INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA ANATOMIA Prof. Jose A. Thomazini Definição e Divisão Etimologicamente, Anatomia significa cortar em partes. Entretanto esse termo tem um significado muito mais amplo, pois a Anatomia estuda a forma e a estrutura de seres vivos ou objetos e as relaciona com a função. Duas frases muito citadas definem bem a importância desta ciência: A forma é a imagem plástica da função (Ruffini) e A Anatomia está para a Fisiologia, assim como a Geografia está para a História: o cenário dos eventos (Fernel). Uma definição assim tão ampla abrange vários níveis de observação como o macroscópico (vista desarmada), mesoscópico (lupa), microscópico (microscópio de luz) e o submicroscópico (microscópio eletrônico). A Anatomia macroscópica humana estuda o corpo humano e, conforme o enfoque recebe várias denominações: ANATOMIA SISTEMÁTICA OU DISCRITIVA: - estuda de modo analítico e separadamente as várias estruturas dos sistemas que constituem o corpo, o esquelético, o muscular, o circulatório, etc.; ANATOMIA TOPOGRÁFICA OU REGIONAL: - estuda de uma maneira sintética, as relações entre as estruturas de regiões delimitadas do corpo; ANATOMIA DE SUPERFÍCIE OU DO VIVO: - estuda a projeção de órgãos e estruturas profundas na superfície do corpo, é de grande importância para a compreensão da semiologia clínica; ANATOMIA FUNCIONAL: - estuda segmentos funcionais do corpo estabelecendo as relações recíprocas e funcionais das várias estruturas dos diferentes sistemas; ANATOMIA APLICADA: - salienta a importância dos conhecimentos anatômicos para as atividades médicas, clínica ou cirúrgica e mesmo para as artísticas; ANATOMIA RADIOLÓGICA: - estuda o corpo usando as propriedades dos raios X e constitui, com a Anatomia de Superfície, a base morfológica das técnicas de exploração clínica; ANATOMIA COMPARADA: - estuda a Anatomia de diferentes espécies animais com particular enfoque ao desenvolvimento ontogenético e filogenético dos diferentes órgãos. Neste texto o enfoque da Anatomia será feito sob o seu aspecto funcional e aplicado. Os segmentos do corpo serão examinados como um todo funcional sem restringir-se às várias regiões topográficas. Depois de estudar genericamente cada um dos elementos que constituem o corpo, o tegumento, os nervos, os vasos, os músculos e as vísceras, serão analisados os segmentos: coluna vertebral, pescoço e cabeça, membros superior, tórax, abdome, pelve e membro inferior. Estes segmentos serão abordados como unidades morfofuncionais tal como se apresentam na prática médico-cirúrgica. As aplicações práticas dos dados anatômicos mais importantes serão referidas com a finalidade de motivar e chamar a atenção para a importância do conhecimento anatômico.
MÉTODO DE ESTUDO A dissecção constitui o método de eleição para o aprendizado em Anatomia. Dissecando ou estudando em peças previamente dissecadas obtém-se a maior soma de conhecimentos em Anatomia. Cada segmento será examinado através de dissecções estratigráficas ou apresentados como cortes totais do corpo ou segmentos isolados de cadáveres previamente fixados. O exame do vivo será feito com o emprego de radiografias, pela analogia de superfície e usando técnicas semelhantes às empregadas no exame clínico de paciente: inspeção, palpação, percussão e ausculta de indivíduos vivos, além de se valer de instrumentos como o otoscópio, o oftalmoscópio, o rinoscópio e outros. A finalidade primeira não é fazer diagnóstico clínico-patológico, mas projetar órgãos profundos na superfície do corpo e observar estruturas como o olho, a cavidade nasal, o ouvido externo. O estudo da anatomia do vivo estimula a exploração do corpo e prepara o estudante para futuras atividades profissionais. NOMENCLATURA ANATÔMICA Para descrever o corpo humano os primeiros anatomistas tiveram que padronizar suas descrições para evitar a grande confusão de termos que surgiram. Uma mesma estrutura recebia vários nomes o que tornava impossível a internacionalização da descrição anatômica. (Figura I-1. Posição Anatômica) Reunidos em congresso, a primeira decisão dos anatomistas foi escolher o latim, uma língua morta, para nomear todos os termos anatômicos. A partir do latim estes termos foram traduzidos para o vernáculo de cada país. A relação geral dos termos latinos, com alguns termos gregos, denomina-se Nomina Anatômica. A segunda decisão foi descrever o corpo humano a partir de uma posição única, a chamada Posição Anatômica. Nesta posição o indivíduo está de pé, com os membros superiores ao longo do corpo, as palmas das mãos voltadas para frente, os calcanhares unidos, os dedos dos pés dirigidos para frente e a cabeça em posição horizontal, como se olhasse para o horizonte. Esta posição eqüivale à posição fundamental do ginasta (Fig. I-1) e tem que ser mentalizada não importando a posição em que se encontre o doente ou o cadáver. Uma vez definida a posição anatômica, era necessário estabelecer os limites do corpo através de planos tangentes ao mesmo. Os planos tangentes à cabeça, aos pés, ao ventre, ao dorso, e
