COMPORTAMENTO DE GENÓTIPOS DE MAMONA SUBMETIDOS A DIFERENTES TEMPERATURAS NOTURNAS: CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO* Lígia Rodrigues Sampaio 1, Robson César Albuquerque 2, Liv Soares Severino 3. 1 Universidade Estadual da Paraíba, liggiasampaio@yahoo.com.br; 2 Universidade Federal de Campina Grande, ralbuquerque_cg@yahoo.com.br; 3 EMBRAPA-Algodão, liv@cnpa.embrapa.br; RESUMO - Com o objetivo de analisar os efeitos dos fatores genótipos de mamona (Ricinus communis L), e temperaturas noturnas, um experimento foi conduzido no ano de 2006, da germinação até os 56 dias, sendo avaliadas de sete em sete dias. Foram avaliados 4 tratamentos, em esquema de análise fatorial 2 x 2, sendo os fatores dois genótipos (BRS Paraguaçu e o híbrido Lyra) e duas temperaturas noturnas (sala ar condicionada: ±17 C e câmara de crescimento: 30ºC), com quatro repetições. O delineamento usado foi o inteiramente casualizado, com uma planta por vaso, com capacidade de 15 litros, em seu substrato solo (Neossolo Regolítico)+10 % de esterco bovino. As plantas eram colocadas das 17:00h até as 5:00h da manhã do dia seguinte, no ambiente climatizado durante todo o experimento. Constatou-se que houve significância estatística apenas para as temperaturas noturnas estudadas, e para todas as épocas em estudo em relação à altura de planta (cm). As plantas da câmera de crescimento (30 C) obtiveram melhor desempenho, em relação as variáveis estudadas, sendo que aos 21 e 28 dias, interagiram com as cultivares, onde a BRS Paraguaçu desenvolveu melhor que a Lyra na temperatura a 30 C. INTRODUÇÃO A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma planta de origem tropical, possivelmente originária da Etiópia, leste da África, tendo bastante resistência à seca, requerendo para o seu crescimento e desenvolvimento de pelo menos 500 mm de precipitação pluvial, equivalente a 5000 m 3 /ha e temperatura do ar entre 20ºC e 30ºC, e de preferência com altitude superior a 400 metros, para seu ótimo ecológico (EMBRAPA, 2004). A mamona é uma planta de elevada sensibilidade as mudanças do ambiente, sendo dependente da altitude, temperatura e umidade relativa do ar e condições de umidade do solo (MOSHKIN, 1986; MOTA, 1989; AMORIM NETO et al., 2001; BELTRÃO, 2001), onde a falta dessa umidade, mesmo na fase de maturação dos frutos, favorece a produção de sementes pouco pesadas e com baixo teor de óleo, e também deve ter ph próximo da neutralidade e não muito argilosos sujeitos a encharcamento, não salinos e/ou sódicos ou com elevado teor de sódio trocável (EMBRAPA, 2004).. A temperatura do ar tem grande importância no desenvolvimento e crescimento de espécies vegetais cultivadas, devido ao seu efeito na velocidade das reações bioquímicas e dos processos
internos de transporte. Esses processos ocorrem de forma adequada somente entre certos limites térmicos. Sendo a tolerância aos níveis de temperatura variável entre as espécies e variedades (SOUZA et al, 2003). Durante o dia as plantas fotossintetizam e respiram, produzindo e consumindo biomassa. Durante a noite não existe ganho pela fotossíntese, ocorrendo apenas consumo da biomassa pela respiração. Portanto, quanto maior for a temperatura noturna, maior serão as perdas em função da maior respiração. Os lugares de clima frio não são, pois, indicados para essa oleaginosa, pois a quantidade de calor influi na produção e rendimento em óleo, tornando a produção antieconômica (BELTRÃO, 2003). Por estas condições, o Nordeste, tem uma oferta ambiental (zoneamento agroecológico) muito boa para esta cultura, com 406 municípios considerados aptos, sem restrições para seu cultivo (EMBRAPA, 2004). Como não se conhecem as reações morfológicas das plantas da mamoneira, em ambiente com elevadas ou baixas