EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DA BAHIA.



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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DA BAHIA. PROCEDIMENTO PREPARATÓRIO Nº 1.14.000.000238/2015-89 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, através do seu órgão de execução infrassignatário, com fulcro no art. 5º, I, da Lei n. 7.347/85, c/c art. 82, I, CDC, vem respeitosamente à presença de V. Exª ajuizar a presente em face de AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C PEDIDO LIMINAR FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (FNDE), Autarquia Federal, com sede no Setor Bancário Sul, Quadra 2, Bloco F, Edifício FNDE, Brasília/DF, representado pela Procuradoria Federal (Advocacia Geral da União) no Estado da Bahia, localizada na Avenida Luis Viana Filho, nº 2155 Paralela Salvador/BA CEP. 41820-725; e CENTRO DE ENSINO E TECNOLOGIA DA BAHIA (FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU DE LAURO DE FREITAS), pessoa jurídica de

direito privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal, com domicílio na Estrada do Coco, s/n, Km 4,5, Lauro de Freitas/BA CEP 42700-000; e ABES SOCIEDADE BAIANA DE ENSINO SUPERIOR LTDA. (FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU DE SALVADOR), pessoa jurídica de direito privado, a ser citada na pessoa de seu representante legal, com domicílio na Avenida Tamburugy, 88 - Patamares - CEP: 41680-440; pelos fatos a seguir narrados. I. DOS FATOS Tramita nesta Procuradoria da República o procedimento preparatório n. 1.14.000.000238/2015-89, anexo, instaurado a partir de representações de diversos alunos da FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, noticiando suposta omissão por parte da instituição no processo de aditamento dos contratos do FIES junto ao FNDE, razão pela qual estaria agora condicionando a efetivação da matrícula destes alunos para o período 2015.1 ao pagamento da matrícula e das mensalidades do período 2014.2 ou à contratação de um financiamento próprio da faculdade. Conforme se depreende da análise da documentação acostada aos autos do aludido procedimento extrajudicial, o regulamento do FIES exige que, a cada semestre, haja, por intermédio de sistema eletrônico do FNDE, agente operador do FIES, o aditamento dos contratos de financiamento dos estudantes. De acordo com o art. 24, VI, da Portaria Normativa n. 01/2010 1, do Ministério da Educação, compete à Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento do FIES 1 http://sisfiesportal.mec.gov.br/arquivos/portaria_normativa_1_22012010_compilada_05012015.pdf

(CPSA) de cada entidade de ensino vinculada ao FIES, dar início aos trâmites para fins de aditamento dos contratos, mediante a solicitação eletrônica, dentro do prazo fixado pelo FNDE, dos aditamentos dos financiamentos. Ato contínuo, assim que há a solicitação, os alunos recebem a comunicação, através de mensagem eletrônica, do período dentro do qual devem acessar o sistema para confirmar estes aditamentos. Finalizado o procedimento, os alunos devem se dirigir à CPSA para receber o Documento de Regularidade da Matrícula (DRM), após o que estão regularizados e aptos a continuarem no financiamento. Na hipótese em tela, o prazo para solicitação dos aditamentos pela CPSA encerrava-se em 30 de novembro de 2014, nos termos do art. 1º, da Portaria n. 463 2, de 30 de outubro de 2014. Contudo, mais de 300 (trezentos) alunos das unidades de Salvador e Lauro de Freitas da aludida de instituição de ensino não conseguiram confirmar os respectivos aditamentos em razão da manutenção irregular do sistema eletrônico do FNDE, o que deu ensejo ao cancelamento dos aditamentos pelo decurso do prazo para confirmação das solicitações. Neste particular, frise-se que a grande quantidade de alunos que enfrentou problemas com o sistema eletrônico do FIES é fato reconhecido pelo próprio representante legal das instituições rés, o qual ressaltou, ainda, em resposta encaminhada a esta procuradoria, que a ocorrência de tais problemas vêm sendo relatadas pelos alunos desde dezembro de 2014 (fls. 58). Dessa maneira, os alunos prejudicados passaram a procurar os representantes da FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU a fim de que adotassem as medidas necessárias e realizassem uma nova solicitação de aditamento. Contudo, a entidade reconheceu que, 2 http://sisfiesportal.mec.gov.br/arquivos/portaria_463_301014.pdf