os laterais delimitam, inscrevem ou contém o corpo e pôr isto são chamadas de Planos de Inscrição ou Tangentes do corpo. (Figura I-2. Planos de Inscrição do corpo) A intersecção destes planos de inscrição forma a figura geométrica de um paralelepípedo no qual está inscrito ou contido o corpo (Fig. I-2). Estes seis planos de inscrição são: craniano ou superior, caudal, podalico ou inferior; ventral ou anterior; dorsal ou posterior e laterais direito e esquerdo. A partir destes planos de inscrição serão determinados eixos ideais e planos ortogonais que serão utilizados como pontos de referência para descrever a situação, posição e direção de órgãos ou segmentos do corpo, como se faz em geometria analítica através das coordenadas cartesianas ortogonais. Já que a Anatomia foi comparada à geografia podemos fazer uma outra comparação: os planos de inscrição seriam os pontos cardeais e os planos paralelos a eles as coordenadas geográficas, meridianos e paralelos. Assim, da mesma maneira que é possível localizar um ponto preciso no mapa, na intersecção destas coordenadas, é possível localizar um ponto na superfície ou mesmo no interior do corpo. Unindo o centro de dois planos de inscrição opostos obtêm-se três eixos imaginários: eixo longitudinal ou crânio-podálico; eixo ântero-posterior, ou dorso-ventral e eixo látero-lateral. O deslocamento de um eixo sobre o outro define um plano que secciona o corpo em 2 partes. Estes planos, perpendiculares entre si, são chamados Planos de Secção, que são: mediano ou sagital mediano, frontal ou coronal e transversal ou horizontal (Fig. I-3). Cada plano pode ser definido pelo deslocamento de 2 eixos. Assim, o plano mediano pode ser determinado pelo deslocamento do eixo dorso-ventral ao longo do eixo longitudinal bem como pelo deslocamento do eixo longitudinal ao longo do dorso-ventral. O mesmo pode ser dito para os planos frontal e transversal. O plano mediano ou sagital mediano divide o corpo em 2 partes: direita e esquerda, aparentemente iguais e o nome sagital se deve ao fato de seguir a direção da sutura sagital (em forma de seta) entre os ossos parietais. Todos os planos paralelos a ele e, obviamente paralelos aos planos laterais, são ditos sagitais ou também parasagitais ou ainda paramedianos.
ossos parietais e frontal. Todos os planos paralelos a ele entre os planos de inscrição ventral e dorsal são chamados frontais. O plano transversal (transversal médio) corta o corpo em duas metades desiguais: superior e inferior e todos os planos paralelos a ele entre os planos de inscrição superior e inferior são ditos transversais. Em linguagem anatômica, os termos têm definição precisa e universal que será usada com o mesmo significado pôr toda a vida profissional, pois constitui também a base da linguagem médica. TERMOS DE POSIÇÃO, DIREÇÃO E SITUAÇÃO. (Figura I-3. Eixos e Planos de secção do corpo) O plano frontal ou coronal divide o corpo em duas partes desiguais: anterior e posterior. O nome coronal se deve ao fato de passar pela sutura coronal entre os Superior ou craniano, inferior ou podálico, anterior ou ventral, posterior ou dorsal e lateral são termos de posição em relação aos planos de inscrição e indicam proximidade a estes planos. São termos comparativos e indicam que uma estrutura é pôr exemplo, mais cranianal que outra. Nenhum órgão ou estrutura é simplesmente craniana ou ventral pois estes planos são tangentes e portanto estão fora do corpo e surgem apenas como referência. Medial também é um termo de posição e indica proximidade do plano mediano em relação à outra estrutura. A direção de um órgão ou estrutura é indicada pelos eixos. Os termos são: longitudinal ou crâniopodálico, ântero-posterior ou dorsoventral e látero-lateral. O eixo do coração, pôr exemplo, se dirige obliquamente de posterior para anterior, da direita para a esquerda e de craniano para podálico.