temperaturas noturna, o presente trabalho foi realizado com o objetivo de estudar o comportamento da mamoneira a diferentes temperaturas (baixa e alta) noturna, sob condições controladas. MATERIAL E MÉTODOS O presente experimento foi conduzido em condições de ambiente natural durante o dia, câmera de crescimento e sala de ar condicionado durante a noite, na Embrapa Algodão, Campina Grande-PB, coordenadas geográficas 7 13 11 S e 35 53 31 W, altitude de 548m, no período de fevereiro a abril de 2006. Na câmara de crescimento, a temperatura permaneceu constante a 30 C e a Umidade Relativa a 70% e na sala de ar condicionado a temperatura variou de 15 a 20 C e as plantas foram colocadas das 17:00 h até as 5:00 h da manhã do dia seguinte, durante todo o decorrer do experimento. Durante o dia as plantas ficavam em ambiente natural expostas diretamente ao sol. Utilizou-se como substrato, um solo de textura arenosa, classificado como Neossolo Regolítico (Tab. 1), acrescentando 10% de esterco bovino. Foi adotado um delineamento experimental em blocos casualizados com quatro repetições e quatro tratamentos em esquema fatorial 2 x 2, sendo os fatores: cultivar BRS Paraguaçu e o híbrido Lyra, e duas temperaturas noturnas, alta (30ºC) equivalente a câmara de crescimento, e baixa (variando de 15 a 20ºC) equivalente a sala. As parcelas experimentais consistiram de um vaso de plástico com capacidade para 15 litros. Foram semeadas cinco sementes com carúncula para cima, à
profundidade de 3cm e aos 12 dias após a emergência (DAE) fez-se o desbaste deixando apenas uma planta por vaso. Os dados de altura e diâmetro foram registrados a cada 15 dias até 56 DAE. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e Ao teste de Tukey para comparação de médias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 2, são observados os dados da análise de variância. Verifica-se que em grande parte das avaliações não houve interações significativas entre cultivares e temperatura. Entre os dois genótipos não se detectou diferença significativa na altura e diâmetro caulinar. A temperatura, no entanto, induziu à ocorrência de diferenças significativas na altura em todas as avaliações feitas e no diâmetro caulinar em quatro das sete avaliações efetuadas. Os valores médios de altura e diâmetro caulinar estão apresentados na Tabela 3. O maior crescimento, seja em altura ou em diâmetro caulinar, foram sempre observados quando as plantas foram submetidas a temperaturas mais altas. Essa resposta fisiológica da planta, que se caracteriza pela tendência a maior crescimento vegetativo em detrimento ao crescimento reprodutivo, que resulta na produção de frutos, tem sido fundamental para orientação do zoneamento agroecológico dessa cultura, já que estão excluídas áreas de baixa altitude onde a temperatura tende a ser mais alta. De acordo com Silva (1981), a temperatura ótima para a mamoneira está na faixa de 20 C a 30 C. As baixas temperaturas retardam a germinação, prolongando a permanência das sementes no solo (TÁVORA, 1982). Na Tabela 4, são os apresentados os valores de altura com detalhamento entre genótipos e temperaturas. Aos 21 e 28 DAE as plantas na câmara de crescimento (30 C) apresentaram maior crescimento em altura que as plantas submetidas a baixa temperatura. CONCLUSÕES A temperatura influenciou significativamente o crescimento da mamoneira em altura e diâmetro caulinar, sendo a temperatura mais alta favorável a maior crescimento vegetativo. Não se detectou diferença no crescimento entre os genótipos avaliados. * Pesquisa financiada pela Petrobrás. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM NETO, M. Da S.; BELTRÃO, N. E. M.; SILVA. Clima e Solo. In.: Azevedo, D.M.P.; Lima, E.F. (eds) Brasília: Embrapa SPI, 2001, p.62-76.