em razão dos problemas ocorridos no sistema eletrônico do FIES, a sua Comissão de Permanente de Supervisão e Acompanhamento (CPSA) não conseguiu finalizar os aditivos e contratos de FIES com os alunos em tempo hábil (fls. 58). No intuito de solucionar o problema, a FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU afirmou ter notificado o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em 23 de janeiro de 2015, a fim de que fosse disponibilizado o sistema informatizado do FIES para que os alunos procedessem com a inscrição ou aditamento dos contratos no programa durante qualquer período do ano, nos termos do art. 2º da Portaria Normativa n. 10, de 30 de abril de 2010 (fls. 59/60). Ato contínuo, informou que, em que pese o sistema eletrônico tenha sido reaberto em 28 de janeiro do corrente ano, os problemas operacionais permaneceram, o que tem impedindo aditamentos e novos contratos, razão pela qual fora expedida nova notificação extrajudicial ao FNDE, todavia, igualmente sem sucesso. De outro lado, cumpre ressaltar que os alunos foram orientados pela faculdade e pelo FNDE, após o encerramento do prazo para aditamento dos contratos, a registrar demandas individuais perante aquele ente, a fim de que tivessem as suas situações regularizadas. Entretanto, o FNDE não vem acatando a fundamentação de erro no sistema, exigindo que o aluno o comprovasse, mediante a apresentação do print screen da tela. (fls. 116 do volume apenso). Essa exigência, porém, apenas fora feita após o encerramento do prazo de solicitação do aditamento, o que impossibilita a solução amigável da situação perante o FNDE, já que, sem esta orientação, a quase totalidade dos alunos não se atentou para a cautela de extrair as referidas impressões da tela do sistema. Além disso, frise-se que não obstante a FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU tenha asseverado que o aluno, em posse do número da demanda aberta perante o FNDE, poderia se encaminhar à instituição para efetuar a sua matrícula normalmente, eis que está amparado pela Portaria Normativa MEC nº 1, de 22 de janeiro de 2010 (fls. 61), tal orientação não vem sendo efetivamente cumprida. Ao revés, as diversas representações

dos alunos em anexo, bem assim a planilha de fls. 52/57 (v. apenso) elaborada pela própria faculdade, dão conta de que o registro das demandas individuais perante o FNDE não foram, por si só, capazes de assegurar aos estudantes a almejada matrícula junto à instituição de ensino. Outrossim, saliente-se que a despeito da versão apresentada pela faculdade, os alunos alegaram que em reunião com o diretor da FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU de Lauro de Freitas em 26/01/2015, foi-lhes informado que em virtude da nãoconfirmação dos aditamentos tempestivamente, a instituição de ensino nada mais poderia fazer e que os alunos com pendência no aludido aditamento não poderiam realizar matrícula no semestre corrente, oferecendo-lhes como alternativa um financiamento pelo sistema próprio da faculdade, com entrada de 20% e financiamento dos outros 80%. O período de matrícula para o período 2015.1 iniciou-se no dia 15 e prossegue até o dia 08 de fevereiro de 2015. Estes são os fatos. II. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA 1. Legitimidade do Ministério Público Federal A legitimidade do Ministério Público para ajuizamento da presente Ação Civil Pública encontra-se amparada no art. 81, I, CDC, considerando tratar-se de direito coletivo de todos os alunos prejudicados pela negligência das demandadas em adotar as medidas necessárias à realização do aditamento dos contratos de financiamento. Outrossim, ainda que enxergada a pretensão sob a ótica do interesse individual de cada aluno prejudicado, conclui-se pela configuração de interesses individuais