Mediano, médio e intermédio, são termos que indicam situação. Uma estrutura é dita mediana quando está situada no plano mediano ou sagital mediano. Médio e intermédio são termos que indicam situação de uma estrutura entre outras duas. Para alguns são sinônimos; para outros médio é a estrutura que fica entre uma estrutura superior ou craniana e outra inferior ou podálica, ou seja, quando as estruturas se põem no sentido crânio-podálico. Intermédio refere-se à estrutura situada entre uma lateral e outra medial, isto é, no sentido látero-lateral. A fig. I-4 procura ilustrar estes conceitos. (Figura I-4. Termos de posição, direção e situação da mão) OUTROS TERMOS ANATÔMICOS Proximal e Distal são termos usados para indicar estruturas mais próximas ou distantes de um ponto de irradiação. São termos restritos aos membros, indicando maior ou menor proximidade da raiz do membro e, no sistema circulatório, para indicar maior ou menor proximidade do coração. Palmar ou volar são sinônimos de anterior quando usados para nomear a face anterior da mão. Dorsal para a posterior. Plantar e dorsal são usados para indicar as faces dos pés. Interno e Externo são expressões usadas para indicar as faces dos órgãos ocos ou de cavidades. Superficial e profundo indicam, respectivamente, menor e maior distância da superfície do corpo. Existe, entretanto, um limite definido para indicar estruturas superficiais e profundas. Este limite é a fascia muscular e será estudado com o tegumento. Aferente e eferente indicam direção: eferente, do centro para a periferia (centrífugo); aferente da periferia para o centro (centrípeto): usados em anatomia para vasos e nervos. Nas descrições anatômicas muitos termos especiais, a maioria regionais, são empregados: Oral e aboral são termos restritos ao tubo digestivo e indicam estruturas mais próximas ou distantes da boca. Radial e ulnar significam mais próximo dos ossos rádio e ulna respectivamente, assim como tibial e fibular para a tíbia e a fíbula. Para os dentes são usadas expressões que definem suas faces: oclusal para a face mastigadora; vestibular para a face voltada para o vestíbulo bucal; mesial para a face voltada para a linha mediana, considerando também a seqüência da arcada dentária, e lingual para a face voltada para a língua.
Existem termos anatômicos que precisam ser desde o início, conceituados, uma vez que gerais e surgirão com freqüência nas descrições anatômicas. Fascia é uma estrutura fibrosa de espessura variável que reveste órgãos ou delimita estruturas. Caracteristicamente uma fascia tem o tecido fibroso que a constitui dispondo em um único plano apresentando um aspecto de folha ou lâmina. As fascias de revestimento, de inserção e de contenção dos músculos, são exemplos típicos. Pedículo é o conjunto de estruturas, vasos, nervos e ductos destinados a um órgão. Como pôr exemplo, pode-se citar o pedículo hepático (artéria hepática, veia porta e ducto colédoco além dos nervos e linfáticos do fígado), o pulmonar (artéria e veia pulmonares e brônquicas e brônquios, nervos e linfáticos do pulmão). Hilo de um órgão é o sítio pôr onde entram e saem os elementos do pedículo. Hilo renal, hilo hepático e hilo pulmonar, são exemplos. Feixe vásculonervoso é um conjunto de vasos e nervos enfeixados pôr uma bainha conjuntiva comum. No pescoço existe um feixe vásculonervoso constituído pela artéria carótida, veia jugular interna e nervo vago, contidos pôr uma bainha conjuntiva comum chamada bainha carotídea. Plexo ou rede é uma malha situada em territórios arteriais, venosos ou linfáticos, assim como no de nervos periféricos, resultado de subdivisões e reuniões (anastomoses) dessas estruturas. Os plexos vasculares existem para garantir o fluxo do fluído circulante oferecendo várias opções ou vias alternativas, e mesmo com a finalidade de reduzir velocidade e igualar pressão. Estes plexos, em geral tem vasos de pequeno calibre, garantem a irrigação arterial ou a drenagem venosa e linfática de órgãos ou segmentos. Os plexos nervosos representam um emaranhado de fibras nervosas e podem ser comparados aos cabos de transmissão (os nervos) com os pares de fios (as fibras nervosas) de uma rede telefônica onde os aparelhos