PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM ENERGIA: O RETRATO BRASILEIRO

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1. INTRODUÇÃO Simultaneamente às diversas mudanças que vêm ocorrendo no mundo nas últimas quatro décadas, especialmente quanto à economia, à geopolítica internacional e às tecnologias verifica-se o crescimento dos movimentos ambientalistas que apesar de existirem desde o século XIX, somente após a Segunda Guerra Mundial, ganharam força e ampliaram o horizonte de atuação. Segundo Barbieri (2006) o aumento da escala de produção e consumo são importantes fatores que estimulam a exploração dos recursos naturais e elevam a quantidade de geração volumosa de resíduos e conseqüentemente a degradação ambiental, sinalizada em dimensões globais como a perda da biodiversidade, a redução da camada de ozônio, a contaminação das águas, as mudanças climáticas decorrentes da intensificação do efeito estufa e outros. Para o setor produtivo e tecnológico, até recentemente, os danos causados ao ambiente eram considerados o preço a ser pago para alcançar um desenvolvimento e crescimento impostos pela concorrência. No entanto, no processo de conversão ou transformação de bens e serviços naturais para satisfazer as necessidades e os desejos humanos o consumo de recursos naturais renováveis e não-renováveis é realizado em grande escala e dentro de uma dimensão temporal muito mais rápida se comparada a capacidade de reposição e regeneração da matéria no ciclo natural. Surge assim a necessidade de novas propostas de desenvolvimento econômico e tecnológico que suporte um processo produtivo baseado no controle e manutenção da qualidade do ambiente e de vida. Desta evolução conceitual e econômica, nascem as estratégias do "Desenvolvimento Sustentável", cuja premissa básica, é considerar que os recursos naturais são o sustentáculo atual e futuro da vida na Terra, assim, nenhuma geração tem o direito de usufruir deles até a exaustão, ou de inviabilizar seu uso pelas gerações futuras. (ROSA, 2001) Para conduzir um processo de desenvolvimento sustentável, Leff (1988) alega que as estratégias a serem adotadas pelas políticas públicas, econômicas, tecnológicas e educativas prevalecentes, devem orientar os processos produtivos para o aproveitamento do potencial ambiental de cada região, satisfazendo as necessidades básicas da população. Segundo Leff (1988) A crescente complexidade e o agravamento dos problemas socioambientais, gerados pelo triunfo da racionalidade econômica e da razão tecnológica que a sustenta, levaram a colocar a necessidade de reorientar os processos de produção e aplicação dos conhecimentos, assim como a formação de habilidades profissionais, para conduzir um processo de transição para um desenvolvimento sustentável. Assim ao mesmo tempo em que a sociedade passa a valorizar o conhecimento, a capacidade técnica e as habilidades profissionais, para conduzir o processo de desenvolvimento sustentável, exige também a instalação de instrumentos e políticas públicas ambientais. Segundo Barbieri (2006) esses instrumentos são explicitados em três grandes grupos: (a) comando e controle (padrões de emissão, qualidade e desempenho); (b) econômico (tributação, incentivos e financiamentos) e (c) outros (apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico, educação ambiental e informações ao público). Diante da urgência da questão ambiental em seu caráter sustentável, gerencial e produtivo, propôe-se discutir nesse estudo o terceiro grupo de instrumentos, avaliando quantitativamente a produção científica divulgada em periódicos nacionais e desenvolvida em Instituições de 105