homogêneos, eis que de origem comum, de grande relevância social, na forma do art. 81, III, CDC, a saber: Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: ( ) II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. É oportuno destacar, outrossim, que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é uníssona em reconhecer legitimidade da atuação do Ministério Público para proteção de interesses individuais com relevância social, tal como o direito à educação, senão vejamos: PROCESSUAL CIVIL. OMISSÃO INEXISTENTE. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. AUSÊNCIA E INSUFICIÊNCIA DE PROCEDIMENTOS E EQUIPAMENTOS PARA PREVENÇÃO A INCÊNDIOS POR PARTE DE CONDOMÍNIO RESIDENCIAL. RELEVANTE INTERESSE SOCIAL. PROTEÇÃO À VIDA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE E INTERESSE DE AGIR. AGRAVO REGIMENTAL PROVIDO. AGRAVO CONHECIDO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. (..) 3. O Superior Tribunal de Justiça reconhece a legitimidade ad causam do Ministério Público, seja para a tutela de direitos e interesses difusos e coletivos, seja para a proteção dos chamados direitos individuais homogêneos, sempre que caracterizado relevante interesse social. 4. In casu, tanto a dimensão do dano e

suas características, como a relevância do bem jurídico a ser protegido justificam o interesse no feito por parte do Ministério Público. Agravo regimental provido. (STJ, AgRg no AREsp 562857, Rel. Min. Humberto Martins, p. 17/11/2014) ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DE INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. CONFIGURAÇÃO. PRECEDENTE DO STJ. 1. O Ministério Público possui legitimidade ad causam para propor Ação Civil Pública visando à defesa de direitos individuais homogêneos, ainda que disponíveis e divisíveis, quando a presença de relevância social objetiva do bem jurídico tutelado a dignidade da pessoa humana, a qualidade ambiental, a saúde, a educação. 2. Recurso especial provido. (STJ, Resp 945785, Rel. Min. Eliana Calmon, p. 11/06/13) 2. Da legitimidade passiva dos demandados No tocante à legitimidade passiva, é de se ressaltar que, de acordo com o art. 3º, II, da Lei n. 10.260/2001, o FNDE será o agente operador do FIES: Art. 3 o A gestão do FIES caberá: II - ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE, na qualidade de agente operador e de administradora dos ativos e passivos, conforme regulamento e normas baixadas pelo CMN. Nesse passo, imputa-se ao FNDE a manutenção irregular do sistema eletrônico a ser acessado pelo aluno para fins de validação do aditamento de seu financiamento, bem como conduta negligente ao não atender nem solucionar adequadamente as diversas demandas registradas pelos alunos, impedindo, com isto, que estes tivessem acesso pleno

ao sistema e pudessem finalizar o aditamento. De outro giro, a legitimidade passiva da FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU justifica-se em razão de competir, na forma do art. 24, VI, da Portaria Normativa n. 01/2010, do Ministério da Educação, à sua Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento do FIES (CPSA) dar início aos trâmites para fins de aditamento dos contratos, mediante a liberação eletrônica, dentro do prazo fixado pelo FNDE, dos financiamentos dos alunos. Nesse diapasão, a própria instituição de ensino reconhece que em virtude das falhas no sistema eletrônico do FNDE, a sua Comissão de Permanente de Supervisão e Acompanhamento (CPSA), embora contactada por diversas vezes e por variados alunos, não conseguiu finalizar os aditivos e contratos de FIES com os alunos em tempo hábil (fls. 58). 3. Do direito à educação A demanda em tela lida diretamente com direito de indiscutível importância: o direito à educação, consagrado no art. 205, da Constituição Federal: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Da mesma forma, o direito à educação encontra-se resguardado em inúmeros diplomas internacionais, merecendo destaque o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1996 e o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Protocolo de San Salvador):