seriam as terminações nervosas e a central telefônica o sistema nervoso central, com mudança de direção de uma fibra de um cabo para outro dentro da malha. Normal, variação e anormal são termos anatômicos, que dependem do conceito de normalidade. Normal, é termo que se refere ao que é mais freqüente, isto é, o que é comum à maioria dos indivíduos. É, portanto um conceito estatístico. Variação é o que foge à regra geral, difere do comum, sem, entretanto comprometer a função do órgão ou segmento. O local de bifurcação de um vaso importante, como a artéria braquial é um exemplo. Anormal é o que difere do normal, do comum, comprometendo a função. A presença de um dedo supranumerário compromete a função da mão. A anormalidade pode ser de vários graus podendo, nos casos mais intensos, ser incompatível com a vida, como pôr exemplo, a agenesia total ou parcial de um órgão vital, ou chegar a um nível de teratológico. CONSTRUÇÃO DO CORPO O corpo humano é construído pôr unidades morfológicas, que se reúnem segundo princípios ou planos chamados Estratigrafia, Metameria, Paquimeria e
Antimeria. Estes planos de construção podem ser mais bem entendidos acompanhando seu estabelecimento na fase embrionária. estruturas, chamadas somitos, dispostos em sentido crânio-podálico (Fig. I-6). Este tipo de construção representa o modelo de construção metamérica. O metâmero é um segmento do corpo compreendido entre dois planos transversais adjacentes. A metameria perfeita só existe em certos invertebrados como os anelídeos. Nos vertebrados em geral e no homem em particular, a metameria é imperfeita e só se manifesta na fase embrionária. (Figura I-5. Embrião humano de 3 semanas. Disco trilaminar) Precocemente, no início da 3ª semana de vida, o embrião tem a forma de um disco trilaminar, o ecto, meso e endoderma (Fig. I-5). Estas camadas concêntricas representam o modelo de construção estratigráfica que irá se manter pôr toda a vida do indivíduo na grande maioria dos órgãos e estruturas do corpo como, vasos, nervos, ossos, tubo digestivo e tegumento. Mesmo órgãos maciços como o fígado ou o encéfalo apresentaram este tipo de estrutura durante seu desenvolvimento. O embrião humano de quatro semanas (22-23 dias) já tem uma forma cilíndrica. Observando a região dorsal vêse que ele é constituído pôr uma série de (Figura I-6. Vista lateral de embrião humano de 4 semanas com 24 somitos) Após o nascimento a metameria desaparece deixando apenas resquícios representados, no tronco, pela coluna vertebral, costelas e vasos e nervos intercostais.
(Figura I-7. Corte transversal de embrião humano no fim da 4ª semana: 1 - tubo neural no paquímero posterior. 2 - tubo digestivo (intestino anterior) no paquímero anterior). A paquimeria é o princípio pelo qual o corpo é construído pôr duas metades desiguais, uma anterior e outra posterior, separadas pelo plano de secção frontal (coronal). Cada metade recebe o nome de paquímero sendo que em cada um predomina um tubo. No embrião de 4 semanas no paquímero anterior ou ventral se localiza o tubo digestivo primitivo e no paquímero posterior o tubo neural (Fig. I-7). Após o nascimento a paquimeria persiste. O paquímero anterior abriga várias vísceras derivadas do tubo digestivo primitivo e pôr isto é também chamado de paquímero visceral. O paquímero posterior contém os derivados do tubo neural, ou seja, o encéfalo e a coluna vertebral com a medula espinhal (Fig. I-8). (Figura I-8. Tubos neural e visceral nos paquímeros posterior e anterior no adulto) A antimeria é o princípio pelo qual o corpo é construído pela reunião de duas metades semelhantes externamente, do mesmo tamanaho e simétricas separadas pelo plano sagital mediano. Cada uma destas metades é chamada de antímero direito e esquerdo. A antimeria verdadeira só existe no embrião como mostra a Fig. I-9. Com o desenvolvimento, antes mesmo do nascimento, a simetria interna começa a desaparecer: o fígado se desenvolve predominantemente no antímero direito, o baço no esquerdo e assim pôr diante. Persiste, a simetria bilateral externa que, assim mesmo, é só aparente no adulto (Fig. I-10). Um dos antímeros sempre predomina sobre o outro dependendo se o indivíduo é destro ou não.