Ensino Superior, Centros de Pesquisa e Órgãos de Apoio no Brasil. 2. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA COMO INDICADOR DE INVESTIMENTO EM PESQUISA ENERGÉTICA NO BRASIL Segundo MUGNAINI (2004), as atividades de produção de indicadores quantitativos em ciência, tecnologia e inovação vêm se fortalecendo no país na última década, com o reconhecimento da necessidade, por parte dos governos federal e estadual e da comunidade científica nacional, de dispor de instrumentos para definição de diretrizes, alocação de investimentos e recursos, formulação de programas e avaliação de atividades relacionadas ao desenvolvimento científico e tecnológico no país. No Brasil, a relevância dos indicadores estatísticos para mensurar a evolução de desenvolvimento de uma determinada área, pode ser evidenciada pelo volume de investimentos em C&T em relação ao PIB, a proporção de profissionais de nível superior no mercado de trabalho, a quantidade de mestres e doutores titulados, coeficientes técnicos de pesquisadores por 100 mil habitantes e artigos publicados em periódicos científicos (VELHO, 1990 e 1998). No site do Ministério da Ciência e Tecnologia MCT, essas estatísticas em ciência e tecnologia integram os sistemas de indicadores econômicos, pela correlação entre gastos em C&T e expansão do produto interno bruto. O MCT atua também nas áreas de energia, que inclui hidroeletricidade, energia nuclear, recursos fósseis (petróleo, gás natural e carvão), energia renovável (agroenergia, biomassa, biodiesel, economia do hidrogênio, eólica, solar, etc.) e recursos minerais, e exerce o planejamento, proposição, articulação, coordenação e acompanhamento de ações, programas e redes de pesquisa voltadas para o desenvolvimento tecnológico e de inovação desses setores. (MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA, 2007). Nos últimos dez anos, a produção científica brasileira vem crescendo de forma significativa, no entanto, é considerado pouco expressivo o aproveitamento dos seus resultados para incrementar a tecnologia, intensificar a inovação e, conseqüentemente, contribuir para novos patamares de competitividade econômica que promovam a redução de diferenças e o desenvolvimento social. Some-se a isso a baixa disseminação dessa produção (CRUZ, 2000). Os estudos de produção científica enfrentam desafios, uma vez que produzir cientificamente é parte de um grande sistema social que é a ciência. Como afirma Macias-Chapula (1998)... a ciência necessita ser considerada como um amplo sistema social, no qual uma de suas funções é disseminar conhecimentos. Sua segunda função é assegurar a preservação de padrões e, a terceira, é atribuir crédito e reconhecimento para aqueles cujos trabalhos têm contribuído para o desenvolvimento das idéias em diferentes campos. De acordo com Schwartzman (1992) é através da pesquisa científica que se torna possível captar recursos, obter e reprocessar matérias primas, adquirir tecnologias e agregar valor aos processos de produção e venda de serviços. Assim, os resultados obtidos pelas pesquisas precisam ser disponibilizados em fontes seguras de informação, com qualidade assegurada e reconhecida cientificamente. Assim para o estudo do sistema de ciência, tecnologia e inovação surge cientometria, baseada em indicadores bibliométricos, se ocupa de documentos publicados em canais especializados 106

e envolve inúmeros parâmetros, tais como a quantidade de publicações, co-autorias, citações, co-ocorrência de palavras e outros. Esses parâmetros são empregados como medidas indiretas da atividade da pesquisa científica e contribuem para a compreensão dos objetivos da pesquisa, das estruturas da comunidade científica, do seu impacto social, político e econômico. Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, 2007). A análise da produção científica de um país, de uma região ou instituição específica envolve um conjunto expressivo de indicadores bibliométricos. Eles podem ser divididos em indicadores de produção, indicadores de citação e indicadores de ligação (OKUBO, 1997). Os indicadores de produção científica são construídos pela contagem do número de publicações por tipo de documento (livros, artigos, publicações científicas, relatórios, etc.), por instituição, área conhecimento, país, etc. O indicador básico é o número de publicações, que procura refletir características da produção ou do esforço empreendido, mas não mede a qualidade das publicações. No Brasil, a Biblioteca Científica Eletrônica SciELO é considerada referência nacional de periódicos cujo objetivo é implementar uma biblioteca eletrônica que possa proporcionar um amplo acesso a coleções de periódicos como um todo, aos fascículos de cada título de periódico, assim como aos textos completos dos artigos (SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE, 2007). A metodologia SciELO é formada por módulos integrados que possibilitam, ao mesmo tempo, a publicação de textos completos de artigos, seu armazenamento em bases de dados e sua recuperação eficiente e imediata, controle e medida de uso de periódicos na Internet, impacto mediante a produção de relatórios. Esses relatórios são baseados em indicadores e critérios quantitativos e em técnicas e métodos bibliométricos (ANTONIO & PACKER 1998). A produção científica disponível na SciELO tem demonstrado enorme vitalidade conforme Tabela 1. Nº de fascículos Nº de artigos Nº de citações concedidas Nº de citações recebidas Méd. artigos fascículo Méd.citações concedidas por fascículo Méd.citações concedidas por artigo Méd.citações recebidas por fascículo Méd.citações recebidas por artigo 4.482 65.320 1.620.918 94.978 14,57 361,65 24,82 21,19 1,45 Fonte: www.scielo.br Tabela 1 - Coleção da Biblioteca Eletrônica SciELO Os motivos para o crescimento da produção científica no Brasil são variados e peculiares a cada pesquisador e/ou instituição, sendo que os fatores mais importantes, em qualquer caso, têm a ver com a qualidade e a dedicação dos pesquisadores, potenciadas pelo crescimento contínuo, quantitativo e qualitativo do sistema nacional de pós-graduação e pelos investimentos governamentais em ciência e tecnologia. A aplicação da cientometria no contexto desse estudo visa avaliar a evolução ou declínio da temática e a demografia da comunidade científica nacional, destacam-se a importância da atuação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) como órgãos fomentadores da pesquisa no Brasil. 107