Artigo 13-1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à educação. Concordam em que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda que a educação deverá capacitar todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Artigo 13. Direito à educação 1. Toda pessoa tem direito à educação. 2. Os Estados Partes neste Protocolo convêm em que a educação deverá orientarse para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e deverá fortalecer o respeito pêlos direitos humanos, pelo pluralismo ideológico, pelas liberdades fundamentais pela justiça e pela paz. Convêm, também, em que a educação deve capacitar todas as pessoas para participar efetivamente de uma sociedade democrática e pluralista, conseguir uma subsistência digna, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades em prol da manutenção da paz. O acesso ao ensino superior sempre restou limitado às classes sociais mais abastadas, seja porque possuíam uma melhor qualificação para lograr êxito nos vestibulares das instituições públicas, seja porque as classes mais humildes não tinham condições de custear as mensalidades das instituições privadas. A proposta da política pública inclusiva do FIES é justamente permitir que os alunos pobres, que não tenham condições de custear a universidade particular, possam

cursá-la mediante financiamento do Poder Público, e, somente após dezoito meses da conclusão da graduação, passem a pagar as parcelas deste financiamento. De fato, assim dispõe o art. 1º, da Lei n. 10.260/2001: Art. 1 o É instituído, nos termos desta Lei, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de natureza contábil, destinado à concessão de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação, de acordo com regulamentação própria. Mais adiante, a citada norma regulamenta o prazo de carência e a possibilidade de financiamento total do curso: Art. 4 o São passíveis de financiamento pelo Fies até 100% (cem por cento) dos encargos educacionais cobrados dos estudantes por parte das instituições de ensino devidamente cadastradas para esse fim pelo Ministério da Educação, em contraprestação aos cursos referidos no art. 1 o em que estejam regularmente matriculados. Art. 5º Os financiamentos concedidos com recursos do FIES deverão observar o seguinte: IV carência: de 18 (dezoito) meses contados a partir do mês imediatamente subsequente ao da conclusão do curso, mantido o pagamento dos juros nos termos do 1 o deste artigo. Salta aos olhos, pois, que os estudantes que fazem uso do FIES são pessoas de baixa renda, que não têm condições de custear as mensalidades de um curso universitário particular.

Nessa linha de raciocínio, a exigência imposta para fins de efetuação da matrícula do período 2015.1 do pagamento da matrícula e das mensalidades do semestre anterior (2014.2) ou como alternativa a realização de um financiamento pelo sistema próprio da faculdade, em razão do não-aditamento dos contratos, torna extremamente difícil, senão impossível, a permanência destes alunos no curso universitário, minando a obtenção do tão almejado diploma. Da mesma forma, não podem os estudantes serem prejudicados por omissões e falhas operacionais atribuídas às demandadas, existindo provas suficientes de que os estudantes buscaram registrar demandas junto ao FNDE e junto à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, a fim de que pudessem efetivar os aditamentos. 4. Dos atos ilícitos imputados aos demandados Resta patente, por conseguinte, que óbices operacionais no sistema eletrônico do FNDE criaram embaraços à confirmação, por parte dos estudantes, dos aditamentos solicitados pela FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, bem como que o FNDE não adotou quaisquer medidas hábeis a reverter a situação; pelo contrário, desconsiderou inúmeras demandas formuladas pelos alunos e até mesmo pela FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, o que acarretou sensível prejuízo aos estudantes que não conseguiram efetivar o aditamento. Também restou caracterizado ato ilícito imputável à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, eis que, mesmo cientificada pelos estudantes dos problemas que ensejaram o cancelamento pelo decurso do prazo, não procedeu à solicitação de novo aditamento de todos os alunos, razão pela qual apenas alguns foram agraciados, uma vez que, segundo informado aos alunos, foi adotada a ordem alfabética para a realização das solicitações (fls. 94/95, v. Apenso).