(Figura I-9. Vista dorsal de um embrião humano de 4 semanas mostrando a simetria perfeita de seus antímeros). As duas metades da fotografia do rosto de um indivíduo, quando sobrepostas não coincidem completamente mostrando que a simetria externa não é perfeita. Quando se comparam órgãos duplos a assimetria pode ser de forma (o pulmão direito tem três lobos e o esquerdo dois); de tamanho (o ovário direito maior que o esquerdo). Como conclusão, podemos dizer que o corpo é construído segundo modelos estratigráfico, paquimérico, antimérico e metamérico, que já se definem na quarta semana de vida embrionária. ANATOMIA INDIVIDUAL Cada indivíduo apresenta uma constituição corporal própria (fenótipo) que é resultado do somatório de fatores herdados (genótipo) e adquiridos do meio ambiente em que vive e se desenvolve. (Figura I-10. Simetria externa aparente dos antímeros D e E no indivíduo adulto). Esta constituição corporal individual, dependendo do tipo morfológico, pode apresentar variação de maior grau que aqueles observados entre os sexos ou grupos etários e étnicos. O principal fator de diferenciação individual é certamente o herdado, isto é, o genótipo. O outro fator (fenótipo) é o desenvolvimento desigual dos indivíduos. O crescimento do corpo obedece às leis gerais, uma das quais é a alternância de ritmo com fases de crescimento rápido. Os fatores ambientais atuam sobre o ritmo de crescimento principalmente nas fases de rápido desenvolvimento, como na primeira infância e na puberdade.
Estes fatores ambientais são geográficos e sócio-econômicos, que incluem a habitação, trabalho, saúde e principalmente alimentação. Uma deficiência alimentar, principalmente protéica, na primeira infância pode comprometer irremediavelmente o desenvolvimento físico e mental de um indivíduo. mórbida especial e com uma estrutura psicológica específica para cada tipo constitucional. BIÓTIPOS Com base em dados morfológicos e ou psicomorfológicos os indivíduos foram estatisticamente classificados em tipos constitucionais ou biótipos. A classificação de Viola (1933) baseia-se em dados puramente morfológicos (antropométricos) e deve ser aqui referida. Este autor classificou os indivíduos em três tipos: em um extremo estariam os Longilíneos com uma conformação geral estreita e fina, estatura alta, membros longos, pescoço longo e fino, ombros pendentes e um tronco onde o tórax predomina sobre o abdome; no outro extremo estariam os Brevilíneos com conformação geral larga e arredondada, estatura baixa, membros curtos, pescoço curto e grosso, ombros horizontais e um tronco grande de secção cilíndrica onde o abdome predomina sobre o tórax; o tipo Normolíneo apresentaria características intermediárias entre os tipos extremos. A Fig. I-11 mostra a silhueta destes três tipos constitucionais encontrados pôr Lacaz de Morais (1939) na população de brancos nativos do Estado de São Paulo. Os tipos constitucionais já tiveram grande importância em clínica. Os textos de semiologia médica de algumas décadas atrás salientavam a relação entre a forma exterior do corpo com a forma e posição das vísceras, com uma predisposição (Figura I-11. Silhueta dos tipos constitucionais) Os brevilíneos (megalosplâncnicos ou apopléticos de outras classificações) apresentariam notável predisposição para as manifestações artríticas, obesidade, gota, diabetes, litíases (hepática e renal) além de hipertensão arterial e outras afeções cardiovasculares. Psicologicamente estes indivíduos seriam extrovertidos e ciclotímicos com humor entre extrema alegria e tristeza. Os longilíneos (microsplâncnicos ou tísicos de outras classificações) seriam indivíduos com notável tendência ao nervosismo, às doenças gastrointestinais e do aparelho respiratório principalmente a tuberculose. Psicologicamente seriam indivíduos introvertidos, esquizotímicos com extremos de hiperestesia e anestesia.
Os textos mais recentes de semiologia médica dão pouca importância aos biótipos, chegando alguns a não mencioná-los ou dando a eles apenas um valor histórico. Provavelmente esta postura seja conseqüência do desenvolvimento tecnológico dos meios de diagnóstico. Para o estudante de anatomia, os conhecimentos dos biótipos terá importância para perceber as variações da normalidade que o ajudará a entender as diferentes formas e posições do coração e estômago numa radiografia ou ainda a posição e direção das costelas, além de outros inúmeros exemplos.
TIPO CONSTITUCIONAL BREVILÍNEO LONGILÍNEO Conformação geral larga, arredondada estreita, fina estatura baixa, prodomina o tronco alta, predomina os membros tronco grande; secção cilíndrica abdome maior que o tórax tórax maior que o abdome pescoço curto e grosso longo e fino extremidades curtas e grossas longas e finas ombros horizontais pendentes