Neste contexto, e com o propósito de estimular a discussão acerca da obtenção de apoio dos instrumentos de políticas públicas ambientais para o desenvolvimento científico e tecnológico da empresa, indaga-se quais as características da pesquisa em energia e recursos ambientais, publicada em periódicos da Biblioteca Científica Eletrônica SciELO? Assim, o objetivo deste estudo é analisar e quantificar a produção científica brasileira em Energia, publicada em periódicos disponíveis na Biblioteca Científica Eletrônica SciELO, no período de 2000 a 2007 (abril). A partir das quantificações e análises das variáveis em estudo, pretende-se traçar o perfil da pesquisa brasileira em Energia, verificando suas tendências e correlacionando-a aos Grupos de Pesquisas da área, cadastrados no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Acredita-se que essa proposta pode levantar tendências, padrões e potencialidades da pesquisa em Energia no Brasil, fomentando a discussão sobre a construção do conhecimento da área e sobre as possibilidades de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico pelos instrumentos de políticas públicas ambientais vigentes no país. 3. MÉTODO DE PESQUISA Esta é uma pesquisa de natureza básica; quantitativa em função do problema; considerada descritivo-exploratória de acordo com os objetivos; e em relação aos procedimentos técnicos trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Para análise das variáveis utilizou-se a técnica de análise de conteúdo. Para realização deste estudo, foram selecionadas as seguintes palavras-chaves: Energia, Recursos Naturais, Planejamento Energético, Energia Elétrica, Energias, Energy Crisis, Recursos Renováveis, Energia Limpa, Eficiência Energética, Potencial Energético, Gestão Ambiental, Impactos Ambientais, Análise de Risco Ambiental, Monitoramento Ambiental, Co-geração de Energia, Energia Elétrica, Mudanças Climáticas, Geração Energia, Energia alternativa e Resgate de Carbono, as quais foram utilizadas como descritores para a pesquisa em periódicos da biblioteca científica eletrônica SciELO no campo assunto, no período de 2000 a 2007 (abril). A pretensão inicial desse estudo era pesquisar a produção científica nesta área nos últimos dez (10) anos, no entanto, as publicações tiveram início a partir de 2000, limintando o levantamento a esse intervalo. Com as palavras-chaves citadas acima foram encontrados 46 artigos relacionados à energia no contexto da sustentabilidade, da geração, de fontes alternativas, de mudanças climáticas e preservação. Após a localização dos artigos e identificação dos periódicos foram efetuadas leituras dos resumos e análise dos artigos. O modelo proposto por Santos, Pilatti e Kovaleski (2005), foi adaptado para os objetivos dessa pesquisa e integrou as seguintes variáveis: nome do periódico, número de autores por artigo; autores por gênero; instituições de origem da pesquisa, temática pesquisada, além da identificação dos Grupos de Pesquisas (CNPq) e sua relação com as publicações encontradas. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Mediante a Tabela 2 é possível identificar vinte e quatro (24) periódicos científicos, sendo que nove (9) tiveram mais de uma publicação. 108