Ora, se a instituição de ensino é beneficiária direta do FIES, a partir do qual ampliou significativamente a quantidade de alunos matriculados, eis que passou a abranger outras classes sociais anteriormente privadas do acesso ao ensino público superior particular, - e, portanto, ampliou a sua margem de lucro -, o mínimo que dela se espera é que mantenha estrutura e recursos humanos adequados à correta prestação dos serviços relativos a este financiamento, notadamente, no que interessa ao caso em apreço, que adote todas as providências necessárias para que o estudante possa manter a regularidade de seu financiamento. 5. Da regulamentação administrativa do FIES Releva consignar, ademais, que a própria regulamentação interna do Ministério da Educação, especificamente o art. 25, da Portaria Normativa n. 01/2010, do Ministério da Educação, prevê a possibilidade de prorrogação do prazo para solicitação dos aditamentos: Art. 25. Em caso de erros ou da existência de óbices operacionais por parte da instituição de ensino, da Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento - CPSA, do agente financeiro e dos gestores do Fies, que resulte na perda de prazo para validação da inscrição, contratação e aditamento do financiamento, como também para adesão e renovação da adesão ao Fies, o agente operador, após o recebimento e avaliação das justificativas apresentadas pela parte interessada, deverá adotar as providências necessárias à prorrogação dos respectivos prazos, observada a disponibilidade orçamentária do Fundo e a disponibilidade financeira na respectiva entidade mantenedora, quando for o caso. (Redação dada pela Portaria Normativa nº 15, de 1º de julho de 2014). 1º O disposto no caput deste artigo se aplica quando o agente operador receber a justificativa do interessado em até 180 (cento e oitenta) dias contados da data de sua ocorrência. (Incluído pela Portaria Normativa nº 12, de 06 de junho de 2011) Nessa ótica, a Portaria n. 463/2010, que estabeleceu o prazo final de 30 de

novembro de 2014 para solicitação no sistema eletrônico do aditamento do contrato referente semestre 2014.2, salienta, em seu artigo 2º, que: Art. 2º Os impedimentos à realização dos aditamentos de que trata esta Portaria, decorrentes de óbices operacionais não motivados pelo estudante financiado serão avaliados por este agente operador do FIES nos termos do art. 25 da Portaria Normativa MEC n. 1, de 22 de janeiro de 2010. É dizer: a própria regulamentação normativa da matéria, ao passo em que admite a possibilidade da existência de erros e óbices operacionais à realização dos aditamentos, admite a prorrogação do prazo originariamente estipulado, a fim de não prejudicar os alunos financiados, desde que estes não tenham dado causa à não-realização. Quanto a este aspecto, a documentação acostada aos autos deixa claro que centenas de alunos manifestaram problemas com a realização do aditamento, tendo inclusive a FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU expedido duas notificações extrajudiciais ao FNDE, a fim de ver sanado o problema com o sistema informatizado do FIES e, consequentemente, conseguir realizar os aditamentos contratuais necessários. Outrossim, a documentação demonstra que os alunos realizaram diversos registros junto ao FNDE e à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, buscando obter soluções para regularizar o aditamento dos seus contratos. Se um ou outro aluno alegasse ter perdido o prazo para aditamento, sob o pretexto de que se deparou com problemas no sistema eletrônico, seria de se questionar a existência desses problemas e a necessidade de sua comprovação. Porém, é mais do que ilógico imaginar que centenas de alunos tenham, negligentemente, perdido o prazo para confirmação do aditamento e, por conseguinte, criado a engenhosa tese de que houve problemas na realização do aditamento no sistema eletrônico, sobretudo se considerarmos que houve registros feitos à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU e ao FNDE ainda dentro do prazo de aditamento, relatando tais problemas.

