser responsável por uma vida boa ou legislar sobre a moralidade. Mas pode por em ação uma estrutura técnica e conceitual crescentemente poderosa para o abrandamento de um tipo de sofrimento humano baseado em desarranjos biomédicos.

Comentários sobre o modelo de Seldin É reducionista É mecanicista É tecnicista É medicalista Em todos esses pontos é progressista

Proposição de Engel A Medicina deve lidar não só com a disfunção que levou o paciente a procurar um médico, mas também com sua disforia,, ou seja, com o mal-estar causado pela ansiedade em relação a sua disfunção Trazendo a representação psicológica trazemos também a realidade social do indivíduo

Comentários sobre o modelo de Engel É mais abrangente É mais humano É mais abstrato É mais susceptível de se afastar do cerne das patologias

Uma proposição para a aplicação desses dois modelos médicos Nos casos agudos ou graves mais importância à Biomedicina Nos casos crônicos ou leves mais importância à Biopsicosociologia Cerca de 90% dos atos médicos pertencem à 2a categoria (casos crônicos ou leves)

Como se pratica a Medicina? A Medicina se realiza através de um encontro entre duas pessoas: : o paciente e o médico A relação médico-paciente é o centro sobre o qual irão girar modelos, campos e limites médicos O modo desse encontro é ditado pelas crenças do médico a respeito do que seja Medicina

O que é Medicina? I Medicina é uma relação inter- humana,, cuja característica objetivante é um meio e não uma finalidade e cuja característica interpessoal é estabelecida por uma relação desigual

O que é Medicina? II Medicina é uma relação inter- humana onde estão presentes uma intenção de ajuda e a necessidade de uma habilidade técnica baseada em um conjunto de conhecimentos específico e organizado

O que é Medicina? III Medicina é uma relação inter- humana que visa ao tratamento (do corpo ou de sua representação) de um indivíduo através de ações diretas ou indiretas sobre seu corpo ( ou sua representação)

O que é Medicina? IV Medicina é uma relação de ajuda que engloba, além da relação técnica,, uma relação de aconselhamento e uma relação didática

O que é Medicina? V Medicina é uma atividade que se aplica a um determinado indivíduo através de considerações de fatos e valores

Campos da Medicina I A Medicina age sobre o indivíduo doente, que se acha doente ou que quer evitar adoecer Logo, a Medicina age sobre o corpo e sua representação e sobre a doença e sua representação Logo, a Medicina age sobre pessoas sensu lato pessoas

Campos da Medicina II Eventos concernentes à Medicina Vitais: : nascer, morrer, envelhecer Patológicos: : adoecer Psicológicos: : temores, repercussões Estruturais: : terapia genética

Questões sobre campos e limites da Medicina I Até que ponto é objeto da Medicina toda a gama de fenômenos inerentes e naturais do ser humano? Quais os riscos (e conveniências) ) de uma apropriação por parte da Medicina desses fenômenos? Quando um desses fenômenos deve (ou não) ser trazido para a esfera médica?

Questões sobre campos e limites da Medicina II Por outro lado quando um fenômeno tradicionalmente médico pode ser retirado da esfera médica? Qual o limite entre o charlatanismo e a Medicina? E entre a Medicina e atividades como a fisioterapia e a odontologia? Como devem ser encaradas as Medicinas Alternativas?

Questões sobre campos e limites da Medicina III Até que ponto são objeto da Medicina assuntos de ordem psicológica ou social? Até que ponto são objeto da Medicina assuntos de ordem química, física ou biológica que não estejam necessariamente associados com o adoecer do paciente em questão?

Limites clínicos do médico Quanto à área de competência: : solicitação de conferências médicas e/ou pareceres de especialistas e/ou indicação a terapias complementares Quanto à possibilidade de ação curativa: nos casos desenganados Quanto à ética: : quando solicitado a realizar ações anti-éticas

Limites não clínicos do médico Limitação de recursos clínicos Limitação de recursos hospitalares Limitação de recursos financeiros Limitação de recursos temporais

Limites da Medicina A Medicina é limitada: Por seu posicionamento ético Por ditames dos costumes vigentes Por questões de prudência Por vontades do paciente Por restrições legais

Limites pelo Posicionamento Ético Este limite é imposto pelo código de ética pessoal do médico. É independente dos costumes de normas ou da própria lei.

Limites por Ditames dos Costumes Vigentes Podem variar de acordo com a cultura ou com a época. costumam ser corroborados pelas normas deontológicas da própria profissão

Limites por Questões de Prudência Impostos pelo cabedal de conhecimentos profissionais do médico, pelas condições da instituição em que trabalha e pelo embasamento científico dos atos a serem efetuados.

Limites por Vontades do Paciente A definição do que é bom para o paciente por parte do médico pode conflitar com o que o paciente considera que é bom para ele

Limites por Restrições Legais O desejo do médico de fazer bem pelo paciente pode estar em consonância com o desejo do paciente mas podem ambos sofrer restrições em algumas de suas ações por força da lei

Considerando a Relação Intrínseca O limite relativo à cura é menor que o limite relativo ao tratamento. E este é menor que o limite relativo ao conforto A eficácia da ação médica transcende as possibilidades científicas de cura e mesmo de tratamento

Considerando a Relação Extrínseca Os limites da Medicina em um determinado caso são dados, em última análise, pelo grau e intensidade da relação inter- humana que se estabelece entre médico e paciente