Periódico Referenciamento Ambiente & Sociedade 1 Cadernos de Saúde Pública 4 Ciência & Saúde Coletiva 2 Ciência da Informação 1 Ciência Rural 2 Dados 1 Educação & Sociedade 1 Engenharia Sanitária e Ambiental 1 Engenharia Agrícola 2 Estudos Avançados 5 Gestão & Produção 1 História, Ciências, Saúde-Manguinhos 1 Horizontes Antropológicos 1 Nova Economia 1 Produção 1 Revista Brasileira de Ensino de Física 2 Revista Administração Pública 1 Revista Árvore 1 Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental 7 Revista Brasileira de Economia 1 Revista de Economia e Sociologia Rural 2 São Paulo Perspectiva 1 Sba Controle & Automação 5 Scientia Agricola 1 Tabela 2 - Relação de Periódicos Foram identificados 46 artigos, produzidos por 144 autores e co-autores, provenientes de 23 instituições de ensino superior (IES s) diferentes e oito (8) Institutos de Pesquisas e/ou Órgão Governamental. A média de artigos por instituição foi de 1,48 e a média por de artigo por autor foi de 0,32. A Tabela 3 apresenta o número de artigos publicados por ano, no período de 2000 a abril/2007 na Biblioteca Eletrônica Científica (SciELO). Ano Nº Artigos 2000 3 2001 2 2002 2 2003 7 2004 8 2005 9 2006 12 2007 3 Total 46 Tabela 3 - Relação de artigos publicados por ano A Tabela 3 retrata a evolução das publicações no Brasil sobre energia no contexto da sustentabilidade, geração, preservação e mudanças climáticas, mostrando que é ainda muito recente o trabalho brasileiro nesse contexto. 109

Observa-se, no entanto; que houve um significativo aumento de 2002 para 2003, seguido por uma evolução gradativa. Esse crescimento da produção científica na área pode estar relacionda com a maior valorização da temática pelos meios de comunicação de massa e pelas exigências de organismos internacionais por programas e políticas públicas de valorização ambiental, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, evidenciando assim a necessidade de mais pesquisa na área. Ao analisar a variável número de autores por artigo (Tabela 4), percebe-se que a pesquisa está bem distribuída entre os autores, não havendo um grupo que se destaque na temática, embora exista um número significativo de Grupos de Pesquisas cadastrados no Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) que serão tratados adiante. Um Dois Três Quatro Cinco ou Total Autor Autores Autores Autores mais Autores 8 13 10 6 9 46 Tabela 4 - Caracterização do número de autores por artigo Dos 46 artigos publicados na SciELO ao longo do período em estudo, 8 artigos (17,39%) do total foram escritos por um autor, 13 artigos (28,26%) por dois autores, 10 artigos (21,74%) escritos por três autores, 6 artigos (13,04%) por quatro autores e 9 artigos (19,57%) por 5 ou mais autores. Ao distribuir os 144 autores e/ou co-autores segundo o gênero, verificou-se que há uma predominância masculina com 71,53% dos artigos e apenas 28,47% são de autoria feminina (Tabela 5). Ano Autores Autoras Sub-Total 2000 5 1 6 2001 4 8 12 2002 4 0 4 2003 19 6 25 2004 19 4 23 2005 22 3 25 2006 24 15 39 2007 6 4 10 Totais 103 41 144 Tabela 5 - Autores por Gênero As instituições referenciadas nos artigos são apresentadas na Tabela 6. Ano 2000 2001 2002 2003 UFRGS, USP (2) UFRJ, FIOCRUZ, UFMG UFF, UNESP Instituição* UFRJ (2), FIOCRUZ (2), UnB, Associação de Proteção de Ecossistemas Costeiros, University of Amesterdam, UFF, UNIABEU, UFV, Unicamp 2004 UNIOESTE, EMBRAPA, UFSC, UNESP, UEPG, INPE, UFV (2), USP, FGV, IBMEC-RJ 110