6. Da jurisprudência dos Tribunais Pátrios Os tribunais pátrios, notadamente o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, já tiveram oportunidade de debruçar-se sobre casos semelhantes, reconhecendo que os alunos não podem ser prejudicados por erros ou óbices operacionais do sistema eletrônico utilizado para confirmação do aditamento dos contratos. Neste sentido, seguem recentíssimas decisões: ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. MANDADO DE SEGURANÇA. UNIVERSIDADE. PROGRAMA DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES). FALHAS NO SISTEMA INFORMATIZADO. MATRÍCULA. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. I. Hipótese em que a negativa de efetivação de matrícula por razões falhas no sistema informatizado do próprio FIES se constitui em ato atentatório ao princípio da razoabilidade - notadamente tendo em vista o escopo sócio-educacional daquele programa, bem como o status de dever do Estado de que se reveste a educação, expressamente previsto na Constituição Federal (art. 205). II. Remessa oficial a que se nega provimento. (REOMS 0012202-29.2014.4.01.3500 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL KASSIO NUNES MARQUES, SEXTA TURMA, e-djf1 p.2943 de 05/12/2014) ADMINISTRATIVO. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DO FNDE REJEITADA. FIES. FALHAS NO SISTEMA DE INFORMATIZAÇÃO DO FUNDO. AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DO ESTUDANTE. PERIODO LETIVO DE 20.12.2. CURSO DE MEDICINA NA FAMENE. DIREITO A MATRÍCULA E REGULARIZAÇÃO CONTRATUAL. 1. Apelação do FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação em face de sentença que deferiu pretensão parcial a beneficiário do FIES para efetivação de matrícula no Curso de Medicina da FAMENE, período 2.012.2, além da

regularização de pendências junto ao SisFIES. 2. Ante os termos do art. 3º, II, da Lei nº 10.260/2001, com as alterações da Lei nº 12.202;2010, a gestão do FIEScaberá ao FNDE, na qualidade de agente operador. (PJE 0801954182013405000 - Relator o Desembargador Federal Luiz Alberto Gurgel de Faria, 3ª Turma, j. 31.10.2013). Preliminar de ilegitimidade passiva ad causam rejeitada. 3. A jurisprudência firme desta Corte aponta que descabe responsabilização do estudante quanto à formalização de aditamento contratual, em razão de falhas no SisFIEs, tendo este legítimo direito de obter a efetivação de sua matrícula e regularização das pendências afetas ao FIES. Precedentes. 4. Apelação improvida. (TRF5, AC 00033633720124058200, Rel. Marcelo Navarro, p. 24/11/14) CIVIL E ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE ADITAMENTO DO FIES. FALHA NO SISTEMA DE INFORMATIZAÇÃO DO FNDE. AUSÊNCIA DA RESPONSABILIDADE DA ALUNA. MANUTENÇÃO DA CONDENAÇÃO EM HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. Apelação contra sentença que excluiu a CAIXA da lide, e julgou procedente o pedido exordial, para determinar à FAMENE que matricule a autora no curso de Medicina, semestre 2012.2, e ao FNDE que adite o contrato SisFIES, mediante regularização da situação da autora, decorrente da falha no sistema informatizado. 2. O aditamento de renovação semestral do contrato de financiamento estudantil firmado posteriormente à data de vigência da Lei nº 12.202/2010, in casu, em 16/01/2012, relativo ao semestre 2012.2, deve ser realizado através do Sistema Informatizado SisFIES, disponível nas páginas eletrônicas do Ministério da Educação e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (Resoluções nº 4 e 8/2012 do FIES), não havendo razão para manter a CAIXA no polo passivo da presente demanda. 3. A autora encontra-se adimplente e está em situação de regularidade contratual junto ao FIES, inexistindo impedimento à manutenção do financiamento da estudante. 4. Honorários advocatícios arbitrados em R$ 1.500,00, pro rata, valor razoável e de conformidade com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, não havendo razão para qualquer redução. 5. Apelação e remessa oficial improvidas. (TRF5, APELREEX 00054055920124058200, Rel. Cesar Carvalho, p.