BELTRÃO, N.E.M.Cultura da mamoneira. Apostilha. Agosto 2003. Campina Grande EMBRAPA. Informações Técnicas sobre a cultura da mamona para a agricultura familiar. 2004. (Folder) EMBRAPA. Manejo cultural da mamona para a agricultura familiar. 2004. (Folder) MOSHKIN, V.A. Ecology. In: MOSHKIN, V.A. (ed.). Castor. New Delhi. Amerind Publishing Co. Put. Ltd. 1986. p. 54-64. MOTA, F. S. Meteorologia Agrícola. São Paulo: Livraria Nobel S. A. 1989. 376p. SEVERINO, L.S; CARDOSO,G.D.; VALE,L. S.;SANTOS.J.W. Método para determinação da área foliar da mamoneira. In : Revista Brasileira de Oleaginosas e fibrosas. Campina Grande, v.8,n.1,p.753-762,jan-abr.2004. SILVA, W.J. da. Aptidões climáticas para as culturas do girassol, da mamona e do amendoim. Informe Agropecuário, v.7, n. 82, p. 24-28, 1981. SOUZA, M. J. H. De; RIBEIRO, A; LEITE, F. P. ; ZOLNIER, S. Variação horária da temperatura do ar e da umidade do ar em sete localidades da região do Vale do Rio Doce MG. In: XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE TÁVORA, F. J. A. A cultura da mamona.fortaleza:epace,1982. 111p TÁVORA, E.J.A. A cultura da mamona. Fortaleza: EPACE, 1982, 111p. www.minesteriodaagricultura.gov.br, acesso em 17/02/06 as 9:50h. Tabela 1. Características químicas do solo utilizado no experimento, Campina Grande-PB, 2006. PH Cmol c /dm 3 Mg/dm 3 % H 2 O Ca ++ Mg ++ Na + K + Al +++ P M.O. 5,4 4,2 2,5 0,4 5,1 4,0 1,8 2,5 Tabela 2. Resumos das análises de variância dos dados das variáveis altura da planta (cm) e diâmetro caulinar (mm) de mamoneira nas várias épocas (dias após a emergência) estudadas, em função das cultivares e temperaturas. Campina Grande, PB. 2006 FV GL Quadrado Médio Épocas (dias após a emergência)altura da planta 15 21 28 35 42 50 56 Cultivar (C) 1 0,76 ns 0,05 ns 15,01 ns 31,08 ns 6,89 ns 4,51 ns 3,51 ns Temp.(T) 1 79,65** 172,26** 178,89** 173,58** 221,26** 319,51** 606,39** C x T 1 2,03 ns 9,15* 15,01* 6,63 ns 5,64 ns 28,89 ns 9,76 ns Blocos 3 1,97 ns 5,37 ns 9,51* 9,90 ns 13,39 ns 10,80 ns 26,30 ns Resíduo 9 1,89 1,50 1,73 6,31 12,26 18,30 23,07
CV (%) 15 14,09 8,96 6,90 11,11 14,49 16,20 15,99 Diâmetro caulinar Cultivar (C) 1 0,18 ns 7,98 ns 0,49 ns 1,96 ns 2,32 ns 0,60 ns 0,03 ns Temp.(T) 1 4,95** 3,33* 1,32 ns 2,56 ns 6,37* 6,12 ns 26,26** C x T 1 0,10 ns 0,33 ns 1,69 ns 0,02 ns 0,38 ns 0,76 ns 1,62 ns Bloco 3 0,15 ns 0,84 ns 0,60 ns 1,87 ns 1,23 ns 1,54 ns 0,85 ns Resíduo 9 0,12 0,52 0,49 0,66 0,70 1,29 1,81 CV (%) 15 6,23 9,16 7,50 7,44 7,26 9,41 10,27 ns: Não significativo pelo teste F. * : Significativo a 5 % pelo teste F. ** : Significativo a 1 % pelo teste F. Tabela 3. Valores médios dos dados das variáveis altura da planta (cm) e diâmetro caulinar (mm) de mamoneira nas várias épocas (dias após a emergência) estudadas, em função das temperaturas. Campina Grande, PB. 2006 Temperaturas Épocas (dias após a emergência) 15 21 28 35 42 50 56 C. Crescimento (30 C) 12,01a 16,96a 22,43a 25,91a 27,87a 30,87a 36,18a Ar condicionado (15-20 C) 7,55b 10,40b 15,75b 19,32b 20,43b 21,93b 23,8b Média Geral 9,78 13,68 19,09 22,61 24,15 26,40 30,03 Diâmetro Caulinar C. Crescimento (30 C) 6,32a 8,35a 9,7a 11,38a 12,15a 12,70a 14,40a Ar condicionado (15-20 C) 5,21b 7,43b 9,12a 10,58a 10,88b 11,46a 11,83b Média Geral 5,76 7,89 9,41 10,98 11,51 12,08 13,11 Para cada fator e coluna, médias seguidas de mesma letra, não diferem entre si, pelo teste de Tukey a nível de 5 % de probabilidade. Tabela 4. Desdobramento da interação Cultivar (C) x Temperaturas (T), da variável altura de planta (cm) aos 21 e 28 dias após a emergência das plântulas. Campina Grande, PB. 2006 Dias após a Genótipo Temperatura emergência C. Crescimento Ar condicionado 21 Paraguaçu 17,77aA 9,70aB Lyra 16,15aA 11,10aB 28 Paraguaçu 24,37aA 15,75aB Lyra 20,50bA 15,75aB Nas linhas, médias seguidas de mesma letra maiúscula, não diferem entre si pelo teste Tukey a nível de 5 % de probabilidade e o mesmo ocorre para letras minúsculas nas colunas.