2005 2006 2007 Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, UFPR, Sanepar, UFV (2), USP (2), INPE, EMBRAPA, UFCG, Unicamp, CPFL, UNESP Macquarie University, Australian National University, UFRJ, FIOCRUZ, IBAMA, FGV (3), UNIVALI, UFSC, USP (2), UNIOESTE, UFPE, Unicamp FIOCRUZ, UNIFEI, UFRJ * O nº representado entre parênteses significa número de repetições. Tabela 6 - Relação das Instituições referenciadas nos artigos Observa-se que a maioria das publicações científicas concentra-se em instituições de ensino (IES s) e/ou órgãos públicos, havendo pequena participação de instituições privadas. As IES`s mais refernciadas foram, USP, UFV, UFRJ, e FIOCRUZ. Observa-se pouca participação de órgãos privados e governamentais na pesquisa científica na área de Energia. Analisando os artigos sob a ótica da temática de pesquisa, verifica-se que fontes alternativas de energia tem sido um tema bastante explorado pelos pesquisadores, seguida por preservação ambiental e pesquisa e desenvolvimento (P&D) em energia, conforme Tabela 7. Temática Pesquisada Referenciamentos Fontes alternativas de energia 11 Preservação ambiental 9 P&D em energia 8 Sustentabilidade 6 Papel econômico da energia 6 Recursos naturais 3 Eficiência/potencial energético 3 Tabela 7 - Temática pesquisada Associando estas temáticas pesquisadas com os grupos de pesquisas cadastrados no CNPq, com a mesma denominação, percebe-se que a produção científica de alguns grupos de pesquisas ainda é bastante tímida, haja vista o volume de grupos existentes, conforme Tabela 8. Temática Pesquisada Nº Grupos de Pesquisa - CNPq Fontes alternativas de energia 6 Preservação ambiental 81 Sustentabilidade 459 Economia energética 10 Recursos naturais 253 Eficiência/potencial energético 100 Tabela 8 - Temática pesquisada e Nº de Grupos de Pesquisa - CNPq Verificou-se também que alguns grupos de pesquisas têm sido bastante atuantes, disseminando suas pesquisas e contribuindo para o avanço científico e tecnológico brasileiro nesta área. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 111

Por meio deste estudo, verificou-se que a produção científica brasileira na área de energia é bastante recente e vem mantendo um aumento gradativo ao longo dos anos, reafirmando a importância do tema no contexto nacional e internacional. Percebeu-se que embora existam vários grupos de pesquisas castrados no CNPq, muitos não têm disseminado suas pesquisas em períódicos da Biblioteca Científica Eletrônica SciELO, ou não têm conseguido avançar em pesquisas que gerem resultados para publicação. Observou-se uma grande preocupação em estudar fontes alternativas de energia, principalmente quando se considera o número de grupos de pesquisas existentes. O mesmo ocorre com preservação ambiental, reforçando a relevânica das temáticas. Este é um estudo preliminar, restrito à análise quantitativa, sendo necessárias outras pesquisas para analisar e mensurar a qualidade e profundidade das publicações brasileiras em energia, no contexto da sustentabilidade. Contudo, observa-se que os achados desta investigação podem contribuir sobremaneira para o entendimento da produção científica brasileira da área de energia, além de servir como indicador para políticas de fomento. 6. REFERÊNCIAS ANTONIO, I. & PACKER, A. Seminário sobre avaliação da produção científica: relatório final. Ciência da Informação, Brasília, Vol. 27, n. 2, p. 236-238, maio/ago. 1998. BARBIERI, J.C. Gestão ambiental empresarial: conceitos, modelos e instrumentos. São Paulo: Saraiva, 2006. CRUZ, C.H.B. A universidade, a empresa e a pesquisa que o país precisa. Parcerias estratégicas. Brasília: CGEE, n. 8, 2000, p. 5-30. Disponível em: <www.ifi.unicamp.br/~brito/artigos/univ-empr-pesqrev102003b.pdf > Acesso em: maio/2004. FUNDAÇAO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO (FAPESP). Análise da produção científica a partir de indicadores bibliométricos. Disponível em < http://www.fapesp.br/indicadores2004/volume1/cap05_vol1.pdf > Acesso em: 06 abr. 2007. LEFF, E. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis, RJ: Vozes, 1988. MACIAS-CHAPULA, C. A. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e internacional. Ciência da Informação, Brasília, Vol. 27, n. 2, p. 134-140, maio/ago, 1998. OKUBO, Y. Bibliometric Indicators and analysis of research systems: methods and examples. Paris: OECD, 1997, 69 p. ROSA, A. V. Abordando as relações agricultura e meio ambiente no ensino formal, através da educação ambiental: considerações a partir de um caso. Dissertação (Mestrado)- Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Universidade de São Paulo, Piracicaba, 260p. 2001. SANTOS, E.M.; PILATTI, L.A & KOVALESKI, J.L. Ensino de Engenharia de Produção: análise da produção científica do ENEGEP. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 24., Anais... Porto Alegre, 2005 SCHWARTZMAN, S. Padrões de produção científica e pós-graduação - Seminário Interno da Fundação Getúlio Vargas. Rio de Janeiro, 1992. SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE - SciELO. Apresentação. Disponível em: < www.scielo.br > Acesso em: 06 abr. 2007. 112

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