13/06/2014) De mais a mais, cumpre registrar que os problemas enfrentados pelos alunos da Faculdade Maurício de Nassau relacionados aos aditamentos de contratos do FIES e à realização da matrícula no corrente semestre não se restringem às unidades de Salvador e Lauro de Freitas. Com efeito, os alunos da mesma instituição de ensino em Campina Grande (PB) enfrentaram iguais problemas narrados nesta exordial, razão pela qual o MPF/PB ajuizou ação civil pública em desfavor da referida instituição e do FNDE, em 16 de janeiro de 2015, no bojo da qual foi proferida decisão liminar garantindo a reabertura do prazo para aditamento de contratos do FIES e a realização de matrículas para alunos da Faculdade Maurício de Nassau que não conseguiram efetuar o aditamento, em razão de falhas no sistema eletrônico do FNDE (cf. fls. 41). III. DO PEDIDO LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA Na esteira do que dispõem os artigos 273, CPC, temos que: Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; A verossimilhança do direito está consubstanciada na comprovação de que centenas de alunos não conseguiram efetuar a confirmação dos aditamentos no sistema eletrônico do FNDE em razão de falhas técnicas, as quais foram devidamente registradas mediante print screen das telas do sítio eletrônico do Ministério da Educação em anexo. Tais falhas, aliás, além de expressamente reconhecidas pela instituição de ensino, foram

amplamente noticiadas em jornais de grande circulação do país 3. Urge ressaltar que a FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU também reconheceu, no bojo do procedimento extrajudicial, que não conseguiu realizar a liberação dos aditamentos de todos os estudantes, ao que os alunos informaram que o critério utilizado pela entidade para tal liberação tenha sido a ordem alfabética, de modo que somente alguns alunos tiveram seus aditamentos liberados, enquanto outros não conseguiram obtê-lo tempestivamente. Noutra banda, o risco de ineficácia da medida é gritante, haja vista que, em face do não-aditamento dos financiamentos, os alunos só poderão realizar as suas respectivas matrículas para o semestre 2015.1, cujo período é de 15 a 08 de fevereiro, se efetuarem o pagamento da matrícula e das mensalidades do semestre anterior (2014.2), bem como a matrícula do semestre atual (2015.1), ou mediante financiamento pelo sistema próprio da faculdade, com entrada de 20% e financiamento dos outros 80%. Tais exigências, associadas à circunstância de tratar-se de estudantes de baixa renda, que necessitam do financiamento para frequentar um curso universitário particular, cria obstáculo intransponível à permanência no curso e, por conseguinte, a conclusão da graduação. Além disso, como salientado, o período de matrícula já se iniciou, encerrando-se no próximo dia 08 de fevereiro. De outro giro, a tutela específica da obrigação de fazer ou de não fazer tem previsão no art. 461, CPC, no art. 84, CDC, e no art. 11, da Lei da Ação Civil Pública, senão vejamos: Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente 3 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/01/estudantes-nao-conseguem-fazer-financiamento-para-o-ensinosuperior.html

ao do adimplemento. Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor. Sendo assim, presentes os requisitos legais necessários à obtenção de medida liminar de antecipação dos efeitos práticos da tutela, o Ministério Público requer: a) Quanto ao FNDE, que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de antecipar os efeitos da tutela e determinar ao FNDE que proceda, no prazo de 72 (setenta e duas horas), à reabertura do sistema eletrônico necessário ao aditamento dos contratos do FIES, mantendo-o aberto e em funcionamento pleno pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias, sob pena de multa diária no importe de R$ 10.000,00; b) Quanto à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU, que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de antecipar os efeitos da tutela e determinar à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU que: b.1) após a abertura do sistema pelo FNDE, proceda, dentro do prazo de prorrogação citado no item b, à liberação dos aditamentos de todos os alunos cujas demandas foram registradas perante o FNDE, sob pena de multa diária no importe de R$ 10.000,00, a partir do atraso;

b.2) proceda imediatamente à matrícula de todos os alunos cujas demandas individuais foram registradas perante o FNDE, para o período 2015.1, abstendo-se de efetuar qualquer tipo de cobrança, a título de matrícula ou mensalidade, seja do período 2014.2, seja do período 2015.1, até a conclusão do procedimento de aditamento de todos os alunos, sob pena de multa diária no importe de R$ 10.000, por aluno; b.3) durante todo o período de solicitação de aditamentos, divulgue, de forma clara e ostensiva, por intermédio de todos os meios institucionais de comunicação, aos alunos interessados o novo período de aditamento dos financiamentos, a fim de que estes possam acessar o sistema eletrônico e confirmá-los, sob pena de multa no importe de R$ 10.000,00. b.4) encaminhe ao Juízo, no prazo de 05 (cinco) dias, a listagem de todos os estudantes cujas demandas individuais foram registradas pela entidade perante o FNDE, conforme planilha citada à fls. 52/57, sob pena de multa diária no importe de R$ 1.000,00. Por derradeiro, importa frisar que a medida liminar, se deferida, não é, sem a menor margem de dúvida, irreversível, eis que, na hipótese de os aditamentos não serem confirmados pelos alunos, a FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU poderá efetuar a cobrança retroativa dos valores devidos, inclusive em Juízo. IV. PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS Ante o exposto, o Ministério Público Federal requer:

a) que seja recebida, autuada e processada a presente Ação Civil Pública; b) que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de antecipar os efeitos da tutela e determinar ao FNDE que proceda, no prazo de 72 (setenta e duas horas), à reabertura do sistema eletrônico necessário ao aditamento dos contratos do FIES, mantendo-o aberto e em funcionamento pleno pelo prazo mínimo de 30 (trinta) dias, sob pena de multa diária no importe de R$ 10.000,00; c) que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de antecipar os efeitos da tutela e determinar à FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU que: c.1) após a abertura do sistema pelo FNDE, proceda, dentro do prazo de prorrogação citado no item b, à liberação dos aditamentos de todos os alunos cujas demandas foram abertas perante o FNDE, sob pena de multa diária no importe de R$ 10.000,00, a partir do atraso; c.2) proceda, imediatamente, até o início do período letivo, à matrícula de todos os alunos cujas demandas individuais foram registradas perante o FNDE, para o período 2015.1, abstendo-se de efetuar qualquer tipo de cobrança, a título de matrícula ou mensalidade, seja do período 2014.2, seja do período 2015.1, até a conclusão do procedimento de aditamento de todos os alunos, sob pena de multa diária no importe de R$ 10.000,00, por aluno; c.3) durante todo o período de solicitação de aditamentos, divulgue, de forma clara e ostensiva, por intermédio de todos os meios institucionais de comunicação, aos alunos interessados o novo período

de aditamento dos financiamentos, a fim de que estes possam acessar o sistema eletrônico e confirmá-los, sob pena de multa no importe de R$ 10.000,00. c.4) encaminhe ao Juízo, no prazo de 05 (cinco) dias, a listagem de todos os estudantes cujas demandas individuais foram registradas pela entidade perante o FNDE, conforme planilha citada às fls. 52/57, sob pena de multa diária no importe de R$ 1.000,00; d) após, sejam citados os demandados, na forma da Lei; e) quanto ao mérito, a confirmação da medida liminar, julgando procedente a demanda e condenando os demandados às obrigações postuladas nos itens b e c, assegurando aos estudantes a regularização do aditamento dos respectivos financiamentos e a efetiva matrícula para o período 2015.1. Protesta, ademais, pela produção de todas as provas admissíveis em Direito, notadamente a juntada de novos documentos, prova pericial, depoimento pessoal e oitiva de testemunhas. Dá-se à causa o valor fiscal de R$ 100.000,00 (cem mil reais). Salvador/BA, 05 de fevereiro de 2015. EDSON ABDON PEIXOTO FILHO Procurador da República